Ano I N.01 Volume 2012 (Jun/Set)
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- Jonathan Lacerda Soares
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1 Ano I N.01 Volume 2012 (Jun/Set) UMA PUBLICAÇÃO DO GRUPO PHIPSI 1
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3 SUMÁRIO * Cuidar e Educar, Família e Escola, p.5 a 11. * A História da Educação, p. 13 a 22. * O Materialismo histórico e dialético a serviço das revoluções, p. 23 a 28. * Filosofia da Linguagem em Rousseau, p. 29 a 34. 3
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5 Cuidar e Educar, Família e Escola. Sônia Kronka Formada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade. Membro do Conselho Editorial da Revista e Colaboradora do Portal Café com Filosofia. 5
6 O trabalho desenvolvido com crianças em nosso país teve início com os jesuítas (séc. XVII), através da catequese, com aqueles que chamavam de órfãos da terra. Os reuniam para ensinar a ler, escrever e aprender os bons costumes. No século XVIII a igreja católica, através das Santas Casas de Misericórdia cria o sistema da Roda dos Expostos que, na época era o principal atendimento às chamadas crianças enjeitadas, doentes e a infância pobre. A Roda dos Expostos era um dispositivo cilíndrico instalado de maneira que uma parte ficava para dentro e outra parte para fora da casa. As pessoas colocavam anonimamente as crianças enjeitadas nessa roda que, uma vez girada, transportava a criança para dentro da Instituição para serem cuidadas e tratadas. Consta em nossa literatura que este sistema se prolongou até o período do Brasil Imperial. E mesmo a Lei da Abolição e a Lei do Ventre Livre não causaram impacto suficientes para abolir a Roda dos Expostos. Continuando nosso trajeto histórico, temos no Brasil República, grande parte das organizações destinadas a atender órfãos, abandonados e delinquentes, eram organizações vinculadas às irmandades religiosas. Até esse momento as crianças não eram vistas como sujeitos de direitos, a infância não era entendida como uma construção de acordo com as relações sociais vividas. Em 1924 a sociedade demonstra necessidade em criar um instrumento que regule as ações dos menores, criando o Tribunal de Menores que serviu de base para o Código de Menores que foi promulgado em 1927, como primeiro documento legal para a população menor de 18 anos, conhecido como Código Mello Mattos. Este Código estabelecia as medidas a serem tomadas pelo Poder Público com relação aos menores que eram órfãos; que andavam sozinhos (era entendido como perambulação); 6
7 aos que cometiam delitos, e em 1942 é criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM); órgão ligado ao Ministério da Justiça que funcionava como uma penitenciária para os menores de 18 anos; aqui não havia diferença se o menor era abandonado ou havia cometido alguma infração. A lógica aplicada era a de repressão. Ainda em 1924 temos a Declaração de Genebra que traz a preocupação internacional de assegurar os direitos da criança e adolescentes como orientação de discussão entre as nações. Quando em 1959 é aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos da Criança há um significativo aumento e consideração dos direitos aplicáveis para a população infantil. A Política Nacional de Bem Estar do Menor, de 1964, lei 4513/64 cria a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM) como órgão Nacional e como Estadual, as Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor (FEBEMS); que substituem a SAM. As FEBEMS atendem órfãos, abandonados, aqueles que eram entregues pelas famílias e praticantes de delitos. A partir desse momento histórico, começam a surgir pelo país, vários movimentos sociais em defesa dos meninos e meninas de rua. Um amplo debate começa a ser realizado, incluindo o Código de Menores, com a intenção de tornar mais humana a política de atendimento, tornando os Meninos e Meninas protagonistas de suas vidas. Surge à criação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, a Frente de Defesa dos Direitos da Criança e dos Adolescentes e é criada a Comissão Nacional Criança Constituinte. Internacionalmente temos a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, validada por todos os países membros da ONU excetuando-se os Estados Unidos e a Somália. É importante sabermos que o Estatuto da Criança e do Adolescente nasceu de amplo debate, envolvendo comissões em defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, juízes e de vários outros setores organizados da sociedade. Enfim é criado o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), lei 8069/90 várias alterações significativas nos trouxe, como por exemplo, a aceitação de famílias substitutas inovando o conceito de pai e mãe biológicos, definindo e ampliando o conceito de famílias naturais, enfatizando a importância da criança e do adolescente no seio familiar, 7
8 esclarecendo a idade que define a criança, até 12 anos e o adolescente, até 18 anos; definindo como Medidas Sócio Educativas àquelas aplicadas aos autores de infrações. Uma legislação que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente (Art.1º.). Dispõe sobre a importância da criança e do adolescente conviver em família (Art.4º.); define e regulamenta o trabalho na condição de aprendiz, tornando violação da lei o trabalho infanto-juvenil tão frequente, até então, os usos e abusos das crianças e adolescentes em trabalho escravo. A ECA reza com rigor sobre vários temas que desrespeitam a criança e ao adolescente, assim como define, com o mesmo rigor, os deveres das crianças, dos adolescentes, das famílias, das entidades de atendimento e da sociedade. Em seguida tivemos outras leis que foram concebidas para proteção e direitos às famílias, às crianças e aos adolescentes, tais como; a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que dispõe sobre a assistência social enquanto direito do cidadão e dever do Estado; a aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes; do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente. Mesmo o ECA garantindo o que rezam esses Planos ainda encontram dificuldades para sua efetivação. Outras diretrizes mandatárias de nosso País rezam sobre a importância da família, da escola e de outras formas de assistência à Criança, ao Adolescente e ao Jovem; Constituição Federal/88 (Art. 226, 227), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96), entre outras. Ao caminhar através da História das mudanças referentes às conquistas dos Direitos e Deveres das famílias e das crianças, adolescentes e jovens é importante refletirmos na alteração também apresentada no significado da referência Menor, Criança, Adolescente e Jovem. A palavra Menor era dirigida para aqueles com origem na classe mais pobre da população, uma palavra estigmatizada, carregada de preconceitos; enquanto Criança, Adolescente e Jovem eram palavras direcionadas aos filhos de famílias de melhor colocação social. Não apenas uma questão semântica. Os fatos nos mostram como aconteceu essa mudança de denominação. 8
9 Nosso passeio agora é com relação à criação das Creches. A História não nos aponta com muita clareza a origem das Creches no Brasil, temos vagas colocações a este respeito. Temos como início de uma forma também de Creche, a Roda dos Expostos, pois lá ficavam também para os cuidados básicos, uma vez que quem lá era colocado não tinha família. Outras creches existiam também com a denominação de asilos; nestes permaneciam crianças de 0 a 2 anos, a primeira infância; e os de 3 a 6 anos considerados pertencentes a escolas primárias, asilos ou escolas maternais. Essas creches não tinham o caráter pedagógico, pois pertenciam a Assistência Pública ou a Saúde. Somente as escolas particulares apresentavam um caráter educacional. Os movimentos feministas de 1932 conquistaram o direito de haver creches nos locais de trabalho com mais de 20 mulheres maiores de 16 anos. Começam a surgir no País uma concepção diferenciada, de 0 a 3 anos e onze meses métodos voltados aos cuidados e à assistência e de 4 a 6 anos e onze meses, pertencentes às pré-escolas. A revisão do significado de creche continua em discussão, por volta das décadas de 60 e 70, inclusive há uma expansão das creches graças aos movimentos sociais, entre eles o movimento feminista. Com a Constituição Federal/88 também há alterações referentes a Educação (Artigos 205, 206 e 208) e aqui caracteriza a creche e a pré escola como Educação Infantil pertencendo a primeira etapa da Educação Básica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) consolida o já colocado na Constituição/88 e dispõe de forma mais clara os níveis da Educação Básica, quem a ela é pertencente e as obrigações de Estados e Municípios. Aqui também acontece a alteração do ensino de nove anos, incluindo a criança de seis anos no ensino Fundamental. Podemos entender que com essas normatizações as Creches passam de seu caráter assistencialista, para uma instituição de ensino com Projetos Pedagógicos e Professores, não mais cuidadores. Sabemos que não são suficientes Leis mandatárias para que a realidade mude, precisamos de ações e concepções que acompanhem o desenrolar dos fatos, para que de fato aconteça o avanço na proposta de atendimento das Creches. Temos aqui uma realidade nada 9
10 satisfatória aos Professores que exercem seu trabalho nas Creches, pois suas jornadas de trabalho são exaustivas, estrutura de trabalho que ainda deixam a desejar e as diferenças entre os Professores trabalhadores da Educação Infantil ainda existem. Quando acontece a discussão do Cuidar e Educar, muitos ainda acreditam que o Cuidar acontece por parte de qualquer um, ou seja, não é necessária uma qualificação profissional, então há um desmerecimento ao Professor de Creche. Acredito que com este ponto de vista emerge uma concepção de Escola como o lugar onde acontece o Conhecimento, o Ensino de fato, privilegiando o ensino Fundamental. O Professor de Creche tem, ou pelo menos deve ter uma formação adequada, sei de inúmeros que possuem Pedagogia e faz pós-graduação. Como já vimos de forma nenhuma a legislação passa para a Creche as obrigações da família, muito pelo contrário, deixa bem clara a importância da família no convívio com os filhos. Interessante sim seria uma parceria entre a família e a instituição escolar. Entender a Educação e a Pedagogia que são necessárias para os diferentes níveis de ensino é entender que em cada um há importante trabalho a ser pedagogicamente realizado. Não quero dizer com isto que a Educação Infantil tem o dever de preparar a criança para o próximo nível de ensino, absolutamente; quero dizer que em cada nível existem diferenças de atuação do Professor justamente porque cada criança é única, sua fase de desenvolvimento requer determinadas ações pedagógicas de acordo com sua idade e evolução. Que a criança tenha o direito de ser criança! O Cuidar e o Educar não podem estar em lados opostos, eles se somam e isto não faz com que o profissional Professor de Creche ou de Educação Infantil seja melhor ou pior do que qualquer outro Professor de outro nível da Educação. A Profissão de Professor deve ser escolhida como uma opção e não por falta de opção. E esta é uma Profissão que se constrói dia a dia, assim como exige capacitação/formação constante. E as crianças, os estudantes o que será que pensam disto tudo? 10
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