RESENHA. Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2014 (10): Irandi Pereira 1. Pereira, I.

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1 Pereira, I. Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2014 (10): RESENHA Irandi Pereira 1 LAZZAROTTO, Gislei D. R.; COSTA, Ana Paula M.; CRAIDY, Carmem M.; SZUCHMAN, Karine; OLIVEIRA, Magda M. de; LUCHESE, Samantha; CHAVES, Thayane (orgs.). Medida socioeducativa: entre A & Z. Porto Alegre: UFRGS : Evangraf, 2014, 280 p. 1Doutora em Educação pela USP, docente e pesquisadora do Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei - Anhanguera/UNIBAN). Correspondência: irandip@gmail.com O livro, no formato glossário, apresenta uma diversidade de verbetes temáticos relacionados ao campo socioeducativo. Os verbetes são trabalhados por diferentes perfis e trajetórias de autores convidados para esse percurso feito de palavras : desde aqueles que se encontram no meio acadêmico quanto os que estão no chão dos programas socioeducativos, por especialistas do sistema de justiça e de garantia dos direitos da criança e do adolescente e, mais ainda, por adolescentes e familiares. Nesse sentido, a obra traz um olhar e trato interdisciplinar sobre a concepção de adolescência, adolescente, adolescente a quem se atribui a autoria de ato infracional, a educação social, a política e ação socioeducativa. No caso dos adolescentes e seus familiares, os verbetes ganham dimensão reflexiva a partir de suas próprias trajetórias de vida considerando o tema de estudo e seu envolvimento com o problema. E, cabe destaque especial aos educadores sociais ao desvelar parte de seu ofício de socioeducador na produção de um saber teórico-prático complexo, especializado, criativo, inovador e compromissado com os pressupostos da educação social na atenção com adolescentes em conflito com a lei. O livro está organizado em verbetes que vão de A a Z e, para cada um deles, um ou mais autores apresentam suas reflexões a partir do lugar que ocupam na vida social e sua relação com o campo

2 143 socioeducativo possibilitando uma relação dialógica entre eles e leitores e, em especial, com os profissionais e educadores sociais que lidam com a socioeducação no sistema de atendimento socioeducativo de adolescentes em restrição ou privação de liberdade. São 87 autores na reflexão e elaboração de 101 verbetes. Do ponto de vista formal, cada verbete tem, aproximadamente, duas laudas que estão distribuídas nas 280 páginas da obra. Essa obra é fruto das práticas de extensão universitária realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na socioeducação com adolescentes que cumprem medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) em razão da autoria de ato infracional. O programa socioeducativo de PSC tem investimento da Universidade com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e da Faculdade de Educação desde 1997, possibilitando o desenvolvimento de uma estratégia interdisciplinar com outros programas de extensão vinculados aos Cursos de Direito e de Psicologia, respectivamente, o Grupo G10 do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (SAJU) e o Grupo de Extensão em Psicologia (Estação Psi). O trabalho de extensão desenvolve uma metodologia de defensoria interdisciplinar no atendimento de adolescentes em conflito com a lei, constituindo com os cursos de Pedagogia, Direito e Psicologia, o Núcleo de Extensão do Programa Interdepartamental de Práticas com Adolescentes e Jovens em Conflito com a Lei PIPA (p. 13). A publicação contou com recursos viabilizados pelo Edital do Programa de Extensão Universitária (PROEXT/2013) do Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Superior (SESu), em articulação com outros Ministérios e vincula-se à linha temática Educação em Direitos Humanos que, dentre outros objetivos, possibilita a elaboração de material didático-pedagógico de apoio às ações de formação de pessoal e, no presente caso, dos acadêmicos, estudantes e profissionais envolvidos na defesa e atenção de adolescentes em medidas socioeducativas.

3 144 Os verbetes têm como referência principal os conteúdos da legislação especial destinada ao público infanto-juvenil, notadamente no plano nacional, pela Lei Federal n /90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, no caso da atenção ao adolescente em conflito com a lei, a regulamentação dada pela Lei Federal n /12 que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Os organizadores do livro tiveram o trabalho sociopedagógico de reunir autores e orientá-los sobre temas, conteúdos e apresentação formal dos verbetes considerando a especificidade da produção (glossário) não só do Rio Grande do Sul, em especial de Porto Alegre, como da rede de pesquisadores e profissionais do Brasil: ter a capital de um estado como ponto de partida para compor um glossário não se orienta pela pretensa ideia de que podemos generalizar uma experiência para todos. Ao contrário, partimos desta experiência para produzir uma conversa no percurso por onde este livro passar (p. 12). A título de ilustração, destacam-se alguns verbetes que compõem o glossário da referida publicação que guardam relação tanto com a compreensão do ser adolescente quanto ao processo de atendimento e os procedimentos a que estão sujeitos no cumprimento de medida socioeducativa aplicada pelo Poder Judiciário após o devido processo legal. São eles: direitos humanos, adolescente em conflito com a lei, pessoa em desenvolvimento, doutrina da proteção integral, medida de proteção, maioridade penal, justiça juvenil, justiça restaurativa, defesa, redução de danos, ato infracional, responsabilização do adolescente, preconceito, inclusão, medida socioeducativa, processo socioeducativo, intersetorialidade, plano individual de atendimento, espaço pedagógico, oficina socioeducativa, regime disciplinar, afeto, acolhimento, autonomia, responsabilidade, respeito, família, comunidade, educação, escola, assistência social, psicologia, saúde, trabalho, SUAS, SINASE, tribunais, universidade, dentre outros. A leitura dos verbetes possibilita a compreensão do significado adolescente em conflito com a lei e a busca de sustentação científica para a ação socioeducativa junto a esse grupo. Os dados do Censo

4 145 Demográfico do IBGE (2010) mostram que a população total de adolescentes entre 12 e 18 anos incompletos no país era pouco mais de 20 milhões e, desses, 0,09% encontrava-se em medidas socioeducativas de privação de liberdade (Internação, Semiliberdade e mesmo a Internação Provisória) e, os dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (2012) indicavam que adolescentes cumpriam medidas socioeducativas no país, sendo em privação de liberdade e em restrição de liberdade (medidas em meio aberto de Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida) considerando a data-base/ano 30/11/2011. A leitura acessível dos verbetes foi o critério utilizado pelos organizadores da publicação no sentido de possibilitar a reflexão e o diálogo em diferentes espaços institucionais em que se encontram os profissionais que atuam direta e indiretamente com adolescentes em conflito com a lei, seja na apuração, aplicação e execução de medidas socioeducativas quanto nos movimentos sociais de defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, nas comunidades e famílias, bem como dos próprios adolescentes e jovens. Cabe salientar que todo campo do conhecimento produz a (re)significação de temas e termos a ele relacionados ou somados e, o livro Medida Socioeducativa: entre A & Z possibilita a apresentação de um panorama amplo da temática adolescente em conflito com a lei, associado aos temas da educação social e socioeducação. Nesse sentido, é uma referência para os campos emergentes que estão em processo de construção, como é o caso do campo socioeducativo, pois esclarece conceitos, oferece noções/visões/concepções e problematiza ações e práticas no sentido de impulsionar reflexões e práticas críticas condizentes com a gramática dos direitos humanos de adolescentes e jovens em conflito com a lei. O livro preenche uma lacuna não só pela não existência de glossários e, sim, porque vai além da elucidação de termos, ao refletir sobre aspectos como metodologias, processos e procedimentos importantes para as práticas socioeducativas. Nesse sentido, é inovador, criativo e

5 146 fundamental para educadores, gestores, especialistas de áreas diversas, operadores do direito e da justiça. A distribuição da primeira edição é gratuita para bibliotecas, serviços e equipes que constituem a rede de atenção aos adolescentes em medidas socioeducativas (ppsc@ufrgs.br).

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