O problema do jogo dos discos 1
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- Laís Azambuja Ramires
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1 O problema do jogo dos discos 1 1 Introdução Roberto Ribeiro Paterlini Departamento de Matemática da UFSCar Temos aplicado o problema do jogo dos discos em classes de estudantes de Licenciatura em Matemática e temos acompanhado colegas professores que o têm aplicado na escola média e fundamental O problema tem feito muito sucesso 2 O problema do jogo dos discos Uma escola estava preparando uma Feira de Ciências e foi pedido aos estudantes que bolassem um jogo que servisse para arrecadar fundos Os estudantes observaram que no salão da Feira o piso era feito com quadrados de 30 cm de lado, desses quadrados de Paviflex Pensaram então em construir discos de papelão de um certo diâmetro d que seriam comprados pelos visitantes por R$ 1,00 cada um O visitante jogaria o disco aleatoriamente no piso Se o disco, depois de pousar no piso, tocasse um lado de um quadrado, ele perderia para a escola o que tinha pago Se, ao contrário, acertasse o disco inteiramente dentro de um quadrado, ele receberia R$ 2,00 (R$ 1,00 como devolução e mais R$ 1,00 como prêmio) posição favorável ao jogador posições favoráveis à escola O problema dos estudantes consistia em determinar o diâmetro d dos discos de modo que o jogo resultasse favorável à escola Observaram que quanto menor d melhor para o jogador, e quanto maior d melhor para a escola O favorecimento para a escola não deveria ser exagerado, pois, se o jogo fosse muito desfavorável para o jogador, ninguém iria querer jogar Resolveram que uma probabilidade de 60% favorável à escola seria adequada Pergunta 1: Como determinar o valor de d que resulta em uma probabilidade de 40% favorável ao jogador e de 60% à escola? Pergunta 2: Qual será, em média, o ganho da escola se 500 discos forem 1 Publicado na Revista do Professor de Matemática, n 48, 1 quadrimestre de 2002, págs 13 a 19 Republicado em Matemática Ensino Médio, Coleção Explorando o Ensino vol 3, Brasília, Ministério da Educação,
2 vendidos na feira? Pergunta 3: Se os quadrados do piso têm lado l, qual a fórmula para o valor de d que resulta numa probabilidade p para o jogador? Pergunta 4: O que muda no jogo se for feita a seguinte modificação: se o bordo do disco tangenciar o lado de um quadrado, a jogada é favorável ao jogador Qual a probabilidade de ocorrer esse caso? 3 Solução do problema do jogo dos discos Resposta da Pergunta 1 Para obtermos uma solução exata podemos resolver primeiro a pergunta 3 e depois especificar os valores l = 30 cm e p = 40% = 0, 4 Isso está feito logo abaixo, onde podemos ver que o diâmetro procurado é d = , 0263 Uma solução aproximada pode ser obtida simulando-se o jogo com discos de vários diâmetros Para cada diâmetro fazemos o quociente do número de acertos do jogador pelo número de jogadas Colocamos os dados num gráfico cartesiano em que o eixo dos x representa o diâmetro dos discos e o eixo dos y representa a probabilidade do jogador ganhar Unindo-se os pontos assim conseguidos obtemos uma curva que se assemelha a uma parte do gráfico de uma função quadrática P (d) Através desse gráfico procuramos o valor de d para o qual resulta P (d) = 40% Este é o valor aproximado Abaixo apresentamos os dados de um experimento realizado por estudantes, no qual foi obtido d 11, 5 Resposta da Pergunta 2 Se 500 discos forem vendidos na feira, a arrecadação bruta será R$ 500,00 Supondo que em 40% das jogadas (200 jogadas) os jogadores ganhem, a escola pagará R$ 400,00 Sobrará R$ 100,00 para a escola Resposta da Pergunta 3 Seja l o lado do quadrado do piso e seja d o diâmetro do disco Assumimos d l Construindo um quadrado de lado l d simetricamente disposto dentro do quadrado de lado l (ver figura) vemos que o jogador ganha se o centro do disco cair no interior do quadrado de lado l d l d l Sob condições ideais podemos supor que lançar o disco aleatoriamente no piso é o mesmo que lançar seu centro aleatoriamente Assim a probabilidade p do jogador ganhar é a mesma probabilidade de um ponto, lançado aleatoriamente dentro do quadrado de lado l, cair dentro do quadrado de lado l d Da definição de probabilidade geométrica (veja [3]) temos d/2 2
3 ou área do quadrado menor p = área do quadrado maior p = (l d)2 l 2 = 1 l 2 d2 2 l d + 1 Obtemos assim a função quadrática P (d) = (1/l 2 )d 2 (2/l)d+1, sendo P (d) a probabilidade de um disco de diâmetro d, 0 d l, lançado aleatoriamente, cair inteiramente no interior do quadrado de lado l Dada uma probabilidade p, com 0 p 1, resolvendo a equação P (d) = p em d obtemos d = l(1 ± p) Lembrando que 0 d l temos d = l(1 p) Esse é o diâmetro do disco que resulta em uma probabilidade p em favor do jogador Podemos agora encontrar a resposta exata da Pergunta 1 Fazendo l = 30 e p = 0, 4 obtemos d = Em valores aproximados resulta d 11, cm Apresentamos abaixo o gráfico de P (d) = (1/30 2 )d 2 (1/15)d + 1, com 0 d 30 Observe que d = 30 é um zero duplo de P (d) p 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0, d As duas linhas pontilhadas na figura acima mostram como se obtém graficamente o valor de d tal que P (d) = 0, 4 = 40% Resposta da Pergunta 4 Teoricamente nada muda A probabilidade do disco tangenciar o lado de um quadrado é zero, embora a contagem destes casos no método experimental dependa do observador das jogadas 4 Comentários sobre o uso do jogo dos discos em sala de aula Participando de um projeto dos Departamentos de Matemática e Física da UFS- Car tivemos a oportunidade de orientar um grupo de professores que aplicaram o problema do jogo dos discos em suas escolas Para resolver o problema por experimentação foram construídos discos de madeirit ou de borracha com diâmetros 4, 6, 8, 10, 12 e 14 cm Os professores observaram que devem ser feitos pelo menos 200 lançamentos para cada diâmetro Os resultados obtidos em uma classe da 2 ạ série estão dispostos na 3
4 tabela abaixo, sendo d o diâmetro dos discos, em cm, e p a probabilidade do jogador ganhar d p 4 75,5% 6 68,5% 8 62% 10 50% 12 38% 14 32% No gráfico abaixo estão dispostos os pontos obtidos Os estudantes, usando uma folha de papel quadriculado e uma régua, desenharam a curva que lhes pareceu ser a que melhor que se aproximava dos pontos dados e obtiveram a solução d 11, 5 (ligeiramente diferente do que obtivemos no gráfico) Ao fazer o gráfico abaixo usamos o aplicativo computacional Maple V para obter a função quadrática que mais se aproxima dos pontos dados Acrescentamos na lista dos estudantes os pontos (0, 1) e (30, 0) A função obtida foi P (d) = 0, d 2 0, d + 1, Resolvendo a equação P (d) = 0, 4 em d temos d 12, 2 p 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0, d 5 Fazendo conexões No problema do jogo dos discos podemos considerar pavimentações de outros tipos para o piso onde serão lançados os discos, fazendo conexões com outras áreas da Matemática Consideremos as pavimentações chamadas mosaicos regulares do plano Conforme vemos em [1], página 3, são pavimentações constituídas por polígonos regulares de um único tipo e satisfazendo as condições: a) quando dois polígonos se intersectam, essa interseção é um lado ou um vértice comum; b) a distribuição dos polígonos ao redor de cada vértice é sempre a mesma Os únicos mosaicos regulares do plano são os constituídos por triângulos equiláteros, quadrados ou hexágonos regulares Vamos aplicar nosso jogo dos discos a esses tipos de pavimentação O caso de mosaicos formados por quadrados já foi estudado acima Vejamos os outros dois casos 4
5 Suponhamos que o piso do jogo dos discos seja pavimentado com peças na forma de triângulos equiláteros de lado l Lembrando que o apótema do triângulo equilátero (raio da circunferência inscrita) vale a = ( 3/6)l, os discos podem ter diâmetro d tal que 0 d 2a, ou 0 d ( 3/3)l No interior do triângulo equilátero de lado l dispomos um triângulo equilátero de lado t, com lados paralelos ao triângulo maior, de modo que a distância entre o lado do triângulo maior ao lado paralelo do triângulo menor seja d/2 Confira a figura abaixo t l d/2 Podemos verificar que a relação entre l e t é l = t + 3d Lembrando que a razão entre as áreas de duas figuras semelhantes é igual à razão entre os quadrados dos lados, a probabilidade de um disco de diâmetro d, lançado aleatoriamente no piso, cair inteiramente dentro do triângulo de lado l é P (d) = t2 l 2 = (l 3d) 2 l 2 = 3 l 2 d2 2 3 d + 1 l Resolvendo a equação P (d) = p em d temos d = ( 3/3)l(1 ± p) Como 0 d ( 3/3)l temos d = ( 3/3)l(1 p) Esta é a solução do jogo dos discos para o caso do piso ser pavimentado com triângulos equiláteros Se o piso for pavimentado com peças na forma de hexágonos regulares, a probabilidade de um disco de diâmetro d, lançado aleatoriamente no piso, cair inteiramente dentro de um hexágono é P (d) = t2 l 2 = (l ( 3/3)d) 2 l 2 = 1 3l 2 d2 2 3 d + 1, 3l com 0 d 3l Resolvendo a equação P (d) = p em d temos d = 3(1± p)l Como 0 d < 3 l vem d = 3(1 p)l Esta é a solução para o caso do piso ser pavimentado com hexágonos regulares Outros tipos de pavimentação podem ser considerados 5
6 6 Referências bibliográficas [1] Alves, S e Dalcin, M, Mosaicos do Plano Revista do Professor de Matemática, n 40 São Paulo, Sociedade Brasileira de Matemática, 2 quadrimestre de 1999, pág 3-12 [2] Haruta, M E, Flaherty, M, McGivney, J e McGivney R J, Coin Tossing, The Mathematics Teacher, vol 89, n 8, novembro de 1996, pág 642 a 645 [3] Wagner, E, Probabilidade Geométrica Revista do Professor de Matemática, n 34 São Paulo, Sociedade Brasileira de Matemática, 2 quadrimestre de 1997, pág
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