2.3 Transformados Plásticos Diagnóstico A indústria de plásticos vem movendo-se ao redor do mundo buscando oportunidades nos mercados emergentes de alto crescimento. O setor é dominado por um grande número de companhias multinacionais que atuam em várias etapas da cadeia produtiva. Embora seja uma indústria global, a base de produção de muitas resinas migrou para países como Arábia Saudita, China e Coréia do Sul. Os produtores dos mercados mais desenvolvidos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão responderam a esse movimento concentrando suas linhas em itens de maior valor agregado e racionalizando a capacidade de produção, a fim de elevar a rentabilidade. As três regiões respondem por 90% do consumo mundial de resinas plásticas. O mercado de plásticos em geral tende a crescer. Nos últimos anos, diversos materiais tradicionais, como vidro, metais e fibras naturais, vêm sendo crescentemente substituídos por produtos de origem plástica, com menores custos de obtenção e produção, maior flexibilidade, diversidade e assepsia, e possibilidade de reciclagem. Ásia e América do Sul são as áreas de maior potencial de expansão tanto no curto quanto no longo prazo. O consumo mundial de resinas plásticas foi de aproximadamente 114 milhões de toneladas em 1999. Desse total, Europa Ocidental e Estados Unidos representavam 27% cada. Em seguida aparecem China (13%), Japão (9%) e Coréia do Sul (3%). O Brasil ocupou a sexta posição, com 3,2% do mercado consumidor mundial. Entre 1970 e 1997, o crescimento anual médio do consumo de plásticos foi superior à expansão anual média do Produto Nacional Bruto (PNB) em diversos países: ocorreu à razão de 2,5 nos Estados Unidos; 1,9 na Alemanha; 1,4 no Japão; e 3,1 no Brasil. A indústria de transformação de materiais plásticos produziu 133,5 milhões de toneladas em 2000. Os países do Nafta responderam por 46,5% da produção, os da União Européia, por 38,7%, e o Japão, por 14,7%. Brasil foi responsável por 91
2,8% do total, com a transformação de 3,8 milhões de toneladas de plásticos naquele ano. Isoladamente, os Estados Unidos continuam sendo o principal produtor da indústria. Na União Européia, a Alemanha e França destacam-se como dois dos principais fabricantes de plásticos, com crescimento importante em eletroeletrônicos e no setor automobilístico. Japão, China e Índia são outras áreas industriais relevantes. O segmento de transformação de plásticos no Brasil é constituído por 7.142 estabelecimentos, que empregam formalmente 218 mil trabalhadores. No período de 1995 a 2000, o consumo nacional aparente de artefatos de plástico aumentou 43%, para 3,8 milhões de toneladas. O faturamento cresceu 62%, atingindo US$ 9,8 bilhões em 2001. A produção de artefatos plásticos (medida pelo consumo aparente de resinas, não consideradas as pré-formas de PET importadas) foi de 3,8 milhões de toneladas em 2000, com elevação de 47% em relação a 1995. Os investimentos para o período 2000/2008 no setor são estimados em US$ 17,7 bilhões, a serem aplicados na ampliação da capacidade produtiva de resinas termoplásticas, de máquinas e de transformação de plásticos em bens de consumo final e intermediários. Alguns consideram que, no longo prazo, o Brasil não tem vantagens reais para justificar investimentos tão pesados, em função da baixa disponibilidade de gás natural próximo aos centros produtores e da dependência da importação de nafta. O setor é caracterizado no país pela heterogeneidade. Há um expressivo número de empresas por segmento de mercado, principalmente nos de embalagens, sacolas e sacos, peças injetadas sob encomenda e utilidades domésticas. Predominam as pequenas firmas, muitas delas familiares, atuando na fabricação de itens que não requerem máquinas modernas e em segmentos pouco atrativos para as companhias de maior porte. Embora as empresas menores sejam maioria, 10% das indústrias concentram cerca de 80% do total da produção. O principal pólo é o ABC paulista, com metade dos estabelecimentos. 92
A indústria de transformação de plásticos no Brasil passou por expressivas mudanças ao longo da década de 90, com a intensificação do processo de abertura comercial e de desnacionalização da estrutura produtiva. Os capitais estrangeiros chegaram na década passada e se estabeleceram nos segmentos de maior valor agregado como automotivo, eletroeletrônico e de embalagens mais sofisticadas quase sempre como fornecedores mundiais de multinacionais. O recente aumento da participação externa deve-se, entre outros, ao processo de aquisições, particularmente no setor de autopeças, e ao aumento da demanda, tornando possível economias de escala. O aumento da presença estrangeira deverá prosseguir na próxima década, especialmente nos segmentos de extrusão rígida de PVC e de injeção em moldes. Apenas uma elite de empresas brasileiras opera em padrões internacionais. Em 1999, o setor obteve produção de 18,51 toneladas por empregado, ainda muito distante da média americana, de 30 toneladas por trabalhador. A participação de empresas menores restringe-se a itens menos valorizados, com menores exigências técnicas e de design. Comércio internacional Em 2001, o déficit da balança comercial brasileira de produtos de transformados plásticos caiu a US$ 161 milhões, após ter atingido US$ 423 milhões em 1997. Considerando o período entre 1989 e 2001, o crescimento das exportações foi de 253% e o das importações, de 468%. Em 2001, os embarques do setor somaram US$ 499 milhões e as aquisições, US$ 660 milhões. Em 2001, um terço do total exportado seguiu para a Argentina. Para os Estados Unidos, que até o início da década passada eram o principal comprador de produtos plásticos brasileiros, foram 17%. Das exportações brasileiras de produtos plásticos, 80% estão concentradas na América do Sul. Os itens calçados de material plástico para segurança industrial e pessoal inclusive para esporte e chapas de plásticos não alveolados representaram metade das vendas do setor para o exterior em 2001. 93
Comércio exterior brasileiro de produtos plásticos 2000 (em US$ milhões) País Exportação País Importação Argentina 152,1 Estados Unidos 219,2 Estados Unidos 78,4 Alemanha 63,8 Paraguai 35,8 Argentina 57,5 Chile 34,6 Itália 41 Uruguai 18,5 França 36,3 México 12,9 Uruguai 35,3 Bolívia 10,2 Espanha 22,7 Venezuela 8,9 China 18,4 Ilhas Cayman 6,3 Reino Unido 17,6 Colômbia 4,8 Taiwan (Formosa) 16,9 TOTAL 433,5 TOTAL 677,5 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex As importações provenientes da Argentina somam 10% do total. É com o país vizinho que o Brasil tem seu maior superávit na balança de plásticos. O maior déficit é registrado com os Estados Unidos passou de US$ 1 milhão em 1989 para US$ 140 milhões em 2000. A indústria americana fornece 30% das compras brasileiras do ramo. Com os países da América do Sul, exceto Uruguai, e México, o Brasil apresenta superávit comercial no fluxo de comércio de produtos plásticos. Com Estados Unidos e Canadá, o saldo é negativo, assim como com os países da União Européia, principais parceiros do Brasil. 94
Impactos das negociações com a Alca e a União Européia Tem sido observada, especialmente entre os integrantes da União Européia, tendência de aumento das especificações exigidas dos produtos plásticos brasileiros, como forma e imposição de barreiras não tarifárias às exportações do país. Os fabricantes nacionais de resinas termoplásticas também têm recorrido a esse mecanismo de proteção. A atual tarifa externa comum (TEC) média do Mercosul para produtos de plástico é de 16,5%. Já os produtos brasileiros se beneficiam de tarifas reduzidas ou nulas quando incluídos no Sistema Geral de Preferências dos principais mercados compradores Estados Unidos e União Européia. Ou seja, as limitações às exportações nacionais não podem ser atribuídas às alíquotas de imposto de importação praticadas pelos concorrentes. Mesmo beneficiando-se de tarifas menores, produtos transformados plásticos brasileiros não são suficientemente competitivos no mercado externo, o que é evidenciado pela participação pouco expressiva do Brasil no comércio internacional do setor. Por isso, os esforços para a conquista de novos mercados vão muito além de questões estritamente tarifárias. A baixa capacidade de ampliar as exportações brasileiras da indústria de plásticos está ligada à existência de custos fiscais e tributários altos no país, ao aumento de despesas com energia elétrica (fator determinante para o setor), a dificuldades operacionais na obtenção de financiamentos e à cobrança de impostos de importação elevados para bens de capital, o que inibe investimentos. O setor defende que a liberalização comercial seja precedida pela reestruturação do parque industrial. A redução tarifária para o segmento não deveria iniciar-se antes de 2010. As empresas nacionais sustentam, ainda, que a abertura não deve ocorrer apenas no ramo de transformados plásticos que se situa no final da cadeia mas deve estender-se e ser precedida, com intervalo de pelo menos dois anos, pelas resinas termoplásticas, insumos usados pelo segmento. 95
Para as indústrias locais, todos os produtos transformados de plásticos, com exceção daqueles cujo imposto de importação esteja na faixa de até 2%, deverão ser considerados sensíveis e usufruir processo de redução tarifária específico, mantidos os benefícios do Sistema Geral de Preferências (SGP) até a liberalização plena. Caso as tarifas de importação de transformados plásticos sejam suprimidas, a substituição de produtos nacionais por similares estrangeiros será inevitável, o que poderá levar ao fechamento de diversas empresas brasileiras. Paralelamente, deverá ocorrer aumento do déficit da balança comercial, já que o patamar de exportação do Brasil não deverá se alterar, enquanto as compras certamente aumentarão. No que se refere às empresas transformadoras de plásticos, uma nova rodada de liberalização comercial não traria muitos impactos, principalmente para as estrangeiras instaladas no país. Já para as poucas grandes indústrias nacionais teriam que ser criados instrumentos de transferência tecnológica; bem como promovida maior internacionalização de sua atuação. As pequenas empresas dependeriam de aumento de produtividade e redução de custos para não perder mercado para os produtos importados. Além de alguma proteção às pequenas indústrias, será fundamental levar adiante um programa de substituição de importações de itens de fácil fabricação, para os quais existe capacidade técnica suficiente no país. Enquanto as pequenas empresas seriam ameaçadas pelos baixos custos dos bens americanos e europeus, dada a escala e a posse de máquinas mais modernas, as médias empresas teriam que ser superiores na diversificação e diferenciação dos produtos para concorrer com os importados, modernizando suas linhas de montagem. O Brasil pode se consolidar como fabricante de moldes de pequeno porte, hoje equiparáveis com os similares produzidos internacionalmente e com potencial para serem exportados. Já os moldes de grande porte tendem a continuar sendo importados, uma vez que, com a estrutura industrial atual, não há escala para a 96
produção interna. As importações, nesse caso, devem ser facilitadas. Situação idêntica se verifica no segmento de maquinário usado na fabricação de peças de plástico. Desafios a serem enfrentados A existência de um parque industrial relativamente completo e integrado torna o padrão local de demanda por produtos plásticos próximo ao patamar internacional. Entretanto, o setor de plásticos no Brasil encontra restrições à melhoria de sua competitividade principalmente nas dificuldades de acesso ao financiamento e seu custo, dado que o investimento inicial da indústria é elevado em equipamentos. A cadeia produtiva convive com elevada carga tributária, que representa de 28% a 32% do custo final do produto. Enfrenta, ainda, dificuldades operacionais e custos expressivos de financiamento para exportações. A importação de equipamentos sem similar nacional é taxada e inexistem linhas especiais para a aquisição de tecnologias no exterior ou para o desenvolvimento de soluções nacionais. Tudo isto limita a capacidade de modernização e de expansão da produção da indústria brasileira de transformados plásticos. A insuficiente qualificação da mão-de-obra local é outro obstáculo. A existência de fabricantes de máquinas e moldes, por sua vez, pode se constituir em fator positivo, mas a produção local é muitas vezes prejudicada pela escala insuficiente do mercado nacional. As dificuldades na esfera operacional refletem-se na deficiência em cumprir prazos de entrega, uma das falhas mais apontadas por clientes e reconhecida pelos produtores. Há, ainda, a desvantagem quanto a preços de matérias-primas, infra-estrutura, logística e transporte (frete marítimo). Também falta às empresas brasileiras uma mentalidade exportadora : suas vendas ainda priorizam o mercado interno. 97
O aumento do preço da nafta, em função da forte desvalorização da moeda brasileira; os baixos preços internacionais das resinas termoplásticas; a retração do mercado interno e as altas taxas de juros são apontados como restrições conjunturais ao crescimento do setor. Apesar do cenário geral negativo, algumas resinas apresentam perspectivas animadoras. É o caso do polietileno de alta densidade, usado em cabos para telecomunicações, tubos para distribuição de gás e redes de esgotos urbanos, e do PET, destinado a embalagens de refrigerantes, água mineral e, possivelmente no futuro próximo, de cervejas. Grande parte das máquinas utilizadas pelos transformadores brasileiros está defasada tecnologicamente e não há estímulo para a sua renovação. Os financiamentos para a compra de equipamentos novos continuam inacessíveis para as pequenas e médias empresas do setor. Para determinadas máquinas, a produção interna, pelo capital requerido e pelas dimensões do mercado nacional, ainda não é considerada viável economicamente. Os equipamentos mais sofisticados continuarão a ser importadas. O setor exporta apenas 12% da produção, nível considerado muito baixo. Para enfrentar estes desafios será preciso: Modernizar os equipamentos, apoiando a atualização tecnológica do parque industrial de transformados plásticos, a renovação e a atualização dos moldes; Diversificar vendas no mercado interno, aproveitando novos nichos, e expandir as exportações, buscando produtos mais nobres a partir de novas combinações de resinas menos agressivas ao meio ambiente; Aumentar a produtividade e a qualidade na indústria, com redução de desperdícios; Intensificar a reciclagem de plásticos, como já acontece com o alumínio, por exemplo, para fazer frente às demandas ambientais. É recomendável 98
utilizar a alta capacidade de geração de empregos da atividade de reciclagem para compensar os efeitos da modernização do setor, que tende a dispensar mão-de-obra; Melhorar o design dos produtos plásticos, por meio de pesquisa e desenvolvimento, formação de profissionais e centros de apoio; Desenvolver moldes para o setor de transformados plásticos internamente. A produção nacional ainda não foi totalmente viabilizada, embora já conte com capacitação técnica e qualidade; Aperfeiçoar e qualificar a mão-de-obra e os dirigentes de pequenas empresas do setor; Intensificar a cooperação entre empresas, distribuidoras e clientes, principalmente grandes varejistas; Desenvolver o mapeamento das empresas do setor de transformação plástica. 99