Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

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1 Junho de 2013 Parte importante da elevação dos custos agrícolas é originária de fatores irreversíveis e exigirá ganhos de produtividade e de eficiência no campo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Câmbio depreciado, logística insuficiente, carência de mão-de-obra e de tecnificação estão pressionando os custos de produção agrícola e não mostram sinais de reversão no curto prazo, dado que, à exceção do câmbio, são fatores ligados a mudanças estruturais. Nesse sentido, não vemos possibilidade de alívio significativo das despesas no campo e o caminho será maximizar receitas por área plantada, via aumento de produtividade para diluir os custos. Os incentivos direcionados, com a ampliação da oferta de linhas com juros reduzidos 1 para a compra de máquinas agrícolas, podem aliviar em parte, a alta de custos. A moeda norte-americana em patamar mais apreciado nos parece um movimento irreversível no médio prazo, tendo em vista que o dólar Tipo de Fertilizante Nitrogenados Fosfatados Potássicos Matéria-prima básica Gás Natural Enxofre e Fósforo Potássio Produto Sulfato de Amônia Uréia Superfosfato Simples Cloreto de Potássio 1.220, , , ,96 780, ,49 756, ,94 737, ,05 644, ,77 932, ,32 862, , , ,89 979, ,71 Var. % 10,6% 16,6% 13,5% 12,9% jan-abr/12 967, ,82 904, ,44 jan-abr/ , , , ,08 Var. % 18,1% 6,1% 15,6% 3,2% Regina Helena Couto Silva vem se fortalecendo, refletindo a expectativa de retirada dos estímulos monetários por parte do Fed. Em que pese o câmbio pressionar para cima os preços dos fertilizantes 2, em contrapartida favorece a rentabilidade das culturas exportadoras. Seguindo a alta do dólar, os preços dos fertilizantes medidos pelo IEA-SP 3 subiram 11% em e mais 8% no primeiro quadrimestre deste ano. As principais matérias-primas estão registrando altas expressivas, como o sulfato de amônia, originário da cadeia do petróleo que subiu 10,6% em e mais 18,1% nos primeiros quatro meses deste ano. As matérias-primas originárias do enxofre e fósforo subiram 13,5% no ano passado e mais 15,6% neste ano. Preços nacionais de matériasprimas utilizadas na elaboração de fertilizantes - em R$ por tonelada Fonte: IEA 1 Em julho de o BNDES lançou o PSI Programa de Sustentação do Investimento, voltado ao financiamento de bens de capital, inclusive agrícolas, com taxa de juros de 4,5% ao ano. As alterações seguintes na taxa do PSI foram: em julho de a taxa passou para 5,5%; em março de subiu para 8,7%; em maio de foi reduzida para 7,3%; Entre agosto de e dezembro de a taxa foi reduzida para 2,5%. No 1º semestre de 2013 vigorará a taxa de 3% e a partir do 2º semestre de 2013 passará para 3,5%. 2 Em média 60% dos insumos usados na fabricação dos fertilizantes são importados. Em média 60% dos fertilizantes também são importados. 3 IEA Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo. 1

2 PREÇOS DE FERTILIZANTES EM SÃO PAULO MÉDIA DE FORMULADOS em R$ por tonelada - fonte: IEA Elaboração: Bradesco Preços de fertilizantes em São Paulo média de formulados em R$ por tonelada , , , , , , ,5 997,6 908,5 818,9 991,5 969,6 Fonte: IEA 700 janabr/12 janabr/13 As dificuldades logísticas para levar as commodities do campo ao porto e aos centros consumidores não devem ser resolvidas a tempo de escoar as safras recorde de grãos, café e cana-de-açúcar que estão sendo colhidas. Com isso os preços dos fretes devem continuar pressionados, mesmo depois de registrarem alta de 45% em média desde meados do ano passado. Adicionalmente, os custos com mão-de-obra deverão seguir pressionados, como resultado de mudanças estruturais vividas na agricultura e na economia brasileira. Combinado a este ponto, vale elencar as principais razões: 1 - Os ganhos reais do salário mínimo, utilizado como indexador dos salários no campo. Segundo o Caged 4, desde os salários médios dos funcionários admitidos no setor agropecuário registraram elevação nominal média de 11,2% ao ano e de 5,4% real 5, acompanhando a evolução do salário mínimo que no período evoluiu em média 11,7% em termos nominais. Em 2013, o reajuste nominal do salário mínimo foi de 9%, após elevação de 14% no ano passado. Os salários dos funcionários admitidos na agropecuária subiram 11,8% nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, quando já haviam subido 13,9%. 2 - A carência de mão-de-obra qualificada. A tecnificação da agricultura, com a utilização de máquinas mais modernas, mais rápidas e com mais tecnologia embarcada como computadores de bordo, GPS e agricultura de precisão, exige a capacitação da mão-de-obra para o manuseio correto dos equipamentos, no sentido de evitar acidentes e a desregulagem do maquinário, que 4 Caged Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. 5 Descontado o IPCA-IBGE 6 Mapitoba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. provoca queima de motores e perda de eficiência. Assim, os fabricantes de máquinas agrícolas estão investindo em capacitação dos clientes visando obter o melhor rendimento das máquinas. Com isso a necessidade de trabalhadores mais qualificados vem gerando, além do aumento dos salários pagos aos novos admitidos, a elevação dos gastos com treinamento para operação dos equipamentos. Adicionalmente o ensino técnico tem avançado bastante no segmento agrícola. 3 A mão-de-obra do campo está sendo disputada com outros segmentos da economia e com o desenvolvimento regional. Muitos trabalhadores safristas que migravam originariamente das regiões Norte e Nordeste do País para as regiões agrícolas nos períodos de colheita não migram mais com a mesma intensidade. A necessidade de migração foi reduzida pelo desenvolvimento regional, apoiado (i) na melhora de renda real da população (ii) na geração de empregos formais pela construção civil local e pelos investimentos industriais e (iii) na expansão da agricultura e pecuária na região do Mapitoba 6, com destaque para as lavouras de grãos, café, algodão e eucalipto. Comparativamente aos demais segmentos da economia que também estão enfrentando elevação de gastos com mão-de-obra, a agropecuária foi o segmento que registrou maiores reajustes. Entre e o aumento nominal dos salários na agropecuária foi de 11,3% em média ao ano, enquanto que na construção civil, segmento que vem constantemente reportando notícia de elevados reajustes salariais, os aumentos nominais foram de 10,1% em média. Na indústria de transformação os aumentos foram de 9,7% ao ano no período. 2

3 As lavouras de grãos e de cana-de-açúcar, principalmente da região Centro-Oeste 7 do País, têm nível mais elevado de mecanização, devendo sofrer menor impacto da alta dos custos de mão-de-obra, comparativamente à cultura de café das regiões Caged montanhosas Elaboração: Bradesco do Sul de Minas Gerais, na qual o nível de mecanização é Variação Média Anual dos Salários Nominais dos Admitidos - - Fonte: mais baixo e portanto, mais suscetível aos impactos da elevação dos salários. Mas, em compensação, devemos considerar que a logística de distribuição e exportação do café, concentrado no Sudeste é menos onerosa em comparação com a logística de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste. Agropecuária Construção Civil 10,1% 11,2% Variação média anual dos salários nominais dos admitidos - Indústria de Transformação 9,7% Comércio 9,3% Serviços Elaboração: Bradesco 8,5% Salário Médio dos Admitidos por segmentos Média Móvel 12 meses ,0% 7,0% 8,0% 10,0% Salário médio dos admitidos por segmentos variação da média móvel 12 meses ,0% 13,0% 12,4% 13,9% 13,1% 7,0% 5,0% 7,8% Elaboração 3,0% Brasdesco em R$ 4,7% Salário Médio dos Admitidos na Agropecuária Ind Transformação Construção Civil Comércio Serviços Agropecuária jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 set/10 out/10 nov/10 dez/10 jan/11 fev/11 mar/11 abr/11 mai/11 jun/11 jul/11 ago/11 set/11 out/11 nov/11 dez/11 jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 9,8% 9,2% 8,6% 920,0 720,0 520,0 320,0 120,0 256, , ,9 337,0 373,7 418,4 466,0 522,4 572,0 Salário médio dos empregados admitidos na agropecuária - em R$ Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), no Mato Grosso do Sul o nível de mecanização é de 95%, no Mato Grosso é de 90% e em Goiás, Minas Gerais e São Paulo é de 87%. Na média a mecanização da cana está em 85% da colheita e 53% do plantio no Centro-Sul do País. A mecanização do café chega em média a 30% nos cafezais de São Paulo e Minas Gerais. 637,7 698,0 795,1 876,1 jan-abr/13 3

4 Variação Nominal do Salário Médio dos Admitidos na Agropecuária Elaboração Brasdesco Variação nominal do salário médio dos empregados admitidos na agropecuária ,0% 10,5% 10,9% 11,4% 12,1% 11,5% 13,9% 11,8% 9,5% 9,5% 7,2% 6,0% 2002 jan-abr/13 Por fim, mas não menos importante, a tecnificação como maior uso de fertilizantes, defensivos, sementes modificadas, mecanização com maquinário de maior tecnologia embarcada, naturalmente embute custos mais elevados. No tocante à tecnologia desenvolvida no campo, a Embrapa 8, referência mundial no desenvolvimento de pesquisas, tem papel fundamental na inovação em biotecnologia como desenvolvimento de plantas mais adaptadas à seca, tolerantes ao excesso de humidade, resistentes a viroses e pragas, contribuindo para a melhora da produtividade. É importante considerar que a tecnificação e a qualificação da mão-de-obra embora representem custos mais pressionados, por outro lado, trazem o benefício dos ganhos de eficiência e de produtividade. O câmbio mais depreciado embora represente gastos mais altos com insumos agrícolas, em contrapartida favorece a rentabilidade das culturas exportadoras. Diferentemente desses fatores que estão elevando as em kg por ha despesas, mas Fonte tem e projeção: o contraponto Conab Elaboração: positivo, Bradesco a logística continuará encarecendo o escoamento da safra sem uma contrapartida positiva ao campo. EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE GRÃOS Diante do exposto, não vemos alívio para as planilhas de custos das lavouras. O desafio será a busca por ganhos de eficiência e de elevação dos níveis de produtividade, maximizando receitas por área plantada. Para isso será necessária intensificação do uso de tecnologia, com maior mecanização, utilização de equipamentos de precisão e geotecnologia com estudo do solo para distribuição mais eficiente de insumos como fertilizantes e defensivos e a continuidade de desenvolvimento de pesquisas em melhoramento genético. Diante do exposto, esperamos continuidade da ampliação dos ganhos de produtividade média das lavouras de grãos e de cana-de-açúcar em média de 3,5% ao ano nos próximos dez anos. De fato, desde o início dos anos 1990 a produtividade das lavouras de grãos cresceu em média 4% ao ano, impulsionada pela intensificação da tecnologia nas lavouras. A difusão de tecnologia no Brasil pode ser medida pela ampliação das vendas de tratores, que saltou de uma média histórica até de 0,6 para 1,3 máquinas por hectare em. Nos últimos cinco anos, a quantidade média de fertilizante consumido por hectare subiu 12%, comparativamente à média dos cinco anos anteriores ,5% a.a ,3% a.a. 3,3% a.a ,6% a.a ,3% a.a ,3% a.a Evolução da produtividade de grãos - em kg por ha Fonte e projeção*: Conab 8 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Leandro de Oliveira Almeida/ Felipe Wajskop França/ Andrea Marcos Angelo Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico / Ellen Regina Steter / Priscila Pereira Deliberalli Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Ana Beatriz Ract Pousada / Andre Kengi Alves Hirata / Henrique Araújo da Silva / Klaus Heinz Troetschel / Alex Panoni Furtado / Laura Marsiaj Ribeiro / Guilherme Dalla Villa O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5