GRUPO DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICO COM MULHERES COM CANCRO DA MAMA EM DIFERENTES FASES DO CURSO DA DOENÇA: EXPRESSAR,
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- Vitorino da Silva Filipe
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1 GRUPO DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICO COM MULHERES COM CANCRO DA MAMA EM DIFERENTES FASES DO CURSO DA DOENÇA: EXPRESSAR, ENTREAJUDAR, RESIGNIFICAR, CRESCER E CURAR SÓNIA REMONDES-COSTA 1 & JOSÉ LUÍS PAIS-RIBEIRO 2 Os avanços da medicina explicam o aumento da longevidade dos doentes com cancro, não obstante, na trajectória de luta contra a doença e adaptação aos tratamentos, a integridade psíquica e a qualidade de vida dos doentes oncológicos é largamente comprometida. A qualidade de vida dos doentes oncológicos é assim um preocupação fundamental na actualidade (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). A experiência de doença do cancro da mama coloca muitos desafios às doentes. Por essa razão, doentes oncológicas e familiares solicitam apoio psicossocial. Embora muitas doentes enfrentem o processo apenas com o apoio dos familiares e amigos, o apoio psicossocial institucionalizou-se. Conhecem franca expansão as consultas especializadas de psico-oncologia nos hospitais gerais e institutos de oncologia, mais recentemente na Liga Portuguesa Contra o Cancro, quer nos meios urbanos, quer nos meios rurais. Este apoio tem vindo a conhecer aumento da procura por das doentes e familiares, de tal forma, que os serviços começam a evidenciar congestionamento. Tendo em conta que o cancro da mama é o cancro feminino mais frequentemente em todo o mundo, e demonstrada a eficácia da intervenção terapêutica junto das doentes, em termos clínicos e empíricos, o número de pedidos de apoio psicossocial por doentes com cancro da mama tem vindo a aumentar. Daí que para evitar a saturação dos pedidos de consulta individual, seja impreterível apostar na intervenção terapêutica em grupo. A formação de grupos com pessoas que experimentam situações de vida ameaçadoras à sua saúde e à existência humana são de reconhecido potencial terapêutico. Aliando ao benefícios terapêuticos da participação em grupo, o igualmente benéfico, fornecimento de suporte social, bem como, a redução de custos em saúde, na medida que com menos recursos humanos se ajuda um maior número de pessoas (Guerra & Lima, 2005). 1-Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Consulta de Psico-oncologia (Liga Portuguesa Contra o Cancro & Laços para a Vida) Vila Real; 2-Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto. 1184
2 ACTAS DO 9 CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE ORGANIZADO POR: JOSÉ LUÍS PAIS RIBEIRO, ISABEL LEAL, ANABELA PEREIRA, PAULA VAGOS, E INÊS DIREITO. Em Portugal, o desenvolvimento da Psicologia da Saúde nas últimas duas décadas, fomentou o interesse pela elaboração, aplicação e avaliação da eficácia de programas de intervenção psicossocial em oncologia (McIntyre, Fernandes & Pereira, 2001). A Universidade do Minho tem vindo a desenvolver programas de intervenção em grupo dirigidos a pacientes com patologia oncológica, em diferentes fases do curso da doença, e programas breves de intervenção psicológica para doentes em quimioterapia, estruturados por sessões (6 sessões de 90 minutos cada), com vista à sua implementar em serviços de oncologia. Tinham como objectivo trabalhar a adesão ao tratamento, dor, morbilidade psicológica, efeitos colaterais do tratamento, stresse, suporte social, crenças relativamente à doença e a relação profissional de saúde-doente. Desenvolveram-se ainda programas breves de intervenção psicológica dirigidos a patologias específicas, o programa breve de intervenção de grupo para mulheres mastectomizadas, estruturado em 4 sessões, com objectivo de trabalhar a adesão ao tratamento, morbilidade psicológica, stresse, dor, crenças relativas à doença, imagem corporal, perdas, relacionamento conjugal e /ou interpessoal (McIntyre, et al., 2001). Em Espanha, o grupo de Estrella Durá da Universidade de Valência (Durá & Hernández, 2001), defende a pertinência de Programas de Apoio Social em grupo, centrados no apoio informativoeducacional e experiencial-emocional, na melhoria da saúde física e psíquica dos doentes oncológicos. Acreditamos que o investimento em intervenções terapêuticas de grupo com doentes oncológicos em todos os serviços de saúde (cuidados primários e secundários), nomeadamente, nos serviços de oncologia e em instituição particulares de apoio aos doentes com cancro, traria benefícios a curto, médio e a longo prazo, quer em eficácia, diminuição dos custos em saúde (com doentes e profissionais), quer na consolidação da psicologia oncológica, na prática clínica e empírica, e no avanço científico da psicologia em geral. Por esta razão, pretendemos contribuir para o desenvolvimento e incremento de grupos de intervenção terapêutica com doentes oncológicos. Constitui o propósito do presente trabalho apresentar um programa de grupo de intervenção terapêutica com mulheres com cancro da mama, em diferentes fases do curso da doença. Denominámos o programa de grupo de expressar, entre-ajudar, re-signifcar, crescer e curar, pois esses são os objectivos gerias do mesmo. Este foi pensado tendo em conta as características sóciodemográficas e socioculturais das doentes com cancro da mama transmontanas, bem como, a experiência clínica em consulta psico-oncológica individual com estas doentes. MÉTODO Apresentação do programa de intervenção terapêutica em grupo 1185
3 Grupo- Escolhemos a designação de grupo terapêutico por se tratarem, como define Zimerman (1997) de grupos com vista à melhoria de situação física ou psíquica perturbadora, ou ambas. Grupo será constituído por 8/10 doentes com cancro da mama em diferentes fases do curso da doença (diagnóstico, tratamentos, sobrevivência, recidiva). Seguindo a ideia da eficácia dos processos de grupo ser maior em pequenos grupos (Maisonneuve, 2004). Exclusão de doentes em fase terminal, nestes casos, consideramos aplicar-se melhor a intervenção individual. Será um grupo fechado, ou seja, depois de iniciado não se aceitam novos elementos. Desta forma, acreditamos que se trabalha de forma mais eficaz a coesão, união e crescimento pessoal. Integrarão o grupo doentes que frequentaram com sucesso terapia psico-oncológica individual, completando assim o seu processo terapêutico, por um lado, e desempenhando um papel positivo de modelo da experiência de doença, por outro. E doentes que não beneficiaram de qualquer ajuda terapêutica, que não apresentem quadros clínicos de sintomatologia psicopatológica, mais indicadas para terapia individual. Duração do grupo-o grupo terá a duração de 12 sessões semanais, distribuídas por quatro módulos, ao longo de quatro meses. Ou seja, um módulo por cada mês. Cada sessão terão a duração 90 minutos. Facilitação-Escolhemos o termo facilitação descrito por Carl Rogers ( 1972), assente no paradigma do modelo não directivo, ao invés de liderança, não no sentido de não ter um objectivo (direcção) específico, uma estrutura, pois o grupo tem um programa a seguir, mas no sentido de possibilitar e promover as condições necessárias para a expressão, partilha e comunicação, num sentido de aceitação, compreensão, entre ajuda e o crescimento pessoal individual e grupal. Facilitação ainda, no sentido de potenciar a função terapêutica de cada uma das participantes nas demais e de respeitar a auto-direcção do grupo. A facilitação do grupo estará a cargo de psicóloga com experiência clínica em psico-oncologia, contando ainda com uma co-facilitadora, igualmente psicóloga, que desempenhará o papel de observadora participante. Objectivos Gerais 1. Fomentar a partilha de experiências de doença 2. Promover o espírito de entre-ajuda nas doentes 3. Capacitar para o crescimento pessoal na experiência de doença 4. Resignificar a experiencia de doença no ciclo da vida Objectivos específicos 1186
4 ACTAS DO 9 CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE ORGANIZADO POR: JOSÉ LUÍS PAIS RIBEIRO, ISABEL LEAL, ANABELA PEREIRA, PAULA VAGOS, E INÊS DIREITO. 1. Ventilar pensamentos, crenças, sentimentos e emoções relacionadas com a doença 2. Promover a entreajuda e aprendizagem com base na partilha das experiências da doença em diferentes fases do seu curso 3. Potenciar o suporte social 4. Fornecer suporte instrumental sobre a doença e tratamentos 5. Incrementar estratégias positivas/activas de coping 6. Capacitar para o ajustamento aos tratamentos e seus efeitos secundários 7. Trabalhar a imagem corporal, corporalidade, sexualidade, relacionamentos íntimos e sociais 8. Promover a adaptação ao novo estilo de vida 9. Implementar técnicas de relaxamento 10. Promover estilos de vida saudáveis 11. Trabalhar a significação da doença na trajectória de vida 12. Trabalhar a dimensão existencial e espiritual associada à experiência de doença Planificação do Programa de Intervenção Num primeiro momento, realizar-se-á entrevista prévia para selecção das participantes com o objectivo de avaliar a existência de condições para integrar o grupo e motivação para integrar o mesmo. Serão igualmente explicados os objectivos do programa, conteúdos e duração. Módulo I 1. Apresentação dos objectivos do grupo 2. Integração do grupo 3. Partilha das experiências de doença 4. Explorar crenças de doença 5. Ventilar sentimentos e emoções 6. Oferecer suporte instrumental sobre a doença e tratamentos 7. Activar o suporte social 8. Promover a entre-ajuda Módulo II 1. Promover formas activas e eficazes de confronto com a doença 2. Elaboração de perdas sofridas 3. Trabalhar a imagem corporal, relacionamentos íntimos, sexuais e sociais 4. Ajustamento ás mudanças no estilo de vida e desempenho de funções e papéis 5. Aprendizagem de técnicas de relaxamento e mentalização positiva para redução da ansiedade e stresse 6. Resignificação da experiência de doença Módulo III 1. Facilitar a auto-regulação do grupo 2. Promover estilos de vida saudáveis 3. Trabalhar a auto-estima, auto-regulação e auto-eficácia 4. Desenvolvimento de competências de ajustamento ao processo de doença 5. Potenciar e exercitar o treino de auto-relaxamento e mentalização positiva 6. Promover a consolidação de competências desenvolvidas 7. Reforço das competências de entre-ajuda Módulo IV 1. Reforço e manutenção das competências desenvolvidas 2. Capacitação para a autonomização do grupo 3. Preparação para o fim do grupo 4. Desmame 5. Avaliação do grupo 6. Finalização do grupo terapêutico 1187
5 REFERÊNCIAS Durá, E., & Hernández, S. (2001). Programas de apoyo social para enfermos oncológicos. In. M.R. Dias & E. Durá (Coord.). Territórios da Psicologia Oncológica (pp ). Lisboa: Climepsi. Guerra, M.P., & Lima, L. (2005). Intervenção psicológica em grupos em contextos de saúde. Lisboa: Climepsi. Maisonneuve, J. (2004). A dinâmica dos grupos. Lisboa: Livros do Brasil. McIntyre, T., Fernandes, S., & Pereira, M. G. (2001). Intervenção Psicossocial Breve em Situação Oncológica em Contexto de Grupo. In. M.R. Dias & E. Durá (Coord.). Territórios da Psicologia Oncológica. (pp ) Lisboa: Climepsi. Pinto, C. A., & Pais-Ribeiro, J. L. (2007). Sobrevivente de cancro: uma outra realidade. Texto Contexto Enfermagem, 16 (1), Rogers, C. (1972). Grupos de encontro. Lisboa: Morais Editores. Zimerman, D. (1997). Classificação geral dos grupos. In. D.E. Zimerman & L.C. Osorio. Como trabalhamos com grupos (pp.75-81). Porto Alegre: Artmed. 1188
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