NOTAS SOBRE A LÓGICA ESTOICA
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1 NOTAS SOBRE A LÓGICA ESTOICA Valter Duarte Moreira Junior Mestrando em Filosofia pela UFS RESUMO: Diante do grande desenvolvimento da Lógica e do cálculo proposicional no século XX, estudiosos do assunto em todo o mundo se concentraram em um rigoroso estudo dessa disciplina e sua história. Nesse processo, o eminente lógico polonês Jan Lukaziewicz descobriu em sua pesquisa sobre história da lógica a Lógica Estoica, que, já em III a. C., havia antecipado diversos métodos e conceitos da Lógica Moderna. Nossa intenção neste artigo é fazer um breve esboço da lógica desenvolvida pelos Estoicos. PALAVRAS-CHAVE: Lógica. Teoria do Conhecimento. Estoicismo. ABSTRACT: Moved by Logic s and Propositional calculus improvement in 21st century, experts all around the world had been concentrating themselves in a rigorous study of this discipline and its history. On this process, the eminent Polish logician Jan Lukaziewicz discovered in his research about the history of logic the Stoic Logic which, in III b. C., had already anticipated many of the concepts and methods of the Modern Logic. Our aim in this paper is to make a brief outline of the logic developed by the Stoics. Keywords: Logic. Theory of knowledge. Stoicism.
2 H á muitas semelhanças entre o Cálculo Proposicional contemporâneo e a lógica estoica. Entre elas podemos destacar o fato de que (i) ambas são do tipo proposicional; (ii) que o que os estoicos designavam axíōma (asserível) tem características muito próximas do que, em lógica contemporânea, se conhece por proposição 1. De maneira bastante sumária, faremos uma exposição da lógica desenvolvida pelos estoicos. Em primeiro lugar, vale notar que a lógica estoica não é do tipo sentencial 2, isto é, suas proposições não são formuladas com sujeito + verbo de ligação, ou cópula + predicado, onde os termos sujeito e predicado se referem sempre a classes, como ocorre na lógica aristotélica. As proposições estoicas, ou axíōmata, dividem- se em simples e não-simples 3, distinção análoga à divisão contemporânea entre proposições moleculares e atômicas, e são do tipo conjuntivo, disjuntivo, condicional ou negação. O axíōma estoico tem caráter verofuncional: partindo do princípio da bivalência, ele pode ser ou verdadeiro ou falso 4. Além disso, os operadores também têm valor-verdade, tal como na lógica atual, embora com algumas diferenças notáveis. Sendo mais preciso, o axíōma, ou asserível 5, segundo os Estoicos, é um exprimível completo em si, que pode ser afirmado no que se refere a si mesmo 6 e pode ser verdadeiro ou falso. Ao falar do exprimível, lektón em grego, os estoicos estão se referindo ao que Bobzien (2003) afirma ser o significado básico de tudo que dizemos ou pensamos e que forma a base de toda representação racional que nós temos 7. Assim que somos acometidos por uma percepção, é característica de nosso pensamento rotulá-la. Esse rótulo é articulável de forma linguística e é algo que pode ser expresso em palavras 8 (exprimível). Esse conjunto, que engloba sensação e 1 NOLT, John. Lógica. SP: Mcgraw-Hill, COPY, Irving Marmer. Introdução à Lógica. SP: Mestre Lou, Adv. Log. II, 93; D.L. VII, 68 e SVF, II, Sexo Empírico, Contra os Matemáticos, VII, 38. Salientamos que a obra comumente conhecida como Adversus Mathematicus é, na verdade, duas obras: Adversus Mathematicus (em português: Contra os Professores ou Contra os Cientistas, que vai do livro I ao VI) e Adversus Dogmaticus (em português, Contra os Dogmáticos, que vai do livro VII ao XI). O capítulo aqui citado faz parte, portanto, do livro II, da segunda obra Adversus Logicus II, doravante Adv. Log. II. 5 A palavra axiôma é traduzida como proposição por Hitchcock (2002) e GOULD (1970), mas tomaremos como padrão a tradução de Bobzien (2003), por entender que o termo é mais apropriado. 6 Sexto Empírico, Esboços de pirronismo II, 104. A partir daqui todos as referencias acerca desse texto serão substituídas pela sigla HP. 7 BOBZIEN, 2003, p. 86. Cf. Sexto Empírico, Contra os Dogmáticos, II, 70. Em Doravante esse texto será chamado de Adv. Log. II. 8 Adv. Log. II, 70. Cf. BOBZIEN, 2003, p
3 pensamento, é o que os estoicos chamam de representação racional (phantasía logikḗ), característica exclusivamente dos seres humanos. Os exprimíveis, portanto, subsistem em nossa mente como atributos de nossas representações. Muitas coisas podem ser ditas sobre a percepção que temos de uma representação qualquer e, ditas de diversas maneiras, em diferentes idiomas (isto é, através de diferentes signos). Por exemplo, quando alguém fala algo em inglês para uma pessoa que não conhece esse idioma, embora seu ouvinte tenha acesso ao signo (as palavras proferidas) por meio da audição, nada é transmitido para esse ouvinte, pois ele não compreende o sentido (lektón) do que lhe é dito. Segue-se disso que o exprimível é uma certa afirmação sobre uma percepção que temos 9. Seu caráter de entidade subsistente repousa sobre o fato de que ele, enquanto resultado da aplicação do pensamento sobre a percepção, não existe por si, sendo, por isso, dito incorpóreo 10. Entretanto, essa característica não exclui sua objetividade enquanto propriedade de algo. A partir do que foi dito segue-se que três coisas estão envolvidas no entendimento da pronuncia verbal: o signo (tò sēmaínon), o significado (tò sēmainómenon) e a realidade externa (tò tynchánon) 11, desses, dois são corpóreos (o signo e a realidade externa) e um é incorpóreo (o significado), sendo este algo subsistente que, embora não exista por si, é real enquanto propriedade de uma representação racional. Os estoicos diferenciam entre a voz (puro som vocálico), a expressão e o discurso 12. A voz (hēphonḗ) é uma percussão do ar, um simples som. A expressão é o signo (tò sēmaínon), voz escrita articulada em letras 13. Embora sua característica principal seja ser sempre articulada, a expressão vocal pode ser destituída de significado 14. Contudo, o discurso difere desta por ser sempre significante. Segundo Diógenes Laércio 15, dos exprimíveis, alguns são completos em si (autotelés), outros são deficientes (ellipés). Os deficientes são incompletos e imprecisos. Por exemplo, quando se diz escreve, fica no ar a pergunta: quem 9 Sêneca, Cartas a Lucílio, Segundo Diógenes Laércio (doravante indicado simplesmente por D.L.), VII, 61, para os estoicos, os corpos existem por si mesmos, enquanto o exprimível, no sentido físico, é uma certa propriedade da representação, subsistindo na mente. 11 Adv. Log. II Cf. DROZDEK, 2002, p D.L. VII, D.L. VII, Idem, Ibidem. 15 D.L. VII, 63-65;
4 escreve?. Já os completos em si são aqueles que possuem uma expressão completa e precisa, como, por exemplo: Sócrates escreve. Voltando a falar dos axíōmata (plural de axíōma), eles são um tipo particular de lektón completo em si mesmo e são os únicos lektá (plural de lektón) com valor de verdade. Entre os completos em si mesmos incluem-se perguntas, indagações, imperativos, juramentos, invocações, enigmas, maldições e hipóteses e asserções. O que diferencia os axíōmata dos demais é que (i) eles podem ser afirmados (ii) tão logo digam respeito a si mesmos 16. É sugerido ainda 17 que essa característica esteja associada ao seu valor de verdade. Eles podem ser afirmados, porém, por si mesmos, não têm caráter verbal, uma vez que subsistem independentemente de serem expressos. No entanto, são as únicas entidades que subjazem às nossas asserções, pois não há afirmação sem asserível 18. O valor de verdade é temporal, isto é, em um dado momento eles podem ser verdadeiros e, em outro, não, isto é, uma asserção qualquer é verdadeira (ou falsa) em t. Os axíōmata simples (hápla axíōmata) são aqueles compostos por sujeito (ptṓsis) e predicado (katēgórēma) sem conter conectivos lógicos 19. Os primeiros estoicos elaboraram um conjunto de regras de formação e condições de verdade para os axíōmata com o objetivo de eliminar sua ambiguidade estrutural, pois uma mesma sentença pode expressar vários axíōmata que pertencem a diferentes classes, ou, do mesmo modo, duas sentenças, com diferentes estruturas gramaticais, podem expressar o mesmo asserível. Essa arregimentação estrutural permite que, a partir da forma da sentença, seja possível reconhecer o tipo de axíōma expresso por ela. Entre os axíōmata simples, três são os tipos afirmativos. Os definidos, ou categoréticos (hṓrísmenon), em sua forma linguística, possuem um pronome demonstrativo como sujeito. E são definidos como asseríveis expressos seguidos da indicação física de seu objeto 20. Condição que, para ser satisfeita, exige a existência daquele objeto 21. A assertiva deve vir acompanhada de um ato físico, não verbal, de indicar (deîxis). Devemos notar que uma pessoa, ao dizer Este caminha e apontar, digamos, para um indivíduo qualquer, está dizendo algo diferente de outra pessoa que 16 D.L. VII, 65-8 (= SVF II, 193). 17 BOBZIEN, 2003, p BOBZIEN, 2003, p MATES, 1961, p Adv. Log. II, BOBZIEN, 2003, p
5 diz a mesma coisa apontando para outro indivíduo. O deîxis tomado nessas afirmações é diferente. Assim, o objeto do deîxis determina o tipo de deîxis. Outro tipo de axíōma simples é o indefinido (aóriston), descrito como aquele que possui como sujeito uma partícula indefinida 22. Por exemplo: Alguém está andando. Um axíōma indefinido não pode ser verdadeiro a menos que o definido correspondente também o seja. Isto é: se o axíōma definido Esta pessoa está andando é verdade de alguma pessoa particular, então o indefinido Alguém está andando também será verdadeiro. Por fim, o intermediário (méson) é descrito como um axíōma que nem é definido (dado não ser expresso deiticamente), nem é indefinido (pois se refere a um objeto particular) 23. Por exemplo: Sócrates está andando. Semelhantemente à situação dos axíōmata indefinidos, os intermediários serão verdadeiros apenas se seus correspondentes definidos também o forem. Para Sócrates está andando ser verdadeiro é necessário que Esta pessoa está andando (dito apontando-se para um indivíduo particular que está de fato andando) seja verdadeira. Os asseríveis não-simples (ouk hapla axíōmata) são compostos por mais de um asserível, ou por um asserível tomado duas vezes 24 e unidos por conectivos 25. Disso se segue que eles são classificados baseando-se nos conectivos que contém. São também de três tipos. O primeiro deles é a conjunção (sympeplegménon), definida como um asserível combinado por conectivos conjuntivos e (kaí, em grego) por exemplo: É dia e há luz 26. Essa regra de formação permite a união de mais de dois conjuntos. A versão do Grego kaí, que inicia uma frase, indicando que toda expressão subsequente está unida, é facilmente entendida no idioma inglês como a palavra both, que evita uma possível ambiguidade quando uma conjunção é negada. Para uma melhor compreensão em nosso idioma, em virtude da falta de uma palavra que substitua o kaí, ou both adotaremos a expressão Simultaneamente a e b nas conjunções, com a intenção de evitarmos essa ambiguidade 27. O conectivo conjuntivo é verofuncional, o que significa 22 Adv. Log. II, Adv. Log.II, D.L. VII, MATES, 1961, p D.L. VII, Outra possibilidade seria substituir a palavra kaí pela palavra ambos, mas, gramaticalmente falando, essa palavra se posiciona depois dos objetos aos quais ela se refere. 223
6 dizer que um asserível será verdadeiro se, e apenas se, todos os seus conjuntos forem verdadeiros, e falso se pelo menos um deles for falso 28. O segundo tipo é a disjunção (diezeugménon), formada por um asserível combinado por conectivos conjuntivos ou (hē), entendido sempre no sentido exclusivo, isto é, quando um dos disjuntos for verdadeiro, o outro (ou outros) será (ão) necessariamente falso(s). Por exemplo: Ou é dia ou é noite 29. Assim como nas conjunções, o ou inicial previne a ambiguidade sintática quando a disjunção é negada. Segundo Diocleciano 30, o conectivo disjuntivo declara que um ou outro dos disjuntos é falso. A condicional (synēmménon ou sēmeíon) é definida como um asserível formado pelo conectivo se 31, cuja forma pode ser escrita como Se p, q. Esse conectivo declara que o primeiro segue do segundo, por exemplo, Se é dia, há luz, o que nos leva a supor que o conectivo condicional indica que há uma relação de consequência entre seus componentes. A conexão entre os asseríveis tem como prérequisito a noção de conflito ou incompatibilidade (máchē): Uma condicional é [...] verdadeira se sua antecedente e a contraditório de sua consequente conflitam. 32 Houve Muita discussão acerca da natureza das condicionais na Antiguidade. Três grandes nomes se destacam entre os que encabeçaram essa discussão. São eles: Philo, Diodoro Crono (ambos da escola megárica) e Crisipo (estoico). Para Philo 33, a condicional só será falsa quando sua antecedente for verdadeira e sua consequente for falsa (P (V) Q (F) ) tal concepção é o que conhecemos hoje como implicação material. Para Diodoro Crono, é verdadeira a condicional da qual nem foi possível nem é possível a antecedente <ser> verdadeira e a consequente falsa 34. Crisipo 35 inclui outra exigência: para ele uma condicional é verdadeira apenas quando a contraditória de sua consequente conflita (máchetai) com sua antecedente. A negação (apophatikón) de um asserível é o próprio asserível prefixado pela palavra negativa não (ouk 36 ). São dois os cuidados ao se tomar para considerar essa definição: o primeiro é observar que, para os estoicos, a negação de um asserível 28 D.L. VII, D.L. VII, HITCHCOCK, D.L. VII, D.L. VII, HP HP HP D.L. VII,
7 simples é também simples, e a de um não simples é também não simples, pois ela não se encaixa na definição de conectivo 37. A estrutura de um asserível negado é Não-p. O segundo cuidado é o da distinção entre negação e contraditório (antikeímenon): Um asserível e sua negação são contraditórios (antikeímena), o que quer dizer que ambos não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. Sendo, portanto, o termo contraditório mais geral que o termo negação. A negação da negação não é dia é a dupla negação (hyperapophatikón) Não não é dia, que equivale à afirmativa É dia 38. Como complemento, Bobzien 39 afirma que os estoicos classificavam os axíōmata de acordo com sua modalidade: i.e. possibilidade, impossibilidade, necessidade, não-necessidade, plausibilidade e probabilidade 40, que eram definições modais dos asseríveis. A partir dos axíōmata podemos construir aquilo que chamamos de argumentos (lógoi). Os argumentos são um conjunto de asseríveis formulados de forma silogística 41. Isto é, satisfazem critérios gerais de validade 42. O termo premissas está no plural porque Crisipo considera apenas argumentos com no mínimo duas premissas. Não há fontes que relatem o motivo de ele não aceitar argumentos com uma premissa. Um típico argumento estoico é como este: p1- Se é dia, há luz. p2- Mas é dia. c- Logo, há luz. É importante observar que, nos silogismos estoicos, as variáveis dos argumentos são substituídas por proposições, não por classes de indivíduos ou objetos como ocorre no silogismo aristotélico. 37 MATES, 1961, p D.L. VII, BOBZIEN, 2003, p Para Diodoro, o asserível possível é aquele que ou é ou será [verdadeiro]. O impossível é aquele que, sendo falso, não será verdadeiro. O necessário é aquele que, sendo verdadeiro, não será falso. O não-necessário é aquele que ou é ou será falso. (Cf. MATES, 1961, p. 37). Para Philo, o asserível possível é aquele que por sua natureza é suscetível de ser verdadeiro. O impossível é aquele que, de acordo com sua natureza, não é suscetível de ser verdadeiro. O necessário é aquele que, sendo verdadeiro, não é por sua própria natureza suscetível de ser falso. O não-necessário é aquele que por sua natureza é suscetível de ser falso (Cf. MATES, 1961, p. 40). Para Crisipo, o asserível possível é aquele que admite ser verdadeiro quando eventos externos não o impedem. O impossível é aquele que não admite ser verdadeiro. O necessário é aquele que, sendo verdadeiro, não admite ser falso, ou admite ser falso, mas é impedido por circunstancias externas de sê-lo, O não-necessário é aquele que é verdadeiro e é capaz de ser falso e as circunstancias externas não o impedem de sê-lo. Por exemplo: Dion está andando (D.L. VII, 75. Cf. MATES, 1961, p. 41) 41 Cf. D.L. VII, Cf. D.L. VII
8 Crisipo formulou modos de verificação pelos quais, a partir de princípios básicos de formação de premissas e argumentos, é possível analisar a validade dos mesmos. Todos os argumentos são formados por uma combinação de axíōmata e conectivos. A partir delas podemos obter a estrutura elementar de todos os argumentos possíveis no sentido estoico do termo. Os argumentos silogísticos, ou silogismos, são ou argumentos indemonstrados ou argumentos que podem ser reduzidos aos indemonstrados. Passemos em revista os primeiros. Os argumentos indemonstrados são os tipos elementares de argumentos a partir dos quais se formam todos os outros. Por serem básicos, eles não precisam de demonstração 43, dada a evidencia de sua validade a partir das definições dos axíōmata simples e da contradição. O termo grego para um argumento elementar é anapodeîktōs. Nessa palavra, o sufixo tōs é ambíguo, permitindo que seja traduzido tanto por indemonstrado como por indemonstrável. Entretanto, o termo indemonstrável sugere a impossibilidade de demonstração, o que não é o caso, já que esses argumentos podem (mas não precisam) ser demonstrados, dada a sua evidencia imediata 44. Descrevendo a forma de um argumento de tal tipo 45, Crisipo distingue cinco classes de argumentos. Outros estoicos posteriores, sete 46. Cada indemonstrado é um argumento elementar com a seguinte estrutura: (i) um asserível não-simples como premissa guia (hēgemonikón lḗmma), (ii) uma premissa simples como coparticipante (próslēpsis) e (iii) outra premissa simples como conclusão (sympérasma). O primeiro indemonstrado é um argumento composto por uma condicional e seu antecedente como premissas, tendo a consequente da condicional como conclusão 47. Tal indemonstrado tem como esquema a forma: A 1- ( modus ponendo ponens) P 1 - Se o primeiro, o segundo 48. (P Q) hēgemonikón lḗmma P 2 - Mas o primeiro. (P) - próslēpsis C - Logo, o segundo..: (Q) - sympérasma Adv. Log.II, Adv. Log.II, Adv. Log.II, Adv. Log. II, 223; D.L. VII, Adv. Log. II, 224, D.L. VII, O fato de adotarem numerais como variáveis permite um alcance muito mais amplo do numero de argumentos a serem substituídos, já que cada termo é substituído por proposições inteiras (simples, nãosimples e suas negações) ao invés de nomes de classes. 49 HP,
9 O segundo indemonstrado é um argumento composto de uma condicional e a contraditória de sua consequente como premissas, tendo a contraditória de sua antecedente como conclusão: A 2- modus tollendo tollens P 1 - Se o primeiro, o segundo. (P Q)- condicional P 2 - Mas não o segundo. (~Q) - contraditória da consequente C - Logo, não o primeiro.:(~p) -contraditória da antecedente 50 O terceiro indemonstrado é um argumento composto por uma conjunção negada e um de seus conjuntos como premissas, tendo a contraditória do outro conjunto como conclusão: A 3- P 1 -Não é o caso que tanto o primeiro quanto o segundo. ~(P & Q) P 2 - Mas o primeiro. (P) C - Logo, não é o caso que o segundo..:(~q) 51 O quarto indemonstrado é um argumento composto por um asserível disjuntivo (exclusivo) e um de seus disjuntos como premissas, tendo a contraditória do disjunto restante como conclusão 52 : A 4- modus ponendo tollens P 1 - Ou o primeiro, ou o segundo. (P V Q) P 2 - Mas o primeiro.(p) C - Logo, não o o segundo..: (~Q) O quinto indemonstrado é um argumento composto por um asserível disjuntiva e a contraditória de um de seus disjuntos como premissas, tendo o disjunto restante como conclusão: A 5- modus tollendo ponens 53 : P 1 - Ou o primeiro, ou o segundo. (P V Q) P 2 - Mas não o primeiro. (~P) C - Logo, o segundo..: (Q) Os argumentos chamados de silogísticos 54 são, portanto, formados por indemonstrados e podem ser reduzidos a um ou mais deles por meio de regras gerais, que permitiam saber como certos argumentos (os válidos) se relacionavam com os indemonstrados, relação essa que mostra que o argumento (i) ou é composto de vários indemonstrados, (ii) ou é uma conversão de um indemonstrado, (iii) ou é uma mistura de ambos D.L. VII, 80; HP, D.L. VII, 80, HP, D.L. VII, 81; HP, Galeno, Institutio Logica, 16; D.L. VII, 81; HP, D.L. VII, 76-81; Adv. Log. II, Adv. Log. II,224; 228-9; ; 228-9;
10 A análise 56, que é crisipeana, é feita a partir de metarregras lógicas (thémata) que reduzem argumentos (ASA 57 ) em um ou mais argumentos (anapodeíktoi). Podemos dizer que os thémata são quatro: O Primeiro Théma 58 diz que quando de dois (asseríveis) um terceira segue, então de um dos dois (primeiros) junto com a contraditória da conclusão segue a contraditória do outro (restante, dos primeiros): P 1, P 2 C.:P x, ~C ~P y onde x, y = 1,2 e x y. O Segundo Théma diz que quando de dois asseríveis um terceira segue, e do terceiro mais um ou ambos dos dois outros um outro segue, então, esse último segue dos dois primeiros 59 : P 1,P 2 P 3 P 3, P Z C.: P 1,P 2 C onde Z = (1 v 2) v (1,2). O Terceiro Théma 60 diz que quando de dois (asseríveis) um terceiro segue, e daquele que segue (terceiro) somado com outro, externo, outro segue, então esse outro segue dos dois primeiros mais o externo ; P 1,P 2 P 3 P 3, E C.: P 1,P 2,E C Onde E é uma premissa externa. O Quarto Théma diz que quando de dois asseríveis um terceiro segue, e do terceiro somado com um ou ambos dos dois e um asserível externo segue outro ainda, então esse outro segue dos dois primeiros e o externo 61. P 1,P 2 P 3 P 3, P z, E C.: P 1,P 2, E C Onde E é uma premissa externa. 56 Adv. Log. II, Expressão Estoica para o processo de redução de argumentos. 57 Argumentos a Serem Analisados. 58 Apuleio, De Interpretatione, 278, linhas 6ss; Simplício, In De Caelo, 336, linhas 33ss. 59 Simplício, in de caelo 237, Alexandre de Afrodísias, Sobre os Primeiros Analíticos de Aristóteles (doravante referido apenas como AN ), 278, 11-14; Simplício, De caelo,237, BOBZIEN, 2003, 117p. 228
11 Há evidências textuais dos 1º e 3º thémata, mas os outros dois foram deduzidos satisfazendo determinados requerimentos: (i) os segundo, terceiro e quarto thémata juntos devem cobrir o teorema dialético 62 (vide à frente); (ii) os thémata têm que ser aplicáveis, no sentido de que, pelo seu uso, alguém pode descobrir se um argumento é um silogismo; (iii) eles têm que ser simples o suficiente para serem formulados em grego comum; (iv) o segundo théma, possivelmente alinhado com o primeiro, deve reduzir os argumentos indiferentemente concluídos e os argumentos com duas premissas modais; (v) os terceiro e quarto thémata devem mostrar alguma similaridade, ou devem ser usados juntos em algumas análises 63. O teorema dialético é uma metarregra 64 criada para facilitar a análise de silogismos. Ele diz que quando nós temos premissas que deduzem alguma conclusão, nós temos potencialmente aquela conclusão também naquelas premissas, ainda que não expressamente dita. 65 Como o nome presume (dialético), Crisipo só aceitava como silogismo proposições com no mínimo duas premissas. Após sua morte, ao menos um estoico parece ter aceito argumentos de uma só premissa: Antipatro de Tarso 66. Desse modo, o conceito de argumento estoico é mais restritivo que o da lógica moderna, ao encarar como argumento válido apenas aqueles formados por no mínimo duas premissas. Uma segunda particularidade existe: a exigência da não-redundância das premissas. Segundo Sexto Empírico 67, um argumento é inválido por redundância se tiver uma ou mais premissas externas adicionadas a ele de forma supérflua. Assim, os thémata só podem ser aplicados a argumentos com, no mínimo, duas premissas, pois não há indemonstrados formados por premissas redundantes, e os thémata requerem que todas as premissas do ASA sejam componentes dos indemonstrados. Ter estrutura similar aos indemonstrados é condição necessária para que um argumento seja um argumento válido silogisticamente. Nessas circunstancias, segundo Sexto Empírico 68 e Diocles 69, um argumento não é considerado válido até ser 62 Mencionado por Sexto Empírico, em Adv. Log. II, 231 e aplicado em II, BOBZIEN, 2003, 116p. 64 Cf. D.L. VII, 195; Adv. Log.II, Adv. Log.II, As proposições p 3 dos themata são essas conclusões implícitas. 66 Apuleio, De Int Adv. Log.II Adv.Log.II, Cf. D.L.VII,
12 reduzido, pois, segundo este último, argumentos silogísticos são aqueles que ou são indemonstrados ou são reduzidos aos indemonstrados por um ou mais thémata. Demonstrações estoicas: Os estudiosos da lógica Estoica nos proveram exemplos de redução feitos por fontes antigas: a de Alexandre de Afrodisias e a de Simplício, que, segundo Bobzien 70, são diferentes segundo a ordem de análise. A versão de Alexandre menciona primeiro os argumentos superordenados 71, enquanto a versão simpliciana menciona primeiro o argumento subordinado 72, que segue do ASA para os anapodeítktoi para verificar se os argumentos podem ser analisados nos indemonstrados por meio dos thémata. As descrições dos anapodeítktoi abrangem um amplo número de argumentos. Tal abrangência é evidenciada segundo três princípios, enumerados por Bobzien (2003): (i) nos casos dos terceiro, quarto e quinto anapodeítktoi, é deixado em aberto qual asserível constituinte ou contraditória de uma asserível constituinte é tomado como coparticipante; (ii) as descrições são dadas, todas elas, em termos de asseríveis e suas contraditórias, não em termos de asseríveis afirmativos ou negativos. O primeiro asserível pode ter qualquer uma das combinações de asseríveis afirmativos e negativos. Por exemplo: se simbolizarmos os asseríveis afirmativos como p e q, os negativos serão Não-p e Não-q, podendo ter como combinações: se p, q; se Não:p, q; se p, Não:q; se Não-p, Não-q, levando a uma série de combinações diferentes. (iii) Outra característica que permite essa amplitude aos indemonstrados é o fato de que as descrições, como são formuladas, permitem que os asseríveis constituintes das premissas condutoras sejam, elos mesmos, asseríveis não-simples. Sexto Empírico 73, ao descrever os cinco tipos de indemonstrados, informa que os Estoicos aplicaram outro modo de determinar suas formas básicas, que são precisamente em virtude dos modos, definidos, segundo Diógenes Laércio, como um tipo de esquemas de um argumento 74. Assim, um modo é um silogismo quando um argumento correspondente com a mesma forma é um silogismo. Logo, qualquer argumento proposto de um modo silogístico particular é um argumento válido. Porém, o modo em si mesmo não é um argumento, mas funciona de , 111p. 71 Que produzem outros argumentos. 72 Que é produzido por outro argumento. 73 Sexto Empírico, Adv. Dog. VIII 227. Cf. Bobzien, 2002, p D.L. VII,
13 várias maneiras. Uma delas é como formas nas quais os diferentes indemonstrados (e outros argumentos) são propostos. Por exemplo: no caso de um primeiro indemonstrado, o modo fornece uma forma sintática padrão. A forma lógica representada por um modo silogístico é a razão para a validade formal do argumento particular. Ou seja, segundo a forma, o modo serve para verificação da validade de argumentos. As outras duas maneiras funcionais do modo são aquelas nas quais os modos e os números ordinais são aplicados. Os números parecem ficar no lugar dos asseríveis e os modos são usados como abreviações de argumentos particulares. Assim, na analise de silogismos complexos, objetivando simplicidade e clareza, os números tomam lugar de asseríveis simples na sequência de sua ocorrência nos argumentos. Por exemplo: Se é dia, há luz ; mas o 1º ; Logo, o 2º. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE DE AFRODÍSIAS. Eis ta Topika Aristotelous, hypomnemata in Topica Aristotelis, commentarii. Veneza: In aedibvs Aldi et Andreae Soceri, ALEXANDRE DE AFRODÍSICAS. On Aristotle's Prior analytics. Trad. Jonathan Barnes. Ithaca: Cornell University Press, AMÔNIO. On Aristotle's on Interpretation 1-8 (Ancient Commentators on Aristotle). David Blank (Trad). Cornell: Cornell University Press, APOLÔNIO DÍSCULO. Scripta Minora. Perí Sundesmon. IN: Gramatici graeci, volume 2. Leipzig: Teubner, APULEIO. The Logic of Apuleius. Trad. David George Londey,Carmen J. Johanson. Leiden: Brill, AULO GÉLIO. Attic Nights. Trad. J. H. Rolfe. Harvard: Loeb, BARNES, J. Logic and Imperial Stoa. Leiden: Brill, CÍCERO, On the Orator: Book 3. On Fate. Stoic Paradoxes. Divisions of Oratory. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb, CÍCERO. On the Nature of the Gods. Academics. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb, DIÓGENES LAÉRCIO. Vida e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Universidade de Brasília. DROZDEK, Adam. Lekton: Stoic Logic and Antology, IN: Acta Ant. Hung.N 42,
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