Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos

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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Instituto de Psicologia Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos História da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina: um estudo comparado entre Eliezer Schneider e Plácido Horas Rio de Janeiro 2017

2 Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos História da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina: um estudo comparado entre Eliezer Schneider e Plácido Horas Tese apresentada à banca examinadora como requisito para obtenção do Título de Doutora, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria Jacó Vilela Coorientador: Prof. Dr. Hugo Klappenbach Rio de Janeiro 2017

3 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A V331 Vasconcellos, Maira Allucham Goulart Naves Trevisan. História da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina: um estudo comparado entre Eliezer Schneider e Plácido Horas / Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos f. Orientadora: Ana Maria Jacó Vilela Co-orientador: Hugo Klappenbach Tese (Doutorado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia. 1. Psicologia Social Teses. 2. Psicologia História Teses. 3. Direito Aspectos psicológicos Teses. I. Jacó-Vilela, Ana Maria. II. Klappenbach, Hugo. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia. IV. Título. es CDU 159.9:34 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte. Assinatura Data

4 Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos História da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina: um estudo comparado entre Eliezer Schneider e Plácido Horas Tese apresentada à banca examinadora como requisito para obtenção do Título de Doutora, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 22 de setembro de 2017 Banca Examinadora: Profa. Dra. Ana Maria Jacó Vilela (Orientadora) Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ) Prof. Dr. Hugo Klappenbach (Coorientador) Universidad Nacional de San Luis - UNSL) Profa. Dra. Esther Maria de Magalhães Arantes Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - UERJ/PUC Rio Prof. Dr. Alexandre de Carvalho Castro Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-RJ Profa. Dra. Leila Maria Torraca de Brito Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ Rio de Janeiro 2017

5 DEDICATÓRIA A todas as mulheres, que mesmo em meio ao caos, persistem na luta

6 AGRADECIMENTOS Gratidão a Ana Jacó, pela dedicação na orientação, pela rica aprendizagem, por me receber no Rio de Janeiro e por me acolher ao longo desta trajetória. Gratidão a Hugo Klapenbach, pela gentileza, pelo carinho e pela receptividade na Universidad Nacional de San Luis e também por viabilizar o acesso as fontes deste trabalho. Gratidão a Alexandre Castro e Francisco Portugal pelas importantes contribuições dadas a este trabalho no exame de qualificação. Gratidão a Hugo Klappenbach, Esther Arantes, Alexandre Castro, Leila Brito, Allister Dias e Dayse de Marie por aceitarem compor a banca de defesa da tese. Gratidão a Mercedes Loizo por se disponibilizar tão prontamente a ser entrevistada, fornecendo informações valiosas para o desenvolvimento desta tese. Gratidão a toda Equipe Clio-Psyché (dos antigos aos novos) pelas trocas acadêmicas e afetivas, especialmente a Maria, Hugo, Filipe, Adriana, Charles e Alice. Gratidão a Mell, minha menina amada, que mesmo tão pequena compreendeu minhas ausências, me revigorando a cada dia com seu carinho e amor. Gratidão aos meus pais, Mauro e Maria Onofra, pelo auxílio constante e principalmente por compreenderem a importância dos meus chamados, se colocando amorosamente disponíveis para que esta trajetória pudesse ser traçada. Gratidão a Marcos Trevisan, pela presença, nos dias bons e nos dias ruins, e também pela companhia durante minha pasantía na Universidad Nacional de San Luis, se tornando o fotógrafo oficial dos documentos que levantei para esta tese. Gratidão a Lidiane e Christiane, pela amizade, pelo companheirismo, pelo carinho e por partilharem comigo tantas histórias especiais, dentro e fora do doutorado. Gratidão aos amigos João, Eugenia, Silvia, Daysinha, Marcela Franzen, Keyla Mafalda e Juberto pelo incentivo, pelo amparo e por dividir comigo momentos tão especiais e significativos. Gratidão a Fernando Polanco e Josi pelas trocas e conversas durante minha pasantía na Universidad Nacional de San Luis. Gratidão ao pessoal da secretaria do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da UERJ, em especial a Ana Ambrósio e Anibal. Gratidão à FAPERJ, pelo financiamento.

7 RESUMO VASCONCELLOS, M. A. G. N. T. História da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina: um estudo comparado entre Eliezer Schneider e Plácido Horas f. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Esta tese teve como objetivo traçar uma história comparada das trajetórias de Eliezer Schneider ( ) e Plácido Horas ( ) no campo da Psicologia Jurídica, a fim de trazer contribuições para as discussões acerca da constituição e consolidação desta área tanto no Brasil quanto na Argentina. Considerados personagens relevantes na criação dos cursos de Psicologia em seus países, Eliezer Schneider e Plácido Horas trilharam um percurso que os levou a se aproximarem do campo da Psicologia Jurídica, realizando atividades importantes para o desenvolvimento desta área no Brasil e na Argentina. Suas condições de emergência estão nas articulações entre a Psicologia e o Direito. A Criminologia possibilitou estudar a etiologia da criminalidade, o comportamento e a personalidade criminosa. Diante disso, a Psicologia, ao contribuir para a compreensão da personalidade e da conduta criminosa, se tornou uma ferramenta de auxílio à justiça. Os momentos iniciais da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina se relacionam com a inserção do psicólogo no âmbito jurídico como testólogo ou assistente técnico, realizando atividades de perícia e de diagnóstico. Tanto Schneider quanto Horas exerceram atividades vinculadas à prática pericial. Além disso, após a regulamentação da profissão de psicólogo em ambos os países, sistematizaram a Psicologia Jurídica enquanto disciplina independente nos currículos do curso de Psicologia. Foi possível verificar que Schneider e Horas, apesar de empenharem algumas práticas comuns no campo da Psicologia Jurídica, fizeram uma leitura do crime e do criminoso sustentada em conceitos teóricos com abordagens específicas: Schneider com um saber ancorado nas influências neobehavioristas e na psicologia social e Horas com um saber mais criminológico centrado na capacitação profissional do psicólogo. Palavras-chave: História da Psicologia. Psicologia Jurídica. Eliezer Schneider;. Plácido Horas. Brasil. Argentina.

8 ABSTRACT VASCONCELLOS, M. A. G. N. T. History of Juridical Psychology in Brazil and Argentina: a comparative study between Eliezer Schneider and Placido Horas f. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, This thesis aimed to make a comparative history of the trajectories of Eliezer Schneider ( ) and Placido Horas ( ) in the field of Juridical Psychology, in order to bring contributions to the discussions about the constitution and consolidation of this area in the Brazil and Argentina. Considered relevant personalities in the creation of the Psychology courses in their countries, Eliezer Schneider and Placido Horas followed a path that led them to approach the field of Juridical Psychology, performing important activities for the development of this area in Brazil and Argentina. Their emergency conditions are in the articulations between Psychology and Law. Criminology enabled the study of the etiology of criminality, behavior and criminal personality. Therefore, Psychology, by contributing to the understanding of personality and criminal conduct, became a tool to aid justice. The initial moments of Juridical Psychology in Brazil and Argentina relate to the insertion of the psychologist in the juridical scope as a testologist or technical assistant, performing activities of expertise and diagnosis. Both Schneider and Horas engaged in activities linked to expert practice. Besides this, after the regulation of the profession of psychologist in both countries, they systematized Juridical Psychology as an independent discipline in the curriculums of the Psychology course. It was possible to verify that Schneider and Horas, although they committed some common practices in the field of Juridical Psychology, made a crime and criminal reading based on theoretical concepts with specific approaches: Schneider with a knowledge anchored in neobehaviorist influences and in social psychology and Horas with a more criminological knowledge centered on the professional qualification of the psychologist. Keywords: History of Psychology. Juridical Psychology. Eliezer Schneider. Placido Horas. Brazil. Argentina.

9 RESUMEN VASCONCELLOS, M. A. G. N. T. Historia de la Psicología Jurídica en Brasil y en Argentina: un estudio comparado entre Eliezer Schneider y Plácido Horas f. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Esta tesis tuvo como objetivo trazar una historia comparada de las trayectorias de Eliezer Schneider ( ) y Plácido Horas ( ) en el campo de la Psicología Jurídica, con el fin de traer contribuciones para las discusiones sobre la constitución y consolidación de esta área tanto en Brasil como en Argentina. Considerados personajes relevantes en la creación de los cursos de Psicología en sus países, Eliezer Schneider y Plácido Horas hicieron una trayectoria que les llevó a se aproximaren del campo de la Psicología Jurídica, realizando actividades importantes para el desarrollo de este área en Brasil y en Argentina. Sus condiciones de emergencia están en las articulaciones entre la Psicología y el Derecho. La Criminología posibilitó estudiar la etiología de la criminalidad, el comportamiento y la personalidad criminal. Así, la Psicología, al contribuir para la comprensión de la personalidad y de la conducta criminal, se tornó una herramienta en el auxilio a la justicia. Los momentos iniciales de la Psicología Jurídica en Brasil y en Argentina se relacionan con la inserción del psicólogo en el ámbito jurídico como testólogo o asistente técnico, realizando actividades de pericia y de diagnóstico. Tanto Schneider cuanto Horas ejercieron actividades vinculadas a la práctica pericial. Además, después de la reglamentación de la profesión de psicólogo en los países, sistematizaron la Psicología Jurídica como disciplina independiente en los currículos del curso de Psicología. Fue posible verificar que Schneider y Horas, a pesar de empeñaren algunas prácticas comunes en el campo de la Psicología Jurídica, hicieron una lectura del crimen y del criminal sustentada en conceptos teóricos con abordajes específicos: Schneider con un saber ancorado en las influencias neoconductistas y en la psicología social y Horas con un saber más criminológico centrado en la capacitación profesional del psicólogo. Palabras clave: Historia de la Psicología. Psicología Jurídica. Eliezer Schneider. Plácido Horas. Brasil. Argentina.

10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAPES - CP DNCr - ECA - FAHUPE - FEBEM - FUNABEM - IPAI - IPMHC ISOP - LBI - MJ MJHC PMK - PNBEM - QTP - SAM - SEAP SNDM - SPT - TAT - TRO - UBA - UNCuyo - UNIPE - UERJ UFRJ UNC - UNL - UNLP - UNSL - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Código Penal Departamento Nacional da Criança Estatuto da Criança e do Adolescente Faculdade de Humanidades Pedro II Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor Instituto de Proteção e Assistência à Infância Instituto de Perícias Médicas Heitor Carrilho Instituto de Seleção e Orientação Profissional Laboratório de Biologia Infantil Manicômio Judiciário Manicômio Judiciário Heitor Carrilho Phillipson e Psicodiagnóstico Miocinético Política Nacional do Bem-Estar do Menor Inventário da personalidade de Eysenck Serviço de Assistência ao Menor Secretaria do Estado de Administração Penitenciária Serviço Nacional de Doenças Mentais Tratamento somatopsíquico Teste de Apercepção Temática Teste de Relações Objetais Universidad de Buenos Aires Universidad Nacional de Cuyo Universidad Pedagógica de Buenos Aires Universidade do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidad Nacional de Córdoba Universidad Nacional del Litoral Universidad Nacional de La Plata Universidad Nacional de San Luis

11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO A INFÂNCIA COMO PREÂMBULO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL E NA ARGENTINA A assistência à infância e a defesa (?) do menor em situação irregular A doutrina do menor em situação irregular: a intervenção do Estado na questão da infância DA LOUCURA SITUADA NA LEGISLAÇÃO PENAL À INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL E NA ARGENTINA Legislações penais do Brasil e a figura do louco criminoso Principais legislações penais argentinas e a questão do alienado delinquente A inserção de Eliezer Schneider no campo da Psicologia Jurídica Incursões de Plácido Horas na Psicologia Jurídica Eliezer Schneider e Plácido Horas: algumas especificidades da trajetória em Psicologia Jurídica ELIEZER SCHNEIDER E PLÁCIDO HORAS: FUNDAMENTOS E PERSPECTIVAS ACERCA DE UMA PSICOLOGIA JURÍDICA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS: ANEXO A Guia de entrevista com o interno ANEXO B Ficha criminológica

12 10 INTRODUÇÃO Esta tese tem como objetivo traçar uma história comparada das trajetórias profissionais e produções de Eliezer Schneider ( ) e Plácido Horas ( ) no que tange ao campo da Psicologia Jurídica, a fim de contribuir para a compreensão de como este campo se desenvolveu no Brasil e na Argentina, levando em conta a emergência, a apropriação e a circulação dos saberes e práticas que circunscreveram o entrelaçamento da Psicologia com o Direito até se constituir no que denominamos hoje de Psicologia Jurídica. Eliezer Schneider e Plácido Horas tiveram formações distintas: respectivamente Direito e Filosofia. Porém, o percurso de ambos os levou a se aproximarem do campo jurídico, empreendendo atividades que tiveram importância para o desenvolvimento desta área no Brasil e na Argentina. Além de atuarem na Psicologia durante o mesmo período histórico, foram personagens relevantes na criação dos cursos de Psicologia em seus respectivos países. Eliezer Schneider é reconhecido pela historiografia da Psicologia por sua produção no campo da Psicologia Social e também por ter contribuído na criação dos primeiros cursos de Psicologia no Rio de Janeiro na década de A trajetória deste personagem na Psicologia Jurídica é pouco conhecida e não há pesquisas sobre sua contribuição neste campo. Entretanto, além de ter trabalhado como psicólogo no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho (MJHC) durante o período de 1954 a 1976, Schneider se empenhou em inserir a disciplina de Psicologia Jurídica nos cursos de graduação onde lecionou (Jacó-Vilela, 2001). Em relação a Plácido Horas, este personagem desenvolveu suas atividades acadêmicas e de pesquisa na Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo) que posteriormente se converteu na Universidad Nacional de San Luis (UNSL 1 ), na Argentina, sendo um dos colaboradores no desenvolvimento da Psicologia em seu país. Mesmo que Schneider não tenha tido o protagonismo de Plácido Horas na institucionalização da Psicologia como ciência e profissão, compartilhou com este a primazia em ser um dos primeiros a exercer este papel em seus respectivos países. Na década de 1960, Plácido Horas criou a disciplina de Psicologia Jurídica na UNCuyo (atual UNSL), sendo esta a cátedra mais antiga da Argentina. O ensino desta especialidade por Horas foi um dos primeiros movimentos para a sistematização das práticas 1 Em 1973 houve um programa de reorganização do ensino superior na Argentina por meio do qual a Universidad Nacional de Cuyo foi convertida em Universidad Nacional de San Luis (Lafforgue, 2016).

13 11 em Psicologia Jurídica, desembocando na criação de um Centro de Criminologia, onde desenvolveu com seus alunos atividades e técnicas de Psicologia Jurídica. Não há um marco histórico que possa delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina, entretanto não temos como objetivo procurar uma origem e sim narrar alguns processos relacionados à constituição deste campo do saber. Há mais de um século, a historiografia da Psicologia registra articulações entre a Psicologia e o Direito, sendo estas as bases para o que denominamos hoje de Psicologia Jurídica. No final do século XIX surgem estudos sobre Criminologia na Europa, os quais emergem da aproximação entre o Direito e as Ciências Humanas, visando estudar a etiologia da criminalidade e a relação entre o crime, a personalidade do criminoso e sua conduta transgressora. Neste contexto, a Psicologia se torna uma ferramenta de auxílio à justiça, pois era entendida como um saber capaz de colaborar para a compreensão de como a personalidade influencia a conduta do criminoso, possibilitando estudos sobre os determinantes do crime (Leal, 2008). Neste período, as relações entre Direito e Psicologia na Europa eram compreendidas à luz do positivismo, privilegiando o método científico, segundo o modelo das ciências naturais, como meio capaz de determinar as causas da criminalidade. O Direito Clássico, que pressupunha o livre-arbítrio do indivíduo, deu lugar ao Direito Positivo, o qual questionava esta autonomia, considerando os determinantes biológicos, sociológicos e psicológicos da conduta do ser humano (Jacó-Vilela, 1999). Assim, surge a Escola Positiva do Direito Penal, com a finalidade de prevenção criminal e combate ao delito com base na formulação de uma ciência positiva. Dentre os expoentes do que podemos também chamar de positivismo criminológico estão Cesare Lombroso 2 ( ), Enrico Ferri 3 ( ) e Raffaele Garófalo 4 ( ), os quais contribuíram na elaboração de tipificações e classificações de criminosos 2 Lombroso foi psiquiatra, cirurgião e criminalista italiano. Elaborou a teoria do criminoso nato, baseada em estudos antropomórficos. Esta teoria considerava que o criminoso era um ser primitivo e com características herdadas geneticamente, e poderia ser identificado por suas características físicas, tais como assimetria facial, arcada dentária irregular, tamanho do crânio, orelhas grandes e em formato de asa e também por suas características subjetivas ou psíquicas, como por exemplo, comportamento anti-social, embotamento, atrofia do senso moral. 3 Ferri, criminalista e sociólogo italiano, estudou não só os fatores biológicos e físicos que poderiam determinar o comportamento criminoso, mas também os fatores sociais e econômicos que estavam presentes na etiologia do delito. 4 Garófalo, criminalista e jurista italiano, desenvolveu suas teorias a partir de pesquisas sociológicas, antropológicas e jurídicas. Além disso, se preocupou em conceituar o crime, já que este era o objeto da ciência criminológica.

14 12 visando o controle social através da sistematização dos fatores da periculosidade criminal. Entretanto, é Garófalo um dos primeiros a utilizar criminologia para nomear esta ciência, ao cunhar este termo em sua obra homônima Criminologia (1885), na qual discute a ideia de delito natural partindo do conceito lombrosiano de criminoso nato. Garáfalo elaborou ainda uma classificação dos criminosos fundamentada, dentre outras coisas, na herança endógena psíquica, no castigo e na repressão da delinquência, a fim de favorecer as reformas tanto da justiça criminal quanto das instituições legais (Alvarez, 2002). Através da influência do ideário positivista da época, uma das primeiras articulações estabelecidas entre Psicologia e Direito foi a Psicologia do Testemunho, a qual investigava a fidedignidade do relato daquele que pôde presenciar o crime, considerando os processos psicológicos de percepção, memória, motivações, emoções dentre outros (Jacó-Vilela, Espírito-Santo & Pereira, 2005; Jacó-Vilela, 1999). A Psicologia do Testemunho demonstra a psicologização que se encontra em curso: não só o criminoso deve ser examinado, mas também aquele que vê e relata aquilo que viu que processos internos estarão propiciando ou dificultando a veracidade do seu relato? (Jacó- Vilela, 1999, p. 16). Diante disto, No final do século XIX, as solicitações para que se realizassem pesquisas que indicassem parâmetros para aferir a fidedignidade, ou não, dos testemunhos prestados na Justiça foram, para alguns, responsáveis pelo surgimento dos chamados laboratórios de Psicologia experimental, onde se desenvolveram estudos sobre memória, sensação e percepção, dentre outros temas pertinentes ao estudo do testemunho (...) (Brito, 2012, p. 195). Em meio ao estudo experimental dos processos psicológicos os testes se tornaram uma técnica privilegiada de produção dos saberes e práticas psicológicas, pois era possível sair do espaço restrito do laboratório, mantendo-se suas regras de funcionamento (Jacó-Vilela, 1999, p. 16). Assim, é por meio desse instrumento que a Psicologia se aproxima do Direito (Jacó-Vilela, 1999, p. 16), sendo possível avaliar e verificar, por exemplo, a fidedignidade do testemunho. Em relação aos estudos no campo da Criminologia, é importante destacar que José Ingenieros 5 ( ), além de ter sido um dos primeiros a introduzir a Psicologia na Argentina, colaborou também para as discussões na área da Criminologia, influenciado pelas doutrinas positivistas, desenvolvendo pesquisas e trabalhos relacionados à personalidade 5 José Ingenieros, médico psiquiatra e criminólogo argentino, foi um dos representantes do pensamento positivista na Argentina e contribuiu para o desenvolvimento da Psicologia neste país.

15 13 psicológica do transgressor ou delinquente. Dentre suas obras, o livro Criminologia (1907) foi considerado um dos primeiros tratados na área em território latino-americano (Calhau, s/d; Perkins, 2012). Já no Brasil, em meio às discussões em torno da degenerescência, Raimundo Nina Rodrigues 6 ( ) desenvolveu pesquisas no âmbito da Medicina Legal e da Criminologia, discutindo o papel da raça na patologia da população brasileira, o que o impulsionou inclusive a elaborar uma teoria da imputabilidade segundo critérios raciais (Rodrigues, 2013). Influenciado pelo pensamento de Nina Rodrigues, Júlio Afrânio Peixoto 7 desenvolveu seus estudos na área de Medicina Legal e Higiene. Em 1903, um pouco após se mudar de Salvador, Bahia, para o Rio de Janeiro, exerceu suas atividades no Hospital Nacional dos Alienados e participou da Liga Brasileira de Higiene Mental. Em 1932, já lecionando na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, introduziu um curso de Criminologia na cátedra de Medicinal Legal (Maio, 1994; Antunes, 2001). As articulações e os conhecimentos produzidos por estes (e outros) médicos neste período subsidiaram muitas discussões sobre as medidas para a contenção da criminalidade na sociedade. Porém, tais medidas estavam pautadas em uma política moral, sempre associada à ideia de disciplina e controle. Em 1932 foi publicado na Espanha o Manual de Psicología Jurídica de Emilio Mira y López ( ), que ganhou relevância na época por discutir o papel da Psicologia como ciência no campo do Direito. Nesta obra, Mira y López destaca que a Psicologia do Testemunho é um dos capítulos mais brilhantes da psicologia jurídica (Mira y López, 1961, p. 115), pois os estudos dos processos psicológicos poderiam auxiliar os juristas a tomarem suas decisões baseados em provas experimentais. Apesar da repercussão que a obra de Mira y López teve no campo da Psicologia Jurídica (o Manual foi reeditado pela primeira vez na Argentina em 1945 e publicado em 6 Raimundo Nina Rodrigues, médico maranhense, era seguidor das ideias lombrosianas da escola positiva italiana e algumas de suas teorias foram divulgadas no livro As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, (1894). Mais sobre este personagem, Cf. a dissertação de mestrado de Marcela Franzen Rodrigues - O Corpo, a Mente e o Espírito do Negro Brasileiro: raça, loucura e religião na obra de Nina Rodrigues -, elaborada sob orientação da Prof.ª Ana Maria Jacó Vilela. 7 Afrânio Peixoto, médico sanitarista formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, publicou em 1898 o livro Epilepsia e Crime, resultado da sua tese de doutoramento em medicina defendida no ano anterior a publicação desta obra. Além disso, escreveu artigos no campo da Medicina Legal e Psiquiatria e desenvolveu suas atividades de trabalho principalmente no meio acadêmico (Antunes, 2001).

16 14 língua portuguesa em nosso país em 1947), é importante ressaltarmos que a expressão Psicologia Jurídica já havia sido utilizado anteriormente no Brasil. O primeiro trabalho acerca do que podemos denominar de Psicologia Jurídica de que temos registro foi a tese de Emílio Martins de Sá 8 (1880-?) apresentada à Faculdade de Medicina da Bahia para a obtenção do título de Doutor em Medicina, junto a cátedra de Medicina Legal em 31 de outubro de Intitulada Psychologia Jurídica das Concausas, estava embasada no positivismo criminológico e apresentava possíveis atenuantes da responsabilidade criminal do delinquente, considerando os fatores biológicos e ambientais que interfeririam em situações nas quais os crimes ocorriam. Contudo, devemos assinalar que, embora haja o uso do mesmo termo tanto na obra de Mira y López quanto na tese de Martins de Sá, as articulações e finalidades do que se entende por Psicologia Jurídica não são definidas por uma única concepção, variando de acordo com o período histórico. Dessa forma, também as perspectivas de Schneider e Horas no que tange a Psicologia Jurídica são heterogêneas. Um aspecto comum que permeia os momentos iniciais da Psicologia Jurídica tanto no Brasil quanto na Argentina é a inserção do psicólogo no cenário jurídico como, testólogo, perito ou assistente técnico 9, prática que prevaleceu por um longo período como a atividade principal da atuação psi. A perícia, especialmente por meio do psicodiagnóstico, constituiu uma das práticas inaugurais da Psicologia Jurídica e, como veremos no segundo capítulo, tanto Schneider quanto Horas exerceram atividades vinculadas a esta prática. Além disso, a regulamentação da profissão de psicólogo tanto no Brasil quanto na Argentina propiciou que a Psicologia Jurídica fosse sistematizada enquanto ensino nos currículos dos cursos de Psicologia. Tanto Schneider quanto Horas publicaram com frequência na área de Psicologia. No que diz respeito às produções de Eliezer Schneider, não podemos deixar de mencionar o Boletim do Instituto de Psicologia, editado junto com Antônio Gomes Penna. Este Boletim 8 Não encontramos dados biográficos que nos permitissem traçar uma biografia mais detalhada deste autor. Emilio Martins de Sá foi médico, nascido na Bahia, filho de Jesuino Martins de Sá e Emiliana Gonçalves de Sá. Provavelmente se mudou para o Rio de Janeiro na década de 1930 por ter firmado seu domicílio eleitoral neste município em Era irmão do ex Deputado João Sá ( ), que foi fundador e vice-presidente do Diretório Regional do Partido Social Democrático (PSD) na Bahia (Estados Unidos do Brasil, 1934; Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, s/d). 9 No Brasil, de acordo com a Resolução CFP Nº 008/2010, a atividade do psicólogo perito e do psicólogo assistente técnico tem atribuições diferentes. O perito é responsável por prestar assessoria à Justiça a fim de subsidiar as decisões judiciais. Já o assistente técnico é de confiança da parte envolvida a fim de assessorá-la e garantir o direito à contestação da análise e às conclusões realizada pelo psicólogo perito durante um processo judicial.

17 15 foi criado por ambos no ano de 1951, mantendo sua periodicidade até 1974 (Jacó-Vilela, 2001; Penna, 2001). As publicações de Schneider no Boletim abrangiam temáticas diversas, como, por exemplo, psicologia social, educação, testes psicológicos, personalidade e psicologia jurídica. Plácido Horas, por sua vez, organizou e publicou, no período de 1951 a 1966 os Anales del Instituto de Investigaciones Pedagógicas da Universidade de Cuyo (atual UNSL), onde eram relatados resultados de pesquisas na área de Pedagogia, Psicologia e Orientação Profissional (Piñeda, 2007; Klappenbach, 2011). Nos Anales, que tiveram sete volumes ao todo, fueron publicados los resultados de numerosos estudios empíricos y trabajos teóricos realizados por el proprio Horas, por otros estudiosos de la província de San Luis y por otros estudiosos del país (Muñoz, Klappenbach & Piñeda, 2013, p. 42). É importante assinalar que o Rio de Janeiro e San Luis tinham características bastante distintas na década de 1940, período inicial em que Eliezer Schneider e Plácido Horas desenvolveram suas atividades no campo da Psicologia. Enquanto o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e passava por uma grande expansão urbana e vivia uma efervescência cultural, San Luis era uma pequena e pacata província, situada longe de Buenos Aires, a capital do país. Podemos apontar que este foi um dos fatores para que as atividades desenvolvidas por Plácido Horas tivessem um impacto significativo na sociedade puntana, ressoando por todo o território argentino, uma vez que este personagem além de contribuir com o avanço e a difusão da Psicologia em seu país também foi um dos propulsores na formação de professores em San Luis. A História Comparada foi a base metodológica para esta pesquisa, pois se trata de um modo específico de se observar uma história em um duplo ou múltiplo campo de observação, possibilitando que, na comparação entre trajetórias, possamos gerar conhecimentos que ultrapassem os marcos institucionais. O método comparado ilumina um objeto ou situação através do outro objeto em análise, ou seja, a prática comparativa ultrapassa o uso mais próximo da intuição e da utilização habitual da comparação para alcançar um nível de análise mais profundo e sistematizado, para o qual o que se pode comparar e como se compara tornam-se questões relevantes, fundadoras de um gesto metodológico (Barros, 2007, p. 12). Ainda conforme Barros,

18 16 Não se trata, obviamente, de superpor realidades nacionais ou regionais distintas para montar um quebra-cabeça a partir de manobras de superposição, ou de simplesmente historiar uma relação entre dois países. A História Comparada consiste, grosso modo, na possibilidade de se examinar sistematicamente como um mesmo problema atravessa duas ou mais realidades histórico-sociais distintas, duas estruturas situadas no espaço e no tempo, dois repertórios de representações, duas práticas sociais, duas histórias de vida, duas mentalidades, e assim por diante. Faz-se mútua iluminação de dois focos distintos de luz, e não por mera superposição de peças (Barros, 2007, p. 17). Neste caso, compor uma história comparada de Eliezer Schneider e Plácido Horas no que tange à Psicologia Jurídica é recuperar uma memória histórica, valorizando as influências comuns, questionando a naturalização das representações entre Psicologia e Direito. Diante disso, se coloca em perspectiva uma análise da clivagem das singularidades, das aproximações e das diferenças a fim de compreendermos tantos os aspectos gerais quanto os específicos de uma mesma problemática. Na análise comparativa consideramos múltiplos fatores que perpassam as trajetórias e produções de ambos os personagens, sendo eles: a) o contexto histórico; b) a plateia para quem o discurso se dirige; c) a conjuntura das produções e práticas; d) as bases teóricas e metodológicas que permeiam os discursos dos personagens; e) a referência institucional presente que vincula o discurso científico ao meio social a fim de legitimar os discursos e práticas. Desse modo, buscamos contextualizar os processos de produção de Eliezer Schneider e Plácido Horas no campo da Psicologia Jurídica, a fim de identificar as influências que direta ou indiretamente marcaram sua produção e suas atividades profissionais, principalmente no que tange à Psicologia Jurídica. Além disso, estudamos as concepções de ciência que circulavam nas instituições onde aturaram, os interesses ideológicos e as condições de desenvolvimento científico não só no espaço universitário, mas também em outros espaços ocupados por Schneider e Horas. Entretanto, não tivemos a pretensão de traçar marcos conceituais da Psicologia Jurídica a partir de perspectivas individuais e sim trazer à tona as contribuições de Schneider e Horas para as discussões que cerceiam tanto a constituição da área quanto a construção e transformações das práticas do psicólogo no campo jurídico no Brasil e na Argentina. Assim, as problemáticas comuns puderam nos oferecer indícios para compreender os percursos e desdobramentos do campo em questão. No decorrer desta pesquisa nos deparamos com alguns entraves que, embora tenham inviabilizado alguns intentos, não impediram seu desenvolvimento. Um dos objetivos iniciais

19 17 era realizarmos o levantamento e análise do material elaborado por Eliezer Schneider nos vinte e dois anos de trabalho no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho (MJHC), no período de 1954 a 1976, entre eles laudos periciais, prontuários e súmulas dos processos criminais. Entretanto, nos deparamos com impedimentos em relação ao acesso a este material. O encaminhamento para a realização da pesquisa no acervo do MJHC, atualmente Instituto de Perícias Médicas Heitor Carrilho (IPMHC), foi concedido pelo Centro de Estudos e Pesquisas da Escola de Gestão Penitenciária 10, porém a diretoria do IPMHC vetou a permissão para pesquisas no acervo alegando que não havia funcionários disponíveis para o acompanhamento da pesquisadora. Além disso, afirmou que, embora grande parte do material esteja microfilmado, estes não estão organizados e também não há funcionários que saibam operar o leitor de microfilme. Sendo assim, as pesquisas neste local estão suspensas por tempo indeterminado. Diante desta impossibilidade, o estudo do material de trabalho que Schneider produziu como psicólogo do MJHC não foi realizado. Em decorrência disso, nos atemos principalmente aos textos produzidos por Eliezer Schneider, sobretudo aos temas relacionados à Psicologia Jurídica. Outro objetivo era a execução de uma pesquisa de campo com duração de seis meses na Universidad Nacional de San Luis (UNSL), na Argentina. Em função dos cortes no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 2015, não foi possível realizá-la da forma prevista. Foi necessário reduzir a pesquisa de campo e realizá-la com recursos próprios entre novembro e dezembro de Realizamos o levantamento de dados no Arquivo e Documentação de Plácido Horas, pertencente à Cátedra de História da Psicologia da UNSL e na Biblioteca Universitária Antonio Esteban Agüero também da UNSL para a qual foi doada a biblioteca pessoal de Plácido Horas. Também pudemos entrevistar Mercedes Loizo, professora aposentada da cátedra de Psicologia Jurídica da UNSL e uma das primeiras alunas de Plácido Horas, que nos forneceu valiosas informações para o desenvolvimento deste trabalho. Em função do curto período não foi possível o acesso ao Centro de Criminologia, porém encontramos alguns materiais que contribuíram para remontarmos parte da trajetória de Plácido Horas nesta instituição. Esta tese foi estruturada em três capítulos. 10 A Escola de Gestão Penitenciária é um órgão da Secretaria do Estado de Administração Penitenciária (SEAP) do Rio de Janeiro.

20 18 No primeiro tratamos da constituição do campo da Psicologia Jurídica no Brasil e Argentina, trazendo a questão da proteção à infância como propulsor das interações iniciais entre Psicologia e Direito. Além disso, apontamos que o estudo do menor criminoso demandou da Psicologia o desenvolvimento de técnicas e práticas, como os testes e laudos periciais, a fim de auxiliar as decisões dos magistrados e contribuir para a regeneração e prevenção do que era considerado um desvio social. Já no segundo capítulo enfocamos o Manicômio Judiciário no Rio de Janeiro (Brasil) e o Centro de Criminologia em San Luis (Argentina) por serem locais onde se desenvolveram práticas e pesquisas que contribuíram para a constituição do que denominamos hoje de Psicologia Jurídica. Neste capítulo apresentamos uma breve história sobre estas instituições e discutimos a atuação de Eliezer Schneider no Manicômio Judiciário e a de Plácido Horas no Centro de Criminologia. Além disso, apresentamos o conteúdo da disciplina de Psicologia Jurídica introduzido por ambos os personagens no curso de Psicologia das respectivas universidades que lecionaram. Por fim, no terceiro capítulo, analisamos as principais influências que circunscreveram as produções e práticas de Schneider e Horas no que tange à Psicologia Jurídica, comparando as características comuns e divergentes no pensamento destes personagens.

21 19 1 A INFÂNCIA COMO PREÂMBULO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL E NA ARGENTINA Uma das demandas iniciais na interação entre Psicologia e Direito, tanto no Brasil quanto na Argentina, se situou no âmbito da assistência à infância. Diante disso, buscamos traçar neste capítulo um panorama dos desdobramentos relativos à infância que demandaram conhecimentos psicológicos para intervir nas questões jurídico-sociais, compondo o que hoje denominamos de Psicologia Jurídica. As ações caritativas, a cargo principalmente das Irmandades ligadas à Igreja Católica, constituíram um dos primeiros mecanismos de assistência à infância por meio do acolhimento de crianças abandonadas em instituições asilares. Entretanto, no final do século XIX e início do século XX, com as transformações sociais e políticas no Brasil e na Argentina, a preocupação com a infância pobre e potencialmente delinquente foi acentuada, abrindo espaço para um novo modelo de assistência: o da filantropia. Esta, baseada no conhecimento científico, tinha como um dos seus objetivos a profilaxia da criminalidade, especialmente nos segmentos pobres. É importante assinalar que a pobreza aqui estava associada com a violência e criminalidade (Rizzini, 1993; Rossi & Ibarra, 2013). Desse modo, o conhecimento psicológico aplicado ao Direito atravessou um percurso bastante similar nos dois países, principalmente no que diz respeito às influências do positivismo criminológico e do higienismo. A Psicologia contribuiu com as demandas do âmbito jurídico principalmente por meio dos testes, com a elaboração de perícias, laudos e relatórios técnicos científicos com a finalidade de corroborar as decisões dos magistrados. Além disso, houve uma demanda para a participação do Estado nas políticas públicas e sociais de assistência a infância e juventude até então a assistência era realizada pela Igreja Católica ou por particulares, o que impulsionou a criação de projetos de lei para aquele que era então denominado menor em situação irregular. A intervenção do Estado, tanto no Brasil quanto na Argentina, produziu um grande número de internações de crianças e adolescentes. Considerava-se que, segregando-os dos núcleos sociais considerados patológicos seria possível reeducar e regenerar, contribuindo para um projeto que parece comum aos dois países, o de sanear e civilizar, preparando crianças fortes e aptas para o trabalho, favorecendo o progresso da nação (Rizzini, 1993, 1997; Talak, 2014). No final do século XX, novas discussões surgiram em torno da questão da infância. A partir da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em 1989, se estabeleceu outra

22 20 doutrina, a da proteção integral, garantindo que os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes fossem assegurados pela família, pelo Estado e pela sociedade. Neste contexto, a prática da Psicologia Jurídica se amplia e, além do papel de perito, o psicólogo pôde intervir e elaborar medidas de proteção e assistência às crianças e adolescentes. 1.1 A assistência à infância e a defesa (?) do menor em situação irregular As primeiras articulações jurídicas no Brasil e na Argentina referentes à questão da assistência à infância estavam centradas em dois paradigmas: a Doutrina Penal do Menor e a Doutrina de Situação Irregular. As legislações que vigoraram de acordo com esses modelos jurídicos delinearam as práticas de assistência à infância entre os séculos XIX e XX. Nesta conjuntura inicial a dicotomização da infância é a tônica das categorias jurídicas e sociais. De acordo com Rizzini (1997) de um lado havia a criança mantida sob os cuidados da família, para a qual estava reservada a cidadania; e do outro, o menor, mantido sob a tutela vigilante do Estado, objeto de leis, medidas filantrópicas, educativas/repressivas e programas assistenciais (...) (p. 35, grifo da autora). Assim, as determinações legais recaíam sobre a categoria do menor, o qual representava um risco social. A Doutrina Penal do Menor, vigente no século XIX, se caracterizava pela aplicação de um tratamento penal indiferenciado a crianças e adultos, exceto às crianças menores de sete anos que eram inimputáveis. No caso do Brasil, a infância só teve visibilidade jurídica em 1830, quando foi sancionado o Código Criminal do Império do Brasil no qual pela primeira vez se explicita a responsabilidade penal do menor. Desta forma, o menor criminoso seria objeto de intervenção e de assistência tutelar, e deveria ser recolhido e encaminhado às Casas de Correção. A imputabilidade penal foi fixada na idade de quatorze anos e ficava a cargo do entendimento subjetivo do juiz avaliar se o menor entre sete e catorze anos possuía discernimento acerca de suas ações ao cometer o crime ou delito. Apenas em 1850 foi inaugurada a primeira Casa de Correção da Corte do Rio de Janeiro, onde se objetivava a pena de prisão com trabalho. A Casa de Correção era dividida em duas classes: a de menores condenados e a de mendigos e vadios (Brasil, 1850). As Casas de Correção deveriam funcionar não apenas como uma forma de repressão, mas também como meio de regeneração do menor criminoso através do trabalho. Entretanto, no

23 21 período imperial as formas tradicionais de punição e sujeição não eram capazes de produzir a reabilitação do menor delinquente (Silva, 2012). Os setores mais pobres da sociedade eram considerados sem capacidade (moral e material); assim, as crianças e adolescentes consideradas criminosas eram, muitas vezes, dadas como irrecuperáveis. Além disso, o tratamento penal infanto-juvenil se igualava ao dos adultos. Outro aspecto a ser destacado é que o modelo que regia a assistência à infância neste período era o da caridade. Esta, baseada nos ideais cristãos, pressupunha a assistência ao pobre como uma ação essencial para a salvação do caridoso (Rizzini, 1997). O comportamento caritativo implicava em uma ação generosa e de compaixão ao pobre trazendo, portanto, benefício ao próprio indivíduo que prestava o gesto de caridade. Desde o período Colonial crianças eram abandonadas em portas de casas ou igrejas ficando expostas ao frio, ao vento e chuva e também aos animais, causando grande comoção da sociedade (Arantes, 1999, p. 257). Para acolher estas crianças, denominadas de enjeitados ou expostos (Arantes, 1999; Rizzini, 1997), uma das primeiras ações caritativas no cenário brasileiro foi a Roda dos Expostos 11 ou Roda dos Enjeitados. A Roda surgiu no Brasil durante o século XVIII e teve um grande crescimento no período imperial, perdurando até o início do século XX, sendo extinta no período da República (Arantes, 1999; Marcílio, 1997). As crianças expostas eram abrigadas em asilos sendo assistidas e alimentadas até serem encaminhadas a famílias que pudessem criá-las mediante um auxílio financeiro. A implantação da Roda tinha por objetivo evitar os crimes morais e salvaguardar a honra no caso do nascimento de filhos ilegítimos (Arantes, 1999). Além disso, a pobreza era uma das principais justificativas para o abandono das crianças (Venâncio, 2006). Com a crise da escravidão no final da monarquia e diante da necessidade de novas formas de controle social, principalmente dos trabalhadores livres, começou a se desenhar uma dupla problemática que toma força mais tarde no Brasil República: a criminalização da pobreza e a discussão sobre as especificidades da infância, ou seja, as famílias pobres eram consideradas geradoras de criminosos e delinquentes e, por outro lado, a criança seria um futuro cidadão responsável pelo progresso nacional (Abreu & Martinez, 1997). 11 A roda era um dispositivo cilíndrico de madeira giratório colocado nos muros das Santas Casas de Misericórdia onde os bebês que seriam abandonados poderiam ser deixados de forma anônima. A primeira Roda que surgiu no Brasil foi na Bahia em 1726; posteriormente surgiram no Rio de Janeiro em 1738, São Paulo em 1825 e Minas Gerais em 1831 (Arantes; 1999; Marcílio, 1997).

24 22 Há uma mudança na percepção que se tinha da infância, na qual se coloca a criança como passível de ser moldada. Era preciso criar mecanismos de proteção à criança pobre para que estas se mantivessem no caminho do trabalho e da ordem (Rizzini, 1997). A criança exposta ao vício e ao crime em um ambiente de pobreza representava uma ameaça à sociedade. Nesse sentindo, era preciso investir em sua formação para que se constituíssem em um instrumento capaz de contribuir com a meta de civilizar o Brasil (Rizzini, 1997). A partir deste momento o modelo de tratamento indiferenciado de assistência a infância começa a se declinar. No caso da Argentina, o paradigma da Doutrina Penal do Menor tem seu principal marco no Código Penal de 1886 (Lei 1920), ou seja, não havia uma diferenciação entre menores e maiores de 18 anos para o tratamento penal e nem mesmo para a indicação da instituição onde a pena deveria ser cumprida. As classes de responsabilização jurídico-penal dos menores eram dividas em três, sendo elas: os inimputáveis (até dez anos de idade); os intermédios, ou seja, àqueles sujeitos a prova de discernimento sobre o ato delitivo (entre dez e quinze anos de idade) e os imputáveis (entre quinze e dezoito anos) que eram julgados e penalizados do mesmo modo que os adultos (Degano, 2005). Assim como no Brasil, a prova de discernimento era o elemento determinante da responsabilidade criminal da criança e do adolescente, porém no Código Argentino de 1886, além da reclusão, poderia ocorrer inclusive a pena de morte. A caridade privada também figurou neste cenário como meio de assistência às crianças pobres, abandonadas e órfãs desde o século XIX até início do século XX. O grande fluxo migratório que ocorreu na Argentina no final do século XIX trouxe impactos políticos e econômicos para o país, sendo então necessário um sistema de contenção para o que era considerado disfuncional para a sociedade (Rossi & Ibarra, 2013). A criança e/ou jovem delinquente eram parte dos problemas urbanos e sociais tendo grande impacto na opinião pública exigindo não só uma maior intervenção do Estado, mas também a busca por saberes teóricos e ações profissionais e políticas que pudessem solucionar tal questão (Talak, 2014). Diante disso, La población es concebida, por el estado, como un recurso pasivo y manipulable de escasa o nula participación política. Los criterios clínico-criminológicos son cruciales a la hora de diferenciar lo sano, integrable laboralmente, de lo patológico, ya sea ésde de índole clínico o criminológico. Se agudizan entonces criterios diagnósticos de derivación e instituiciones de asistencia y contención: hospícios y cárceles advienen formas de control social. La enfermedad, lo patológico, queda em este momento definida en términos de disfuncionalidad, de enfermedad moral, delincuencia e locura. El Estado se

25 23 desientende expresamente de cualquier política social que legitime los derechos sociales, delega la atención del problema de la pobreza a las Sociedades de Benificencia y la salud a los Hospitales de Comunidades (Rossi & Ibarra, 2013, p. 235). A preocupação com a delinquência infantil impulsionou práticas nas quais as crianças e adolescentes se tornaram alvo de estudos e intervenções sociais. Tais práticas também se constituíram sob um modelo asilar, sendo os menores enviados a reformatórios públicos ou a estabelecimentos de beneficência. A doutrina penal da época foi perdendo seu caráter indiferenciado e se aproximando de um modelo tutelar de assistência. A partir da década de 1880 houve uma tendência a reorganizar as instituições de contenção dos menores em estabelecimentos médico-hospitalares (Rossi & Ibarra, 2013). No bojo destas transformações, em 1905 a Casa de Niños Expósitos 12 se converteu oficialmente em Hospital de Niños Expósitos no qual se formou o Serviço Médico Social, a Escola de Enfermeiras e a Escola de Mães (Rossi & Ibarra, 2013). Com esta gama de serviços o atendimento à infância começou a delinear um novo campo institucional: o do atendimento da infância doente nos hospitais pediátricos (Rossi & Ibarra, 2013). Também se iniciou a orientação de mães, principalmente àquelas oriundas das camadas mais desfavorecidas, com o intuito de fornecer conhecimentos para uma correta instrução educacional e moral para a criação dos seus filhos, tomando maior força com o movimento higienista na década de 1930, como veremos mais adiante. Ademais, havia uma demanda por uma intervenção específica do Estado em relação à infância, reivindicando-se o estabelecimento do patronato estatal das crianças caracterizadas como menores e a criação de instituições estatais de correção para onde estes deveriam ser enviados (Zapiola, 2010). Assim, também no ano de 1905, foi fundado o primeiro reformatório da Argentina, a Colonia de Menores Varones de Marcos Paz, na província de Buenos Aires. A Colônia Marcos Paz 13 se situava em uma zona rural a fim de manter os menores afastados da cidade e principalmente dos seus familiares, considerados nocivos na 12 A Casa de Niños Expósitos, fundada em 1779 em Buenos Aires, era uma instituição asilar de caridade que recolhia e educava crianças abandonadas e órfãs. Na entrada da Casa de Niños Expósitos havia um dispositivo chamado torno para que os pais pudessem depositar anonimamente as crianças abandonas que seriam recebidas pelas amas de criação. Este instrumento era o mesmo utilizado pela Roda dos Expostos nas Santas Casa de Misericórdia no Brasil. Ao longo do tempo esta instituição sofreu transformações recebendo o nome de Hospital de Niños Expósitos (1905), Casa Cuna (1920) e por fim Hospital de Pediatría Dr. Pedro de Elizalde (1962) (Rossi & Ibarra, 2013). 13 No Brasil, no período da Primeira República ( ) também existiram Patronatos Agrícolas vinculados ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, como um mecanismo de controle de menores considerados

26 24 regeneração do menor tutelado (Zapiola, 2015). Além disso, se caracterizava como um asilo de menores, com o objetivo de regeneração e reintegração social, pois ali haveria diferentes tipos de oficinas de trabalho, uma vez que a reabilitação por meio do trabalho era o argumento central dos especialistas e funcionários interessados em construir instituições de prevenção da delinquência infantil (Zapiola, 2008). Propunha-se também que as crianças enviadas para esta instituição fossem separadas em duas classes: os abandonados e os delinquentes. Tal divisão permitiria classificar as crianças que precisavam apenas de correção das que necessitavam de clausura por serem consideradas delinquentes. É importante assinalar que, neste período, (...) tanto los criminólogos y pedagogos positivistas como los funcionarios más o menos imbuidos de sus propuestas, tendían a recomendar la internación de ciertos niños y jóvenes más allá de que éstos hubieran trasgredido o no alguna ley. Lo que importaba era detectar las desviaciones en el desarrollo moral de ciertos niños, por lo que resultaba indistinto que éstas se expresaran o no a través de la comisión de delitos, siendo éstos meros indicadores de una carencia que hacía falta subsanar por medio de la educación. De esta manera se explica que todos los proyectos científicos, legislativos e institucionales de la etapa hayan tenido como destinatarios a un vasto y heterogéneo conjunto de niños y jóvenes que abarcaba desde los huérfanos hasta los delincuentes, pasando por los abandonados, los vagos y los trabajadores ambulantes (Zapiola, 2008, p. 537) Entretanto, as medidas adotadas pela Colônia Marcos Paz mantinham um caráter asilar e não estritamente correcional. Dentre várias irregularidades que aconteciam nesta instituição eram denunciados o mau trato físico e psicológico a que as crianças eram submetidas, as péssimas condições materiais, a inadequação da infraestrutura para fins educativos e os diversos casos de abuso sexual (Zapiola, 2010). Neste período já eram realizados exames médicos-psicológicos para avaliar as crianças e adolescentes institucionalizados. No caso da Colônia Marcos Paz, por exemplo, se aplicava um exame físico-psíquico às crianças estudantes considerando os fatores familiares, ambientais e pessoais. A partir do que era coletado, a análise permitiria traçar um prognóstico em relação à possibilidade de reinserção social e laboral da criança (Rossi & Ibarra, 2013). O crescimento da criminalidade infantil exercia um grande impacto na opinião pública justificando assim a necessidade de uma maior intervenção do Estado em relação às políticas sociais e também no âmbito familiar (Talak, 2014). Os debates acerca da delinquência infantil potencialmente perigosos com a finalidade de educar e regenerar. No Código Penal de 1890, se previa que os menores recolhidos deveriam ser enviados para estabelecimentos disciplinares industriais (Oliveira, 2003).

27 25 e a necessidade da produção de novos saberes e intervenções profissionais e políticas contribuíram para a promulgação da Ley Agote em 1919 (Talak, 2014), consolidando formalmente a passagem do paradigma da doutrina penal do menor para o da doutrina de proteção irregular. Percebe-se que tanto no Brasil quanto na Argentina a presença do conhecimento psicológico nas questões do Direito se constituiu na fronteira entre a pobreza e a delinquência. Além disso, outro aspecto comum é a utilização do trabalho como meio de regeneração e reeducação dos menores e também como prevenção da delinquência infantil. No Brasil, a utilização do trabalho como método terapêutico já acontecia na assistência aos alienados com o objetivo da recuperação da saúde mental e, neste contexto o valor moral do trabalho passou a influenciar diretamente na concepção de normal e patológico (Araújo, 2016, p. 22). No século XX as discussões sobre a questão criminal no Brasil e na Argentina avançaram influenciadas pelo positivismo criminológico, o que colocou em xeque a ideia sustentada pelo Direito Clássico de um homem universal dotado de livre arbítrio. As questões sociais e estruturais da delinquência começaram a ser problematizados e com o Direito Positivo se buscou respostas científicas para a questão da delinquência a fim de serem elaboradas estratégias de prevenção criminal e de combate ao delito. Desse modo, nas primeiras décadas do século XX, Brasil e Argentina incorporaram em suas mudanças legislativas um novo paradigma, o do Direito Positivo. Assim, os avanços das discussões sobre a regulação da intervenção estatal nos problemas da infância foram sustentados pela perspectiva de que o indivíduo, sendo um produto do seu meio genético e social, poderia ter sua autonomia questionada considerando os determinantes biológicos, sociológicos e psicológicos do comportamento (Jacó-Vilela, 1999). 1.2 A doutrina do menor em situação irregular: a intervenção do Estado na questão da infância No Brasil, com a Proclamação da República em 1889, a dimensão política e social da questão da infância se amplia, uma vez que a criança se tornava parte de um projeto em que era vista como futuro da nação. Cuidar da infância correspondia a zelar pelo patrimônio da nação, pois se concebia a criança como um ser em formação, moldável e passível de ser transformado em um elemento útil para o progresso da nação (Rizzini, 1997, p. 25).

28 26 Em 1890 houve reformulações na legislação penal e assim foi promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (Decreto número 847) que estabelecia a inimputabilidade absoluta dos menores de nove anos de idade. O critério fundado no discernimento do juiz para estabelecer a responsabilidade penal ainda se manteve no código penal da República, porém o marco etário foi ampliado, abrangendo então os menores entre nove e quinze anos. O controle da delinquência infantil ficava a cargo de ações repressoras da polícia e o tempo de recolhimento às Casas de Correção também era determinado pelo juiz, não podendo exceder a idade de dezessete anos. A questão da infância então adquire outra dimensão política a fim de consolidar o ideal republicano da criança como um cidadão profícuo para o país. A infância pobre tornouse alvo de atenção e cuidados, porém este discurso carregava também outra preocupação, manifestada principalmente pelas áreas médica e jurídica: a de que a infância moralmente abandonada é potencialmente perigosa, já que, devido a condição de extrema pobreza de seus progenitores, esta não recebe a educação considerada adequada pelos especialistas, que vem a ser a educação moral, instrucional e profissional (Rizzini, 1993, p. 16). Nesse sentido, a estratégia principal de controle social se configurou por meio de uma assistência preventiva pautada inicialmente no modelo de filantropia e posteriormente por meio de projetos de lei. A filantropia, de base laica, apareceu como crítica à caridade, por esta ser mantenedora da miséria social. A assistência filantrópica tinha influência do modelo positivista, fundamentando na ciência as ações desenvolvidas. De acordo com Rizzini (1993) a assistência filantrópica difere da caridade nas suas finalidades, métodos e na aproximação para com as ciências, inicialmente médica e jurídica. (...) As finalidades da filantropia são de cunho político, econômico e moral (...) (p. 58). A medicina, como o novo modelo de higiene (física e mental) se tornou o poder político e técnico que fundamentou propostas de assistência pública a fim propiciar uma maior vigilância e controle da população (Rizzini, 1993). Os higienistas polemizaram a assistência caritativa com base em argumentos respaldados na moral e nos conhecimentos adquiridos pela ciência médica. A existência da roda dos expostos não poderia mais ser tolerada. Feria os preceitos da higiene (Rizzini, 1997, p. 181). Assim, na primeira metade do século XX a Roda dos Expostos foi extinta (Arantes, 1999). Entretanto, no final do século XIX o modelo caritativo já vinha sendo substituído pelo modelo de assistência filantrópica, inicialmente por meio de ações sociais privadas. O Estado também passou gradualmente a controlar as iniciativas dirigidas aos pobres (Rizzini, 1997).

29 27 Como já colocado, a criança pobre foi objeto de atenção, pois representava um perigo para a ordem pública, principalmente quando considerada potencialmente delinquente. O modelo de assistência à infância baseado na filantropia tinha clara influência das teorias da degeneração 14 e das higienistas, objetivando a prevenção do desvio social. Desse modo, tanto a família quanto a infância eram estudadas, investigadas e classificadas para que pudessem ser traçadas metas de atuação sobre elas, principalmente sobre a infância pobre e considerada potencialmente desviante (Rizzini, 1993). No Brasil foram criados programas de assistência que se incumbiram dos cuidados à infância. Porém, Os programas de assistência às crianças pobres constituíam-se em: dispensários, tratamento e profilaxia das doenças, creches, gotas de leite e distribuição de gênero de primeira necessidade. Ao menor abandonado e delinquente estava reservado o espaço do asilo: o preventório e o reformatório (Rizzini, 1993, p. 25). Para a infância abandonada e delinquente o regime de internato era considerado o mais adequado para sua educação e recuperação. O afastamento da sociedade asseguraria o controle e a vigilância da criança e do adolescente bem como a aplicação das medidas de reeducação. O movimento higienista, composto por médicos e intelectuais renovadores, visava a mudança dos hábitos dos indivíduos através da educação e higiene, a fim de melhorar as condições de saúde da população, especialmente a população pobre. A política higienista representava as perspectivas de uma elite dominante que tinha a intenção de modernizar o Brasil (Mansanera & Silva, 2000). A infância foi um dos principais focos desta política, não só por representar o futuro da nação (Rizzini, 1997), mas também porque a criança era mais suscetível a ser moldada. 14 A teoria da degeneração contribuiu para novos mecanismos de controle social. Um dos seus principais proponentes é Benedict-Augustin Morel ( ), psiquiatra, que publicou em 1857 o Traité des Dégénérescences. Para Morel, a degenerescência era um desvio patológico de um tipo originário normal que poderia ser transmitido hereditariamente aos seus descendentes. Estes desvios poderiam ter como causa a hereditariedade, as influências do meio social e as doenças adquiridas ou congênitas. Um meio de prevenir a degenerescência era a higiene física e mental, sendo por isto apropriada pelo projeto higienista. Um dos nomes que se destacou no movimento de Higiene Mental foi o de Clifford W. Beers ( ) que, após ser internado devido a uma crise nervosa, escreveu uma autobiografia como paciente psiquiátrico, criticando o tratamento aos doentes mentais. Beers fundou em 1909 nos Estados Unidos a Sociedade de Higiene Mental e, juntamente com William James ( ) e Adolph Meyer ( ), criou o Comitê Nacional de Higiene Mental. As ideias eugênicas predominaram em diversos momentos do movimento higienista (Antunes, 2002).

30 28 Diante disso, a ideia de salvação da criança confunde-se, pois, com a proposta de salvação do país um país a ser moldado como se molda uma criança (Rizzini, 1997, p. 138). Nesse sentido, Na família, assim como na escola, a criança passa a ser o campo de ação mais promissor dos higienistas, que não se preocupavam mais somente com a saúde física, mas também com a saúde mental. Começavam a dispor de subsídios científicos para afirmar que a influência do meio familiar deixava características na personalidade do homem adulto, a partir de suas experiências infantis. Recomendavam um acompanhamento cuidadoso na fase da infância, por ser esse o momento da formação do psiquismo, o momento em que se estruturaria a personalidade. Essa fase era ideal para se instalarem hábitos sadios no psiquismo da criança, evitando-se, assim, o surgimento de personalidades desequilibradas (Mansanera & Silva, 2000, p. 129). Em meio às ações higienistas relacionadas à infância, é importante destacar a atuação de Arthur Moncorvo Filho ( ), médico brasileiro, que promoveu políticas de assistência à infância consideradas de cunho científico e social, na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, durante as décadas de 1910 e 1920 (Rizzini, 1997). Moncorvo Filho considerava a ciência capaz de promover assistência preventiva à população e a promoção da higiene infantil era o mote fundamental para sanar os problemas sociais (Garcia, 2003). Em 1901 Moncorvo fundou o Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI), onde havia a prestação de serviços básicos de saúde de forma gratuita à população pobre. Uma das seções do IPAI era o Dispensário Moncorvo, onde as crianças indigentes e doentes recebiam atenção médica, privilegiando não só os cuidados com o corpo, mas também o tratamento da miséria moral dos indivíduos (Garcia, 2003). Dentre os serviços oferecidos pelo Dispensário estavam o exame clínico infantil, vacinação, distribuição de roupas, brinquedos, alimentos, leite e também serviços de ginecologia. De acordo com Garcia (2003), as doações para a população pobre não poderiam ser feitas sob a forma de dinheiro, uma vez que não haveria controle sobre o uso deste Aqui podemos fazer um paralelo com o Programa Bolsa Família, iniciado em 1995 a nível municipal e implementado em 2003 como um Programa Federal, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Bolsa Família consiste num programa de transferência de renda para famílias pobres constituindo uma política de enfrentamento à pobreza e a desigualdade social, por meio da garantia do acesso aos direitos sociais básicos: saúde, educação, segurança alimentar e assistência social, contribuindo para que estas famílias possam construir meios e condições de superar a situação de vulnerabilidade e pobreza em que se encontram (Controladoria-Geral da União, 2005). As críticas iniciais a esse programa também estavam relacionadas ao fato de que a assistência à população pobre não deveria ser feita em forma de dinheiro, uma vez que a renda destinada para estas famílias poderia ser usada para o consumo de bebidas alcóolicas, tabaco, drogas e até

31 29 A fim de garantir um viés científico às ações realizadas pelo IPAI (Garcia, 2003), Moncorvo Filho fundou em 1902 a Sociedade Científica Protetora da Infância e a revista Archivos de Protecção a Infancia. Em 1919 criou o Departamento da Criança no Brasil 16, órgão anexo ao IPAI, como o objetivo de sistematizar informações sobre a infância. O Departamento funcionou como uma organização de pesquisa e recolhimento de dados sobre a infância a fim de que o Governo Federal pudesse desenvolver um programa nacional de assistência infantil. Dentre suas inúmeras atividades, inaugurou o Museu da Infância 17 e promoveu a realização do I Congresso de Proteção à Infância em 1922, objetivando sistematizar e produzir conhecimentos sobre a infância brasileira, principalmente no que dizia respeito às questões de assistência (Wadworth, 1999; Garcia, 2003). Os debates no Congresso levaram à recomendação de que houvesse a centralização e o controle governamental da assistência infantil tanto pública quanto privada, reivindicando do Estado a criação de legislações específicas que reconhecessem o direito das crianças à vida e à saúde (Wadsworth, 1999; Garcia, 2003). Dentre as ações de Moncorvo Filho também se destacaram os Concursos de Robustez, que ocorriam nas comemorações do Dia das Crianças. Estes Concursos tinham como alvo as mães pobres e garantiam uma premiação em dinheiro ao bebê mais saudável, conforme os preceitos médicos e raciais da época. No IPAI também era oferecido, para mães mais desfavorecidas, um programa educacional para que pudessem adotar as práticas da higiene na educação dos seus filhos (Wadsworth, 1999; Garcia, 2003), o que estabeleceu um modelo de assistência médico-social à infância alinhado ao ideal de saneamento moral e civilizatório da nação, tônica dos primeiros anos do regime republicano. mesmo prostituição. Outra crítica muito comum era que o benefício também constituía uma forma de esmola, já que as famílias não precisavam trabalhar para receber, mantendo assim uma relação de dependência com os programas de assistência governamentais. (Cf O Departamento da Criança no Brasil funcionou até Em 1940 o Governo Federal criou o Departamento Nacional da Criança, órgão do Ministério da Educação e Saúde Pública, que também oferecia serviços similares ao do Departamento criado por Moncorvo Filho. Além disso, Helena Antipoff ( ), psicóloga russa que veio trabalhar no Brasil em 1929, atuou no Departamento Nacional da Criança entre 1944 e (Wadsworth, 1999; Jacó-Vilela & Degani-Carneiro, 2015). 17 O Museu da Infância, montado em 1922 para o I Congresso de Proteção à Infância e também para a Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência, consistiu numa exposição de um panorama da evolução histórica da infância brasileira. Além disso, apresentou variadas instituições de assistência à infância (creches, escolas, hospitais, clínicas de pré-natal) a fim de demonstrar um modelo organizacional de assistência para o Estado, ressaltando como o cuidado com a infância seria promissor para o país (Wadsworth, 1999).

32 30 Para Moncorvo Filho os problemas sociais eram agravados pela negligência governamental em relação à infância, ameaçando o futuro da nação (Wadsworth, 1999). O interesse dos juristas pela questão da infância no Brasil deriva deste movimento médicofilantrópico por uma reforma civilizadora, sobretudo por meio da intervenção sobre os pobres (Rizzini, 1997). Diante da vinculação de criança e criminalidade e infância e periculosidade se estabeleceu uma aliança entre a Justiça e a Assistência, dando origem à ação tutelar do Estado brasileiro, legalizada pela criação do Juizado de Menores e do Código de Menores em 1927 (Rizzini, 1997). Assim, com a promulgação do primeiro Código de Menores (Decreto A) conhecido também como Código Mello Mattos 18, a questão da infância obteve um novo contorno, trazendo então o viés da assistência e proteção ao menor abandonado ou delinquente. Entretanto, apesar do avanço legislativo garantindo os direitos básicos da criança e adolescente menor de 18 anos considerada abandonada ou delinquente, a assistência à infância neste período ainda era destinada ao controle da população, principalmente da população pobre, visto que o menor em situação de pobreza e abandono moral e material era submetido à ação da Justiça e da assistência independentemente de haver algum comportamento delitivo, constituindo o que denominamos hoje de criminalização da pobreza (Brisola, 2012). Após a promulgação do Código houve um aumento na demanda pela internação dos menores, pois produziu-se nesta época uma crença de que o Estado poderia, através do ensino proporcionado em seus estabelecimentos de internação, garantir a possibilidade de ascensão social e um futuro digno a seus filhos (Bulcão, 2006, p. 53). A proteção oferecida pelo Estado objetivava manter a ordem social por meio da tutela jurídica dos menores em situação de abandono moral ou material e/ou delinquentes. Diante da promessa de educação do menor desviante, muitas famílias se viam atraídas por este modelo asilar, pois se consideravam incapazes de fornecer a educação adequada aos seus filhos, sobretudo pela miséria em que viviam (Bulcão, 2006). O Código de Menores facilitou a criação, em 1935, do Laboratório de Biologia Infantil (LBI), subordinado ao Juizado de Menores do Rio de Janeiro, com o objetivo de estudar e controlar a delinquência infantil. O LBI foi idealizado e dirigido por Leonídio Ribeiro ( ) no período de 1935 a 1938 e suas práticas iniciais estavam relacionadas à Medicina 18 Nome dado em homenagem ao seu idealizador, o jurista José Cândido de Albuquerque Mello Mattos ( ), também o primeiro Juiz de Menores do Brasil.

33 31 Legal e às atividades do Instituto de Identificação do Rio de Janeiro, órgão também criado e dirigido por Ribeiro (Silva, 2011). Na estrutura do Laboratório, havia um serviço de Psicologia, em que estava presente um psicologista, realizando as atividades de diagnóstico e prognóstico das crianças e adolescentes. Outras seções compunham o organograma da instituição, sendo elas a de Medicina, Psicotécnica, Identificação e Assistência Social (Bulcão, 2006). Em relação aos serviços psicológicos, estes visavam investigar o nível intelectual da criança e a existência de distúrbios psíquicos. Embora o tratamento mais indicado fosse a internação em instituições disciplinares, havia algumas indicações para a psicoterapia, para o ensino profissional ou para a reeducação moral (Andrade, 2001). Ao identificar e classificar as crianças consideradas delinquentes, os médicos do LBI auxiliavam a Justiça fornecendo pareceres e indicação do tratamento mais adequado para cada caso, visando respaldar, através de evidências científicas, as decisões dos magistrados (Silva, 2011). O primeiro procedimento do LBI era a realização de exames médico-legais para a identificação e fichamento dos menores encaminhados pela polícia ao Juizado de Menores, o qual complementava o inquérito social realizado pelos assistentes sociais do Laboratório. Posteriormente, junto aos exames radiológicos e laboratoriais, eram realizados exames psicotécnicos e clínicos para tratar os internos do LBI e então estes eram encaminhados ao Instituto Sete de Setembro para aguardar a decisão do Juizado de Menores (Silva, 2011). Com base nos pareceres destas avaliações o juiz encaminhava as crianças aos estabelecimentos de tratamento e recuperação de menores, se assim necessitasse. Isto porque, o mapeamento de cada criança era enviado junto com as indicações individuais de tratamento, com a intenção de fornecer os cuidados que se julgavam adequados para cada criança, o que significou uma mudança significativa em relação aos padrões anteriores (Silva, 2011, p. 1118). O LBI tinha uma organização de cunho científico, respaldando-se nos conhecimentos biológicos e psicológicos da época, dentre eles a utilização dos testes como instrumento de avaliação das crianças (Silva, 2011; Andrade, 2001). Uma das finalidades do LBI era tratar de crianças com 'predisposição' a desenvolver, no futuro, uma conduta desviante. O crime passava a ser visto como uma doença biológica, tendo, portanto, como uma das causas a hereditariedade (Silva, 2003, p. 1118). O Laboratório tinha clara influência dos princípios da degeneração, uma vez que se compreendia a criminalidade e a delinquência como uma doença que poderia ser transmitida pelo ambiente social, buscando diante disso transformar o menor em um adulto adequado, sadio e útil à sociedade (Bulcão, 2006).

34 32 Em 1938, o LBI passou a ser dirigido pelo médico pediatra Meton de Alencar Neto ( ), que reorganizou as atividades desenvolvidas nesta instituição. Junto aos procedimentos de identificação e classificação, outras práticas foram inseridas, dentre elas as de caráter psicológico, pedagógico, clínico e assistencial que aos poucos substituíram os exames médico-legais e de identificação (Jacó-Vilela et. al, 2009; Silva, 2003). Nesta nova organização, a Seção de Investigação Social teve um papel importante, pois se considerava que a investigação do histórico da vida social das crianças poderia apontar indicadores da criminalidade tão significativo e tão causal quanto à influência biológica (Silva, 2003). Ao longo destas transformações foram sendo incorporadas, de forma significativa, os conhecimentos e práticas psicológicas nas atividades de assistência ao menor abandonado e delinquente. Consonante com o objetivo do Juizado de Menores da profilaxia criminal através do estudo, classificação e tratamento do menor, o LBI se apoiava na psicotécnica e no estudo da personalidade, por meio dos testes, para classificar e recuperar o menor desviante o integrá-lo à chamada normatividade social (Andrade, 2001). Contudo, os saberes científicos e o pensamento psicológico empregados para compreender a criança abandonada e delinquente contribuíram para uma naturalização do desvio, legitimando atitudes de exclusão e desqualificação de crianças e jovens pobres e delinquentes (Andrade, 2001, p. 240). De acordo com Cruz & Guareschi (2004), os laudos produzidos naquele período tinham como função buscar a etiologia dos atos delitivos. Além disso, (...) reproduziam o padrão das elites sociais no que diz respeito à família, trabalho e moradia. Assim, a família era encarada como um pilar para a recuperação dos jovens denominados infratores. Contudo, se o simples fato de um jovem não contar com a presença do pai na família, esta já era considerada como desagregada ou desestruturada. Evidencia-se que o fator determinante que permitia incluir (ou excluir) estes jovens em certas medidas de ressocialização era a origem socioeconômica de suas famílias (Cruz & Guareschi, 2004, p. 82). O LBI foi extinto como órgão auxiliar do Juizado de Menores em 1939 e passou a funcionar como uma seção do Instituto Sete de Setembro. Entretanto, o Instituto não era suficiente para abrigar os menores a serem internados e assim se criou, em 1942 o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do Ministério da Justiça e Negócios Interiores 19, com 19 Durante o Governo de Getúlio Vargas foi criado, como já dito, o Departamento Nacional da Criança (DNCr), em Órgão do Ministério da Saúde e Educação, era responsável pelas políticas nacionais de amparo e proteção à maternidade, à infância e à adolescência. Dentre os objetivos do DNCr havia a preocupação em se formar bons hábitos morais e higiênicos nas mães e nos filhos da população pobre, combater a mortalidade infantil e garantir o pré-natal para que se pudesse formar uma raça brasileira forte e sadia, útil para o trabalho e

35 33 funcionamento equivalente ao do sistema penitenciário, de orientação correcional e repressiva (Saraiva, 2003). Apesar de o SAM ter sido considerado na época um órgão com função de auxiliar e prestar assistência ao menor infrator ou em situação de abandono, ocorria efetivamente uma repressão institucional. Dentre suas finalidades 20 estava a promoção do ajustamento social desses jovens, os quais eram submetidos à investigação social e a exames médico-psicopedagógicos 21. Uma de suas seções era de Pesquisas e Tratamentos Sômato-psíquicos (S.P.T), uma vez que os menores em regime de internato deveriam receber este tipo de tratamento até seu desligamento. Devido ao seu caráter repressivo e disciplinar e em virtude também das práticas que aos poucos começam a ser consideradas inadequadas, o SAM entrou em decadência, sendo extinto em Conforme Bulcão, A possibilidade do contágio da delinquência e/ou seu aprendizado transformou o SAM numa máquina produtora do que deveria tratar. Ao entrar nessa maquinaria, onde o atendimento era pasteurizado, no seu rol de entrada recebia abandonados e delinquentes encaminhados pelo Juizado de Menores e na porta de saída, devolvia à sociedade seres inúteis, despreparados para a vida, gerando gravíssimas denúncias e severas críticas que alimentavam a fama de o SAM era a Sucursal do Inferno, um Escola do Crime ou ainda que a sigla queria dizer Sem Amor ao Menor (Bulcão, 2006, p. 181). No mesmo ano da extinção do SAM, o atendimento à infância foi regulamentado a partir da Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM Lei 4513/64). Para implementar esta política foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), órgão central constituído por subdivisões estaduais, as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEM), responsáveis por executar a PNBEM. progresso da nação (Vieira, 2003). Já o SAM era diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores com o intuito de sistematizar e orientar os serviços de assistência a menores desvalidos e delinquentes, podendo recolhê-los em instituições tutelares, executando principalmente medidas correcionais (Azevedo, 2007). Ambos os órgãos constituíram as políticas públicas assistenciais do Estado Novo voltadas para a infância. 20 Cf. publicacaooriginal-1-pe.html. 21 Não podemos deixar de mencionar o trabalho da psicóloga Glória Fernandina Quintela ( ) no SAM, sendo uma das mulheres que contribuíram para a difusão da prática psicológica já antes da regulamentação da profissão. Em 1941 Glória Quintela trabalhou no Rio de Janeiro como professora e assistente de educação e psicotécnica do SAM e publicou em 1945 cinco artigos sobre infância e educação nos Arquivos do Serviço de Assistência a Menores, período do SAM (Campos, 2017).

36 34 A PNEBEM tinha como proposta a extinção da política de internação do SAM, porém não conseguiu romper com esta medida corretiva. As Fundações Estaduais (FEBEMs), órgãos executores desta política, herdaram não só a estrutura física do SAM, mas também seu corpo de funcionários e os métodos corretivos (Bandera, 2015). Estes se fundamentavam em métodos terapêuticos-pedagógicos desenvolvidos com a finalidade de possibilitar a reeducação e a reintegração do menor à sociedade (Cruz & Guareschi, 2004, p. 84). Desta forma, apesar das FEBEMs terem sido criadas para combater as falhas do SAM, visando o bem-estar do menor, elas mantiveram uma prática de controle coercitivo na reabilitação das crianças e adolescentes e se tornaram palco de violências e rebeliões. Assim, tornava-se visível a eficiência do Estado na produção de menores abandonados, menores de rua, menores em situação de risco, através de suas políticas/práticas de exclusão social (Cruz & Guareschi, 2004, p. 85, grifo dos autores). Com as práticas repressoras e de controle, houve um aumento da delinquência já que a FEBEM também herdou do SAM o caráter de escola do crime. Além disso, as crianças e adolescentes que haviam passado pela internação nesta instituição eram estigmatizados pela sociedade como menores perigosos (Cruz & Guareschi, 2004). Consonante às mudanças propostas pela PNBEM, em 1979 o Código de Menores passou por algumas reformulações (Lei 6.679/79) e substituiu a categoria menor abandonado ou delinquente para a de menor em situação irregular. Do mesmo modo que na Argentina na década de 1920, a situação irregular abrangia o menor de 18 anos em perigo moral ou material ou autor de ações delituosas. De acordo com o Artigo 2º do Código, se considera em situação irregular o menor que: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal.

37 35 Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial (Brasil, 1979). Desta forma, a criança e o adolescente considerados em situação irregular eram vistos como uma patologia no meio social (Barros, 2006). Embora o tratamento à infância tivesse como pressuposto a proteção, a privação da liberdade bem como o modelo tutelar-repressivo de atendimento mantiveram a marginalização destes menores. Além disso, o conceito de irregularidade era de caráter discriminatório e atestava a intervenção estatal sobre as crianças e adolescentes pobres e consideradas potencialmente delinquentes. Os direitos não eram garantidos à infância e adolescência de forma plena, mas somente àquelas que se enquadravam nas disposições do Código de Menores. A prática do psicólogo no judicário na década de 1980 já era prevista no Código de Menores. De acordo com as disposições deste, os psicólogos juntamente com os assistentes sociais, poderiam compor uma equipe interprofissional a fim de realizar estudos de caso e perícia (Bernardi, 1999). Em São Paulo, por exemplo, o psicólogo fazia parte da equipe técnica que auxiliava as decisões do magistrado por meio da elaboração de relatórios ou de laudos periciais e, além disso, poderia orientar os menores em situação irregular e dar cumprimento às medidas de proteção e sócio-educativas aplicadas a estas crianças, conforme cada estudo de caso (Bernardi, 1999; 2010). No caso da Argentina os debates sobre a delinquência infantil culminaram com a promulgação da Lei Agote 22 em 1919 (Lei ) e do novo Código Penal regulamentado em 1922 (Talak, 2014). A Lei Agote, conhecida também como Lei de Patronato de Menores, foi a primeira legislação na América Latina a tratar especificamente da infância e previa a proteção do Estado às crianças e adolescentes considerados moral ou materialmente abandonados pelas famílias, especialmente aquelas em situação de pobreza, supostamente incapazes de criar e educar seus filhos. Esta legislação se sustentava na doutrina da situação irregular, e retirava a criança ou adolescente do seio familiar. Eram considerados em situação irregular os menores de 18 anos enquadrados como delinquentes ou na condição de abandono moral ou material, sendo que estes eram objetos de medidas judiciais. 22 Nome dado em homenagem a Luis Agote ( ), médico sanitarista e deputado da província de Buenos Aires. Foi também secretário e inspetor do Departamento Nacional de Higiene e médico do consultório infantil da Assistência Pública (Zapiola, 2010).

38 36 A tutela estatal, representada pelos juízes e pelos funcionários do Ministério Público de Menores, oferecia uma proteção especial aos menores em situação irregular de caráter paternalista. Porém os tratamentos destinados às crianças e adolescentes, além de repressores, não garantiam a reinserção social e reforçavam a estigmatização da classe pobre. Os menores eram considerados não só um perigo para a sociedade argentina, mas também uma ameaça política (Zapiola, 2010). Dentre as ações para solucionar e conter o problema da delinquência das crianças e adolescentes se previa que eles poderiam ser entregues a uma pessoa honesta (membro da família ou não), a um estabelecimento de beneficência ou a um reformatório público de menores (Zapiola, 2010). Tanto as disposições no novo Código Penal quanto da Lei Agote se sustentavam em abordagens que faziam uso do conhecimento psicológico então existente para intervir sobre as crianças e adolescentes considerados em situação irregular. Diante disso, La intervención de la psicologia em la búsqueda de soluciones de estos problemas contribuyó al proceso de psicolgización del niño, de los problemas asociados a él y de las intervenciones sobre la niñez que la educación pública y el higienismo habían comenzado a instalar previamente (Talak, 2014, p. 78). As políticas sociais e a proteção do menor derivaram em medidas repressivas ao invés de prestarem real assistência e auxiliarem na educação da criança e do adolescente. Tais medidas se centravam na criação de instituições de acolhimento de menores abandonados ou delinquentes onde as medidas de educação e regeneração se baseavam principalmente no castigo através do trabalho, da disciplina e de variadas formas de encarceramento (Talak, 2014). Porém, a questão da infância abandonada e delinquente impulsionou o surgimento da investigação e do diagnóstico científico, orientados pela criminologia positivista. As crianças delinquentes eram estudadas como um desvio das condições biológicas e sociais (Talak, 2014). No período da promulgação da Lei Agote foram traçadas políticas de prevenção das enfermidades sociais na quais se considerava a determinação dos múltiplos fatores (sociais, ambientais e biológicos) que poderiam interferir no desenvolvimento de doenças mentais ou no comportamento criminoso (Rossi & Ibarra, 2013). Em 1927, o Tribunal de Menores da Argentina, introduziu uma Ficha Psicológica para classificar as crianças e encaminhá-las para um tratamento adequado (Rossi & Ibarra, 2013). Esta Ficha tinha como objetivo fazer um diagnóstico psicológico e traçar um prognóstico

39 37 sobre a reeducação e a periculosidade da criança, avaliando os antecedentes hereditários, familiares, pessoais, do meio social, as funções intelectuais, afetividade e volição, a constituição mental e também media o coeficiente intelectual com o Teste de Binet (Rossi & Ibarra, 2013). Após a fundação da Liga Argentina de Higiene Mental, em 1929, foi proposto que as instituições de reabilitação classificassem seus internos para que pudessem ser traçados diagnósticos e prognósticos visando a integração social e a oferta de tratamento especializado (Rossi & Ibarra, 2013). O modelo de Higiene Mental se coadunava com o projeto político do governo argentino 23 : o de conferir ao setor da saúde o controle do ambiente social, proliferando assim os discursos de prevenção das doenças, dirigidos principalmente para os cuidados com as mães e as crianças (Rossi & Ibarra, 2013). Além disso, entre as décadas de 1930 e 1940 surgiram hospitais pediátricos com o objetivo de atender as crianças doentes e orientar suas famílias. O binômio mãe/filho foi alvo de diversas políticas filantrópico-assistenciais, pois se buscava diminuir as taxas de mortalidade infantil. Tal atuação também configurava a ideia de civilizar e sanear o país para o progresso. A doutrina do menor em situação irregular tanto no Brasil quanto na Argentina esteve relacionada à problemática da criação de instituições tutelares que estivessem a cargo do Estado para que crianças e adolescentes considerados em situação de abandono moral, material ou delinquentes pudessem ser regenerados e reintegrados na sociedade. Em ambos os países as iniciativas de assistência à infância derivaram a princípio de ações de caráter privado, oriundas principalmente das práticas empreendidas por médicos higienistas. No Brasil e na Argentina a preocupação com a questão da infância esteve centrada no discurso da criança como progresso da nação e a criança pobre era vista como potencialmente delinquente e agente da desordem. A contenção da criminalidade infantil e a elaboração de planos de assistência eram a tônica das políticas sociais. O enfoque criminológico desta época estava respaldado no modelo médico-científico, orientando a elaboração de saberes teóricos e de intervenções para a busca de soluções para a questão da infância, principalmente em relação a delinquência infantil. Entretanto, os modelos de assistência à infância ainda perpetuaram a marginalização das crianças consideradas em situação irregular e reforçaram a estigmatização da pobreza, uma vez que as oportunidades de reinserção social e educacional destas crianças continuaram restritas. 23 Este período político que perdurou na Argentina entre 1940 e 1943, conhecido como Década Infame, representou o primeiro golpe de Estado onde os militares tomaram o poder.

40 38 Como sintetizamos na Tabela 1, é possível perceber que as discussões em torno da assistência à infância e a adolescência passaram por momentos similares no Brasil e na Argentina, impactando diretamente nas transformações legislativas destes países. Tabela 1 Comparação da assistência à infância entre Brasil e Argentina Legislações de assistência a Brasil Argentina infância Primeira assistência Roda dos Expostos - Câmaras Municipais e Santas Casas de Misericórdia (séc. XIX/XX) Doutrina Penal do Menor Doutrina de Situação Irregular Código Criminal do Império (1830); Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (1890) Código de Menores ou Código Mello de Mattos (1927/1979) Casa de Ninõs Expósitos (séc. XIX/XX) Código Penal de 1886 (Lei 1920) Lei Agote ou Patronato de Menores (1919) Fontes: Marcilio, 1997; Rossi & Ibarra, 2013; Brasil, 1830, 1890, 1927, 1979, 1990; Argentina, 1886, 1919, 1990, Em relação a Eliezer Schneider e Plácido Horas a questão da infância perpassou algumas produções e práticas de cada um destes personagens no campo da Psicologia, sendo um elemento de maior relevo no trabalho empreendido por Horas. Mesmo não sendo uma temática central nos estudos de Schneider, ele apontava que já na infância a aprendizagem social era um dos determinantes fundamentais na adaptação do indivíduo ao ambiente e na formação da personalidade. E apesar de reconhecer a importância dos fatores biológicos e hereditários no desenvolvimento do indivíduo, Schneider (1978) afirmou que após a primeira hora do nascimento, o que se destaca e predomina progressivamente na adaptação do indivíduo ao meio, em sua conduta cognitiva, afetiva e conativa, é a aprendizagem social e a socialização da sua personalidade (p. 19). Deste modo, a existência ou não de comportamentos criminosos ou desviantes teria uma relação direta com as interações do indivíduo com o seu meio social desde os primeiros anos de vida. No caso de Plácido Horas o enfoque na infância e juventude esteve presente desde as suas primeiras atividades acadêmicas, sendo uma das tônicas do seu trabalho que congregavam o conhecimento psicológico. Ao ingressar na UNCuyo atuou no Instituto de Investigaciones Pedagógicas onde desenvolveu pesquisas com temáticas psicológicas em torno da criança e do adolescente (Muñoz, 2008). Além disso, entre os anos de 1948 a 1957

41 39 foi nomeado como psicólogo do Conselho Provincial do Menor com o objetivo de realizar estudos psicopedagógicos com estudantes da província de San Luis (Muñoz, 2008). Em relação à Psicologia Jurídica, parte das suas pesquisas em torno da infância contribuiu na elaboração do livro Jóvenes desviados y delincuentes (1972), como apontaremos no terceiro capítulo.

42 40 2 DA LOUCURA SITUADA NA LEGISLAÇÃO PENAL À INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL E NA ARGENTINA Além das questões sobre o menor, o indivíduo considerado louco criminoso foi objeto de estudos, ações e políticas de cunho jurídico psicológico tanto no Brasil quanto na Argentina. Neste capítulo veremos como as legislações penais, ao sofrer influência do Direito Positivo, atribuíram ao saber médico-psiquiátrico uma missão salvatória da sociedade. Parece que, à medida em que a família era alvo de medidas normalizadoras e o menor perigoso sob controle, outro perigo chama a atenção: aquele que está fora das normas em duas direções, tanto pelos seus crimes quanto por sua loucura. A ideia de salvar a nação já estava presente nas primeiras intervenções no caso da infância e se estenderam ao âmbito da loucura visando o ordenamento jurídico e social. Desta forma, não houve apenas uma demanda de estudos sobre o comportamento e a personalidade do criminoso para auxiliar a Justiça em suas determinações, mas também a necessidade de criação de instituições de reclusão, tratamento e correção. Posteriormente, ainda abordaremos neste capítulo que, em meio ao movimento de reconhecimento da Psicologia como ciência e profissão, Eliezer Schneider, no Brasil e Plácido Horas, na Argentina, tornam-se personagens com contribuições relevantes para o campo que denominamos hoje de Psicologia Jurídica. 2.1 Legislações penais do Brasil e a figura do louco criminoso A loucura no âmbito do Direito foi abordada de forma diversa ao longo das elaborações dos códigos penais tanto do Brasil quanto da Argentina. O dito louco criminoso representava, muitas vezes, um perigo social, sendo então necessárias ações ou medidas de segurança que o mantivessem afastado da sociedade. No caso do Brasil, o primeiro Código Penal (CP1830) o Código Penal do Império do Brazil, de 1830 foi elaborado sob os preceitos da escola clássica do direito penal, fundamentado no livre arbítrio e na responsabilização penal definida de acordo com a moralidade dos fatos. A loucura, por sua vez, era uma questão ambígua para os fundamentos

43 41 deste Código, pois era contraditória com a noção do livre arbítrio, visto o louco, neste momento, ser considerado um ser irracional, não dotado de razão. Era recomendado, segundo o Artigo 10 2, que os considerados loucos que tivessem cometido delitos ou crimes (palavras sinônimas no CP1830) deveriam ter um tratamento indiferenciado, ou seja, não serem julgados como criminosos os loucos de todo o genero, salvo se tiverem lucidos intervallos e nelles commeterem o crime (Brasil, 1830). De acordo com o Artigo 12, ficava a cargo do magistrado, quando requisitado, determinar o estado de loucura dos réus, podendo indicar que estes fossem recolhidos às casas para elles destinadas, ou entregues às suas famílias, como ao juiz parecer mais conveniente. No Artigo 64 se reafirmava que os delinquentes que, sendo condemnados, se acharem no estado de loucura, não serão punidos enquanto neste estado se conservarem. Embora houvesse indicação para que os considerados loucos criminosos fossem enviados para casas destinadas especificamente para eles, ainda não havia neste período instituições próprias para isto, sendo então geralmente enviados para as prisões ou para os hospitais das Santas Casas (Amarante, 1994), como os loucos em geral. Havia um receio de que estes, perambulando pelas ruas da cidade, causassem desordem social. Por outro lado, as más condições em que eram mantidos nos hospitais das Santas Casas foram elementos propulsores para a demanda de criação de um asilo que garantisse um tratamento específico para a loucura (Gonçalves, 2013). Diante disso, em 1841 foi criado, pelo Decreto nº 82, o Hospício Pedro II no Rio de Janeiro, anexo à Santa Casa de Misericórdia, destinado estritamente à assistência e tratamento dos doentes mentais. A criação do hospício corresponde ao grande projeto civilizatório em curso durante o Império, que implicava, entre outras coisas, a colocação da loucura sob a égide médica, como doença mental. Por outro lado, há autores que atribuem sua criação à ideia de que na França estava o centro da civilização, portanto criar aqui hospícios, quando o alienismo lá se desenvolvia, era um passo neste projeto (Teixeira, 1997). A construção do Hospício durou cerca de dez anos, tendo sido inaugurado com seus estatutos aprovados em 1852, destinado ao asilo, tratamento e curativo dos alienados de ambos os sexos de todo o Império, sem distinção de condição, naturalidade e religião (Brasil, 1853, p. 442). As interpretações das leis do CP1830 foram sofrendo transformações, principalmente diante da influência do direito positivo que preconizava a necessidade de critérios não só fisiológicos, mas também psicológicos e sociais para classificar os criminosos e individualizar as penas. Se em 1830 o juiz era o único responsável por determinar a loucura do réu, em 1877 se indicava nos comentários da edição anotada deste Código a necessidade de um especialista

44 42 para tal identificação. Assim, as notas sobre o Artigo 10 expressava que se deveria dar aos médicos prazo para fazerem o exame do louco e não substituir esse meio de prova pelo dito de testemunhas (Código Criminal do Império do Brazil, 1830 [edição de 1877], p. 499). A alienação mental só seria aceita como justificativa para o crime se houvesse uma prova indubitável, já que a loucura era um phenomeno psychologico e physiologico que só a sciencia póde determinar, sendo o medico o unico competente para este exame, devendo darse-lhe o tempo que exigir (Código Criminal do Império do Brazil, 1830 [edição de 1877], p. 42). Com o fim da monarquia no Brasil e a promulgação da República em 1889, o CP1830 sofreu reformulações e em 1890 passou a vigorar o primeiro código penal republicano: o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (CP1890). O termo louco foi substituído no Código Penal por pessoas com afecção mental e/ou em completa privação dos sentidos os quais eram apontados como inimputáveis 24. Assim, de acordo com o artigo 27 3 e 4 do CP1890, não eram considerados criminosos os que, por imbecilidade nativa, ou enfraquecimento senil, forem absolutamente incapazes de imputação e aqueles que se acharem em estado de completa privação de sentidos e de inteligência no ato de cometer o crime (Brasil, 1890). Ademais, o artigo 29 determinava que os indivíduos isentos de culpabilidade em resultado de afecção mental serão entregues às suas famílias, ou recolhidos a hospitais de alienados, se o seu estado mental assim o exigir para a segurança do público. No CP1890 ficam evidentes dois conceitos: o da periculosidade e o de defesa social. Os loucos criminosos que representassem perigo para a sociedade deveriam ser compulsoriamente internados pois, não havendo cura possível para a loucura moral, a defesa social exige a segregação manicomial ad aeternum (Mattos, 1999, p. 61). Porém, segundo os pressupostos do positivismo científico, o louco criminoso, mesmo isento da responsabilidade penal, deveria ser alvo de estudos e tratamentos, para que se pudesse determinar as causas do comportamento delituoso e aplicar medidas terapêuticas e de correção. Em 1890 o Hospício Pedro II foi desvinculado da Santa Casa de Misericórdia, ficando a cargo do Governo Federal e passou a ser denominado Hospício Nacional de Alienados (Decreto nº142-a). Assim, a assistência aos doentes mentais tornou-se obrigação do poder público e tinha por objetivo organizar os serviços de intervenção estabelecendo uma política 24 É importante assinalar que a Cátedra de Moléstias Nervosas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia foi criada em 1881 pelo Decreto nº e em 1882 a Lei nº regulamentou o ensino da Psiquiatria no Brasil.

45 43 médico-sanitarista, o que viria a ocorrer com o Decreto 1.132, de 1903, sobre o qual falaremos ao longo deste capítulo. Com a influência do direito positivo, as transformações do direito penal também passam a ter um caráter medico-jurídico contribuindo para um movimento em prol da construção de asilos criminais para alienados. A proposta de criação de um manicômio judiciário foi lançada por João Carlos Teixeira Brandão 25 ( ), diretor geral da Assistência Médico-Legal de Alienados (no período de 1890 a 1899), em um ofício de 1897 dirigido ao Ministro da Justiça. De acordo com Carrara (1998), a proposta de Teixeira Brandão decorreu das s dificuldades de manter a ordem entre os alienados comuns e os alienados criminosos e condenados no Hospício Nacional. Diante disso, com a reorganização da assistência médico-legal a partir do Decreto 1.132, de 1903, foi criado um anexo especial para os alienados criminosos: a Seção Lombroso do Hospício Nacional, chefiada por Heitor Carrilho 26 ( ). Entretanto, a efetivação da criação de um asilo criminal só se concretizou em 1921 com o Decreto que aprovou o funcionamento do Manicômio Judiciário (MJ) no Rio de Janeiro (Santos & Farias, 2014). Este, além de ter sido a primeira instituição psiquiátrica-penal criada no Brasil, foi também a primeira da América Latina (Ibrahim, 1989; Carrara, 2010; Santos & Farias, 2014). Foi inaugurado em 30 de maio de 1921 e Heitor Carrilho foi seu primeiro diretor. É importante destacar que, de acordo com Carrara (1998), dois acontecimentos foram cruciais para a criação do MJ: o assassinato de Clarice Índio do Brasil 27, em 1919, e a rebelião e fuga 25 João Carlos Teixeira Brandão nasceu na freguesia do Arraial de São Sebastião, Província do Rio de Janeiro. Formado em ciências e letras no Colégio Pedro II, fez doutorado na Faculdade Medicina do Rio de Janeiro em Atuou também como médico do serviço de moléstias do sistema nervoso na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, fundada em Dois anos depois, foi nomeado lente da cadeira de Clínica Psiquiátrica e de Moléstias Nervosas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi nomeado, em 27 de fevereiro de 1887, diretor do serviço sanitário do Hospício de Pedro II. Além de sua atuação na medicina, destacou-se na política. Eleito em 1903 deputado federal, defendeu a reorganização da assistência a alienados, concretizada no decreto nº 1.132, de 22/12/1903 (Teixeira, 2005; Brandão, s/d). 26 Heitor Pereira Carrilho nasceu no estado do Rio Grande do Norte. Médico pela Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, atuou no Hospício Nacional de Alienados na década de Na década seguinte, foi nomeado diretor do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro. Em 1930 criou também o periódico Archivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, junto com o médico Juliano Moreira. Foi um dos sócio-fundadores da Sociedade Brasileira de Criminologia (Dias, 2015). 27 Clarice Índio do Brasil era da alta sociedade carioca, esposa de Arthur Índio do Brasil, então senador da República. Era conhecida por fazer trabalhos sociais em instituições de caridade em Botafogo. No dia 6 de outubro de 1919, ao sair com seu motorista para buscar o marido no trabalho como fazia todos os dias, Clarice foi assassinada com um tiro no peito por um taquígrafo do Senado. Uma vez que foi alegado que o autor do disparo era doente mental e diante da possibilidade da absolvição, houve um movimento da impressa para que fosse criado mais rapidamente um manicômio judiciário. Entretanto, em oposição aos médicos, os jornalistas, ao defenderem a construção do estabelecimento, não enfatizavam o seu caráter terapêutico ou humanitário;

46 44 de internos da Seção Lombroso do Hospício Nacional, em Diante da revolta dos internos do Hospício Nacional, o então diretor Juliano Moreira 28 ( ) também endossou a necessidade de se criar um uma prisão de caráter especial para abrigar os criminosos considerados perigosos e loucos (Carrara, 1998). A repercussão de tais acontecimentos impulsionou então a fundação do MJ em 1921, objetivando a custódia do chamado louco criminoso, incorporando em si o espectro de duas instituições totais: a prisão e o manicômio (Goffman, 1974). Os pacientes da Seção Lombroso foram realocados para o MJ, que também passou a receber os loucos criminosos encaminhados pela Justiça do Distrito Federal. Entretanto, segundo Carrara (1998), o MJ não abrigaria qualquer doente mental ou alienado que cometesse crimes, pois estava destinado principalmente àqueles criminosos considerados degenerados, natos, de índole, ou, mais amplamente, anômalos morais (p. 195). Além da custódia penal, o MJ tinha como intento tratar e recuperar o louco criminoso. Desse modo, Heitor Carrilho procurava avaliar a responsabilidade legal dos criminosos e estimar sua probabilidade de cura, defendendo a individualização do criminoso, da pena e da terapêutica (Jacó-Vilela; Espírito-Santo & Pereira, 2005, p. 27). Para Heitor Carrilho, o MJ era um estabelecimento que permitiria, por meio de um regime repressivo, a profilaxia criminal, garantindo o bem-estar público e social. Em relação à produção de conhecimento, os Archivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, periódico criado por Juliano Moreira e Heitor Carrilho na década de 1930, foram uma peça fundamental na constituição do saber psicológico na esfera criminal. Como vimos no capítulo destinado à infância, a construção de um saber sustentado em bases científicas era o mote para o desenvolvimento e execução das políticas higienistas da época que poderiam salvar e resguardar a sociedade da criminalidade. antes, apontavam sua urgente necessidade para uma repressão mais eficaz aos delinquentes (Carrara, 1998, p. 192). Em homenagem a Clarice Índio do Brasil uma rua de Botafogo recebeu o seu nome. 28 Juliano Moreira nasceu em Salvador, na Bahia, era mestiço e oriundo de família pobre. Formou-se médico pela Faculdade de Medicina da Bahia, onde também foi professor substituto da Cátedra de Doenças Nervosas e Mentais em Entre os anos de 1903 a 1930, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro. Ainda no início dos anos 1900, elaborou uma proposta de reforma desta instituição, bem como atuou em defesa de uma legislação federal de assistência aos alienados. Juntamente com outros médicos, foi responsável pela fundação dos periódicos: Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1905), Arquivos Brasileiros de Medicina (1911) e Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (1930) (Oda & Dalgalarrondo, 2000). O dado que Juliano Moreira era mestiço aponta como a questão da raça tinha nuances no Brasil oitocentista. Para ele, a miscigenação não era a causa da degeneração do povo brasileiro, uma vez que os negros e mestiços teriam as mesmas condições em termos de raça que os brancos (Oda & Dalgalarrondo, 2000).

47 45 Nos Archivos eram publicadas as atividades médico-jurídicas do MJ, tornando a revista conhecida como uma difusora da Psiquiatria Forense, sendo a base formativa de muitos psiquiatras forenses, desde sua origem, até a contemporaneidade, como fonte de ensinamentos periciais (Dias, 2011, p. 79). Neste periódico havia artigos originais dedicados ao tema da loucura e do crime, além de documentos (laudos, pareceres, sentenças...) de médicos peritos, juízes e do Conselho Penitenciário do Rio de Janeiro (Carrara, 1998, p ). Sendo assim, o MJ não se limitava à finalidade de hospício-prisão, mas também se constituía num espaço de desenvolvimento de estudos e pesquisas médico-científicas. Uma vez que a compreensão sobre o criminoso só ocorreria a partir do conhecimento dos determinantes biológicos e psicológicos (ou da base orgânica degenerativa), os psiquiatras deveriam ser os principais orientadores das decisões judiciárias, e também responsável (sic) pelos destinos (terapêuticos) dados aos criminosos (Dias, 2011, p. 86). Heitor Carrilho preconizava que os Manicômios Judiciários eram estabelecimentos fundamentais nas organizações penais modernas, ressaltando sua tríplice finalidade: 1º. A de serem estabelecimentos destinados á observação dos accusados que allegam desordens mentaes ou dos condemnados que apresentem pertubações psychicas no curso do cumprimento da pena. 2º. A de realisarem as funcções de clinicas, onde se faz o tratamento destes mesmos individuos, quando a observação demonstrou que realmente se trata de doentes mentaes. 3º. A de serem estabelecimentos destinados a segregação dos individuos isentos de responsabilidade, por motivo de affecção mental, quando a seguraça pública assim o exige. (Carrilho, 1931, p ). Ainda para Carrilho, umas das principais funções dos Manicômios Judiciários na organização penal era a de garantir a defesa social. No caso do Rio de Janeiro, o MJ se constituía em um instituto de assistência psiquiátrica aos delinquentes onde deveriam ser realizados os exames psiquiátricos-legais, além de se destinar à segregação e tratamento de incorrigiveis, de anormaes e deficientes mentaes de temibilidade verificada, - uma especie de transição entre a prisão e o hospital (Carrilho, 1931, p. 30). O MJ também tinha uma finalidade terapêutica, porém tal finalidade estava associada a outro conceito: o de temibilidade do delinquente. Para Carrilho (1931), a partir dos exames periciais regulares poder-se-ia verificar o grau de temibilidade, sendo então possível traçar os objetivos terapêuticos para tentar modificar o que era chamado de taras psychobiologicas responsáveis pelo seu estado perigoso.

48 46 O grau de temibilidade era avaliado conforme os aspectos anthropologico, moral e psychico 29 da personalidade do recluso, de modo a ficarem perfeitamente esclarecidas as suas tendências anti-sociaes e a forma de psychopatia observada (Carrilho, 1931, p. 36). O interno do MJ só poderia deixar a instituição no caso de desaparecimento da temibilidade ou da desordem psíquica, sendo transferido para uma colônia de psicopatas ou, no caso de cura, sendo reinserido na sociedade. No anteprojeto proposto por Heitor Carrilho para a criação dos outros Manicômios Judiciários se ressaltava a função de desenvolvimento científico destes estabelecimentos, assinalando-se nas diretrizes que: O Director e os médicos do Manicomio Judiciario deverão realizar estudos e pesquisas dentro da psychiatria clinica e forense e da criminologia, visando contribuir para o progresso dessas sciencias e para que se estabeleçam normas de prevenção da deliquencia, em face dos fundamentos psychopatologicos da criminalidade (Carrilho, 1931, p. 38). Em relação à assistência aos psicopatas delinquentes, foram categorizados três tipos de indivíduos que deveriam ingressar no MJ: os condenados recolhidos em prisões que apresentassem perturbações mentais; os acusados que deveriam ser submetidos a observação especial e tratamento e, por fim, os delinquentes considerados inimputáveis por motivos de afeção mental se o critério do Juiz exigisse segurança pública (Carrilho, 1932). Assim, a organização do MJ se coadunava com os preceitos do Código Penal de 1890, sendo um estabelecimento de defesa social, segregação dos loucos criminosos e de tratamento. Entretanto, além de cumprir com os objetivos de organização penal propostos para a época, o MJ tinha também como propósito ser um centro de estudos científicos no campo da Criminologia. Em função das transformações do direito penal, influenciadas principalmente pelas práticas fundamentadas na ciência positiva, foi necessário sistematizar as reformas do Código Penal de 1890, o que resultou no Decreto nº de 14 de dezembro de 1932, conhecido como Consolidação das Leis Penais, que vigorou até Nas alterações do texto em relação à responsabilidade criminal do doente mental apenas se substituiu no Artigo 27 4º o termo completa privação dos sentidos para completa perturbação dos sentidos (Brasil, 1932, grifo nosso), na tentativa de se evitar interpretações dúbias sobre a sanidade mental do 29 Os critérios de avaliação da temibilidade que Carrilho se utiliza são inspirados na obra de Luis Jiménez de Asúa ( ), jurista espanhol, que em 1922 publicou El Estado peligroso. Nueva fórmula para el tratamiento penal y preventivo (Dias, 2011).

49 47 acusado. Uma nova reformulação da legislação penal aconteceu durante o Estado Novo ( ), sendo sancionado em 1940 o novo Código Penal (CP1940) brasileiro (Decreto-Lei nº 2.848) que passou a vigorar em 1942 e está vigente até o presente momento. No Código Penal CP1940 a responsabilidade penal do doente mental autor de crime não é mais vista a partir do viés da inimputabilidade irrestrita, como no código penal anterior. Assim, a responsabilidade penal no Código Penal de 1940 consiste em: Art 22. É isento de pena o agente que, por doença mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com o entendimento. Parágrafo único: A pena pode ser diminuída de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não possuía ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. De acordo com o parágrafo único fica claro que, mesmo que se alegue doença mental do criminoso, este deve responder judicialmente por seu ato, podendo ter sua pena diminuída, o que representa duas categorias de responsabilidade penal: a inimputabilidade e a semiimputabilidade. Outro ponto que se consolida com o Código Penal de 1940 diz respeito à introdução das medidas de segurança, inclusive as de caráter preventivo. A internação em manicômios judiciários era considerada umas das medidas detentivas de segurança e, não havendo estabelecimento adequado para se cumprir a pena, o condenado deveria ser encaminhado para outro estabelecimento que pudesse exercer tal função. No caso de internação em manicômio judiciário, as disposições do Código Penal de 1940 designam que: Art. 91. O agente isento de pena, nos termos do art. 22, é internado em manicômio judiciário. 1º A duração da internação é, no mínimo: I - de seis anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não inferior, no mínimo, a doze anos; II - de três anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não inferior, no mínimo, a oito anos; III - de dois anos, se a pena privativa de liberdade, cominada ao crime, é, no mínimo, de um ano: IV - de um ano, nos outros casos. 2º Na hipótese do n. IV, o juiz pode submeter o indivíduo apenas a liberdade vigiada (Código Penal, 1940).

50 48 O novo Código Penal impacta também as práticas no MJ. No relatório sobre as atividades do MJ em 1944 apresentado a Adauto Botelho 30 ( ), Diretor do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM), Carrilho coloca que, com a promulgação do Código Penal de 1940, o MJ teve de expandir e desenvolver ainda mais suas atividades para cumprir as medidas de segurança detentiva de internação ali dispostas. As medidas de segurança eram vistas como um meio de repressão e prevenção do crime, sendo os manicômios judiciários 31 os órgãos responsáveis pela sua efetivação. Além disso, as sanções e a definição da periculosidade só poderiam ser determinadas após o estudo do delinquente (Carrilho, 1944/1955). Mais uma vez o caráter científico do MJ fica evidenciado, pois, além da finalidade legal e da assistência psico-higiênica, se destacava seu objetivo técnico-científico. Carrilho coloca que um dos propósitos relevantes do MJ era: (...) o de ser uma clínica criminológica, de finalidades técnico-científicas definidas, onde se faz o estudo da personalidade dos delinquentes em relação com as várias espécies psicopáticas por êles apresentadas e onde tudo se faz também para livrá-los das suas doenças e anormalidades mentais, a fim de conseguir seu reingresso social, já libertos de suas tendências e inclinações maléficas (Carrilho, 1944/1955, p. 58). Além disso, Carrilho (1944/1955) considerava que, se os manicômios judiciários fossem estabelecimentos destinados unicamente a cumprir as medidas de segurança propostas no CP1940, tornar-se-ia apenas um depósito de anormais e doentes psíquicos. Era necessário desenvolver práticas que contribuíssem para a regeneração dos internos, que se configuravam também como uma medida de defesa social. Por outro lado, tanto na legislação sobre os chamados loucos criminosos quanto em relação ao destino social que lhes deveria ser dado, havia o que Carrara (2010) considera superposição de dois modelos de intervenção social, o jurídico-punitivo e o psiquiátricoterapêutico, os quais impunham limites ao poder de intervenção dos médicos e dos demais técnicos (p. 19, grifo do autor). 30 Adauto Junqueira Botelho nasceu em Minas Gerais e formou-se em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina em Dois anos depois, foi assistente interino do Hospital Nacional de Alienados, tornando-se efetivo no ano de 1923 (Academia Nacional de Medicina, s/d). Desempenhou atividades docentes na Faculdade Nacional de Medicina, além de atuar como psiquiatra no Sanatório Botafogo, cuja fundação também lhe é atribuída (Piccinini, 2009). Entre os anos de 1941 a 1954 foi diretor do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM), ligado ao Ministério da Educação e Saúde. Tal gestão caracterizou-se pela expansão dos hospitais públicos, proporcionando um aumento de leitos psiquiátricos no país (Paulin & Turato, 2004). 31 Neste período outros MJs foram criados, sendo eles: o Manicômio Judiciário do Rio Grande do Sul (1925), o Manicômio Judiciário da Bahia (1928), o Manicômio Judiciário de Barbacena (1929) e o Manicômio Judiciário de Franco da Rocha (1933) (Diniz, 2013).

51 49 Assim, a intervenção médico-psiquiátrica, além de ser um projeto político para salvaguardar a sociedade dos possíveis males causados pelos crimonosos doentes mentais, também estava subordinada às autoridades jurídicas. Ao perito criminal cabia fornecer um parecer técnico ao juiz no caso de suspeita de insanidade mental avaliando se havia, no momento do crime, supressão do entendimento ou da vontade em decorrência de doença mental ou desenvolvimento mental retardado e ao juiz cabia a última palavra, com sua prerrogativa de livre convencimento (Peres & Nery Filho, 2002, p. 344). Apesar disto, no âmbito da Criminologia, o MJ revestiu-se de um sentido de relativa vitória médico-psiquiátrica, demarcando o domínio psiquiátrico no âmbito da perícia e da custódia dos loucos-criminosos (Dias, 2015, p. 156). As práticas nesta instituição, além do relevo científico, contribuíram para alicerçar ainda mais a intervenção psi na instância judiciária. O MJ foi dirigido por Heitor Carrilho até seu falecimento em Lysanias Marcelino da Silva 32 assumiu então a direção e neste mesmo ano Eliezer Schneider passou a integrar o corpo técnico do MJ no cargo de psicologista, como veremos mais adiante. Em homenagem ao seu primeiro diretor, em 1955 o MJ é denominado Manicômio Judiciário Heitor Carrilho (MJHC) (Carrara, 1998; 2010). Na constituição da Psicologia Jurídica no Brasil também é importante destacar a importância do Laboratório de Psicologia criado por Waclaw Radecki 33 ( ) na Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro na década de 1920 que se converteu em Instituto de Psicologia em 1932 pelo Decreto nº (Centofanti, 1982). O Instituto de Psicologia tinha como um dos objetivos funcionar como Escola Superior de Psicologia para a formação de psicólogos (Centofanti, 1982; Esch & Jacó-Vilela, 2012) e dentre as demais finalidades estava a de contribuir para os estudos de aplicação da psicologia à pedagogia, medicina, técnica judiciária e racionalização do trabalho industrial (Decreto nº , de Lysanias Marcelino da Silva (?) foi diretor do Manicômio Judiciário Heitor Carrilho. Em meados de 1950, trabalhou como psiquiatra no Instituto de Psiquiatria da Universidades do Brasil (CAPES, 1957). Foi membro da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, integrando o Conselho Deliberativo desta em 1961 (Desconhecido, 1962). 33 Waclaw Radecki nasceu em Varsóvia, na Polônia. Formou-se em Psicologia pela Faculdade de Ciências Naturais e Medicina, na Universidade de Genebra, onde desenvolveu atividades como assistente do laboratório dirigido por Eduardo Claparède. Foi nomeado docente livre da Universidade de Genebra. Organizou laboratório de Psicologia na Universidade de Cracóvia e na Universidade Livre da Polônia. Em 1923, mudouse para o Brasil com sua esposa Halina Radecka e ministrou disciplinas de Psicologia na Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade do Paraná. No ano seguinte, no Rio de Janeiro, Radecki foi convidado para organizar e dirigir o Laboratório de Psicologia, localizado na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro (Centofanti, 1982).

52 50 de março de 1932). Visando estes fins, o Instituto compreenderia cinco sessões, sendo elas a de Psicologia Geral, a de Psicologia Diferencial e Orientação Profissional, a de Psicologia aplicada à Educação, a de Psicologia aplicada à Medicina e a de Psicologia aplicada ao Direito (Centofanti, 1982, Decreto nº , de 19 de março de 1932). Estas sessões foram organizadas de modo a aproveitar a formação do corpo técnico já existente no antigo Laboratório de Psicologia, que era composto por Agnello Ubirajara da Rocha 34 ( ), Halina Radecka 35 ( ), Edgard Sanches 36 ( ), Lucilia Tavares 37, Arauld Bretas 38 ( ), Jaime Grabois 39 ( ) e Euryalo Cannabrava 40 ( ) 34 Agnello Ubirajara da Rocha foi um militar médico do Exército Brasileiro. Em 1927, foi escalado para compor a comissão de seleção para candidatos a aviadores da Arma da Aviação do Exército que acabara de ser criada. No ano seguinte, na companhia de outros militares médicos, fez um curso de psicologia com Waclaw Radecki na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Tornou-se um especialista em psicologia, dando conferências e instruções sobre temas da área dentro e fora do Exército (Clio-Psyché, s/d). 35 Halina Radecka, polonesa, formou-se em ciências humanas pela Universidade Livre de Varsóvia em 1918 (León, 1997). Esposa e também assistente de Radecki no Laboratório de Psicologia na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro. Publicou em 1960, na Argentina, o livro Psicologia Social (Jacó- Vilela et al., 2007). 36 Edgard Ribeiro Sanches nasceu em Salvador, na Bahia. Formou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito da Universidade da Bahia em 1913, onde tornou-se catedrático da cadeira de filosofia anos depois. Atuou ainda como diretor do Tribunal de Conta e como diretor e redator do Diário Oficial da Bahia. No Rio de Janeiro, em 1932, foi nomeado professor assistente do Instituto de Psicologia, ministrando curso de psicologia e lógica, anexo à Faculdade de Direito. Desenvolveu atividades no âmbito jurídico como procurador-geral da Justiça do Trabalho e, posteriormente, ministro do Tribunal Superior do Trabalho (Sanches, s/d). 37 Lucilia Tavares (?) foi professora municipal, indicada pela Diretoria Geral de Instrução Pública, para ser assistente de Radecki no Laboratório de Psicologia que funcionava na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Foi responsável pela cadeira de Metodologia do trabalho experimental em Psicologia quando o laboratório foi transformado em Instituto de Psicologia (Centofanti, 1982). Em 1932, o Instituto foi fechado e suas atividades de formação profissional não foram levadas à cabo. Lucilia escreveu o livro Psychologia do Pensamento (1930), considerado como a primeira obra na área de psicologia, publicada por uma mulher (Jacó-Vilela; Messias & Carneiro, 2015). 38 Arauld Bretas foi um militar médico. Em 1927, servindo no Exército Brasileiro, foi escalado para compor a comissão de seleção para candidatos a aviadores da Arma da Aviação do Exército que acabara de ser criada. No ano seguinte, na companhia de outros militares médicos, fez um curso de psicologia com Waclaw Radecki ( ), na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Tornou-se especialista em medicina da aviação e, em 1942, transferiu-se para a Força Aérea Brasileira. Também colaborou no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) (Clio-Psyché, s/d). 39 Jaime Grabois, nascido em Buenos Aires, foi na década de 1920 assistente de Radecki no Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro (Jacó-Vilela, 1999; Moutinho, 2008). 40 Euryalo Vianna Cannabrava nasceu Cataguases, em Minas Gerais. Foi advogado e professor no magistério secundário e, posteriormente, tornou-se catedrático na Universidade do Brasil. Em 1932, produziu com a colaboração de Jaime Grabois, os trabalhos A contribuição experimental à psicologia das concepções e A

53 51 (Centofanti, 1982). A Psicologia aplicada ao Direito ficaria a cargo de Sanches e Cannabrava. Entretanto, sete meses após o funcionamento do Instituto este foi extinto por ordem presidencial (Centofanti, 1982). O Instituto de Psicologia foi reativado em 1937 na Universidade do Brasil (atual UFRJ) sendo dirigido por Jaime Grabois que, com a ajuda de colaboradores voluntários, passou a oferecer atividades de ensino, pesquisa e prática psicológica (Centofanti, 1982). De acordo com Centonfanti (1982), o Instituto de Psicologia se constituiu como um centro de Psicologia aplicada, caracterizando uma prática científica e profissional. No ano seguinte, 1938, Edgard Sanches ministrou um curso de Psicologia Jurídica no Instituto (Centofanti, 1982), sobre o qual não encontramos informações mais precisas. Contudo, fica evidente que desde a idealização do Instituto de Psicologia por Radecki até sua continuidade com Grabois, se estruturaram práticas na intersecção entre Psicologia e Direito, o que denota já um empenho da sistematização da Psicologia Jurídica no Brasil. Em 1941 Eliezer Schneider ingressou no Instituto de Psicologia através de um concurso para Técnico de Assuntos Educacionais, exercendo então o cargo de psicologista (Jacó-Vilela, 2001). 2.2 Principais legislações penais argentinas e a questão do alienado delinquente Na Argentina, diferentemente do Brasil, as primeiras leis penais não tinham abrangência nacional, estando limitadas às províncias, o que conferiu certa heterogeneidade ao âmbito penal. Em função disso, vamos nos ater aqui às principais normativas jurídicas que tiveram impacto nas leis penais nacionais argentinas a fim de tecer algumas relações entre Psicologia e Direito. Um dos primeiros movimentos para estabelecer uma regulamentação jurídica durante o período republicano aconteceu em Buenos Aires em 1829 quando foi publicado o Plan general de organización judicial com o objetivo de estabelecer uma legislação Civil, Comercial e Penal (Barreneche, 2007). Entretanto, somente em 1863 o Congresso Nacional autorizou o Poder Executivo a nomear uma comissão para redigir o Código Penal da formação voluntária das representações. Esses seriam apresentados em um congresso em Copenhague (Canabrava, s/d; Centofanti, 1982).

54 52 República Argentina, ficando a cargo de Carlos Tejedor 41 ( ) a elaboração deste projeto. O Proyecto Tejedor ou Código Tejedor, como ficou conhecido, teve como principais fontes o Código Penal da Baviera de 1813, o Código peruano de 1863, os Códigos espanhóis de 1848 e 1850 e o francês de 1810 (Tejedor, 1866; Matias, 2013). Porém, não foi sancionado como um código nacional, sendo adotado somente por algumas províncias, dentre elas a de Buenos Aires em 1877 (Rodríguez & Rodríguez, 2001). No Código Tejedor as infrações penais eram divididas em crimes, delitos e contravenções, de acordo com a gravidade de cada uma delas. Em relação à responsabilidade penal do agente afetado por uma doença mental, este poderia ser considerado inimputável caso a enfermidade fosse grave o bastante para afetar a sua vontade ou intenção sobre as ações. No artigo 2º do projeto se previa a isenção de pena para los furiosos, los locos, y en general los que hayan perdido completamente el uso de su inteligencia y cometan un crímen en este estado. Também estavam incluídos neste artigo aqueles considerados imbéciles 42 incapazes absolutamente de apreciar las consecuencias de sus acciones, o de comprender su criminalidad (Tejedor, 1866, p ). Ainda de acordo com o projeto Tejedor (1866), os alienados criminosos poderiam ser encarcerados em casas destinadas ao tratamento e reclusão de doentes mentais ou então entregues às famílias, conforme fosse a decisão do magistrado. É importante assinalar que na Argentina os primeiros hospitais psiquiátricos implementados eram administrados por sociedades filantrópicas e de beneficência. A Sociedade Filantrópica de Buenos Aires, que foi criada em 1828, era responsável pela administração de prisões, hospitais e também pela assistência aos idosos e às crianças (Navarlaz, 2011). A situação das mulheres dementes foi uma das primeiras preocupações dessa Sociedade, pois estas ou viviam acorrentadas em prisões ou vagando pelas ruas da cidade (Ingenieros, 1920). Diante disso, em 1852 a Sociedade Filantrópica solicitou ao governo que a polícia deixasse de levar as mulheres para a prisão e as encaminhasse ao Hospital General de Mujeres onde se criou um pavilhão de dementes (Ingenieros, 1920). 41 Carlos Tejedor formou-se em direito pela Universidade de Buenos Aires, onde em 1857 passou a trabalhar como professor na cátedra de Direito. Foi Procurador Geral da Nação, Ministro de Relações Exteriores, diretor da biblioteca Nacional e Embaixador da Argentina no Brasil Império. Atuou como governador da província de Buenos Aires e deputado nacional em 1866, 1874 e 1894 (Carlos Tejedor, s/d). 42 Eram chamados de imbecis nesta legislação aqueles que desde o nascimento possuíam algum atraso mental capaz de impedir o desenvolvimento pleno da inteligência (Tejedor, 1866).

55 53 Devido ao aumento do número de mulheres dementes internadas e a reduzida capacidade do Hospital Geral de Mujeres, a Sociedade Filantrópica também requereu fundos do Governo Nacional para a construção de um hospício de mulheres no entorno da cidade de Buenos Aires (Navarlaz, 2011, Falcone, 2010). O hospício, denominado Hospital Nacional de Alienadas, foi construído em 1854 em um terreno chamado La Convalecencia, onde antes já havia o Hospital General de Hombres (Navarlaz, 2011, Falcone, 2010). É importante apontar que no final do século XIX e início do século XX na Argentina as políticas estatais visavam ações com o objetivo de ordem e controle social devido ao grande fluxo migratório europeu que resultou em um aumento populacional neste período (Narvalaz & Jardon, 2010). Em relação às mulheres, médicos e criminólogos se preocupavam com sua responsabilidade na transmissão de doenças venéreas, bem como a prostituição. Já do ponto de vista da Medicina Legal uma das principais discussões era sobre a responsabilidade jurídica das mulheres nos delitos, uma vez que se apontava sua inferioridade mental em relação aos homens e uma maior propensão a simulação ou auto-sugestão de alguns atos (Narvalaz & Jardon, 2010). No Hospital General de Hombres, que ficava a cargo da Municipalidad de Buenos Aires, também havia um grande número de alienados, o que favoreceu a realização de reformas e a criação, em 1863, de uma Casa dos Dementes que em 1865 recebeu o nome de Hospicio de San Buenaventura em homenagem a Ventura Bosch 43 ( ), idealizador da obra (Falcone, 2010; Contreras, 2014). Em 1873 este estabelecimento foi denominado Hospicio de las Mercedes e dirigido por José Maria Uriarte 44 ( ), que começou um novo tratamento ao doente mental diminuindo os meios de contenção, instituindo o trabalho entre os internos como um recurso terapêutico, realizando oficinas de carpintaria, calçados, lavanderia etc. (Gomez Mengelberg, 2007; Navarlaz, 2011). Em 1875, após o falecimento de Uriarte, a direção do Hospicio de las Mercedes foi assumida por Lucio Meléndez 45 ( ), responsável por impulsionar importantes reformas nas atividades do local, com o aporte do alienismo de Pinel e Esquirol (Vezzetti, 43 Pedro Bosch Buenaventura nasceu em Buenos Aires e formou-se em Medicina em Ele foi um dos grandes nomes da psiquiatria na Argentina do século XIX, sendo a ele atribuído o estabelecimento dos primeiros hospitais psiquiátricos. Atuou também como deputado e como filantropo junto à Sociedade de Beneficência (Pedro Bosch Buenaventura, s/d). 44 Não encontramos dados biográficos sobre este autor. 45 Lucio Meléndez, médico, nasceu em La Rioja, em Argentina. Além de dirigir o Hospicio de las Mercedes atuou também como professor da cátedra de Patologia Mental na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires (Martini & Ruiz, 2004).

56 ). Meléndez se preocupou em oferecer o tratamento moral 46 aos pacientes psiquiátricos e também organizou a criação de pavilhões que pudessem separar os internos de acordo com seu diagnóstico psiquiátrico, de acordo com a classificação da doença mental 47 (Falcone, 2010; Vezzetti, 1985). Em 1887, após o hospício passar por obras para a criação de novos espaços para alojar os internos, começaram a funcionar alguns departamentos, dentre eles um específico para os alienados delinquentes (Falcone, 2010). Este movimento para a construção de pavilhões exclusivos para separar os alienados delinquentes dos demais doentes mentais ocorreu concomitantemente às discussões para a elaboração de um novo código penal argentino. O projeto Tejedor precedeu o primeiro Código Penal para la Nación que, após passar por revisões, foi sancionado em 1886 (Lei nº 1920 de ) e passou a vigorar em A criminologia se desenvolveu neste período com o objetivo de um ordenamento social, principalmente em virtude do grande fluxo imigratório que a Argentina sofreu no fim do século XIX (Vezzetti, 1985). Além do Hospicio de las Mercedes contar com um pavilhão para alienados delinquentes, nesta mesma época funcionou, no Depósito da Polícia Federal, um Observatório Clínico-Criminológico, coordenado por Ramos Mejía 48 ( ) e também um Serviço de Enfermidades Nervosas do qual José Ingenieros foi colaborador (Rossi, Ibarra & Jardón, 2012). Ainda na tentativa de compreender e controlar a criminalidade, Ingenieros organizou em 1907 o Instituto de Criminologia na Penitenciária Nacional de Buenos Aires do qual foi diretor desde a sua criação até Estruturou a instituição em três seções: a de etiologia criminal, a de clínica criminológica e a de terapêutica criminal (Dovio, 2013). O Instituto também contava com um laboratório de psicologia clínica e experimental para a elaboração de estudos sobre a delinquência e de profilaxia criminal e, até a década de 1930, foi um importante centro não só para o exame dos reclusos, mas também para o ensino e pesquisa no campo criminológico (Gotthelf, 1969). Neste mesmo período teve início uma série de propostas para uma reformulação na 46 O tratamento moral criado por Pinel oferecia aos doentes mentais uma intervenção mais humanizada, respeitando-se a dignidade do paciente por meio de atitudes menos repressivas (Pereira, 2004). 47 Meléndez colaborou na redação de uma proposta de classificação de doenças mentais que embora tivesse influência do alienismo francês, estava amparada principalmente em suas observações próprias da prática realizada no Hospicio de las Mercedes e nas produções de outros médicos portenhos (Stagnaro, 1997). 48 José María Ramos Mejía nasceu em Buenos Aires, foi médico psiquiatra e perito dos tribunais no foro nacional. Atuou também como presidente do Conselho Nacional de Educação, na Argentina, onde promoveu a educação nacionalista e a expansão da educação popular (Universidad Pedagógica de Buenos Aires [UNIPE], 2012).

57 55 legislação penal argentina, resultando na sanção do Código Penal de 1921 (Lei ) que vigora desde 1922 até o momento 49. Este novo Código Penal (CP1921) propunha a unificação da legislação penal em todo o território argentino (Croxatto & Zaffaroni, 2014) e foi qualificado como de orientação político-criminalística, tendo algumas influências do positivismo, como a questão das medidas de segurança e da graduação de penas (Bergalli, 2003). No que diz respeito à responsabilidade penal do doente mental autor de infração penal, o Artigo 34 do Título V do CP1921 considera que não são puníveis aqueles que: 1º. El que no haya podido en el momento del hecho, ya sea por insuficiencia de sus facultades, por alteraciones morbosas de las mismas o por su estado de inconciencia, error o ignorancia de hecho no imputables, comprender la criminalidad del acto o dirigir sus acciones. En caso de enajenación, el tribunal podrá ordenar la reclusión del agente en un manicomio, del que no saldrá sino por resolución judicial, con audiencia del ministerio público y previo dictamen de peritos que declaren desaparecido el peligro de que el enfermo se dañe a sí mismo o a los demás. En los demás casos en que se absolviere a un procesado por las causales del presente inciso, el tribunal ordenará la reclusión del mismo en un establecimiento adecuado hasta que se comprobase la desaparición de las condiciones que le hicieren peligroso (Argentina, 1921) Diante disso, para as pessoas declaradas inimputáveis segundo tais condições deveriam ser estabelecidas medidas de segurança baseadas na reclusão manicomial o que ocorria na maioria das vezes - que garantiria a avaliação da periculosidade do criminoso e possibilitaria traçar uma terapêutica de correção, tratamento e prevenção. Na década de 1930 foi fundada, por Lanfranco Ciampi 50 ( ) e Gonzalo Bosch 51 ( ), a Liga Argentina de Higiene Mental com o objetivo de profilaxia da doença mental e de modernização do tratamento, implantando a prática de assistência psiquiátrica aberta em oposição ao modelo asilar (Falcone, 2010; Rossi, Ibarra & Jardón 49 O CP1921 sofreu várias reformas parciais. Até o ano de 2014 foram feitas pelo menos novecentas destas reformas (Agostino, 2014; Croxatto & Zaffaroni, 2014). 50 Lanfranco Ciampi, nasceu na cidade de San Vito in Monte, Itália. Formado em medicina, atuou no campo da psiquiatria infantil com crianças deficientes e com atraso. Na Argentina, dirigiu a primeira cátedra de Psiquiatria Infantil. Em 1928, Ciampi criou uma escola para crianças com atraso, neuróticos e psicopatas. Dois anos depois, junto com Gonzalo Bosch, elaborou uma nosografia psiquiátrica na qual estavam descritas cinco grupos de doenças ou alterações psíquicas (Lanfranco Ciampi, s/d). 51 Gonzalo Bosch nasceu em Buenos Aires, Argentina, foi sobrinho neto de Ventura Bosch. Formou-se médico em 1913 pela Universidade de Buenos Aires. Atuou como diretor do Hospicio de las Mercedes e da Colônia Nacional de Alienados Dr. Domingo Felipe Cabred. Foi também professor da cátedra de Clínica Psiquiátrica da Universidade de Buenos Aires (Gonzalo Bosch, s/d).

58 ). No Hospicio de las Mercedes começaram a funcionar os consultórios externos de Neurologia e Psiquiatria, o que suscitou a necessidade de criação de um programa organizado cientificamente com pessoal capacitado para tal propósito (Falcone, 2010; Rossi, Ibarra & Jardón, 2012). Neste contexto foram criados os Serviços de Higiene Mental e o Serviço de Assistentes Sociais nos quais uma das principais atividades era a construção de fichas biotipológicos e fichas psíquicas, resultando no levantamento de perfis psicológicos e sociais a fim de garantir tanto a assistência quanto o controle da população (Falcone, 2010). De acordo com Vezzetti (1985), se na esfera jurídica e política a loucura moral é considerada uma transgressão da ordem social, na ideologia higienista o manicômio é como um banco de prueba, un laboratorio cirscunscripto e en el que pueden elaborarse los recursos del control (p. 50) que permite difundir ações pedagógicos sociais para garantir a ordem pública. Em uma zona de convergência entre o alienismo e o higienismo, advém o discurso criminológico, que por meio de uma medicina mental política busca controlar e adequar as massas e condena todas as desordens de comportamento (Vezzetti, 1985). Em relação às instituições penais, os protocolos de avaliação dos internos de prisões e penitenciárias estavam circunscritos principalmente por critérios classificatórios, englobando as características hereditárias, morfológicos e fisiopatológicas (Rossi, 2009). No que tange à avaliação psicológica, esta dava especial atenção à dimensão afetiva do condenado, englobando caráter, temperamento, vícios, sociabilidade, religião e inclusive a militância política anarquista ou socialista 52, determinando tanto a periculosidade quanto a possibilidade de ressocialização (Rossi, 2009). Na década de 1950 tornam-se mais consistentes os debates sobre a necessidade da legitimação da Psicologia enquanto profissão. Plácido Horas foi um dos precursores da Psicologia em San Luis e também no território argentino, contribuindo diretamente para a criação do primeiro curso acadêmico de Psicologia na UNCuyo em 1958 (Klappenbach, 1995; Muñoz, 2008). É importante assinalar que antes disso, em 1948, Horas fundou na Faculdad de Ciencias de la Educación da UNCuyo o Instituto de Investigaciones Pedagógicas (posteriormente chamado Instituto de Investigaciones Psicopedagógicas) do qual foi diretor 52 É importante apontar que no contexto político argentino desta época, o socialismo juntamente com as ideias anarquistas motivaram não só a organização operária na luta contra a exploração trabalhista, mas também influenciaram alguns círculos culturais e intelectuais (Bordagaray, 2012). Durante a Década Infame, período da ditaura argentina, houve um movimento de repressão dos grupos socialistas e anarquistas (Spektorowski, 1991).

59 57 desde a sua fundação até a sua extinção em 1970 (Muñoz, 2008). No Instituto surgiram políticas de desenvolvimento e fortalecimento de três grandes áreas: a pedagogia, a psicologia e a orientação profissional/vocacional, esta última com ênfase no exame psicotécnico (Muñoz, 2008; Klappenbach, 2011). Dentre as atividades realizadas neste instituto se descata a publicação dos Anales do Instituto de Investigaciones Psicopedagógicas, como já mencionamos. Em meio aos esforços para a consolidação da Psicologia como formação universitária, se destaca a criação do curso de Especialização em Psicologia, promovido por Horas em 1953 por meio do Instituto de Investigaciones Psicopedagógicas. Esta especialização, que funcionou em nível de pós-graduação, poderia ser cursada principalmente por egressos da Licenciatura em Pedagogia, Filosofia e disciplinas afins (Dagfal, 1991; Klappenbach, 2011). Desta forma, foi um subsídio importante na institucionalização da Psicologia na Argentina, uma vez que foi a base para que pudessem ser estruturados e implementados os primeiros cursos de Psicologia nas universidades nacionais do país (Dagfal, 1991; Piñeda, 2007). Nesta especialização já podemos destacar o interesse de Horas em inserir a Psicologia Jurídica com um dos campos de atuação do psicólogo, sendo um dos protagonistas na sistematização da Psicologia Jurídica na Argentina. A disciplina de Psicologia Jurídica era oferecida no segundo ano do curso, o qual foi divido em três ciclos: fundamental, de especialização e de aplicação (Klappenbach, 2011; Courel & Talak, 2001). A inserção desta disciplina no currículo de uma pós-graduação atesta claramente o interesse de Horas em estabelecer o desenvolvimento do campo da Psicologia Jurídica como uma das possibilidades da prática psicológica. Em 1954 ocorreu o Primer Congreso de Psicología em Tucumán, na Argentina, no qual Plácido Horas participou, visando fortalecer a Psicologia na Universidad Nacional de Cuyo. Este Congresso recomendou a criação de cursos de Psicologia em algumas universidades públicas argentinas, os quais deveriam ter duração de cinco anos com o objetivo de formação universitária de um psicólogo profissional (Klappenbach, 1995; 2015). Começaram então a ser fundados os cursos de formação acadêmica em Psicologia, sendo o primeiro em 1955 em Rosário na Universidad Nacional del Litoral (UNL), em 1957 na Universidad de Buenos Aires (UBA) e os seguintes em 1958 na Universidad Nacional de Córdoba (UNC), na Universidad Nacional de La Plata (UNLP) e na Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo) (Courel & Talak, 2001; Gallegos, 2005). Em relação ao curso de Psicologia da UNCuyo, Plácido Horas foi seu diretor desde a

60 58 criação até 1966 (Dagfal, 1991; Rossi, Ibarra & Ferro, 2009). Em 1963 Horas organizou e introduziu a disciplina de Psicologia Jurídica no curso de graduação e dela foi professor durante o tempo que lecionou na Universidade. A cátedra de Psicologia Jurídica é a mais antiga da Argentina de que se tem conhecimento (Dagfal, 1991). Podemos considerar que este foi um dos primeiros movimentos de Horas para a sistematização das práticas de Psicologia voltadas para o Direito desembocando, como veremos mais adiante, na criação de um Centro de Criminologia, onde desenvolveu atividades práticas com seus alunos de graduação. 2.3 A inserção de Eliezer Schneider no campo da Psicologia Jurídica A atuação de Eliezer Schneider no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho (MJHC) e nas demais instituições em que atuou é fundamental para compreendermos seus discursos em relação à Psicologia Jurídica. Além disto disso, há poucos relatos sobre sua atuação no Manicômio Judiciário, sendo um capítulo pouco explorado nas pesquisas sobre este personagem. Em 1954 Schneider foi nomeado para o MJHC como psicologista por influência de Jurandyr Manfredini 53 (1905-?), motivado especialmente pelo reconhecimento da experiência de Schneider com os testes psicológicos no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP 54 ) e no Instituto de Psicologia (Penna, 2001; Schneider, 1997). Foi no MJHC que Eliezer Schneider pôde voltar ao seu interesse inicial pela Criminologia, realizando atividades com criminosos e lhe permitindo unir seus conhecimentos em Direito e Psicologia (Schneider, 1999). Já nos primeiros anos de atuação no MJHC, entre 1954 e 1955, Schneider desenvolveu o que chamou de teste de atitudes e opiniões, composto por mais de cem perguntas, todas baseadas em provérbios populares (Schneider, 1992 [1989], p. 145). A elaboração deste teste 53 Jurandyr Manfredini, médico paranaense, mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1930 após ser aprovado no concurso para oficiais do Exército, atuando como médico no Hospital Central do Exército. No período de 1954 a 1956 foi Diretor do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM) e em 1955 fundou a Revista Brasileira de Saúde Mental a fim de divulgar as pesquisas dos médicos e técnicos do SNDM. (Vidal & Amorim, 2008). 54 O ISOP, órgão da Fundação Getúlio Vargas, foi criado em 1947 para ser organizado e dirigido por Emílio Mira y López. Foi extinto em O ISOP tinha como objetivo oferecer os recursos da psicologia aplicada como técnicas de seleção e orientação profissional, bem como orientação vital, a instituições e pessoas. Teve importante contribuição na formação dos primeiros profissionais psicólogos e na regulamentação da profissão no Brasil (Bomfim, 2003).

61 59 havia sido ancorada em uma extensa pesquisa sobre os provérbios populares universais e regionais e outros dados foram conseguidos por meio do contato com os internos e prisioneiros sub judice do Manicômio Judiciário. Ainda a respeito desta experiência, Schneider diz: Procurava indagar as atitudes e opiniões sobre os assuntos mais diversos: familiares, éticos, etc. Queria saber se, através de uma escala de atitudes e opiniões, baseada em provérbio da sabedoria popular, poder-se-ia obter um retrato da personalidade e da recuperabilidade dos prisioneiros. Para tanto, contava com o material humano do Manicômio e material acadêmico do Instituto de Psicologia e da Faculdade Nacional de Filosofia (Schneider, 1992 [1989], p. 145). Infelizmente, não obtivemos informações sobre os resultados obtidos ou os desdobramentos posteriores desta investigação no MJHC. Porém, Schneider (1992 [1989]) assinala que no Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil, onde também trabalhava neste período, o foco dos trabalhos era nas teorias e sistemas psicológicos e que continuou coletando amostras de atitudes e opiniões porque o Instituto de Psicologia também tinha interesse sobre os provérbios populares. Estes provérbios eram organizados de forma a rimarem e despertarem mais o interno ou o prisioneiro, ou o pessoal que se conseguiu recrutar no Instituto de Psicologia (o provérbio tem de ser cantante, silabado, rimado para que o conteúdo seja realçado), mas não publicou nada sobre este trabalho porque Nilton Campos 55 ( ) não permitia que se publicasse pesquisas iniciais ou incompletas (Schneider, 1992 [1989], p. 146). Embora Schneider tenha desenvolvido boa parte de suas práticas no MJHC, são escassas suas publicações no periódico deste órgão, onde se encontram apenas quatro artigos: O formalismo e o realismo no exame psicológico (1954); Psicologia da Personalidade: seus problemas taxonômicos (1955); Novas sugestões a favor da teoria motivacional das emoções (1956); A Psicologia gestaltista (1957). Entre 1957 e 1961 houve uma interrupção nas publicações dos Arquivos do Manicômio Judiciário Heitor Carrilho. Quando foram retomadas, Eliezer Schneider foi um dos redatores 56, colaborando na organização dos artigos, laudos e demais publicações 55 Nilton Campos nasceu no Rio de Janeiro e formou-se em Medicina pela Universidade do Brasil, atual UFRJ. Fez especialização em psiquiatria e, em 1924, foi assistente de Radecki no Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Substituiu Jaime Grabois na direção do Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil (Campos, Nilton, s/d; Holanda, 2012). 56 Hoje em dia, são chamados de editores.

62 60 referentes aos anos de 1958 a Schneider (1997) conta que, durante seu trabalho como psicólogo no MJHC, teve experiências interessantes e também trágicas, pelo contato com alguns criminosos que se tornaram conhecidos na época pela repercussão de seus casos na imprensa nacional. Dentre as perícias que realizou, a única da qual foi possível tomarmos conhecimento refere-se ao caso de Neide Maria Maia Lopes, que ficou conhecida como Fera da Penha, após sequestrar e matar brutalmente uma criança de 5 anos, filha do seu amante, por vingança motivada por ciúmes. O crime ocorreu em junho de 1960 no Rio de Janeiro em um matadouro localizado no bairro da Penha. De acordo com Schneider (1997), a avaliação psicológica foi realizada na penitenciária de Bangu, uma vez que havia o risco de fuga caso transportassem Neide Lopes para o MJHC. Ainda relatou que a avaliação psicológica durou quase duas horas e que foram aplicados os testes de Rorschach, T.A.T, Teste de Labirinto, Folha Associativa, bem como foi realizado o teste de associação em cadeia. Em relação ao laudo que elaborou sobre o caso, Schneider explicitou que a avaliada manifestava consciência do crime e inteligência para compreender o que havia feito. Assim, poderia ser responsabilizada por seus atos, uma vez que o caso cumpria as condições de culpabilidade 57, conforme o Código Penal de Segundo Schneider, a avaliada era fria e calculista, sendo seu crime categorizado como doloso, uma vez que nos exames realizados no MJHC não foram revelados momentos de loucura ou de que o crime teria sido por acidente (Schneider, 1997). Após ter realizado a avaliação deste caso e concluído em sua perícia que Neide Maria Maia Lopes não era doente mental, houve uma contestação de seu parecer. Outro perito do MJHC, o psiquiatra e psicanalista Wilson de Lyra Chebabi 58, considerava que a avaliada era portadora de doença mental, pois somente o fato de ter cometido um crime considerado hediondo já provaria a inocência da ré, uma vez que crimes assim só poderiam ser cometidos por pessoas esquizofrênicas (Schneider, 1997). Desse modo houve duas vertentes de avaliação sobre o crime, uma que acreditava no dolo da ré e a outra na inimputabilidade. Podemos pressupor que existia uma disputa entre o saber psiquiátrico e o saber psicológico, na qual de um lado se vinculava os crimes hediondos à existência de uma doença mental, geralmente de 57 As condições de culpabilidade são: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta diversa (Martins de Sanctis, 2002). 58 Wilson de Lyra Chebabi (?-2008) foi médico psiquiatra e psicanalista. Fez sua residência médica no Manicômio Judiciário, atuando também como perito neste estabelecimento no mesmo período que Schneider.

63 61 caráter orgânico, e de outro se enfatizava os determinantes psicossociais no comportamento criminoso. No julgamento, Neide Maria Maia Lopes foi condenada a 33 anos de prisão fechada por sequestro e homicídio. A avaliação de Schneider, que atestou a inexistência de uma doença mental e considerou que era possível atribuir a responsabilidade penal à acusada, colaborou na decisão, visto estar de acordo com a posição do delegado e de juristas envolvidos no caso. Por exemplo, para Olavo Campos, delegado do 24º Distrito Policial, Neide Maria Maia Lopes, mesmo hesitando em confessar o crime, se comportou de modo consciente. De acordo com Cordeiro Guerra, Procurador Geral da Justiça da Guanabara, a personalidade da acusada era perversa e dissimulada; assim, diante da circunstância do crime, a pena aplicável deveria ser rigorosamente imposta (O cruzeiro, 1960). Schneider não se restringia aos testes psicológicos para realizar seu exame de avaliação dos criminosos. Para ele, o contato direito com os internos e a observação do comportamento social durante a permanência destes no pátio do MJHC eram fundamentais para compor a avaliação psicológica (Schneider, 1997). Parece, pois, que Schneider delineou seu papel de perito não só se utilizando das técnicas tradicionais de exame psicológico, mas também daquelas oriundas da Psicologia Social, como a observação participante, que, ao seu ver, lhe permitia conhecer hábitos cotidianos e outros elementos e lhe possibilita fornecer uma avaliação mais minuciosa do perfil do criminoso. Schneider comenta que o trabalho no MJHC era de rotina, de diagnóstico, de perícia psiquiátrica (Schneider, 1999). Sua função consistia em avaliar os internos e emitir laudos conforme as designações judiciais. Entretanto, em função da dificuldade de acesso aos documentos do MJHC, não pudemos explorar como estes laudos eram elaborados. De qualquer forma, vale destacar que a dedicação maior de Schneider em relação à publicação dos seus trabalhos estava no Boletim do Instituto de Psicologia, periódico que criou junto com Antônio Gomes Penna em 1951 no período em que trabalhou no Instituto de Psicologia (Jacó-Vilela, 2001; Penna, 2001). Suas produções, tanto no Boletim quanto em outras revistas científicas, se concentraram especialmente nas seguintes temáticas: Psicologia Social, Educação e Desenvolvimento, Estudos sobre a Personalidade, Psicotécnica, História e Epistemologia da Psicologia e Psicologia Jurídica. Em relação aos textos que categorizamos como de Psicologia Jurídica, Schneider abordava especialmente os conceitos de agressão, a violência urbana e as tendências do ato criminoso. A partir de 1962, ano em que a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil,

64 62 Eliezer Schneider atuou em vários dos cursos criados no Rio de Janeiro, dentre eles o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade Gama Filho, da Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE), da Universidade Santa Úrsula e do Centro Universitário Celso Lisboa (Jacó-Vilela, 2001). Foi no curso de Psicologia da FAHUPE que pôde introduzir pela primeira vez no currículo a disciplina de Psicologia Jurídica, a qual ministrou no período de 1974 a 1977 (Jacó-Vilela, 2001). Também inseriu a disciplina de Psicologia Jurídica no curso de Psicologia da UERJ. De acordo com Schneider (1997, s/p), a Psicologia Jurídica ficou restrita à FAHUPE e à UERJ, mas deixou de lecionar a disciplina na FAHUPE por estar sobrecarregado de trabalho. Por outro lado, na UERJ esta disciplina foi inserida em 1980 no curso de especialização em Psicologia Clínica, em área de concentração denominada psicodiagnóstico para fins jurídicos (Jacó-Vilela, 2001; Altoé, 2001; Rovinski, 2009). Em 1986, a partir desta área de concentração foi criado o curso de especialização em Psicologia Jurídica, sendo considerado o primeiro curso brasileiro nesta área e que até hoje se mantém como referência (Jacó-Vilela, 2001; Altoé, 2001; Rovinski, 2009; Brito, 2012). De acordo com Freitas (2009), este curso de especialização em Psicologia Jurídica da UERJ, embora tivesse um viés clínico centrado no psicodiagnóstico, tinha como característica uma ênfase na Psicologia Social como suporte para explicar o comportamento delitivo, o que parece refletir uma particularidade da formação de Schneider, tendo em vista seu interesse e desenvolvimento teórico também neste campo. Em relação ao curso de Psicologia da UERJ, em 1965 Schneider foi convidado por Hans Ludwig Lippmann 59 ( ) para compor o quadro de docentes ministrando inicialmente a disciplina de Psicologia Social (Jacó-Vilela, 2001; Penna, 2001; Reis, 2001). Na reforma curricular proposta em 1966, para o reconhecimento do curso de Psicologia da instituição, uma das disciplinas oferecidas na formação profissional de psicólogos era a de Psicologia Forense (Reis, 1988), entretanto não foi possível encontrar informações mais detalhadas sobre esta disciplina. No período de 1971 a 1975, Schneider foi nomeado Diretor do Instituto de Psicologia e Comunicação Social da UERJ (Reis, 2001). No último ano do seu mandato foi proposto um 59 Hans Ludwig Lippmann organizou o primeiro curso de Psicologia no Brasil em Esse curso inicialmente funcionou em algumas salas da antiga Santa Casa e, posteriormente, foi incorporado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio) (Penna, 1980). Também foi o responsável pela elaboração do projeto de criação do Curso de Psicologia da Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), fundado em 1964, da implantação e administração dos cursos de Psicologia da Universidade Gama Filho, 1967; da Universidade Santa Úrsula, 1968; da Universidade Federal Fluminense, 1970 e o da Universidade Católica de Petrópolis, 1977 (Mancebo, 2001).

65 63 novo currículo visando introduzir o sistema de créditos no curso de Psicologia. Neste novo currículo, que foi aprovado em 1976, passa a constar a disciplina de Psicologia Jurídica como optativa (Reis, 1988). A disciplina de Psicologia Jurídica ministrada por Schneider tinha por objetivo compreender a importância do papel especializado do psicólogo a serviço da justiça; criticar os conceitos de responsabilidade, periculosidade e doença mental em criminologia; examinar os problemas psicológicos do testemunho e da reeducação do criminoso (Ementa Psicologia Jurídica, s/d). O conteúdo programático abordava os seguintes temas: aspectos teóricos, práticos e sistemáticos da Psicologia Jurídica; relativismo histórico-cultural do conceito do crime; determinantes sócio-econômicos e bio-psicológicos do crime; contribuições da Psicologia ao estudo da criminalidade; o exame psicológico a serviço da justiça; Psicologia do Testemunho; classificação e reeducação psicológica do criminoso. Infelizmente não encontramos dados sobre a bibliografia utilizada na disciplina e nem mesmo os planos de aula de Schneider. Entretanto, os aspectos estudados parecem enfocar uma perspectiva geral da Psicologia Jurídica, debatendo tanto as questões teóricas do campo quanto as suas possibilidades técnicas e de aplicação. Além disso, podemos inferir que uma das bases da disciplina é o Manual de Psicologia Jurídica de Mira y López, pois dentre os temas a serem estudados na disciplina estão a Psicologia do Testemunho, bem como outras questões expostas no Manual, como a personalidade do criminoso, as técnicas para a investigação das atitudes delinquentes, a determinação da periculosidade, a terapêutica delinquencial e a profilaxia delitiva. É importante ressaltar que a obra de Mira y López sobre Psicologia Jurídica era a única existente sobre o tema no Brasil neste período. 2.4 Incursões de Plácido Horas na Psicologia Jurídica No caso argentino, em relação a Plácido Horas, a situação é bem diferente. Foi possível levantar documentação no Arquivo e Documentação de Plácido Horas, pertencente à Cátedra de História da Psicologia da UNSL. Lá, tivemos acesso a conteúdos programáticos do curso de Psicologia das décadas de 1960 a No primeiro Plano de Estudos de Psicologia Jurídica, de 1963, Plácido Horas organizou sua disciplina em sete tópicos teóricos e incluiu trabalhos práticos que seus alunos deveriam desenvolver, estes funcionando também como uma das atividades avaliativas. A Psicologia Jurídica era definida neste plano de curso como

66 64 um ramo da psicologia aplicada e o objetivo da disciplina era introduzir o aluno em conhecimentos no âmbito da Criminologia, da Medicina Legal e da Psicologia Jurídica. No primeiro tópico da disciplina se discutia sobre o desenvolvimento da Criminologia, introduzindo também conceitos sobre a Psicologia Jurídica e suas relações com a Medicina Legal e com o Direito (especialmente o Direito Penal), abordando também seu campo de constituição, principais problemas e técnicas de trabalho. No segundo tópico da disciplina os estudos se centravam no Código Penal argentino, abordando os diversos critérios de inimputabilidade do criminoso que constam no Título V daquele Código, especialmente no artigo 34 citado acima. Horas também propunha a realização de uma exposição crítica do ponto de vista psicológico sobre o comportamento delitivo e a culpabilidade, baseado nos princípios da legislação penal argentina. No terceiro tópico eram incluídos os estudos de classificação do delinquente e da etiologia da delinquência. A fundamentação teórica deste item era de cunho positivista e se baseava na classificação do criminoso proposta principalmente por José Ingenieros, Benigno Di Tullio 60 ( ), Franz Exner 61 ( ) e Ernst Seelig 62 ( ); era, pois, uma criminologia com ênfase social, endocrinológica e biológica. Além disso, se introduzia o conceito de sociocriminogênese, utilizando-se, como o nome diz, de um enfoque sociológico da criminalidade. A personalidade do delinquente era estudada no quarto tópico, onde Horas inseria o conceito de psicocriminogênese, apresentando os critérios e métodos para o estudo do criminoso, bem como as questões sobre consciência moral, periculosidade e reincidência. O aporte da psicanálise era utilizado para a compreensão da criminologia e da penología e também na psicoterapia penitenciária. Um aspecto que se destaca aqui é a introdução do tema da delinquência feminina e de gangues. No quinto tópico era abordada a delinquência infanto-juvenil, também com enfoque 60 Benigno Di Tullio, psiquiatra e criminólogo italiano, publicou na década de 1940 o Trattato di Antropologia Criminale. Para Di Tullio, a partir da criminologia clínica, a personalidade do delinquente deveria ser avaliada considerando tanto os aspectos biológicos quanto os psicológicos e sociais que se relacionam com o comportamento criminoso (Lusa & Cioeta, 2005). 61 Franz Exner, nascido em Viena, era filho de um professor de Direito. Doutorou-se em 1906 e tornou-se professor em Era conhecido pelo seu importante livro Biología criminal en sus rasgos fundamentales, onde defendeu um biologicismo no interior de seus estudos de criminalística. Depois de uma viagem aos Estados Unidos, interessou-se por teorias racistas e que possuíam explicações biológicas por ter deslumbrado con todas sus teorías racistas de la ultraderecha del ku-klux-klan (Zaffaroni,1988). 62 Ernst Seelig nasceu na cidade de Graz na Áustria. Foi aluno de Hans Gross, considerado o pai da criminalística. Doutorou-se na área de Direito Criminal, Criminologia e Criminalística. Tornou-se professor em 1928, com apenas 33 anos. Seguindo sua carreira acadêmica, alcançou o cargo de diretor do Instituto de Direito Criminal e Criminologia da Universidade de Graz (Mueller, 1957).

67 65 psicanalítico. Além disso, Horas discutia a etiologia da delinquência infanto-juvenil tendo em vista o contexto social, econômico e familiar da criança e/ou adolescente. Também dava atenção à prevenção da delinquência e às possibilidades de recuperação. Já no sexto tópico os principais temas versavam sobre a confissão e o testemunho, incluindo assuntos como a investigação policial, as técnicas para a obtenção da confissão, a fidedignidade do testemunho e inclusive o que nomeava de psicologia do juiz e do ato de julgar, englobando os aspectos da personalidade do magistrado nos atos judiciais. No sétimo e último tópico os estudos traziam um panorama da política criminalística e suas relações com a política social. Além disso, apresentava as medidas profiláticas e recursos terapêuticos para o tratamento da delinquência, trazendo mais uma vez as noções de penologia como um elemento importante no estudo das organizações penais e das modalidades de regime penitenciário. A arquitetura das prisões e seus objetivos psicossociais também eram discutidos, entretanto não foi possível encontrar fontes que nos permitissem especificar sobre o que se tratava esta discussão. Os trabalhos práticos, por sua vez, consistiam em quatro atividades, sendo elas: 1. Observação de um julgamento no tribunal para posterior discussão crítica em sala de aula, sob a orientação do professor; 2. Leitura e comentário oral de Leyenda Oscura: psicología de un crimen 63 de Frederic Wertham 64 ( ); 3. Exame integral de um delinquente que estivesse cumprindo a condenação, incluindo a prova de Henri Baruk 65 ( ) para 63 As discussões sobre Leyenda Oscura foram recorrentes durante todo o ensino da disciplina de Psicologia Jurídica com o objetivo de analisar, sob um viés psicanalítico, o tema do matricídio. O livro de Wertham analisa o caso de Gino, um adolescente de 17 anos condenado à pena de morte por assassinar a punhaladas sua mãe viúva (Horas, 1972). Sobre o comportamento matricida, Horas faz uma comparação com o caso de Héctor E., um adolescente de 14 anos que assassinou a mãe com golpes na cabeça. Horas (1972) aponta que Gino e Héctor possuem traços em comum em relação à motivação dos seus atos e que, segundo a definição de Wertham, Héctor também poderia ser definido como portador do Complexo de Orestes, ou seja, seus sentimentos de apego excessivo e hostilidade à figura materna desencadeariam uma reação violenta resultando no assassinato da mãe como única forma de descarga emocional. 64 Frederic Wertham, psiquiatra alemão, que se formou em 1921, na Universidade de Wurzburg. Mudou-se para os Estados Unidos em 1922, quando interessou-se pela relação entre comportamento criminoso e saúde mental. Entrou em polêmicas contra as histórias em quadrinhos por considerá-las como estimulantes à violência. Em 1948, publicou um artigo intitulado Horror in the Nursery, defendendo que existia relação direta entre a violência praticada por crianças e adolescentes e os quadrinhos. Em 1954, deu continuidade à polêmica e publicou Seduction of the Innocent, que ganhou ampla publicidade. Participou de um seminário em Nova Iorque chamado A Psicopatologia das Histórias em Quadrinhos (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2003). 65 Henri Baruk, psiquiatra francês, especialista em neuropsiquiatria. Foi diretor da L Ecole Pratique des Hautes Etudes, Sorbonne, Universidade de Paris. Nesta instituição, criou o laboratório neural para o estudo da catatonia (Baruk, 1996).

68 66 exploração da consciência moral (teste Tsedek 66 ); 4. Colaboração na preparação de uma estatística criminal de San Luis, com dados sobre delitos, idade, sexo, nível sociocultural dos delinquentes etc. No plano de Psicologia Jurídica de 1964 Plácido Horas fez pequenas modificações em relação ao conteúdo programático. A disciplina, embora tenha sido composta com o mesmo teor do Programa anterior, foi dividida entre programa sintético, que expunha o conteúdo em linhas gerais e programa analítico e de exame, que detalhava conceitos e práticas em Psicologia Jurídica que seriam trabalhados na disciplina. Em relação aos trabalhos práticos, Horas substituiu a elaboração de uma estatística criminal de San Luís por uma análise de um texto integral de uma sentença apresentada oralmente pelo aluno. Em 1966 há algumas modificações no conteúdo da disciplina que indicam um maior aprofundamento tanto teórico quanto técnico-metodológico no campo da Psicologia Jurídica. Horas incluiu neste programa a psicanálise a partir da perspectiva freudiana, estabelecendo relações entre a psicanálise, a criminologia e a dinâmica do delito. Além disso, incluiu no tópico sobre os aspectos particulares da psicologia jurídica a questão da delinquência relacionada às anomalias sexuais bem como tratou do suicídio. No tópico sobre penologia, insere a psicoterapia delinquencial tanto individual quanto grupal e ampliou a matéria sobre a psicologia nas prisões e o tratamento criminal também fora das instituições penais. O interesse maior de Horas pelo sistema penitenciário é também evidente pelas atividades práticas que desenvolve com seus alunos em 1966, pois, além dos trabalhos que eram costumeiramente propostos na disciplina, incluiu a visita à penitenciária de San Luis para a realização de um informe crítico oral. Nos documentos levantados encontra-se um guia de entrevista com o interno que era utilizado para fazer a avaliação psicológica dos condenados. O guia previa a descrição do enquadramento penal e da biografia do detento, aspectos biopsicossociais, incluindo testes para traçar um diagnóstico da personalidade do criminoso a fim de determinar sua periculosidade e o prognóstico criminológico (Anexo A). No Programa da disciplina de 1968, 1969 e 1970 os conteúdos programáticos e a estrutura do plano de ensino permaneceram os mesmos. Em relação aos trabalhos práticos, 66 Tsedek é um teste construído a partir da concepção de Henri Baruk de Psiquiatria moderna, a qual deve buscar a unidade mental, mediante síntese. Ou seja, trata-se de buscar síntese global entre todos os fatores que compõem a personalidade humana. O ser humano e seu ambiente social formam uma unidade na qual cabe um só critério de valor moral, que é uma lei justa e caritativa (ou seja, humanitária), como a palavra hebraica Tsedek que uni duas ideias básicas caridade e justiça em uma unidade (Cortada & Romero, 1955, p. 44).

69 67 Horas inseriu no plano de aula de 1968 a leitura de três novos livros: A sangue frio 67 (Truman Capote), Compulsión 68 (Meyer Levin), Le diable dans la pena 69 (Paulette Houdyer) e também a análise das estruturas carcerárias. Na prática da disciplina em 1970 consta, além dos trabalhos de praxe, a análise de sentenças de condenados. Em 1970 Horas fundou o Centro de Criminologia, por meio de um convênio entre a Faculdade de Pedagogia e Psicologia da Universidad Nacional de Cuyo e o Governo da Província, sendo este Centro associado ao Serviço Penitenciário Estadual (Muñoz, 2008; Piñeda, 2007). Os dados que encontramos sobre o Centro nos oferecem um panorama do trabalho ali desenvolvido. Horas o dirigiu desde sua fundação até O Centro de Criminologia funcionou como uma residência em Psicologia Jurídica, para a qual alguns alunos de Plácido Horas eram selecionados. Dentre os seus objetivos, estava o de desarrolar actividades docentes y de perfecionamiento además de sus propósitos técnicos específicos (Centro de Criminologia, 1972, p. 5). Além disso, as atividades não se reduziam a diagnósticos e classificação de internos, mas também buscavam constituir a infraestrutura técnica e de assessoria por meio da investigação científica e de práticas capazes de contribuir na solução de problemas imediatos do Serviço Penitenciário de San Luis (Bora, Jauregui, Carbonell & Guiñazu, 1974). De acordo com Loizo (2016), a equipe era composta por estudantes de psicologia e profissionais de assistência social, e semanalmente Horas realizava reuniões para a supervisão do trabalho realizado junto aos internos do Serviço Penitenciário. Cada estudante era responsável pelo acompanhamento psicológico e avaliação de pelo menos cinco internos e para tanto aplicavam uma bateria de testes. A avaliação que constava na ficha individual de cada detento era realizada sob uma perspectiva da criminologia clínica de caráter integrativo (Bora, Jauregui, Carbonell & Guiñazu, 1974). 67 A Sangue Frio foi um livro escrito em 1966, por Truman Capote. Baseado na história real de um assassinato, em uma pequena cidade norte-americana, de quatro membros de uma família. Um fazendeiro, sua esposa e um casal de filhos são mortos e seus algozes são presos e enforcados. A reação da cidade frente aos acontecimentos e a caçada aos criminosos é parte da história escrita por Capote. 68 Livro escrito em 1956 por Meyer Levin, baseado na história real de Nathan Freudenthal Leopold e Richard Albert Loeb. Dois estudantes que planejam e executam o assassinato de um adolescente de 14 anos de idade. Obcecados com a ideia de super-homem de Nietzsche, tentam orquestrar o assassinato do século para provar sua superioridade na organização do crime perfeito. 69 L'affaire Papin, Le Diable dans la Peau é um livro escrito por Paulette Houdyer (1919 -?) sobre o caso das irmãs Papin. Elas foram duas empregadas domésticas que assassinaram a esposa e a filha de seu patrão na década de Tamanho seria o impacto do caso, que influenciaria amplas discussões no interior da intelectualidade francesa, fazendo com que autores como Jean Genet, Jacques Lacan e Jean-Paul Sartre se interessassem pelo caso. O livro de Houdyer continua sendo referência sobre o caso porque a autora se debruça sobre os detalhes do ambiente da época, assim como por sua utilização de documentos em diversos arquivos.

70 68 A Ficha Criminológica (Anexo B) que era utilizada pelo Centro tinha uma estrutura de base similar ao guia de entrevista que os alunos empregavam na atividade prática da disciplina, ou seja, realizava-se uma investigação pormenorizada do interno da Penitenciária local, sendo explorados os seguintes itens: 1) os antecedentes familiares (pai, mãe e irmãos): perguntas desde o comportamento familiar e social até o caráter de cada familiar (se tranquilo, irascível, severo, afetuoso, displicente); 2) as relações com o mundo circundante familiar e extrafamiliar: investigação sobre o meio social como condicionante do desenvolvimento da personalidade do interno; as circunstâncias econômicas, higiênicas e morais; as relações com os pais, irmãos e outros vínculos durante a infância, adolescência e vida adulta; relacionamentos afetivos e filhos; atividades de lazer e preferências pessoais antes da condenação; e se houve em algum momento militância política; 3) Instrução (educação): averiguação das atividades escolares, incluindo o comportamento na escola, a existência de dificuldades de aprendizagem, as matérias e leituras preferidas nas diferentes etapas da vida; 4) Trabalho: incluía questões sobre trabalho infantil, as características do trabalho, como ocupava o tempo livre, as relações com os patrões e inclusive as fantasias de infância sobre ser algo especial quando adulto e se havia encontrado satisfação nos trabalhos que se dedicou; 5) Passado criminológico: questões sobre contravenções ou condenações anteriores, dentre elas se esteve submetido ao Juiz de Menores ou internado em estabelecimentos correcionais ou de beneficência, a existência de condenações militares e se foi vítima de delitos; 6) Delito pelo qual foi atualmente condenado: neste item eram verificados motivações, benefícios ou satisfação com o comportamento delitivo, incluindo os sentimentos existentes após o crime, tais como arrependimento, dor moral, ansiedade, medo do castigo, indiferença, satisfação e tentativa de suicídio. Além disso, era feito um estudo sobre a vítima, sua personalidade e o conceito que o próprio detendo fazia sobre sua vítima; 7) Exame somatopsíquico: análise dos antecedentes hereditários familiares (casos de suicídio, criminalidade, alcoolismo, epilepsia, psicose e neurose), exame somático do interno que classificava o tipo constitucional segundo Ernst Krestchmer 70 ( ) (pícnico, 70 Ernst Kretschmer nasceu na Alemanha e foi psiquiatra de renome internacional no estudo das relações entre o corpo e o caráter e na área de Psicologia Médica. Foi diretor da Clínica de Moléstias Nervosas da Universidade

71 69 atlético, leptossômico, displásico), assinalava os estigmas degenerativos e os antecedentes de doenças que pudessem afetar o funcionamento do sistema nervoso; e, por fim, exame psíquico que analisava atitudes, expressão (indiferente, tranquila, apática, obnubilada, ansiosa, triste, irritada, alegre, vivaz, desconfiada, dissimulada, franca), mímica e movimentos (afetação, maneirismos, tiques, caretas estereotipadas, sinais de desconfiança e agressividade), linguagem (vocabulário, alterações gramaticais, neologismos, incoerência), inteligência, afetividade e emoções (astenia, depressão, euforia ou indiferença), transtorno de sono e/ou alimentar e vida sexual; 8) Informe psicológico: análise funcional do comportamento por meia da realização de entrevistas e testes psicológicos (matrizes progressivas de Raven - escala geral, inventário da personalidade de Eysenck ou QTP, teste gestáltico viso-motor de Bender); 9) Antecedentes penitenciários: adaptação do interno ao regime penitenciário, comportamento, higiene, moralidade, relação com outros internos, correspondência, visitas, ocupação e desempenho nas oficinas, atitude e vontade no desempenho das tarefas e a opinião do chefe da oficina baseada na observação do interno; 10) Origem do comportamento delitivo: razões pelas quais o interno veio a delinquir, levando em consideração os dados de sua história e os elementos de juízo do seu ato reportados pelo interno; 11) Classificação: Neste item eram realizadas quatro tipos de classificação do interno: a classificação criminológica de Enrique Ferri para a periculosidade (delinquente nato, louco, habitual ou passional), a classificação criminológica de Ernest Seelig para o caráter (delinquentes profissionais refratário ao trabalho; delinquentes autores de delitos patrimoniais por resistencia debilitada; delinquentes por agressividade; delinquentes por falta de freios sexuais; delinquentes que agem sob o impacto de uma crise; delinquentes com reatividade primitiva, nos quais o processo psíquico que conduz ao delito representa reação primitiva ; delinquentes por ideologia; deliquentes por indicisplina social), a classificação criminológica de Hurwitz sobre os tipos etiológicos (endógenos, exógenos, endo-exógenos) e a classificação conforme a suposta adaptabilidade do interno à vida social (facilmente adaptável, adaptável ou dificilmente adaptável); 12) Tratamento: eram estabelecidos o período de tratamento, o regime de trabalho e a de Tübingen e fundador da Policlínica Infantil e da Organização de cura pedagógica, investia tanto na profilaxia como no tratamento das doenças mentais. Desenvolveu teste para a seleção de candidatos às escolas superiores (Kretschmer-Hoen Test). Foi nomeado conselheiro em questões psiquiátricos-forenses no Lore Veiher-München e vice-presidente da Sociedade de Biologia Criminal, de München, em 1951 (Homenagens, 1954).

72 70 psicoterapia que deveria ser realizada de acordo com a personalidade e vontade do interno, determinando uma data para verificar os resultados do tratamento ou completar os estudos do período de observação do interno. Foram encontrados poucos registros do trabalho dos alunos no Centro de Criminologia na década de Dentre as atividades desenvolvidas destaca-se a prática com grupos compostos pelos internos do Serviço Penitenciário entre os anos de 1972 e 1973, com o objetivo de prepará-los para a reabilitação, promovendo uma melhora da aprendizagem dos papéis sociais que haviam se rompido com o comportamento delitivo (Bora, Jauregui, Carbonell & Guiñazu, 1974). Por se tratar de uma primeira experiência, houve propostas de reajustes para trabalhos futuros, enfatizando-se a necessidade de um diagnóstico institucional prévio para que se formassem grupos terapêuticos menos ecléticos e com objetivos mais específicos. Além disso, assinalou-se a importância de institucionalizar o grupo terapêutico, tornando-o parte de uma rotina carcerária para que outras atividades não se sobrepusessem a ele, visando assim garantir sua efetividade (Bora, Jauregui, Carbonell & Guiñazu, 1974). No Centro de Criminologia também eram ministrados cursos para o corpo técnico do Serviço Penitenciário. A compilação destas aulas foi resultado de um curso oferecido em 1971, solicitado pela Chefia de Polícia, destinado aos integrantes do grupo de vigilância da Penitenciária de San Luis. Este curso gerou um folheto de circulação interna, publicado pelo Centro, com o título Apuntes de Clases Dictadas al Personal de la Penitenciaria de San Luis (1972). O folheto trazia pequenos textos, de diferentes colaboradores, sobre o sistema penal e carcerário, introduzindo noções de Direito Penal, organização da justiça penal na província de San Luis, regimes penitenciários, funções da instituição carcerário, dentre outros. O texto de Horas neste material tratava das relações entre direito penal e criminologia e também das noções de penologia, apresentando conceituações básicas no campo do Direito e traçando um percurso histórico sobre as leis argentinas e a criminologia. Por ser destinado a um grupo não acadêmico, tanto as aulas quantos os textos do folheto foram elaborados de forma coloquial e com exemplos para oferecer ao seu público uma compreensão clara e direta do conteúdo abordado (Centro de Criminologia, 1972). A empreitada no Centro de Criminologia contribuiu para que Horas desenvolvesse também outras atividades em parceria com a Chefia de Polícia de San Luis e a UNSL. Entre 1975 e 1977 foi coordenador do curso de Polícia da Minoridad cujo objetivo era capacitar e oferecer aperfeiçoamento aos interessados em fazer parte de um corpo policial especializado em atenção aos menores (Oficio para el Jefe de Polícia de la Provincia de San Luis, 1975).

73 71 Este curso era ministrado por professores da UNSL, com carga horária de 250hs e composto por seis disciplinas, sendo elas: 1. Proteção legal da minoridade; 2. Psicologia evolutiva infanto-juvenil; 3. Sociologia do grupo familiar e social; 4. Educação para a saúde: prevenção do alcoolismo e da drogadição; 5. Delito e estrutura social; 6. Psicopatología infanto-juvenil (Oficio para la Decana de la Facultad de Ciencias de la Educación, 1977). O Centro, portanto, integrava serviços docentes, de assessoria, de pesquisa e de avaliação criminológica, na qual a Psicologia estava vinculada a perspectivas sociais e sociodinâmicas por meio de um trabalho interdisciplinar (Bora, Jauregui, Carbonell & Guiñazu, 1974). Ainda em relação à disciplina de Psicologia Jurídica, nos planos de 1974, 1975 e 1976 Plácido Horas delineou o conteúdo com objetivos mais práticos de formação, como a capacitação do estudante para as atividades de perícia e para a intervenção em equipes interdisciplinares na elaboração de programas de prevenção e reabilitação criminológica. Em virtude das atividades dos alunos no Centro de Criminologia, ampliou-se o estudo sobre as legislações penais da Argentina, os processos e as execuções das sanções penais e também sobre as questões relativas ao sistema penitenciário, incluindo a temática de trabalhos grupais com os internos do sistema penal com o objetivo de reabilitação e ressocialização. Também encontramos registros da década de 1980 referentes a alguns informes da residência em Psicologia Jurídica supervisionada por Plácido Horas. Um dos projetos do Serviço Penitenciário implementados pela equipe terapêutica do Centro de Criminologia era o de desenvolvimento de funções cognitivas e atitudes interpessoais em um contexto grupal carcerário no qual os residentes se integravam para realizar o estágio. Um dos objetivos era o de trabalhar com grupos, tanto de internos quanto do pessoal penitenciário, a fim de estimular mudanças de comportamento e de hábitos visando a ressocialização dos presos (Alonso, Cannarozzo & Rozo, 1985). A experiência realizada com grupos terapêuticos entre 1972 e 1973, relatada anteriormente, foi uma das referências para a realização do trabalho pelos residentes em Psicologia Jurídica. Além disso, os residentes apontaram a necessidade de se introduzir no Plano de Estudos da disciplina conteúdos que contemplassem conhecimentos teóricos-práticos sobre dinâmica de grupo, uma vez que consideravam esta abordagem mais adequada para o trabalho realizado no Serviço Penitenciário (Alonso, Cannarozzo & Rozo, 1985). Em relação ao trabalho com grupos, as referências utilizadas pelos alunos de Horas eram compilações de textos sobre teorias e técnicas de grupos de Roberto Romero, psicanalista argentino, e de Martha Souto de Asch, professora da Universidade de Buenos

74 72 Aires, contemporâneos de Plácido Horas. As ideias de Enrique Pichon-Rivière 71 ( ) influenciaram Martha Asch na discussão sobre a didática nos processos grupais (Andaló, 2006). Já Roberto Romero propõe uma teoria de grupo, tratando de diversas problemáticas como a estrutura grupal, a comunicação, a dinâmica e os papéis dos integrantes do grupo (Schossler, 2005). Estas referências não constam nos programas de curso de Psicologia Jurídica e infelizmente não foi possível verificar como Plácido Horas as utilizava. As atividades da residência em Psicologia Jurídica também implicavam estudos de casos dos internos do Serviço Penitenciário, elaboração de fichas criminológicas, reavaliação do comportamento do preso por meio da aplicação de testes e a observação do trabalho da Junta de Qualificação do interno, a fim de conhecer a atuação do psicólogo nesta função. Todas estas incumbências eram requisitos avaliativos da parte prática da disciplina em Psicologia Jurídica. É importante colocar que o estudo dos testes psicológicos era considerado fundamental na disciplina de Horas. Segundo um documento (Cátedra de Psicologia Jurídica, 1980) que registra a entrega de materiais para a Cátedra de Psicologia Jurídica, os principais testes utilizados por Horas eram os de inteligência (Teste de Wechsler, Teste de Coeficiente Intelectual D48, Matrizes Progressivas de Raven) e os de personalidade (Teste de Frustração de Rosenzweig; Teste de Rorschach, Teste de Apercepção Temática (TAT) de Murray, Teste de Relações Objetais (TRO) de Phillipson e Psicodiagnóstico Miocinético (PMK)). Em 1986, um anteprojeto relativo à criação de uma pós-graduação de Formação Avançada em Psicologia Jurídica e Ciências Criminológicas, proposto por Reinaldo Guiñazu 72, foi apresentado ao corpo diretivo da UNSL. Conforme Guiñazu (1986), haveria quatro programas de Formação Avançada em Psicologia Jurídica, sendo eles cursos de atualização, especialização, mestrado e doutorado, destinados a psicólogos e cientistas sociais. A justificativa para a implementação desta proposta se baseava em incutir um maior desenvolvimento da produção científica na universidade além de considerar a vasta experiência que a UNSL havia acumulado na área de Psicologia Jurídica na graduação, a 71 Enrique Pichon-Rivière, suíço que imigrou-se para a Argentina em 1910, foi psiquiatra e psicanalista. Dentre suas contribuições para o campo da Psicologia, desenvolveu uma teoria de grupos, cunhada de Grupo Operativo. Na década de 1950 fundou a Primeira Escola Privada de Psicologia Social que funcionou paralelamente à formação psiquiátrica acadêmica, e que também se converteu em formação paralela àquela em psicologia social nos nascentes cursos de psicologia (Klappenbach, 2007, p. 176). 72 Reinaldo Guiñazu (?) atuou no Centro de Criminologia de San Luis, Argentina. Publicou em 1974, juntamente com Angel Rodriguez Kauth, Diagnóstico y pronóstico de una estructura carcelaria e Evaluación crítica de los câmbios actitudinales em uma población de personal carcelario no periódico Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada (Rodriguez & Guiñazú, 1974a; 1974b).

75 73 relevância do corpo docente e os convênios já estabelecidos. Horas disse ter sido informado por ofício sobre este programa. Escreveu, em 1987, uma carta à Decana da Faculdade de Ciências da Educação, Esther Picco de Barbeito 73, para que esta intermediasse o interesse da Cátedra de Psicologia Jurídica em participar deste projeto como uma das agencias que intervendrían en su organización y funciones (Horas, 1987, s/p). Entretanto Horas sinaliza que o anteprojeto proposto deveria sofrer alterações para garantir sua estrutura e viabilidade e, além do mais, sua disposição em contribuir com o curso estava relacionada aos pontos e objetivos comuns expostos no anteprojeto e os objetivos e atividades da Cátedra de Psicologia Jurídica. Não encontramos maiores informações sobre a pós-graduação proposta por Guiñazu, porém, de acordo com Loizo (2016), este curso não teve prosseguimento por razões que não foram explicitadas. 2.5 Eliezer Schneider e Plácido Horas: algumas especificidades da trajetória em Psicologia Jurídica Na evolução das legislações penais, tanto no Brasil quanto na Argentina, o tratamento dispensando ao dito louco criminoso ou alienado delinquente atravessou momentos bastante similares. Apesar das diferenças constitucionais e das especificidades dos mecanismos legais de cada um deste dois países, podemos perceber que a influência do positivismo embasou os dispositivos de avaliação criminológica, principalmente por meio da perícia e dos pareceres psicológicos, tanto na determinação da responsabilidade penal quanto no exame da periculosidade. A adoção de medidas de segurança como sanção penal para os doentes mentais infratores (inimputáveis ou semi-imputáveis) exigiram a implementação de instituições para conter e tratar estes indivíduos, visando não só imprimir uma terapêutica que permitisse a ressocialização, mas sobretudo garantir a defesa social. Neste sentido, os saberes psi contribuíram para dar cumprimento às demandas das normatividades legais, firmando práticas de intervenção no contexto jurídico, vinculadas 73 Nilda Esther Picco de Barbeito, licenciada em Psicologia pela Universidad Nacional de Cuyo, na Argentina. Foi decana da Faculdade de Ciências da Educação (1984) e da Faculdade de Ciências Humanas (1986), da Universidad Nacional de San Luis (UNSL). Nesta mesma instituição, foi reitora entre os anos de 1995 a Em 2013 ganhou o prêmio Rector Mauricio López em reconhecimento ao seu trabalho na área de Direitos Humanos. Atuou também como deputada provincial, vice-presidente da Comissão de Educação e assessora da Comissão de Educação da Honorable Cámara de Diputados de la Nación (Universidad Nacional de San Luis [UNSL], 2013).

76 74 incialmente às atividades dos psicotécnicos e psicologistas. Com a consolidação da Psicologia como ciência e profissão, houve também apoio para o incremento da Psicologia Jurídica enquanto área institucionalizada. Eliezer Schneider e Plácido Horas partilharam da determinação em oferecer subsídios na formação universitária capazes de instrumentalizar os futuros psicólogos para a prática junto à esfera do Direito. Embora ambos tenham inserido nos cursos de Psicologia em que trabalharam a disciplina de Psicologia Jurídica, cada um parece ter imprimido a eles características particulares, conforme suas trajetórias profissionais. A aproximação de Schneider com a Psicologia Jurídica, além de advir de interesses presentes desde a sua formação em Direito, também se relacionou com suas atividades no campo da Psicologia, principalmente no Instituto de Psicologia, no ISOP e no MJHC, como já assinalamos. No estudo do comportamento e da personalidade do criminoso, Schneider não se deteve apenas à atividade pericial, mas também produziu alguns pressupostos teóricos, articulando-os principalmente com a Psicologia Social, embora assinale que a crença no determinismo social da criminalidade não deve implicar o desconhecimento de possíveis fatores tipológicos e de personalidade (Schneider, 1988, p. 34). Para Schneider (1988) em diversos aspectos e todas as instâncias a psicologia sempre foi necessária e útil à Justiça (p. 34). Diferentemente de Plácido Horas, Schneider, quando introduziu a disciplina de Psicologia Jurídica no curso de Psicologia, já contava com uma prévia experiência na área, pois sua formação e os espaços que ocupou em sua trajetória profissional vinculavam a Psicologia ao campo do Direito. Em relação aos saberes sobre a delinquência, Schneider (1988) aponta que esta é uma tarefa a que juristas e sociólogos já vinham se dedicando, porém cabia aos psicólogos e também aos psiquiatras trazerem novas contribuições sobre os debates e controvérsias deste campo, se aprofundando mais no estudo da personalidade do criminoso; reconhecia que na formação da personalidade podem ocorrer deformações ou perversões não necessariamente patológicas (p. 37). Embora Plácido Horas desenvolvesse práticas em Psicologia Jurídica paralelamente ao trabalho acadêmico, podemos perceber que a iniciativa de profissionalização dos seus alunos não se restringiu apenas a um aporte teórico, mas na proposta de inserir estes futuros profissionais na realidade local em uma via de mão-dupla, onde se investe na capacitação e especialização técnica ao mesmo tempo que proporciona à sociedade serviços na esfera penal, até então inexistentes em San Luis. Além disso, não podemos desvincular a importância de Schneider e Horas na

77 75 institucionalização da Psicologia Jurídica no Brasil e na Argentina, visto o protagonismo de ambos no movimento para o reconhecimento da Psicologia como ciência e profissão em seus respectivos países, o que possivelmente lhes garantiu autonomia para a implementação e desenvolvimento daquelas práticas psicológicas nas instituições de ensino superior em que trabalharam.

78 76 3 ELIEZER SCHNEIDER E PLÁCIDO HORAS: FUNDAMENTOS E PERSPECTIVAS ACERCA DE UMA PSICOLOGIA JURÍDICA O empenho de Eliezer Schneider e Plácido Horas para o desenvolvimento da Psicologia Jurídica, respectivamente no Brasil e na Argentina, é permeado principalmente pelo movimento da consolidação da Psicologia como ciência e profissão em ambos os países, como vimos no capítulo anterior. Por outro lado, o protagonismo destes personagens nos espaços institucionais que ocuparam ao longo da carreira, tanto na pesquisa e docência acadêmica quanto na prática de psicólogo, permitiu que imprimissem nestes ambientes estruturais e arranjos que viabilizaram o incremento da Psicologia Jurídica enquanto uma área especializada. Enquanto Schneider introduziu a Psicologia Jurídica no espaço universitário a partir da sua experiência vinculada à sua própria formação acadêmica e à prática psicológica, Plácido Horas fez um movimento inverso, instalando serviços e práticas psi aplicadas ao âmbito jurídico por meio do ensino universitário. Entretanto, na atuação de ambos, houve um engajamento na sistematização e inclusão do ensino da Psicologia Jurídica no currículo dos cursos de Psicologia, como já apontamos anteriormente. Scheneider e Horas partilham de outro elemento em comum: a visão multissistêmica ou pluralista da Psicologia. Mesmo que Schneider tenha sido frequentemente associado às teorias comportamentalistas, devido à sua formação no mestrado da Universidade de Iowa no período de 1946 a 1947, suas produções demonstram uma visão pluralista da Psicologia, com filiações teóricas diversas. Na Universidade de Iowa, Schneider foi orientado por Gustav Bergmann 74 ( ) e defendeu sua tese sobre as teorias emergentistas da personalidade (Jacó-Vilela, 2001). Iowa era então um centro de estudos behavioristas, muito influenciado pela escola de Clark Leonard Hull 75 ( ). Schneider (1965) diz que Hull admite uma sinonímia 74 Gustav Bergmann nasceu em Viena, Áustria, formou-se em Filosofia pela Universidade de Viena em Foi um dos membros do famoso Círculo de Viena, grupo no qual filósofos, cientistas e matemáticos eram adeptos do Positivismo lógico ou empirismo lógico. Atuou entre os anos de 1929 a 1930 como professor de matemática na Neubau-Realschule e auxiliou Albert Einstein em suas pesquisas. Em 1939, foi assistente de Kurt Lewin na Universidade de Iowa, Estados Unidos, sendo nomeado nos anos seguintes professor assistente do Departamento de Filosofia e do Departamento de Psicologia (Addis, s/d). 75 Clark Leonard Hull nasceu em Akron, New York, Estados Unidos. Interessou-se por Psicologia e em 1918, na Universidade de Wisconsin, obteve seu título de doutorado. Nesta mesma instituição desenvolveu estudos em predição e medição de aptidão. Esses resultaram na publicação Aptitude testing (1928). No ano seguinte, no Instituto de Relações Humanas, da Universidade de Yale, realizou experiências no campo da hipnose e

79 77 entre os conceitos social e comportamental e buscou elaborar uma teoria geral objetiva do comportamento (p. 9), propondo então uma subdivisão metodológica: uma teoria geral do comportamento individual e outra do comportamento social. A Psicologia teria então o status de uma ciência social ao integrar os aspectos individuais aos sociais (Schneider, 1965). Em virtude desta influência, Schneider (1999) retornou ao Brasil como um behaviorista convicto, porém pretendia ir além criando uma teoria do comportamento geral (p. 355), e por isso não abriu mão dos conhecimentos de outras escolas psicológicas. Embora admirasse o Behaviorismo e a habilidade de seus teóricos, afirmou: Mas não sou skinneriano nem wundtiano. O Behaviorismo é uma acusação falsa. Fui aos Estados Unidos, passei lá quase dois anos e me lembro que tinha simpatia pela Psicanálise. Pelo gestaltismo, com restrições. Cheguei lá e comecei a ler um behaviorista que tinha receptividade muito grande à Psicanálise. Achava interessante que se podia tirar deduções válidas do pensamento freudiano. A filha do Freud, Anna Freud, Melaine Klein, tinha que sofrer influências deles. Respeito o gestaltismo, mas não me diria gestaltista. A Psicologia americana foi invadida por pequenos bandos de alemães. Então os próprios behavioristas brincavam como uma atitude de simpatia (Schneider, 1997, s/p). Podemos afirmar, portanto, que, apesar da afinidade com determinadas escolas psicológicas, Schneider não aprovava o rótulo que lhe foi atribuído em virtude da sua formação no mestrado. Não limitou seu conhecimento apenas a uma abordagem e reconhecia a importância desta diversidade teórica para a Psicologia. Embora, pela falta de programas e suas respectivas bibliografias, não possamos precisar as influências além de Mira y López que circunscreveram a disciplina de Psicologia Jurídica proposta por Schneider, as suas publicações ao longo de toda a carreira nos permitem tecer considerações acerca da sua compreensão da Psicologia aplicada ao âmbito do Direito. É possível observar que há um eixo principal que sustenta grande parte das suas produções em torno da Psicologia Jurídica: a personalidade. Para Schneider (1952a) é, sem dúvida, a aprendizagem, a aquisição de hábitos e motivos secundários, que explica a formação da personalidade e por conseguinte as reações diversas dos indivíduos às situações ambientes (p. 27). Entretanto, não descarta que as condições orgânicas do indivíduo também interfiram na maneira como a aprendizagem se processa. O comportamento que se constitui pode ou não formar personalidades criminosas. Neste sentido, destaca a relevância de Freud para o estudo científico da personalidade, publicou Hypnosis and Suggestibility (1933). Foi nesta última instituição que começou a desenvolver suas teorias sobre aprendizagem (Hull, C. L, s/d).

80 78 apontando que este havia feito importantes avanços em uma teoria da personalidade em um período em que se buscava firmar a cientificidade do campo psi principalmente pelos métodos da Psicologia Experimental (Schneider, 1952a; 1960). Além disso, afirma: (...) a psicanálise coincide com o ponto de vista ajustativo da teoria do comportamento, na questãos dos fatôres determinantes na formação da personalidade. Os princípios psicanalíticos do prazer e da realidade podem ser vertidos para os conceitos mais gerais da teoria da aprendizagem, com o emprêgo de têrmos: motivo frustração respostas estímulos ambientes e redução de motivo (Schneider, 1952a, p. 28). Apesar de criticar as generalizações da teoria freudiana, Schneider (1952a; 1960) reconhece que não se pode descartar a influência das noções da psicanálise na compreensão da gênese do comportamento, sobretudo por ser um sistema teórico que reconhece também a dimensão dos determinantes psíquicos e sociais na vida dos indivíduos. Deste modo afirma que a concepção estrutural da personalidade desenvolvida pela psicanálise, apesar de seus esquemas topográficos, é essencialmente dinâmica e evolutiva (Schneider, 1953, p. 21). Para Schneider (1960), embora Freud tenha elaborado sua teoria inicialmente com uma ideia mais organicista sobre a etiologia das doenças mentais, ao longo do tempo passou a relacionar suas concepções, mesmo que implicitamente, com uma teoria da aprendizagem ao reconhecer a interferência dos determinantes sociais no dinamismo psíquico. Isto possibilita a Schneider fazer aproximações também com Clark Hull e Kurt Lewin 76 ( ) para demonstrar que a ênfase nos determinantes sociais também era uma tendência da Psicologia Geral e Experimental. Porém, aponta que naquela época era cada vez maior o número de psicólogos que acreditavam que os fatores sociais eram preponderantes na constituição e formação da personalidade (Schneider, 1960). Sobre isto afirma que, [Os psicólogos] Parecem estar persuadidos de que os fatos sociais são igualmente ou ainda mais importantes para a psicologia do que os chamados fatos fisiológicos. Êstes psicólogos reconhecem que a criança desde o primeiro dia de vida é objetivamente parte de uma contextura social e morreria em alguns dias se fôsse retirada da mesma. Também o chamado processo psicológico subjetivo do 76 Kurt Lewin nasceu na Polônia e formou-se em Medicina pela Universidade de Friburgo, em Biologia em Munique e concluiu doutorado em Filosofia pela Universidade de Berlim, onde atuou como professor. Em 1933, imigrou para os Estados Unidos e desenvolveu estudos na Cornell School e na Universidade de Iowa. Criou o Centro de Pesquisa de Dinâmicas de Grupo no Instituto Tecnológico de Massachusetts.

81 79 indivíduo, seu espaço vital, é influenciado muito cêdo por fatos sociais e relações sociais, mais do que seria de se esperar há algumas décadas passadas 77 (Schneider, 1958, p. 2). Sobre Lewin e suas contribuições para o estudo da personalidade, Schneider (1964b) aponta a Teoria de Campo como uma das teorias psicológicas mais bem embasadas. Esta teoria, que é decorrente da perspectiva gestaltista, leva em conta a existência psicológica dos fatos, a contemporaneidade dos mesmos (os fatos no tempo presente) e a interdependência das partes do espaço vital 78, ou seja, como o comportamento é determinado em função de uma situação específica (Lewin, 1965). Na concepção de Schneider (1964b), a posição de Lewin é próxima de algumas premissas do behaviorismo metodológico, que reconhecem tanto a importância da multiplicidade e interdependência das variáveis comportamentais quanto a influência dos fatores atuantes contemporâneos, ou seja, aqueles que se relacionam com o momento temporal presente do indivíduo. Ainda, coloca que Lewin e Hull se aproximam ao tentar encarar a psicologia acima das escolas e que as teorizações de ambos são as mais minuciosas e bem fundamentadas da psicologia hodierna (Schneider, 1964b, p. 75). Os fundamentos neobehavioristas ou neo-condutistas, como Schneider a eles se refere, é o que sustenta a teoria da aprendizagem e o conceito de personalidade. Deste modo, a personalidade expressa uma hierarquia dinâmica e complexa de motivos sociais (secundários 79 ) e de hábitos, adquiridos pelo indivíduo em seus ajustamentos ambientais (Schneider, 1964c, p. 87). A importância da hereditariedade não é descartada, sendo este fator conjuntamente responsável no processo de aprendizagem. Ainda afirma, (...) não havendo qualquer fator orgânico determinando a conduta anormal do indivíduo, devemos conceber suas manifestações anormais do comportamento sob o prisma social, mesmo considerando o fator hereditário das diferenças individuais. Em outras palavras, devemos remover o conceito de doença dos casos anormais sociogênicos como necessária implicação teórica do característico processo de aprendizagem social da formação da personalidade (Schneider, 1958, p. 4). 77 Sobre isto Schneider faz referência a Lewin citando o livro Field Theory and Experiment in Social Psychology: concepts and methods de Espaço vital é definido por Lewin (1973) como a totalidade dos fatos que determinam o comportamento de um indivíduo em certo momento (p. 28). 79 De acordo com a perspectiva de Clark Hull, motivos secundários se referem aos hábitos e interesses do indivíduo (Schneider, 1964a).

82 80 Em relação aos conceitos de personalidade, Schneider (1964a) ressalta que estão sobrecarregados de têrmos populares dos mais variados sentidos e muitos dêles eivados de preconceitos e juízos de valor (p. 60), faltando-lhe assim objetividade. Portanto, define a personalidade como um sistema dinâmico de disposições constitucionais, de hábitos e de motivos adquiridos que caracterizam o comportamento dos indivíduos (Schneider, 1964a, p. 61). Conforme Schneider (1964c) o desenvolvimento e formação da personalidade constitui essencialmente um processo de socialização do indivíduo (p. 90). E é neste processo que o indivíduo vai constituir suas respostas comportamentais diante das situações conflituosas, suscitando reações de acordo com o seu ajustamento social. O equilíbrio psicológico junto a um comportamento considerado socialmente adequado é resultado deste ajustamento social (Schneider, 1964c). Na perspectiva de Schneider, os estudos de Orval Hobart Mowrer 80 ( ) e Robert Richardson Sears 81 ( ) apresentam importantes aportes sobre o tema da personalidade, pois reunem tanto as contribuições da psicologia da aprendizagem e da psicanálise quanto as da antropologia social (Schneider, 1964a). Dessa forma, preconiza mais uma vez a importância dos princípios de ajustamento no desenvolvimento do indivíduo e nos processos de integração social. Assim, (...) o comportamento é de natureza adaptativa e o ser humano é dotado de uma grande capacidade de aprendizagem, o que implica em ajustamento a situações novas e em reajustamento quando nossos hábitos e repertório de respostas falharem diante das frustrações ou dos conflitos formados (Schneider, 1952b, p. 22). Os indivíduos considerados desajustados tendem a constituir uma personalidade delinquente ou criminosa, tornando-se um problema social ao ter comportamentos 80 Orval Hobart Mowrer nasceu em Missouri, nos Estados Unidos. Em 1929, formou-se em Psicologia pela Universidade de Missouri - Columbia e fez doutorado em Psicologia Experimental na Universidade Johns Hopkins de Baltimore (1932). Atuou como professor de Psicologia na Universidade de Yale, Harvard e em Illinois. Entre suas pesquisas destacam-se a elaboração de um modelo experimental da aprendizagem da ansiedade, a teoria de dois fatores (aprendizagem do signo e a aprendizagem da solução) e o desenvolvimento de grupos de integridade (Gondra, 2007). 81 Robert Richardson Sears era formado em Psicologia pela Universidade de Stanford, com doutorado também em Psicologia pela Universidade de Yale em Desenvolveu atividades docentes e de pesquisa em várias universidades americanas (Illianois, Iowa, Harvard, Yale e Stanford) sobre o desenvolvimento psicológico das crianças, os efeitos das práticas de educação na personalidade e no comportamento infantil. Foi também expresidente da American Psychological Association, membro da Society for Research in Child Development e director do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences (Narvaez, 1989).

83 81 heteroagressivos, cuja agressividade é dirigida para outras pessoas, instituições ou até mesmo à ordem coletiva (Schneider, 1964c). Em relação a isto, Schneider (1961; 1964c) aponta que nem sempre é incumbência da psiquiatria a interpretação dos comportamentos agressivos, cabendo esta tarefa aos sociólogos e psicólogos sociais, uma vez que nem todas as anormalidades psíquicas são propriamente patológicas e sim de origem sócio-psicogênica. Ainda afirma que a existência de uma doença mental não caracteriza a tendência a atos criminosos, sendo a aprendizagem social, juntamente com a formação moral, condicionantes das tendências de comportamento e das reações morais ou amorais (Schneider, 1962). Assim, a formação sócio-moral do indivíduo, pode, em dadas circunstâncias, precipitá-lo a atos criminosos, ou impedi-los dos mesmos e mesmo diante da existência de uma doença mental sua personalidade influirá em sua conduta (Schneider, 1962, p. 6). Podemos notar que Schneider constantemente chama a atenção para o uso inadequado da apropriação do conceito de doença como um dos fundamentos do comportamento. Sobre isso, aponta também que tanto para os indivíduos em conflito psíquico e sofrendo emocionalmente quanto para a conceituação da conduta de desviados, anti-sociais, delinquentes e criminosos se emprega indiscriminadamente a ideia de doença como modelo explicativo (Schneider, 1959b, p. 15). Desajustamento e desvio são conceitualizados de maneira distinta como efeitos da aprendizagem social. Para Schneider, desajustamento diz respeito aos sofrimentos e problemas afetivo-emocionais e às inibições cognitivo-conativas carregadas de conflitos e repressões, já o desvio se relaciona à conduta anti-social hetero-agressiva frequentemente descontrolada (...) comum em delinqüentes e criminosos que são, muitas vezes, enquadrados como psicopatas, sociopatas ou insanos morais (Schneider, 1959b, p. 16). Um autor frequentemente citado por Schneider é Hans Eysenck 82 ( ), que se baseia nos princípios da escola neobehaviorista de Hull e da escola experimental de Ivan Petrovich Pavlov ( ), para fundamentar o estudo científico de uma teoria da personalidade (Schneider, 1960; Goodwin, 2005). Para Schneider (1988), uma das principais contribuições de Eysenck para a discussão sobre o crime é sua obra Crime and Personality de 1964, onde traça, de acordo com o resultado de estudos empíricos, três perfis tipológicos básicos (neuroticismo, psicoticismo e extroversão) e a propensão destes para o comportamento criminoso. É importante destacar que Schneider utiliza-se dos pressupostos de 82 Hans Jürgen Eysenck nasceu em Berlim e formou-se em Psicologia em University College de Londres. Atuou como psicólogo no Mill Hill Emergency Hospital em 1942 e como professor do Departamento de Psicologia do Instituto de Psiquiatria (IoP) onde desenvolveu estudos em que combinou métodos experimentais com a perspectiva das diferenças individuais (Buchanan, 2011).

84 82 Eysenck para discutir a respeito de suas contribuições no campo do estudo da personalidade, enquanto Horas utilizava o Inventário de Personalidade de Eysenck como instrumento de avaliação para compor a Ficha Criminológica utilizada no Serviço Penitenciário de San Luis. Schneider (1962) coloca que há falácias nas noções generalizadas de neurose e psicopatia, que embutem nestes conceitos a ideia da existência de uma enfermidade mental. Isto acaba gerando irresponsabilidade no que se refere à conduta social e à conceituação legal (Schneider, 1962, p. 1), pois na perspectiva de Schneider há uma naturalização do conceito de doença mental como causa explicativa dos comportamentos considerados desviantes. No que tange ao crime, explica que mesmo que este seja considerado uma transgressão ou uma anormalidade, não se pode atribuir ao ato criminoso um critério sumariamente patológico. Ao associar uma personalidade psicopática diretamente à existência de uma doença mental, pode-se incorrer no erro de não atribuir ao indivíduo a sua devida responsabilidade penal. Deste modo, afirma que o conceito de doença foi gratuita e arbitrariamente estendido a casos de anormalidade ou irregularidade de conduta que nada apresentavam de patogenético, apenas porque se ignorava o complexo fenômeno psicológico da aprendizagem (Schneider, 1962, p. 2). Os equívocos sobre a associação, por exemplo, de personalidades psicopáticas a uma doença psíquica tiveram uma intricada repercussão prático-social, interferindo inclusive nas decisões judiciais sobre a condenação ou absolvição de criminosos (Schneider, 1962). É interessante colocar que Schneider também tece considerações sobre os desvios de comportamento na esfera política. Sobre isto, discorre que, tanto na violência que ocorre nas relações interpessoais quanto naquela no plano público, envolvendo as esferas políticas e econômicas, não se pode atribuir a existência de uma doença mental associada a comportamento criminoso (Schneider, 1962). Deste modo, mesmo que o ato criminoso tenha características de crueldade ou perversidade, isto por si só não caracteriza uma doença mental, sendo necessário um exame psiquiátrico para determinar a existência de uma doença orgânica ou mental (Schneider, 1962). Além disso, Schneider (1962) destaca que o desvio das normas comuns de conduta social pode resultar simplesmente de um longo processo de aquisição de noções e atitudes em face das frustrações e dificuldades que se sucedem na vida de todos, desde a mais tenra infância (p. 3). Também ressalta que os determinantes sócio-genéticos do comportamento anormal nem sempre tem ligação direta com alguma patologia, sendo fundamental evitar generalizações das interpretações psico-patológicoas sobre a personalidade e os atos

85 83 criminosos. A frustração é inerente ao desenvolvimento humano e se relaciona diretamente com o desenvolvimento da personalidade. Deste modo, mediante as frustações o indivíduo precisa desenvolver habilidades que o permitam aprender respostas ajustativas de acordo com o ambiente social em que está inserido. São estas respostas que se relacionam com a manifestação (ou não) de um comportamento criminoso. E o que faz com que todos os indivíduos que não são capazes de aprender com sucesso respostas ajustavivas em lugar das reações primitivas não seja um criminoso ou um psicopata é a capacidade adaptativa do comportamento por meio da aprendizagem, o que implica em ajustamento a situações novas e em reajustamento quando os nossos hábitos e repertório de respostas falharem diante das frustrações ou dos conflitos formados (Schneider, 1952d, p. 22). É possível perceber que Schneider traça suas concepções sobre o comportamento criminoso a partir de uma tríade de elementos: a aprendizagem social, a personalidade e a frustração. Para ele, a aprendizagem social pode produzir personalidades anormais, independentemente da existência de uma enfermidade psíquica, sendo as frustrações, as agressões, as oportunidades anti-sociais e os desajustamentos emocionais e/ou sociais fatores determinantes para uma resposta comportamental considerada desviante (Schneider, 1952a; 1962). Schneider explica a personalidade e o comportamento criminoso por um viés psicossocial, embasando-se tanto na psicanálise quanto nas ciências do comportamento. Também é possível perceber que, dentre as questões que considera centrais no debate sobre o criminoso, estão a culpabilidade, a responsabilidade penal e a periculosidade. A relativa associação de atos criminosos de caráter hediondo ou perverso com a existência ou manifestação de uma doença mental é rechaçada por Schneider, pois uma enfermidade mental por si só não poderia ser determinante do comportamento criminoso ou vice-versa. Logo, sustenta que: A personalidade psicopática, na acepção sociogênica, não é obrigatoriamente delinqüente, nem o delinqüente necessariamente psicopata. Tudo isso torna extremamente difícil o estudo da periculosidade de um criminoso sem a devida coordenação e convergência de dados tanto transversais quanto longitudinais, tanto contemporâneos como históricos. Os testes sem a biografia do delinqüente são precários, e, a minuciosa coleta de informações sôbre tôda sua vida pregressa, sem as provas psicológicas, também insuficientes. Por outro lado, muito pode se beneficiar o estudo da vida pregressa do criminoso com os conhecimentos mais bem fundamentados da psicologia da aprendizagem, da motivação e da personalidade. O psicólogo, pois, que fizer uso de uma cultura especializada básica, ao

86 84 lado da exploração máxima e inteligente de tôdas as possíveis indicações dos testes apropriados para cada caso, pode efetivamente identificar e prever a periculosidade de um delinqüente, não, entretanto, através do psico-diagnóstico cego (Schneider, 1957, p. 7). Os testes psicológicos poderiam ser utilizados para detectar psicopatologias e traçar um perfil de personalidade, avaliando a periculosidade do criminoso. Porém, os resultados dos testes deveriam ser avaliados em conformidade com as diferenças individuais. Para Schneider (1959a) um psicólogo, numa perspectiva científica, não deve se ater apenas aos resultados dos testes, mas avaliar tais resultados de modo crítico e objetivo, de acordo com sua experiência decorrente de sua prática psicológica. Assim, tanto os testes objetivos e inquisitivos, como os projetivos e expressivos, oferecem indicações seguras e diversas não só para o diagnóstico psíco-patológico, mas também para a análise e identificação de traços anti-sociais e morais de personalidades psicopáticas (Schneider, 1959a, p. 3). Compara a situação do psicólogo com a do juiz: se até mesmo o juiz interpreta as leis para escolher seus critérios de aplicação, o psicólogo tem a obrigação de interpretar os testes para além dos resultados dos seus índices, considerando os diversos aspectos relacionados ao comportamento e a vida do indivíduo (Schneider, 1959a). A personalidade criminosa só pode ser caracterizada e avaliada de forma fidedigna ao englobar uma leitura dos diversos determinantes que afetam o comportamento desviante. A concepção de Schneider sobre a personalidade se sustenta, pois, em uma perspectiva psicossociogênica. Por isso, em relação à origem da personalidade criminosa, evita o uso de conceitos patologizantes, ressaltando as premissas sociogênicas e psicodinâmicas que são responsáveis pelos traços anormais de caráter. Para ele (1959b), o comportamento desviante pode ser modificado, atestando a relevância da aprendizagem na recuperação e transformação das personalidades criminosas. O pluralismo em relação às epistemes da Psicologia também pode ser visto nas atividades de Plácido Horas. De acordo com Muñoz, Klappenbach & Piñeda (2013, p. 40), en las referencias bibliográficas de los programas de sus cursos, se puede apreciar el ecletismo de Horas, el cual, lejos de constituir una propuesta caótica, significaba una valoración de la pluralidad del campo científico que pretendía ser ecuánime e integradora. Assim, Horas não se restringiu a uma única filiação teórica para embasar o desenvolvimento de suas atividades no campo da Psicologia, transitando desde a psicanálise até as teorias comportamentais. No que tange à Psicologia Jurídica, a abordagem de Horas na elaboração do programa

87 85 de curso trazia, como vimos anteriormente, a constituição histórica do campo, a fundamentação teórica e a prática profissional. Um dos seus objetivos principais na estruturação da disciplina não era só o de fornecer um subsídio teórico para os alunos, mas o de introduzi-los diretamente no campo e capacitá-los para as atividades técnicas e práticas como psicólogos no âmbito da justiça. Para a constituição histórica, era apresentada a evolução doutrinária do Direito Penal, passando pelas Escolas Clássica, Positiva e Intermediária 83, traçando as relações entre Criminologia, Direito e exame do criminoso. Para isto, utilizava desde os expoentes da Criminologia como Lombroso, Ferri e Garófalo até as concepções dos estudos de criminólogos contemporâneos como de Di Tullio, Exner e Seelig, como apontamos no capítulo anterior. Entretanto, aqui Horas não inova. Segundo Olmo (1999), as obras destes últimos autores estavam entre as mais utilizadas para o estudo e difusão da Criminologia na América Latina 84. Em relação à Psicologia Jurídica dois nomes de destacam na bibliografia da disciplina: o de Enrico Altavilla 85 ( ) e o de Emilio Mira y López. O livro Psicologia Judiciária, de autoria de Altavilla, primeira edição de 1925, sistematiza conhecimentos na intersecção entre Psicologia e Direito com o objetivo de instrumentalizar os operadores forenses. Assim, são tratados os processos de investigação e os instrumentos e técnicas da Psicologia aplicada ao Direito, englobando estudos sobre o acusado, a testemunha, a vítima e demais personagens do processo penal, bem como as questões sobre a relatividade da verdade judicial. Para Altavilla (1948) cada processo é único, não sendo possível fazer generalizações, devendo ser tratados conforme suas especificidades. Em relação a Mira y López, além das contribuições teóricas sistematizadas sobre Psicologia Jurídica no referido Manual, Horas também utilizava nas atividades práticas o método do psicodiagnóstico miocinético (PMK) teste desenvolvido por Mira y López como um dos recursos de investigação da personalidade do criminoso, especialmente para a avaliação de características de agressividade. Mira já indicava, em seu Manual de Psicologia Jurídica, o PMK como um dos instrumentos a serem utilizados, juntamente com o T.A.T., 83 A Escola Intermediária do Direito Penal busca uma postura conciliatória entre a Escola Clássica e a Positiva, fundamentando-se no princípio de responsabilidade moral e determinismo psicológico (Oliveira, 2011). 84 Infelizmente não pudemos observar se o mesmo ocorria em relação a Schneider. 85 Enrico Altavilla, jurista italiano, que teve como mestre Cesare Lombroso. Dentre seus inúmeros escritos, se destacou Psicologia Judiciária de Defendeu que a interpretação da realidade tem como base a percepção, a força de vontade e a atenção, que constroem a subjetividade. Esses dados deveriam ser a base para o entendimento da personalidade do imputado judicialmente (Gulotta, 2003).

88 86 para a determinação da periculosidade do delinquente (Mira y López, 1961). Dois conceitos chamam a atenção no ensino da Psicologia Jurídica proposto por Horas: a sociocriminogênese e a psicocriminogênese. Como o próprio nome sugere, esta abordagem trata respectivamente dos aspectos sociais e psicológicos que se relacionam com a gênese do comportamento criminoso. Em 1950, no II Congresso Internacional de Criminologia que ocorreu em Paris, vários estudiosos se reuniram objetivando discutir sobre as definições e métodos da criminologia, dividindo as sessões conforme os seguintes temas: biocriminogêneses, psicocriminogêneses, sociocriminogêneses, criminogêneses e estado perigoso (Olmo, 1999). Ou seja, a sistematização do curso de Psicologia Jurídica de Horas estava ancorada nas concepções e doutrinas vigentes na época que tipificavam o delito por meio da dinâmica dos múltiplos fatores de constituição do indivíduo. No estudo da sociocriminogênese proposto na disciplina de Horas eram abordados o comportamento considerado desviante e as delinquência como um fenômeno sociológico, incluindo os métodos da sociologia aplicados à criminologia. Também eram introduzidos os conceitos de normas e grupos sociais, aspectos da estrutura social como uma dimensão criminógena, sociopatologia, relações entre guerra e delinquência e as estatísticas criminais na Argentina e na província de San Luis (Programa de Psicologia Jurídica, 1968). A análise dos fatores sociais da criminalidade (idade, ocupação, raça, religião, instrução e densidade social 86 ) e a ecologia criminógena (urbanização, industrialização e áreas criminógenas) eram elementos que contribuiriam para o entendimento da constituição social coadjuvante da delinquência. Além disso, se incluíam os estudos dos grupos delitivos, principalmente o dinamismo das gangues, das duplas e da delinquência feminina. Dentre os referenciais de uma concepção sociogênica discutida por Horas podemos destacar Willem Adriaan Bonger 87 ( ) e Edwin Hardin Sutherland 88 ( ). 86 Densidade social é um conceito de Durkheim que diz respeito às relações que são estabelecidas e mantidas pelos indivíduos, considerando a intensidade das comunicações e trocas entre esses indivíduos (Aron, 1993, p. 306). 87 Willem Bonger doutorou-se em Direito na Universidade de Amsterdã em Apresentou a tese Criminalidade e Condições Econômicas, influenciada pelo pensamento marxista. Tornou-se professor de Criminologia e Sociologia em Além de sua atividade acadêmica, destacou-se na política, sendo membro do Partido Social Democrata dos Trabalhadores na Holanda. Quando os nazistas invadiram a Holanda, Bonger e sua esposa se suicidaram (Agra, 2012). 88 Edwin Shuterland, sociólogo norte-americano que se doutorou na Universidade de Chicago em Passou por diversas universidades, tendo maior destaque na Universidade de Indiana, em Entrou para a história por ter criado o termo crimes do colarinho branco, já que para [...] ele crime do colarinho branco é aquele cometido por pessoa de respeito e elevada classe social, no exercício de sua atividade (Veras, 2006).

89 87 Para Bonger (1916), um sociólogo e criminalista de orientação marxista, a criminalidade teria estreita relação com as condições econômicas, sendo a delinquência um fenômeno de massa e não individual. O sistema capitalista seria responsável por impulsionar a criminalidade e as crises sociais também eram agravantes das patologias na sociedade, gerando algumas categorias de crimes, dentre elas crimes econômicos, sexuais, políticos, patológicos, por vingança (Bonger, 1916). Entretanto, Horas deixa claro que, embora reconheça a diferença da delinquência nos países socialistas em comparação às nações capitalistas, a estrutura econômica de base não é capaz de por si só explicar a criminalidade (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982). Diante disso, afirma que muitos estudos evidenciam que la delincuencia no es un fenómeno emergente de la estructura burguesa y capitalista, como reiteran los criminólogos del socialismo, sino que es un hecho social permanente y variable vinculado a diversas condiciones (Horas, 1972, p. 84). Apoiado na obra White Collar Crime de Shuterland, publicada em 1949 e traduzida para o espanhol em 1969 (Olmo, 1999), Horas discutia o conceito de associação diferencial para uma explicação geral do comportamento do criminoso. Para Shuterland (2014 [1940]), as teorias dos criminólogos que concebem o crime como um produto derivado da pobreza ou de condições psicopáticas e sociopáticas do indivíduo não eram plausíveis, pois os fatores não estão relacionados a um processo característico geral de toda a criminalidade (p. 103). Assim, por meio da associação diferencial era possível explicar a criminalidade sistêmica, independente da classe social, pois o comportamento criminoso estaria relacionado com a aprendizagem por meio da associação do indivíduo com aqueles que cometem crimes (2014 [1940]). A abordagem de diversas teorias sociológicas para a discussão do comportamento delitivo demonstra o interesse de Horas em estimular uma apreciação mais acurada das perspectivas apresentadas na disciplina. Além disso, uma análise da criminalidade também só poderia se cumprir por medio de procesos críticos orientados por la búsqueda fundamentada de la explicación y la comprensión del fenómeno (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982, p. 38). Em 1974, Plácido Horas colaborou na organização da Segunda Jornada de Criminologia e Direito Penal em Merlo, na província de San Luis, na qual participaram também alguns de seus alunos e professores da UNSL. A Jornada tinha dois eixos específicos, um de caráter jurídico e outro de caráter criminológico (Actas de las segundas jornadas de criminología y derecho penal, 1974). Dentre os trabalhos publicados nas Actas podemos

90 88 destacar o de Angel Rodriguez Kauth 89 (1941-?), na época havia recém se graduado em Psicologia pela UNSL, que examinou a questão da sociocriminogênese. A sociocriminogênese é definida por Rodriguez Kauth (1974) como uma das categorias da Criminogênese: por meio da análise dos fatores socioculturais se pode compreender e atuar sobre a delinquência ou os comportamentos considerados desviantes. Isto leva o autor a afirmar que a Psicologia Social aplicada à Criminologia representa una síntesis integradora de los niveles biológicos, sociológicos y psicológicos en el estudio de la conducta humana permitindo um maior conhecimento do por quê e para que o comportamento humano se dirige (Rodriguez Kauth, 1974, s/p). É possível reconhecer a influência de Horas no texto citado, uma vez que este discorre sobre tópicos comuns abordados no curso de Psicologia Jurídica, dentre eles os fatores sociais do delito como sexo, instrução escolar, ocupação e classe social. Em relação ao sexo dos indivíduos considerados desviantes ou delinquentes, Rodriguez Kauth (1974) faz uma comparação entre a delinquência feminina, destacando não só as estatísticas que demonstram uma incidência menor de mulheres delinquentes, mas também como o papel social da mulher se relaciona com a dinâmica delitiva. Assim, considera que, apesar das mulheres terem avançado na conquista de direitos igualitários, muitas ainda tinham como principal atividade os cuidados com o lar, que se relacionava diretamente com a expectativa de que desempenhassem papéis menos violentos, por exemplo. Também aponta para os estudos que demonstram que a baixa criminalidade feminina poderia estar relacionada com a menor oportunidade que as mulheres têm de ingressar em atividades criminais ou até mesmo por muitos dos casos de delinquência feminina não chegarem às esferas judiciais. A questão da delinquência feminina é uma tônica nos programas de curso de Horas e também em algumas de suas produções. Em relação a isto discorre sobre diversas concepções, dentre elas as que associam determinadas categorias de crime ao sexo feminino ou as noções psicossociais que ligam o comportamento criminoso feminino às mudanças dos papeis sociais. Mas adverte que as teorias que consideram apenas o fator sexual como causa explicativa são insuficientes para qualificar a delinquência (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982). É importante apontar que as discussões sobre a delinquência feminina que Horas realizou em sua disciplina entre as décadas de 1970 e 1980 acontecem juntamente com um 89 Angel Rodriguez Kauth, doutorou-se em Psicologia pela Universidad Nacional de San Luis, na Argentina. Atuou como professor de Psicologia Social e Psicologia Política na Universidad Nacional de Cuyo. Além disso, foi diretor e criador da Revista IDEA (Rodriguez Kauth, 2009).

91 89 expressivo movimento feminista na América Latina, conhecido como Segunda Onda Feminista, principalmente no Brasil, Argentina e Uruguai (Borges, 2009). Por isso, podemos considerar que, apesar de Horas ainda levantar as questões do sexo biológico no debate sobre a criminalidade, também parece ter incluído apontamentos relacionados às novas posições das mulheres no contexto social. A base de Horas para o estudo da psicocriminogênese como fundamento para a dinâmica delitiva vinha da psicanálise: Freud, Adler e escolas pós-freudianas como a de Lagache estavam presentes na disciplina de Horas. Na psicanálise de Freud a formação da personalidade criminosa tem como núcleo o Complexo de Édipo enquanto para Adler o complexo de inferioridade é responsável pelo comportamento delitivo, fazendo parte de um desejo compensatório de superioridade e poder (Dias & Andrade, 2013). As teorias psicanalíticas contribuíram para que o crime fosse abordado não só por meio de um viés biológico, mas também considerando as dinâmicas psíquicas e o meio social. Entretanto, uma das suas principais referências era o pós-freudiano Daniel Lagache 90 ( ) que publicou nos anais do II Congresso Internacional de Criminologia em Paris em 1950 o texto Psychocriminogenèse, sobre psicologia dinâmica, clínica e psicoanalítica na análise da personalidade do criminoso (Sauvagnat, 2008). A psicocriminogênese foi considerada um avanço nas teorias psicológicas do crime propiciando uma reorientação científica, situada na intersecção da psicanálise, da psicologia clínica e da psicologia social (Santos, 1998; Sauvagnat, 2008). Nesse sentido o crime seria um fato social associado a um fato psíquico relativo à formação individual da personalidade e à incorporação de valores e normas deste indivíduo dentro de um grupo. A proposta de Lagache é próxima da criminogênese geral, pois considera o dado psicopatológico como resultado da interação dos determinantes biológicos, sociológicos e psicológicos. Deste modo, a formação da personalidade criminosa é estreitamente relacionada à influência dos fatores socioculturais, constitucionais e das experiências individuais, estas geralmente vinculada aos distúrbios de socialização e ao fracasso de identificação edípica ou nas falhas no binômio mãe e filho (Edwards, 1953). Para Lagache, o conceito de crime é axiológico e neste sentido a psicanálise prioriza a compreensão dinâmica e funcional do indivíduo delinquente ampliando o entendimento do 90 Daniel Lagache foi um psicanalista francês. Formado em filosofia em 1928, doutorou-se em Medicina em 1934 e se especializou em Psiquiatria em Em 1937, abandonou a Psiquiatria e se tornou professor de Filosofia e Psicologia na Universidade de Strasbourg. Apoiou a separação da Filosofia e da Psicologia. No Segundo Congresso Internacional de Criminologia apresentou o trabalho de psico-criminogenese, que obteve grande impacto na área (Lagache, 1993).

92 90 comportamento delitivo para além da sua definição jurídica (Edwards, 1953). Frente a isso, a Psicologia poderia auxiliar na determinação das características da personalidade criminosa para se avaliar inclusive a periculosidade do indivíduo (Santos, 1998). No tópico sobre a psicocriminogênese proposto por Horas eram tratados os fatores biológicos, psicopatológicos e individuais dos atos delitivos, corroborando a ideia de personalidade criminososa como um sistema de condições interpsicológicas como propõe Lagache. Além disso, também se discutiam as neuroses e psicopatias envolvidas no comportamento dos sujeitos criminosos. As questões da agressividade, da periculosidade e da reincidência criminal eram tratadas abarcando a metodologia diagnóstica e as técnicas de diagnóstico diferencial (Programa de Psicologia Jurídica, 1968). Outro aspecto estudado era o conceito de criminogênese integrativa biopsicossocial, que discutia a dinâmica do comportamento do criminoso relacionadas às suas motivações e à realidade social bem como o processo de internalização das normas e as possibilidades de aprendizagem de socialização conforme os princípios ético-legais (Programa de Psicologia Jurídica, 1968). O processo de socialização era considerado por Lagache um dos elementos centrais na compreensão da estrutura de personalidade delinquente e a busca por uma identificação e participação em grupos poderia levar o indivíduo criminoso a construir uma vida moral e social positiva (Edwards, 1953; Santos, 1998). As concepções de crime e de criminalidade adotadas por Horas e seus colaboradores é atravessada principalmente por concepções sociais. Deste modo, o crime é definido como un fenómeno social constante que persiste a despecho de todas las variaciones históricas temporal-espaciales y las diferencias entre las formas social-culturales y los regímenes políticos (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982, p.33) enquanto a criminalidade pode ser entendida como: (...) la suma de conductas ilícitas discriminadas por su tipo y otras categorías que acaecen en un ámbito preciso (generalmente un país) durante un intervalo preciso (habitualmente un año), partiendo de sucesos registrados y completando a cifra mediante hipótesis acerca de la ocurrencia de tal hechos. Tales actos se definen como delictivos, porque en ese momento quebrantan los valores y bienes protegidos jurídicamente según fueron establecidos para favorecer una ordenada, eficaz y segura convivencia humana. Se trata de un saber causal y descriptivo y a menudo comparado en busca de parámetros generalizables que intenta esclarecer las dimensiones explicativas y comprensivas de esos episodios en relación con las condiciones de los infractores individuales (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982, p. 33).

93 91 Contudo, há uma preocupação em não reduzir a explicação da delinquência a teorias sociológicas já que os fatores biopsicológicos constituem de igual modo a estrutura da personalidade, sendo então necessário adotar enfoques integradores considerando os aspectos sociais, psicológicos, biológicos e inclusive ideológicos (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982). Assim, el interés cognoscitivo de la criminalidad se apoya en múltiples constelaciones sociales; en tanto que el estudio de cada crimen rastrea los factores biopsicológicos dentro de aquel marco de referencia imprescindible (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982, p. 40). A estruturação da disciplina de Psicologia Jurídica amparada nas noções da legislação penal argentina é outro ponto de relevo, pois evidencia o objetivo de capacitar os alunos a atuarem no âmbito jurídico argentino. Sobre o direito penal, o processo penal e as políticas criminalísticas, uma das principais referências de Horas foi um dos seus contemporâneos, o magistrado argentino Eugenio Raúl Zaffaroni 91 ( ). A obra Teoria del delito publicada em 1973 por Zaffaroni fazia parte da bibliografia da disciplina de Horas. Na Segunda Jornada de Criminologia e Direito Penal, ocorrida em Merlo na Argentina no ano de 1974, Zaffaroni foi um dos convidados para compor a mesa de abertura, quando discorreu sobre os princípios penais de uma futura reforma constitucional. Para Zaffaroni (1974), a questão antropológica, ou seja, o reconhecimento da dimensão subjetiva e múltipla do humano, tem um papel central no Direito, repercutindo nas políticas criminais. Deste modo, a eficácia do Direito Penal estaria no reconhecimento das questões objetivas e subjetivas do comportamento, propondo então que as penas tivessem princípios e políticas que permitissem efetivamente a ressocialização do delinquente. Ao longo do andamento da disciplina de Psicologia Jurídica, Horas inseriu alguns textos redigidos por ele e assinalou que o pouco aumento bibliográfico nos programas de curso decorria da dificuldade da UNSL para adquirir novos livros e revistas, deixando assim a Cátedra de Psicologia Jurídica ainda mais carente de bibliografia (Curriculum Vitae de Plácido Horas, 1966). Além disso, Horas também mencionou que estava preparando um livro intitulado provisoriamente como La psicología aplicada a la conducta jurídica, que teria quatro capítulos: Psicologia, Criminologia, Sociocriminogênese e Psicocriminogênese. Estes capítulos já estavam sendo utilizados como textos de trabalho para os alunos do curso de Psicologia Jurídica de 1966 e seriam corrigidos para sua publicação definitiva. Também havia 91 Eugenio Zaffaroni, referência do Direito Penal na América do Sul, foi professor emérito e diretor do Departamento de Direito Penal e Criminologia na Universidade de Buenos Aires. Atuou também como advogado e atualmente é juiz da Corte Suprema da Argentina (Zaffaroni, 2009).

94 92 o planejamento para o ano de 1967 da publicação de um segundo volume deste livro, ao qual seriam incorporados os seguintes conteúdos: Constituição da Psicologia Jurídica, Estatística Criminológica, Conteúdos Psicológicos do Processo Criminal, Psicologia e Política Criminalística e Penitenciária, Exame do Código Penal Argentino e Dinâmica dos Principais Delitos e Delinquência Infantojuvenil (Curriculum Vitae de Plácido Horas, 1966). Embora tenha existido o planejamento, esta publicação não aconteceu conforme descrito por Horas por motivos que desconhecemos. Porém, em 1972 publicou Jóvenes desviados y delincuentes cuja temática central são os fatores criminógenos do comportamento infanto-juvenil, incluindo algumas concepções teóricas sobre o fenômeno da delinquência. O livro foi produzido com o auxílio dos alunos e, apesar de tratar de um tema específico, faz uma compilação dos principais conteúdos ministrados nas aulas, o que nos leva a crer que o livro de Psicologia Jurídica inicialmente proposto se converteu nesta publicação. Dentre os temas que coincidem entre os que foram trabalhados nas aulas de Horas e os que estão na publicação deste livro, podemos destacar a problemática da criminalidade feminina, a análise de casos de matricídios, os delitos sexuais, as gangues e a questão do suicídio. Além disso, ao tratar da delinquência infantil, Horas aborda as perspectivas psicanalíticas, sociais, psicossociais, biológicas e biotipológicas para explicar tal fenômeno. Autores como Shuterland, Freud, Eysenck, Di Tullio, Seelig são referências bibliográficas utilizadas tanto na disciplina quanto na publicação de Horas. Nesta obra, uma das discussões repousa sobre a polêmica conceitual quanto à expressão delinquentes juvenis, considerada por muitos inadequada por carregar um estigma de marginalidade. Embora os psicólogos preferissem usar o termo comportamentos desviantes para se referir às atitudes juvenis de violação das normas sociais ou até mesmo jovens ofensores para designar os infratores das leis, a questão terminológica era apenas um subterfúgio verbal (Horas, 1972, p. 175). Deste modo, era mais importante estar atento en la actitud ante el fenómeno y no en su designación, pois independentemente da terminología las soluciones residen en la investigación permanente y el invento de sistemas renovados de tratamiento con abandono de los recursos punitivos (Horas, 1972, p. 175). Para Horas (1972), a Criminologia desenvolvida em sua época considerava, assim como a utopia positivista, que o conhecimento das causas do comportamento criminoso poderia reduzir a criminalidade e que delito e pessoa constituíam a unidade de comportamento. Desde modo, el núcleo de la criminología es el delito perfilado como una conducta que llega descrita e creada desde el plano normativo, pero abordada con propósitos de explicación y comprensión. Importan el autor y el acto con referencia al ámbito valorativo

95 93 de derecho (Horas, Jáuregui, Milán & Anastasi, 1982, p. 36). Além disso, a Criminologia ainda necessitava de maior especificidade metodológica e, de acordo com seu ponto de vista, (...) la dificultad comienza cuando su objeto central (el delito) se define desde una perspectiva jurídica y normativa (ideológica) mientras se refiere a fenómenos que no corresponden a ninguna realidad de naturaleza, pero poseen consistencia histórica. Es un saber sobre el comportamiento que exige ser integrado en su elaboración investigativa y una asociación de la teoría global y práctica para la política social preventiva y recuperadora. Es una labor sistemática de equipo múltiple que procura el ordenamiento de las técnicas apropiadas y escapa a toda posición unidimensional. Aunque su arranque venga del Derecho, la marcha criminológica se realiza en la esfera fenoménica y esto conduce a discutir desde los fundamentos de la norma o la sanción, hasta las medidas penales, tutelares o correccionales del sistema vigente de justicia. Cualquier teoría criminológica indirectamente compromete decisiones políticas. Recíprocamente, actos políticos engendran cambios en las características y volumen delictivo (Horas, 1972, p ). A intervenção do saber criminológico só teria efetividade se o planejamento político para o tratamento das patologias sociais estivesse em consonância com as transformações sociais, culturais, econômicas e físicas, ultrapassando os limites estritamente acadêmicos e teóricos. Para tratar e compreender a questão do fenômeno da delinquência três enfoques foram considerados fundamentais: o sociológico, no qual o delito é um produto de múltiplas variáveis sociais numa complexa rede de relações causais; o psicanalítico, que considera o crime como resposta subjetiva do desenvolvimento do dinamismo psíquico e o personalístico psicossocial, que toma a delinquência como um fato onde se conectam tanto a situação sociológica quanto a realidade psicológica (Horas, 1972). A perspectiva oriunda de uma doutrina pluricausalista é a que Horas parece considerar a mais eficiente. O enfoque psicossocial viabilizaria conclusões multidimensionais abarcando tanto o aspecto social quanto o individual do comportamento desviado por meio de uma visão interdisciplinar (Horas, 1972). Diante disso, a abordagem personalística psicossocial vincularia todos los niveles de la conducta en tres dimensiones estrechamente relacionadas: el genético, el presente y el prospectivo, por la significación futura del episodio contemporáneo para su autor (Horas, 1972, p. 354). Ainda conforme Horas (1972), qualquer enfoque com interpretações sociológicas ou psicológicas extremas restringe ou distorce o conhecimento sobre o fenômeno. E esclarece

96 94 ainda que as distinções entre os fatores de tipo social ou psicológicos citados na criminologia são meramente didáticos, servindo para explicar la implantación del conflicto y sus integrantes peculiares según cada circunstancia, describir sus líneas evolutivas y las expectativas de solución (p. 361). Em relação à prática profissional, a intenção de uma capacitação profissional fica ainda mais evidente após a criação do Centro de Criminologia. No Curso de Psicologia Jurídica de 1975, Horas descreve como objetivos: a) Introducir a los estudiantes de la Licenciatura em Psicología en el vocabulario jurídico penal a efectos de trabajos interdisciplinários; b) Dotar al estudiante en forma precisa y práctica a los conocimientos que les permitam informar, dictaminar y hacer peritagens, com idoneidad jurídica y Psicosocial en las diversas áreas del Derecho Penal; c) Estabelecer las Instituiciones del Derecho Penal donde sobran especial vigencia el conocimiento psicológico e criminológico, detectando las posibles insuficiencias en la legislación y las problabes soluciones desde el punto de vista psicológico; d) Capacitar para operar en criminología desde una perspectiva que permita percibir las dimensiones políticas e ideológicas que subyacen en algunas de sus proposiciones; e) Favorecer el manejo crítico y ponderado de los factores que facilitan la conducta criminal así como prover de un repertorio de teorías criminológicas que propiciem una actitude de síntesis y superen simplificaciones o reduccionismos; f) Proveer la adecuada información e tecnología psicosocial con el fin de cooperar en el trazado de programas de prevención y rehabilitación (Programa de Psicologia Jurídica, 1975, s/p). A constituição da disciplina de Psicologia Jurídica vai além dos pressupostos teóricos. A instrumentalização e a capacitação dos alunos são municiadas de um acurado repertório técnico favorecendo uma atuação especializada nas instâncias penais e judiciárias. Diante de tais considerações, podemos depreender que na perspectiva de Schneider a Psicologia Jurídica tem uma relação direta com a Psicologia Social, que vai além da questão sobre os determinantes sociais, mas também passa pela aplicação da Psicologia em seus diversos campos de saber. Sobre a Psicologia aplicada, afirma que esta impõe-se sempre e onde houver atividade humana, relações humanas, problemas humanos e manifestações da existência humana em geral e não apenas as que ocorrem dentro de quatro paredes de gabinetes de psicometria ou psicoterapia (Schneider, 1966, p. 21). Também podemos apontar que no caso de Schneider as discussões sobre a delinquência e as personalidades criminosas passam por dois momentos, um antes da

97 95 regulamentação da profissão de psicólogo e outro após a criação dos cursos de graduação em Psicologia. Naquele primeiro momento, que se situa principalmente na década de 1950 e início da década de 1960, período em que desenvolve as atividades de psicotécnico e de perito, Schneider apesar de reconhecer a Psicologia Jurídica como um campo de aplicação das práticas psicológicas, não nomeia suas produções relacionadas a intersecção entre a Psicologia e Direito como de Psicologia Jurídica. Porém traz aportes teóricos que contribuem nas discussões sobre o comportamento criminoso. O interesse em compreender a personalidade do criminoso e de discutir os determinantes do comportamento delinquente revela muito mais que uma ênfase nas questões sociais, mas para Schneider a Psicologia Jurídica não estava dissociada da Psicologia Social. Deste modo, para se tratar as anormalidades sócio-psicogênicas Schneider (1959) preconiza um tratamento sócio-psicológico assistencial evitando-se uma abordagem centrada em princípios psico-patológicos. Ainda sugere que no tratamento das personalidades anormais psico-sociogênicamente determinadas, a psicologia clínica deveria ser substituída pela assistência psicológica, na qual a atividade prática do profissional de Psicologia englobaria não só as técnicas tradicionais, como as entrevistas, os testes, o diagnóstico, mas também deveria inserir uma orientação psicológica geral ou psicossocial mais contínua e interpessoal (Schneider, 1959b). Também coloca que: Além da Psicologia Médica, Psicologia Escolar, Psicologia do Trabalho e Psicologia Jurídica, deveria ser reconhecida também a Psicologia Social como outro campo de aplicação através da ampliação e extensão de seu presente objeto de estudo, com a inclusão do exame psicológico individual e grupal e da assistência aos casos de personalidades desajustadas no plano inter-pessoal (social) que não apresentem anormalidades psíquicas de etiologia orgânica (Schneider, 1958, p ). Sendo assim, a Psicologia Social teria como função auxiliar na assistência aos indivíduos perturbados por disturbíos sócio-psicogênicos emocionais, fortes inibições, conflitos morais, baixa tolerância a frustração, timidez, etc, (Schneider, 1958, p. 17) prestando um serviço de acompanhamento que englobaria desde testes e entrevistas até o aconselhamento a fim de que uma mudança adaptativa de comportamento e de personalidade fosse observada. Diante disso, Schneider tinha a hipotése de que no futuro da Psicologia grande parte da psicoterapia e da psicologia clínica se integrará nos domínios da psicologia social e esta

98 96 evoluirá como setor aplicado da psicologia da personalidade e da sociologia (Schneider, 1963, p. 10). Tal perspectiva reafirma que para Schneider a Psicologia Social seria um saber capaz de compreender e reeducar as personalidades consideradas desviantes ou anormais por meio de uma relação interpessoal entre o indivíduo e o psicólogo. Já no segundo momento, ao contribuir para sistematizar o ensino da Psicologia em alguns cursos, Schneider utiliza-se do termo Psicologia Jurídica para nomear a disciplina que propõe. No ensino da Psicologia Jurídica parece haver a mesma tendência das suas produções teóricas: a de fazer uma discussão sobre o impacto dos determinantes psicossociais na constituição do crime, criticando inclusive o conceito de doença mental dentro da criminologia. Faz-se necessário assinalar que apesar de introduzir a Psicologia Jurídica como disciplina independente, o interesse acadêmico de Schneider se voltava mais para as discussões em torno da Psicologia Social. Vale ressaltar que na perspectiva de Schneider a Psicologia Social também seria um saber capaz de abarcar tanto a análise e quanto o tratamento das personalidades delinquentes. No caso de Plácido Horas, a disciplina de Psicologia Jurídica teve uma constituição com uma orientação maior em torno da Criminologia, com ênfase na aplicação do conhecimento e da prática psicológica na esfera do Direito, especialmente nos sistemas penais. Em relação a influência das teorias psicológicas que permearam a disciplina foi possível perceber que embora Horas tenha uma abordagem pluralista e se utilize do psicodiagnóstico como umas das ferramentas da atividade profissional, a psicanálise parece permear de modo significativo parte de suas discussões de caráter teórico relacionadas à Psicologia Jurídica. Faz-se necessário assinalar que na Argentina, entre a década de 1940 ao início de 1960, o desenvolvimento da Psicologia nas universidades foi marcado pela psicotécnica, pela orientação profissional e pela psicologia aplicada (Klappenbach, 2006). Neste contexto se insere o início da carreira acadêmica de Plácido Horas, onde houve um predominío das atividades relacionadas a psicotécnica empreendidas no Instituto de Investigaciones Psicopedagógicas da UNCuyo. De acordo com Piñeda (2009) en los inicios del Instituto, psicologia experimental y pensamiento humanista se conjugaban dando lugar al estudio científico de la conducta del hombre (p. 18). Entretanto, na década de 1960, quando Horas introduziu a disciplina de Psicologia Jurídica no currículo do curso de Psicologia da UNCuyo, a orientação teórica já tem um caráter mais pluralista em virtude das influências europeias, norteamericanas e latinoamericanas que o corpo profissional que compunha o Instituto e o curso de Psicologia

99 97 haviam incorporado na universidade (Piñeda, 2009). Este momento coincide com uma maior incidência da psicanálise nos recém criados cursos de Psicologia na Argentina (Klappenbach, 2009; González, 2016), sendo um período também centrado na discussão do perfil profissional do psicólogo (Klappenbach, 2006). A UNCuyo se diferenciou das outras universidades argentinas pela incidência limitada da psicanálise na constituição do curso de graduação (Klappenbach, 2000), gestando uma psicologia com identidade própria em San Luis (Piñeda, 2009). Diante disso, podemos afirmar que a disciplina de Psicologia Jurídica também se configurou de maneira muito singular. Mesmo com a apropriação de algumas teorias psicanalíticas, Horas não se restringiu a uma única matriz psicológica e produziu uma leitura sobre o crime e o criminoso visando não só uma fundamentação conceitual de caráter crítico e plural, mas sobretudo se empenhou em formar psicólogos que estivessem efetivamente capacitados para o exercício de uma psicologia aplicada ao âmbito jurídico.

100 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como apontamos na Introdução desta tese, buscamos compor uma história comparada das trajetórias de Eliezer Schneider e Plácido Horas no campo da Psicologia Jurídica, com o objetivo de trazer contribuições para as discussões sobre a constituição e consolidação desta área tanto no Brasil quanto na Argentina. Longe de buscar uma gênese comum da Psicologia Jurídica em ambos os países, delinear uma história comparada dos personagens que atuaram no incremento da Psicologia em seus respectivos países nos permitiu interrogar principalmente sobre as naturalizações arraigadas neste campo do saber. Além de apontarmos as semelhanças e diferenças de uma problemática comum ou de realidades histórico-sociais próximas, foi preciso transpormos os modelos de interpretação estabelecidos a priori para traçar conexões. Deste modo, ao investigarmos um duplo campo de observação (Barros, 2007) em busca das analogias e variações sobre a Psicologia Jurídica nos foi possível descrever uma história de dois personagens que influenciaram este campo do saber. Quando falamos em Psicologia Jurídica parte-se do pressuposto que há um denominador comum que perpassa a constituição da área. Embora este denominador se relacione com o entrelaçamento entre Psicologia e Direito, as condições de emergência, da apropriação e circulação dos saberes e das práticas, estão associadas diretamente aos marcos conceituais e institucionais que conferem singularidades aos avanços da Psicologia tanto no Brasil quanto na Argentina. As questões relativas à infância considerada desviante ou delinquente até a problemática do louco criminoso perpassaram os momentos iniciais da Psicologia aplicada ao campo do Direito no Brasil e na Argentina. Diante da necessidade de intervir sobre estas questões, novos saberes e práticas foram se configurando com o intuito de se investigar a mente criminosa, o que tornou o conhecimento psicológico um saber fundamental para a compreensão e estudo do perfil e comportamento criminoso, como já mencionamos ao longo deste trabalho. Schneider e Horas desenvolveram suas práticas e produções em uma mesma temporalidade histórica, especificamente entre as décadas de 1940 a 1980, avançando em suas atividades de formas distintas e cada qual influenciado a sua maneira pelos sistemas teóricos que circulavam em seus países. Uma vez que o momento inicial das praxes destes personagens foi sublinhado por um período em que a Psicologia firmava seu reconhecimento

101 99 enquanto ciência e profissão, podemos afirmar que o protagonismo político nos espaços institucionais que atuaram, seja nos cargos que ocuparam, seja na estruturação e implementação de cursos de Psicologia, favoreceram a realização de pesquisas e produções teóricas diversas. Assim, foi possível viabilizarem que a Psicologia Jurídica se estruturasse enquanto disciplina independente também dentro de instituições acadêmicas. Mas antes da Psicologia Jurídica firmar seu lugar acadêmico, estes personagens percorreram caminhos adquirindo e construindo conhecimentos que moldaram suas concepções em torno desta temática. Em virtude disso, pudemos compreender que Schneider e Horas. apesar de realizarem algumas práticas comuns no campo da Psicologia Jurídica como o exame, a perícia e o diagnóstico, fizeram uma leitura em torno do crime e do criminoso amparada em conceitos teóricos com ênfases específicas: de um lado Schneider com um saber ancorado na psicologia social e de outro Horas com um saber de viés criminológico. No caso de Eliezer Schneider, ele afirma que a Medicina Legal e o Direito Penal foram importantes para o seu interesse pela Psicologia e, além disso, queria compreender o que ele chamava de natureza humana (Schneider, 1997). Neste campo uniu a disposição para a Psicologia Social e para a Psicologia Jurídica, pois considerava que poderia refletir sobre a criminalidade e a personalidade criminosa ao estudar como a estrutura social e os determinantes econômicos, sociais e políticos interferiam no comportamento humano (Schneider, 1997). Para entender esta questão, considerava fundamental conhecer os sistemas teóricos da Psicologia, se aproximando também da sociologia e antropologia por meio do interesse pela Psicologia Social (Schneider, 1997). Tanto em Schneider quanto em Horas se nota a inclinação a um enfoque psicossocial para tratar as questões relacionadas a delinquência, porém estes enfoques não necessariamente coincidem entre si. No caso de Schneider, o que ele denomina de psicossociogênese do crime é pautado em uma teoria psicológica que não se vincula diretamente com uma concepção de orientação criminológica, mas tende a se focar na constituição da personalidade e nas tendências do comportamento especialmente com o aporte das teorias behavioristas. Na perspectiva de Schneider (1988), embora o crime seja uma categoria que atinge o coletivo, o comportamento criminoso é do indivíduo, que apresenta a personalidade e as motivações do comportamento inerentes a ele mesmo. Porém, é o meio social que interfere na constituição desta personalidade e, por conseguinte, no comportamento. Schneider é categórico ao negar o conceito da entidade doença como explicação da personalidade anormal e consequentemente das personalidades criminosas. Para ele, os

102 100 traços de personalidade são apenas sistemas de hábitos, opiniões, atitudes e motivos deformados porque adquiridos em relações humanas especiais frustrantes, punitivas e privadoras de afeto (Schneider, 1959b, p.23) A aprendizagem social seria responsável não só por ter impacto na constituição da personalidade, mas também por poder promover a possibilidade do desenvolvimento de novos repertórios de comportamento, contribuindo na recuperação de criminosos e delinquentes. Nesta perspectiva, Schneider (1959b) critica o tratamento das personalidades normais dado pela psicologia clínica, pois esta costumava se apoiar nos conceitos médico-psiquiátricos para tratar o indivíduo. Já no caso de Horas, há uma visão pluricausalista dos determinantes do comportamento delinquente, considerando as variáveis biológicas, os fenômenos sociais e as características psicológicas individuais. Porém, diferentemente de Schneider, a discussão sobre tais determinantes é calcada principalmente em noções da Criminologia, como pudemos ver. Além disso, há grande influência das teorias psicanalíticas para a compreensão dos aspectos psicológicos e das respostas subjetivas relacionadas à gênese do comportamento considerado desviante. Outro aspecto importante na atuação docente de Horas é o interesse em dotar seus alunos de um conhecimento básico no campo do Direito. Para Horas (1972), é necessário fazer um esforço integrativo interdisciplinar em relação às pesquisas e a teorias criminológicas para que estas não sigam precárias ou ultrapassadas, pois a Criminologia ainda carecia de um rigor metodológico. Assim, afirma: Según nuestro ponto de vista, la dificuldad comienza cuando su objeto central (el delito) se define desde una perspectiva jurídica y normativa (ideológica) mientras se refiere a fenómnos que no corresponden a ninguma realidad de naturaleza, pero poseen consistencia histórica. Es un saber sobre el comportamiento que exige ser integrado en su elaboración investigativa y una asociación de teoría global y práctica para la política social preventiva recuperadora. Es un labor sitemática de equipo múltiple que procura el ordenamiento de las técnicas apropriadas y escapa a toda posición unidimensional. Aunque su arranque venga del Derecho, la marcha criminológica se realiza em la esfera fenoménica y ésto conduce a discutir desde los fundamentos de la norma o sanción, has las medidas penales, tutelares o correccionales del sistema vigente de justicia. Cualquier teoría criminológica indirectamente compromete decisiones políticas. Recíprocamente, actos políticos engendram cambios em las características y volumen delictivo (Horas, 1972, p ). A questão da recuperabilidade do criminoso, a prevenção da delinquência e as possibilidades de políticas sociais para a redução da criminalidade são pontos convergentes no

103 101 pensamento de Horas e Schneider. Apesar das perspectivas teóricas não coincidirem diretamente, ambos discutem as contingências de reabilitação e a importância da prática do psicólogo não só no desenvolvimento de atividades técnicas, como a de perícia e de psicodiagnóstico, mas também em terapêuticas e programas de prevenção e reabilitação criminológica. Outro aspecto comum em relação a Psicologia Jurídica de Schneider e de Horas é a questão dos testes psicológicos como ferramenta de avaliação do criminoso. Schneider já inicia sua trajetória profissional em um ambiente em que a aplicação de testes se insere como uma das suas atividades no Instituto de Psicologia, o que é reafirmado no ISOP e no MJHC. Schneider (1988) coloca que, na determinação da periculosidade e da responsabilidade penal, o psicólogo especializado deverá ser o profissional encarregado de auxiliar nos exames de sanidade mental junto aos psiquiatras, pois é quem está melhor habilitado para o uso dos instrumentos e baterias de avaliação da inteligência. Deste modo, afirma que os testes devidamente padronizados e adaptados à realidade brasileira bem como aqueles construídos com amostragens nacionais, têm validade incomensuravelmente maior do que instituições, perspicácia do entrevistador ou o antigamente popular olho clínico (Schneider, 1988, p. 38). Podemos considerar que, embora Schneider reconheça que a Psicologia Jurídica necessite de práticas que vão além do diagnóstico psicológico, a seu ver o papel da avaliação e da perícia ainda se mantém como uma das atividades primordiais na atuação do psicólogo jurídico. Por outro lado, Schneider também busca um reconhecimento para a prática psicológica que garanta a autonomia do psicólogo no âmbito do exame e do psicodiagnóstico. O uso dos testes psicológicos também foi essencial na prática da Psicologia Jurídica desenvolvida por Horas. Como já discorremos, tanto na disciplina quanto no trabalho desenvolvido no Centro de Criminologia, os alunos deveriam estar aptos para aplicar e interpretar os resultados dos testes para elaborar a Ficha Criminológica. Juntamente com uma extensa entrevista do avaliado, os testes psicológicos fundamentavam o parecer final sobre o criminoso. Apesar desta atividade manter um caráter pericial e de diagnóstico, podemos considerar que seus fins vão além da confecção de um parecer técnico, pois se relacionam com o desenvolvimento de práticas específicas para a população carcerária e para os agentes do Serviço Penitenciário. Por fim, podemos depreender que no incremento da Psicologia Jurídica há mais pontos de diferença do que que de semelhança no trabalho de Schneider e de Horas. Mesmo que alguns referenciais sejam comuns e até mesmo a atividade prática do psicólogo jurídico aborde elementos análogos, a orientação teórica e as trajetórias destes personagens dentro da

104 102 Psicologia concorreram para que as propostas em relação à constituição da Psicologia Jurídica fossem diferentes. Assim, Horas buscou firmar a Psicologia Jurídica por meio de articulações teóricas e práticas no âmbito acadêmico e, posteriormente, no contexto social, a fim de consolidar o campo de atuação e contribuir com as discussões em torno da delinquência. Já Schneider toma a Psicologia Jurídica com uma psicologia aplicada relacionada diretamente com os saberes da Psicologia Social. Além disso, Schneider parte do campo prático não só para tecer algumas considerações sobre a Psicologia Jurídica, mas também para agregá-la como uma especialidade a nível acadêmico.

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121 ANEXO A Guia de entrevista com o interno 119

122 120

123 121

124 122

125 ANEXO B Ficha criminológica 123

126 124

127 125

128 126

129 127

130 128

131 129

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133 131

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138 136

139 137

140 138

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