Maio de Queda dos preços do milho e ampliação das exportações devem permitir melhora das margens na cadeia de aves e suínos

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1 Maio de 2016 Queda dos preços do milho e ampliação das exportações devem permitir melhora das margens na cadeia de aves e suínos Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos O segmento de aves e de suínos registrou melhora de margens nos últimos três anos, como resultado dos baixos preços domésticos do milho, principal insumo usado como ração. No entanto, desde meados do ano passado, as cotações domésticas do cereal tinham subido quase 80%, em resposta ao quadro ajustado de oferta interna. O resultado foi uma piora acentuada de margens para as granjas e para os frigoríficos, que, porém foi menos intensa para a carne avícola, graças ao incremento de consumo doméstico, desviado da carne bovina. Tendências positivas começam a entrar no radar, diante da queda dos preços do milho a partir da entrada da 2ª safra (favorecendo a recomposição das margens na cadeia) e do avanço das exportações, em resposta ao câmbio 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 11,95 10,0 5,0 jan/00 jan/01 7,05 jan/02 22,28 11,40 jan/03 jan/04 18,96 jan/05 16,26 10,44 24,94 14,14 Os preços das carnes no atacado dão indícios desse movimento, já que não temos uma medida consistente do consumo. De fato, desde meados do ano passado, os preços no atacado da carne de frango subiram pouco mais de 10%, ao passo que os preços da carne bovina de 2ª subiram em jan/06 jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 13,07 jan/11 depreciado e à abertura de mercados. Um alerta que deve trazer preocupações nos meses à frente é a possibilidade de frustação das expectativas de recorde da 2ª safra de milho, em decorrência da estiagem ocorrida entre março e abril. Os preços internos do milho assumiram tendência de alta desde julho do ano passado, subindo 80% até março deste ano, como resultado de um balanço entre oferta e demanda mais ajustado. Pelo lado da oferta interna, houve redução da produção oriunda da 1ª safra, que cedeu espaço para a soja. A demanda, por sua vez, cresceu, já que o enfraquecimento do mercado de trabalho e da renda levou o consumidor a desviar parte do consumo da carne bovina para a carne de frango. jan/12 26,92 jan/13 17,26 jan/14 23,29 jan/15 19,17 jan/16 34,26 24,34 dez/16 Preço pago ao produtor de milho em R$ por saca de 60 kg - Paraná Fonte: DERAL Elaboração e (*) projeção: BRADESCO média 5,5%, apesar da alta de preços do boi. Isso permitiu que os valores recebidos pelos produtores de aves subissem 16% em No entanto, essa alta ficou ainda abaixo da forte escalada de preços do milho, o que levou à piora das margens. Em sentido contrário, os preços do suíno assumiram 1

2 tendência de queda e acumularam recuo de 15% desde outubro do ano passado, levando as margens ao campo negativo. Isso se deve ao fato de que o consumo de carne suína no Brasil ocorre, de modo geral, por meio de produtos embutidos. E, com a renda mais comprometida, o consumidor tende a reduzir o consumo desses itens. No IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), podemos notar esse mesmo movimento. Ou seja, os preços da carne avícola subiram mais ante as demais proteínas. Após alta de 13,4% em 2015, subiram 1,7% neste ano até março. Já os preços da carne suína registraram alta de apenas 2,5% em 2015 e recuo de 2,9% no ano até março. Os preços da carne bovina, por sua vez, subiram no mesmo ritmo da avícola, com alta de 13,5% em 2015 e de 1,4% neste ano até março. 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 22,4% Custo Operacional Preço ao Produtor Margem Operacional 1,91 1,94 1,74 1,76 2,05 2,20 7,6% 2,13 2,24 2,22 2,35 2,58 2,57 25% 20% 15% 10% Margem operacional aves em % - Santa Catarina Custos e preços ao produtor em R$ sc 60 kg (eixo esquerdo) 1,6 1,4 1,2 1,0 1,57 5,1% 1,28 1,2% -0,5% % 0% -5% Fonte: CONAB Margem operacional suíno em % - Santa Catarina Custos e preços ao produtor em R$ sc 60 kg (eixo esquerdo) 4,0 3,6 3,2 2,8 5,4% Custo Operacional Preço ao Produtor Margem Operacional 2,82 2,88 2,92 3,00 12,6% 3,37 3,24 3,28 3,80 3,11 15% 10% 5% 0% -5% Fonte: CONAB 2,4 2,0-10% 2,41 2,38 2,23 2,24-15% 2,12-15,8% -18,2% -20% A carne avícola vem sendo beneficiada não só pelo incremento de consumo doméstico como também de volumes embarcados, que respondem por 30% da produção, como resposta ao câmbio mais depreciado e à abertura de alguns mercados 1. As exportações de carne avícola registraram incremento de 3% em volume no ano passado e expandiram 11,5% no primeiro bimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado. As expansões mais relevantes ocorreram para a África do Sul (45,3%), China (34,9%), Arábia Saudita (22,1%) e Emirados Árabes (18,6%). Na mesma direção, os embarques de carne suína, responsáveis por 20% do volume produzido no País, também expandiram 8,9% em 2015 e 81,5% no primeiro bimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado. As principais expansões ocorreram para Rússia, Argentina e Venezuela, com expansões respectivas de 30,6%, 37,1% e 142,7%. Esses dois últimos retornaram aos volumes médios de 2013, após a forte queda registrada em Destaque também para os embarques para a China, que saltaram de 840 toneladas em 2014 para 5,2 mil toneladas no ano passado e para 10,9 mil toneladas no primeiro trimestre deste ano. As habilitações de plantas frigoríficas brasileiras para vender carnes ao país asiático têm se intensificado desde maio de 2015, quando a China derrubou oficialmente o embargo à carne bovina do Brasil. Nesse cenário, o USDA estima ampliação dos embarques totais de carnes do Brasil. As estimativas são de ampliação de 6,5% dos volumes embarcados pelo Brasil neste ano de carne avícola e de 6,9% de carne suína. 1 Em 2015 foram abertos diversos mercados para as carnes avícola e suína brasileiras: China, Paquistão, Malásia, Mianmar, África do Sul. 2

3 SUÍNO FRANGO fev/07 abr/07 jun/07 ago/07 out/07 fev/08 abr/08 ago/08 out/08 fev/09 abr/09 ago/09 out/09 fev/10 abr/10 ago/10 out/10 fev/11 abr/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 ago/12 out/12 fev/13 abr/13 ago/13 out/13 fev/14 abr/14 ago/14 out/14 fev/15 abr/15 ago/15 out/15 fev/ Exportações de carne suína e avícola - acumulado em 12 meses, em mil toneladas Fonte: Secex Elaboração: Bradesco Mesmo com a ampliação do consumo doméstico e a demanda externa crescendo em torno de 3%, o segmento de carne avícola limitou a expansão da produção. Em 2015, os abates subiram 3,5%, o que permitiu a alta de preços recebidos pelos produtores. Já no segmento de carne suína, a demanda doméstica se mantém retraída e as exportações, embora em expansão, não são suficientes para compensar o recuo do volume interno. Some-se a isso, o fato de que, em 2015, a oferta, medida pelos abates, foi elevada em 6,2%, levando ao recuo de preços recebidos pelos produtores de suínos e à piora acentuada de margens Abate de suínos (em mil cabeças) - acumulado de 12 meses mar/02 jun/02 set/02 dez/02 mar/03 jun/03 set/03 dez/03 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 mar/08 set/08 mar/09 set/09 mar/10 set/10 mar/11 set/11 mar/12 set/12 mar/13 set/13 mar/14 set/14 mar/15 set/15 Fonte: IBGE Abate de aves (em milhões de cabeças) - acumulado de 12 meses Fonte: IBGE De forma resumida, as margens dos segmentos de carnes avícola e suína seguem comprimidas, como resultado da forte elevação dos preços do milho. As exportações seguem em expansão, impulsionadas pelo câmbio depreciado e pela fev/08 abr/08 ago/08 out/08 fev/09 abr/09 ago/09 out/09 fev/10 abr/10 ago/10 out/10 fev/11 abr/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 ago/12 out/12 fev/13 abr/13 ago/13 out/13 fev/14 abr/14 ago/14 out/14 fev/15 abr/15 ago/15 out/15 abertura de mercados. Já o consumo doméstico segue se ajustando, ao reduzir a parcela de carnes mais caras e produtos embutidos, em resposta ao orçamento ajustado das famílias, beneficiando a carne avícola. 3

4 Por fim, o cenário adiante é de melhora gradual da rentabilidade na avicultura e na suinocultura, com (i) custos de ração a base de milho tendendo a cair a partir do segundo semestre, com a entrada da 2ª safra e (ii) preços de aves e suínos sustentados pela demanda dos frigoríficos para exportação e preços do boi ainda em elevação nos meses à frente, favorecendo a alta das demais proteínas animais. Um ponto de alerta é que há notícias que a estiagem ocorrida entre março e abril deste ano poderá afetar a produtividade da 2ª safra de milho, frustrando as expectativas de safra recorde. Se isso se confirmar, os preços do cereal não cederão, continuando a pressão sobre as margens das granjas e dos frigoríficos. Perfil do setor Carne avícola Oferta EUA, China e Brasil respondem por 50% da produção total; Brasil e EUA respondem por 65% das exportações mundiais; O Brasil exporta 30% da sua produção e os EUA 20%; Demanda China, EUA, União Europeia e Brasil são os maiores consumidores mundiais, com 55% do mercado; Os maiores importadores são: Japão, Arábia Saudita e União Europeia, que juntos respondem por 1/3 das importações mundiais; O Japão importa 40% do seu consumo interno e a Rússia 15%; Mercado Externo Os principais países de destino das exportações brasileiras de carne avícola são: Arábia Saudita 19%, União Europeia 10%, Japão 10%, China 7%, Emirados Árabes Unidos 7%. Carne suína Oferta China e União Europeia respondem por 70% da produção total; EUA, União Europeia e Canadá respondem por 80% das exportações mundiais; A UE exporta 10% da sua produção e os EUA 20%; O Canadá não é um grande produtor mundial (2%), porém exporta 60% da sua produção interna e, portanto configura como o 3º maior exportador; Brasil é o 4º exportador mundial e exporta 20% da sua produção. Demanda China e União Europeia são os maiores consumidores mundiais, com 70% do mercado; Os maiores importadores são Japão e China, que juntos respondem por 35% das importações mundiais; O Japão importa 50% do seu consumo interno e a Rússia 12%. A China importa 2% do seu consumo doméstico. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne suína são: 45% Rússia e 23% Hong Kong. 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires / Ellen Regina Steter Economia Doméstica: Igor Velecico / Estevão Augusto Oller Scripilliti/ Andréa Bastos Damico / Myriã Tatiany Neves Bast / Daniela Cunha de Lima / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo Pesquisa Proprietária: Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega / Carlos Henrique Gomes de Brito O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5