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Transcrição:

MANUAL DO PROFESSOR Chapeuzinho Amarelo Chico Buarque ILUSTRAÇÕES: Ziraldo Elaborado por Leila Barros Doutora em Literatura Comparada pela UFMG. Pós-doutoranda em Educação pela UFMG.

Sumário Introdução 3 Sobre a obra 4 Sobre o escritor 4 Sobre o ilustrador 5 Explorando a obra: A pré-leitura Explore os paratextos! 6 Explore a materialidade do objeto livro! 6 Explorando a obra: Após a leitura Explore a relação do texto verbal com as ilustrações! 7 Sobre a temática, o gênero e a categoria 8 Explorando o gênero Conto 9 Explorando os temas: dois lados de uma mesma história 12 As relações intertextuais com outras obras 12 Outras propostas de atividades Desenvolva habilidades de leitura e escrita de seus alunos 13 Orientações gerais para uma abordagem interdisciplinar 14 Sugestões de leitura 15

Chapeuzinho Amarelo Chico Buarque ILUSTRAÇÕES: Ziraldo Introdução Caro(a) educador(a), Você tem em mãos um pequeno guia para auxiliá-lo a trabalhar, em sala de aula, a obra Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, com ilustrações de Ziraldo. Buscamos oferecer material de aperfeiçoamento, sugestões para você ampliar seus estudos e melhor contribuir para o avanço da aprendizagem dos estudantes, além de orientações e propostas de atividades ao preparar suas aulas. Tenha sempre em mente que é muito importante planejar adequadamente as atividades com os livros de literatura, pois não basta deixar que os alunos leiam. É fundamental que essa leitura, na escola, não seja aleatória, mas que o contato com os livros promova debates, reflexões e por que não? a escrita sobre os mais diversos temas. A literatura tem um importante papel no contexto escolar, um papel especial e único, de, ao suprir a necessidade humana de ficção e fantasia, nos colocar diante dos outros e de nós mesmos, permitindonos vivenciar experiências que, de outra forma, não seriam possíveis. Entendemos, como defendeu o crítico Antonio Candido, 1 que a literatura é um bem simbólico a que todos os seres humanos têm direito, porque ela nos humaniza e nos põe diante de nossos próprios conflitos e contradições. Em primeiro lugar, no trabalho com a literatura, é fundamental proporcionar o manuseio da obra pelos estudantes, além da liberdade para que todos expressem suas opiniões a respeito do que foi lido e que os sentidos não se fechem na leitura única do professor. Isso não quer dizer que não se possa trabalhar com determinados objetivos, com foco no desenvolvimento de certas habilidades, ampliando ao máximo o poder do texto literário. Ao trabalhar a literatura na escola, no entanto, é preciso ter cuidado para que ela não seja inadequadamente escolarizada, conforme nos ensina a professora e pesquisadora Magda Soares, 2 ou seja, é preciso cuidar para que ela não esteja a serviço puramente pedagógico, de ensino de conteúdos ou com objetivos claramente moralistas. A leitura literária demanda sensibilidade e um olhar aberto a várias leituras possíveis. Vamos conversar sobre a obra? 1 CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011. p. 171-193. 2 A esse respeito, veja o artigo da professora Magda Soares: SOARES, Magda. A escolarização da leitura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A. M.; BRANDÃO, Heliana M. B.; MACHADO, Maria Zélia V. (Orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. 2. ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 17-48. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 3

Material de apoio Sobre o escritor Sobre a obra Chico Buarque é um dos maiores nomes de nossa MPB. Compositor e cantor de sucesso, também é autor de várias obras de literatura, algumas delas premiadas. Interessante é que, se no Brasil ele se tornou popular com as Para conhecer mais canções, em alguns países, ele é mais conhecido da vida e obra de Chico Buarque, por sua carreira como romancista. Recebeu três visite o seu site: vezes o Prêmio Jabuti de Melhor Livro do Ano: em goo.gl/b6u54z 1992, com Estorvo; em 2004, com Budapeste e em 2010, com Leite derramado. Chapeuzinho Amarelo marca sua estreia na literatura infantil, em 1979, quando recebeu o selo de Altamente Recomendável, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Chapeuzinho Amarelo é uma releitura do conto Chapeuzinho Vermelho. A menininha desta história é amarela porque tem medo de tudo: de trovão, minhoca, sombra, pesadelo e de um lobo que acaba se transformando num bolo fofo, por meio do efeito obtido com a repetição e o encadeamento da palavra lobo: LO-BO-LO-BO. Assim, a garota perde seu medo e enfrenta até mesmo o lobo. A partir daí, passa a curtir a vida como qualquer criança, dedica-se às brincadeiras, à imaginação e ao jogo com as palavras. Já em sua 40ª edição, este clássico de nossa literatura infantil vem encantando gerações e gerações de leitores. Chico traduziu e adaptou para o português outra obra de sucesso, o musical Os saltimbancos, de Sergio Bardotti e Luis Enriquez Bacalov, que estreou em agosto de 1977, no Rio de Janeiro. Os saltimbancos é editado pela Autêntica, com ilustrações de Ziraldo. Foto: Fernanda Steffen/Wikimedia Commons MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 4

Sobre o ilustrador Nos estudos atuais sobre ilustração, a imagem é considerada tão importante quanto o texto verbal de uma obra especialmente quando se trata de livro infantojuvenil. Pois bem, vamos começar falando um pouco sobre Ziraldo, esse mineiro de Caratinga que tem várias profissões: é pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. Ziraldo tornou-se famoso com o lançamento da primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor, A Turma do Pererê, em 1960. Fundou, com outros humoristas, o jornal O Pasquim, em plena ditadura militar. Em 1969, Ziraldo publicou seu primeiro livro infantil, Flicts, mas uma de suas obras mais conhecidas é O menino maluquinho, um dos maiores fenômenos editoriais do país. Além de suas obras autorais, contribuiu com ilustrações para clássicos da literatura infantil brasileira, como Os saltimbancos e Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque. Professor, se sua escola tiver biblioteca, faça uma pesquisa e veja quais outros livros de Ziraldo constam em seu acervo. Será uma ótima oportunidade de os estudantes conhecerem outras obras desse autor tão querido pelas crianças! Foto: Tomaz Silva/ABr/Wikimedia Commons O menino Maluquinho pode ser lido, on-line, no site de Ziraldo: goo.gl/zh1mgk Explorando a obra: A PRÉ-LEITURA Antes da leitura da obra, é interessante explorar os elementos presentes no livro que não fazem parte do texto propriamente dito, mas o complementam: os paratextos. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 5

PARA NÃO ESQUECER Todas as mensagens e comentários acessórios que cercam o texto são chamados de paratextos, como título, capa, contracapa, prefácios, posfácios, dedicatórias, apresentações dos autores, orelhas, entre outros. Os paratextos são recursos importantes para que o leitor compreenda melhor a obra ou mesmo decida se vai lê-la ou não. Ou seja, os paratextos podem ser fundamentais para motivar os estudantes para a leitura. Explore os paratextos! Comece pelo título. Estimule o debate para que seus alunos façam inferências: eles vão relacionar o título desta obra com a história de Chapeuzinho Vermelho? É provável que, nessa idade de 6 a 8 anos, boa parte das crianças já teve contato com este conto. Se eles descobrirem rapidamente que se trata de uma releitura, deixe-os contar a história conhecida e vá estabelecendo relações (de semelhanças e diferenças) com o texto de Chico Buarque. Pergunte a eles: por que a Chapeuzinho desta história é amarela? Será que a ilustração da capa vai colaborar para que os alunos estabeleçam relação com o conto de fadas Chapeuzinho Vermelho? Leia com seus alunos o texto da contracapa: geralmente, esse paratexto tem o objetivo de atrair o possível leitor para a obra. Nesse caso, trata-se de um trecho que mostra como a Chapeuzinho tem medo de tudo, até mesmo de conto de fadas. Sonde se seus alunos conhecem a expressão amarela de medo. Conhecendo a expressão, eles vão entender por que o autor escolheu a cor amarela, para recontar o clássico. Em Chapeuzinho Amarelo, há apresentações sucintas de Chico Buarque e Ziraldo, que contextualizam esses importantes escritores de nossa literatura no universo literário. É possível, ainda, visitar os sites de ambos, para descobrir mais sobre eles e a vasta obra de cada um. Explore a materialidade do objeto livro! Aprecie o livro como um objeto estético! Manuseie-o e estimule seus alunos a fazerem o mesmo! Nessa leitura e exploração individual, muitas outras descobertas podem ser feitas! Ajude seu aluno a identificar as informações constantes num livro: ficha catalográfica, dados gerais sobre a obra, explique o que é copyright e a importância dos direitos autorais. Às vezes, nesses espaços em que prevalecem textos informativos, há surpresas, como uma ilustração que começa a narrar a história. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 6

Explorando a obra: APÓS A LEITURA Explore a relação do texto verbal com as ilustrações! Aprecie as ilustrações, buscando perceber suas relações com o texto verbal. Explore, com os alunos (e deixe que eles verbalizem oralmente ou por escrito), os sentidos presentes nas imagens. Debata com seus alunos o efeito das ilustrações. Mostre a eles como a imagem abaixo dialoga com a expressão ter medo até da própria sombra e com o tema do livro, ampliando os sentidos do texto verbal. A menina tem medo da própria sombra, que ela imagina ser o lobo. Mas o texto afirma que se tratava de um LOBO que não existia. Ou seja, a menina tem um medo infundado de tudo, até do que não existe. Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Um LOBO que não existia. Mostre para seus alunos como o ilustrador brinca com a imagem, fazendo inversões no desenho, assim como o escritor faz inversões com as palavras. O dragão, por exemplo, vira Gãodra e a ilustração mostra um dragão que solta fogo pelo rabo e não pela boca. Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barão-Tu, o Pão Bichôpa e todos os trosmons. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 7

Essa brincadeira também está presente na imagem abaixo. Na ilustração, o lobo vai perdendo as feições faciais; no texto verbal, o lobo se transforma em bolo fofo graças ao efeito obtido com a repetição e o encadeamento da palavra lobo : LO BO LO BO LO BO LO BO LO B O LO BO LO BO LO BO LO BO LO As crianças, especialmente as menores, também vão adorar fazer brincadeiras com as palavras e com as imagens, como fazem os autores de Chapeuzinho Amarelo. Experimente propor esta atividade em sala de aula! Para as crianças que estão sendo alfabetizadas, será interessante mostrar como criamos outras palavras mudando sílabas ou letras de lugar. Assim, a literatura pode contribuir para o aprendizado do sistema alfabético de escrita, mas de maneira lúdica e significativa e com textos reais, que circulam socialmente. Sobre a temática, o gênero e a categoria A obra Chapeuzinho Amarelo é destinada a estudantes de 1º a 3º anos do ensino fundamental. Trata-se de um conto que aborda o tema do medo e de sua superação, por meio da história de uma menininha que vivencia a descoberta de si e de seus sentimentos e de como lidar com eles. A temática da obra é adequada e de interesse potencial para esse público-alvo: crianças entre 6 e 8 anos, por fazer parte de seu universo. O maior ou menor aprofundamento vai depender do interesse e da maturidade de cada turma. Também a retomada e reescrita de um conto de fadas pode ser mais um atrativo para a boa recepção da obra. Vamos explorar mais a estrutura da obra? MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 8

Explorando o gênero Conto O conto é uma narrativa curta, estruturada com os seguintes elementos: ààenredo, ààtempo, ààespaço, ààpersonagens, ààclímax, ààdesfecho. No caso do livro Chapeuzinho Amarelo, a história é contada em terceira pessoa, e começa imitando o tradicional início dos contos de fadas, no uso do verbo era : Era a Chapeuzinho Amarelo. Amarelada de medo. Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho. Note que o espaço e o tempo da narrativa são indeterminados, o que mantém a atmosfera mágica dos contos de fadas. A narrativa ocorre num passado distante, indicado pelo uso dos tempos verbais. Ao longo da história, o tempo verbal vai mudando de pretérito imperfeito (era, tinha, ouvia, não brincava) para pretérito perfeito (não comeu, preferiu, gritou) até chegar ao presente (o agora ), quando Chapeuzinho Amarelo não tem mais medo de nada ( ela agora come de tudo, não tem mais medo de chuva nem foge de carrapato ). O espaço, mesmo quando determinado, detona um tom vago e exótico: Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estanha [...] Normalmente, em função da brevidade do gênero conto, ele tem apenas um clímax, ou seja, aquele momento de tensão máxima do enredo. No caso desta obra, é o momento em que Chapeuzinho encontra-se com o lobo e perde o medo. O desfecho da história mostra seu retorno a uma vida normal, quando a menininha passa a brincar com as palavras e com outras crianças. Professor, incentive seus alunos a explorar o conto Chapeuzinho Amarelo, percebendo os elementos próprios do gênero literário em questão. Algumas perguntas, entre várias, que podem ser feitas: MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 9

Quais são os personagens desse conto? Quando se passa a história narrada? Onde se passa a história narrada? Qual é o clímax da história, ou seja, o momento de maior tensão? Note que Chapeuzinho Amarelo é um conto escrito em versos. Portanto, além dos elementos narrativos, há vários recursos que podem ser explorados com as crianças, sempre de maneira lúdica, já que a brincadeira, os jogos e o movimento são elementos fundamentais para o desenvolvimento infantil e para a alfabetização. Você verá que tanto o texto verbal quanto o texto visual trabalham inúmeros jogos de sentido. Vários elementos explorados na obra proporcionam uma rica experiência estética com a palavra. Vejamos alguns deles: A repetição, no trecho abaixo, reforça o tamanho do medo de Chapeuzinho Amarelo: Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO, Um LOBO que não existia. Outra forma de dar ênfase ao medo de Chapeuzinho é na grafia de lobo. Para a medrosa Chapeuzinho, era grafado com maiúsculas (LOBO); depois que se encontra com o lobo e perde o medo, o LOBO vira lobo, com letras minúsculas: Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo, o medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Foi passando aquele medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo. Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 10

Também é interessante perceber, no trecho acima, que vai diminuindo a frequência de uso da palavra medo, para indicar a diminuição desse sentimento pela menina. Por fim, acaba-se o medo e ela fica só com o lobo. Nessa parte, em especial, será muito produtivo trabalhar com a oralidade. Lendo (e/ou ouvindo o texto), as crianças vão perceber o efeito desse jogo de palavras. Aqui, há uma ambiguidade no termo só : Chapeuzinho ficou sozinha com o lobo e ficou somente com o lobo (sem o medo). Outro rico jogo de palavras é feito, pelo autor, na inversão de palavras. Mostre aos menores esses jogos poéticos e deixe que eles também brinquem com as palavras (e com as imagens). As crianças maiores podem, elas próprias, identificar esses jogos. Em ambos os casos, pratique esses exercícios poéticos de escrita e de leitura, que promovem a oralidade e uma participação efetiva das crianças na criação literária. Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barão-Tu, o Pão Bichôpa e todos os trosmons. As brincadeiras com as palavras e com as imagens. Por fim, embora não seja o aspecto mais central desse texto, há exploração das rimas, tão caras para se trabalhar com crianças de qualquer idade. Veja o trecho abaixo: Já não ria. Em festa, não aparecia. Não subia escada nem descia. Não estava resfriada mas tossia. Ouvia conto de fada e estremecia. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 11

Explorando o tema: dois lados de uma mesma história O LÚDICO O POLÍTICO A primeira leitura que se faz da obra Chapeuzinho Amarelo é bastante lúdica, pela forma como a menininha encara seus medos e os transforma. A história proporciona à criança a descoberta de si, já que a personagem vivencia a percepção dos seus sentimentos e ações, por meio de um trabalho com a linguagem. As relações intertextuais com outras obras PARA NÃO ESQUECER Outro lado dessa obra diz respeito à época em que foi lançada, sob forte censura no Brasil. Paralelamente à leitura lúdica, há, nas entrelinhas, outra possibilidade de interpretação, política, já que o texto aborda também a repressão e o medo, aspectos dominantes da época em que foi escrito. É uma crítica à ditadura militar, mas uma crítica velada, por meio da metáfora e dos jogos de palavras. Intertextualidade é a relação que um texto estabelece com um ou mais textos. Um dos tipos de intertextualidade é a paródia, uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. (PAULINO; WALTY; CURY, 1995, p. 36). É bastante comum uma obra fazer referência (mais ou menos evidente, com outras obras, com outros autores, com outras artes). As relações intertextuais são recursos expressivos importantes, que proporcionam uma rica experiência de leitura, pois contribuem para o enriquecimento da bagagem cultural e estética do leitor. Quanto mais lê, mais o leitor percebe essas relações entre os textos, e mais os textos se enchem de variados e múltiplos sentidos. No caso de Chapeuzinho Amarelo, a relação com o conto de fadas é bastante explícita, a começar pelo título. Também há em comum os personagens uma garotinha (indefesa?) e um lobo, além de outras referências mais gerais, como o fato de ela ouvir contos de fadas e estremecer. Quando a menina se encontra com o lobo, há uma alusão ao diálogo que Chapeuzinho Vermelho estabelece com o lobo, na casa da vovó: carão de LOBO, olhão de LOBO, jeitão de LOBO e principalmente um bocão MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 12

tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e um chapéu de sobremesa. Note, nesse trecho, a alusão a vários elementos do conto Chapeuzinho Vermelho : avó, caçador, comida, e o conhecido diálogo (Vovó, pra que esses olhos tão grandes? Vovó, pra que essa boca tão grande?...) Chapeuzinho Amarelo é uma paródia, porque rompe com os modelos mais difundidos da história, em que Chapeuzinho é resgatada por um lenhador ou um caçador ou, nos finais mais trágicos, é simplesmente devorada pelo lobo. Aqui, ela reage e enfrenta o medo, até dominá-lo; portanto, não espera por ajuda, mas age sozinha e destemidamente. Os contos de fadas são textos importantes para a formação das crianças, portanto, é preciso que sejam apresentados a elas. Você pode aproveitar esse momento para trabalhar outros contos ou mesmo outras releituras de Chapeuzinho Vermelho. Há dezenas de recontos no mercado editorial brasileiro! Uma pesquisa na biblioteca pode revelar várias versões, para trabalhar com os alunos! Veja, como exemplo, a releitura abaixo. Desde sua criação, em 1970, os bonecos do Grupo Giramundo contam histórias nos palcos do Brasil e de outros lugares do mundo. Em comemoração aos 40 anos do grupo, passaram a recontar, em livros, histórias de várias partes do mundo, como A mula sem cabeça e O elefante escravo do coelho. A versão do Giramundo para Chapeuzinho Vermelho, editada pela Autêntica, ganha uma feição nova, bem brasileira e bem-humorada. Outras propostas de atividades Desenvolva habilidades de leitura e escrita de seus alunos Trabalhe a inferência: apresente apenas o título da obra, sem mostrar a capa; provavelmente eles farão algum tipo de relação com Chapeuzinho Vermelho. Trabalhe a expressão de opiniões: converse sobre o medo, pergunte a eles se a Chapeuzinho tinha razão para tanto medo que sentia? E os alunos, de que os alunos têm medo? Incentive-os a relatar, por escrito, suas experiências com relação a esse tema. Eles podem ilustrar seus relatos, de maneira lúdica e divertida. Será que o desenho que fizeram causa medo? MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 13

Peça para seus alunos relacionar o texto visual (as ilustrações) ao texto verbal. As imagens apenas repetem o teor das palavras? O que as imagens acrescentam e quais seriam os efeitos dessa liberdade criadora do ilustrador? Amplie os temas presentes no livro. Há diversas obras na literatura brasileira que dialogam com essa perspectiva do medo e de sua superação. Peça aos alunos para fazer uma pesquisa na biblioteca ou na internet que dialogue com essas temáticas. Os alunos já alfabetizados podem ler e indicar outras obras para os alunos menores (do primeiro ano, por exemplo), por meio de pequenas resenhas e ilustrações. Ajude seu aluno a também pesquisar sobre os contos de fadas! Podem ser outras histórias ou outras versões de Chapeuzinho Vermelho. Escolha a versão mais tradicional do conto Chapeuzinho Vermelho e promova a comparação entre as versões. Os alunos podem escrever (ou ilustrar, para os que ainda não adquiriram segurança com a escrita) sua própria versão de Chapeuzinho Vermelho. De que cor seria a Chapeuzinho de sua história? Orientações gerais para uma abordagem interdisciplinar Sem colocar em segundo plano o caráter estético e artístico da obra literária, é possível trabalhar Chapeuzinho Amarelo numa abordagem interdisciplinar com outras áreas e disciplinas. Por exemplo: Arte: desenvolver o senso estético e artístico dos estudantes, solicitando que eles façam ilustrações para o livro. Podem utilizar vários tipos diferentes de material, como tinta, aquarela, lápis, ou mesmo imagens no computador. História: mesmo que os estudantes em questão sejam novos demais para a abordagem do tema da ditadura militar, época em que o livro foi produzido, o professor de História pode ajudar a abordar o tema, de maneira mais superficial e introdutória. Educação Física: se as crianças ainda não conhecem, o professor pode ensinar a brincadeira da amarelinha e deixar que elas brinquem. Pode trabalhar o desenvolvimento de várias habilidades psicomotoras, como equilíbrio e raciocínio; habilidades comportamentais, como o convívio com o outro e a obediência às regras do jogo. O professor de Matemática também pode ser um ótimo aliado para expandir as atividades que envolvem números, a partir do livro. Tenha em mente que as brincadeiras trazem inúmeros benefícios para as crianças e pesquisas demonstram o quanto o brincar é essencial para o desenvolvimento humano. Uma das competências específicas das aulas de Educação Física, dispostas na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), é experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. Disponível em: goo.gl/3gmbny MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 14

Sugestões de leitura: PAULINO, Graça; WALTY, Ivete; CURY Maria Zilda. Intertextualidades: teoria e prática. Belo Horizonte: Lê, 1995. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2011. p. 171-193. SOARES, Magda. A escolarização da leitura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A. M.; BRANDÃO, Heliana M. B.; MACHADO, Maria Zélia V. (Orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. 2. ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 17-48. MANUAL DO PROFESSOR CHAPEUZINHO AMARELO 15