LAAD 2009 Mudança de Rumo

Transcrição

1 LAAD 2009 Mudança de Rumo Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF, Membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS), Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas Paulino Soares de Souza da UFJF. A versão 2009 da LAAD Latin América Aero & Defence no que se refere à parte relacionada ao setor aeronáutico, talvez tenha sido a que apresentou mais novidades. Em comparação à anterior edição da feira, em 2007, notou-se um apoio governamental mais significativo, com a presença no evento do Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, do Ministro da Defesa e Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Tudo isso em um ambiente cercado pela recente aprovação da Estratégia Nacional de Defesa, em dezembro de 2008, a criação do Conselho de Defesa Sul- Americano e a assinatura da Parceria Estratégica com o governo francês. No dia 14 de abril, foram assinados dois contratos entre a Embraer e o Governo Brasileiro em um evento que contou com a presença do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, do Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, e do Diretor-Presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado. Vista geral da feira. (Foto: autor)

2 O primeiro foi o do desenvolvimento do cargueiro militar Embraer KC-390. Os estudos do projeto do KC-390, fora anunciado na LAAD 2007, mas o lançamento oficial do avião foi feito agora, com a assinatura do contrato. O KC-390 terá capacidade de transportar até 19 toneladas de carga, a uma velocidade de mach 0,8 a 36 mil pés de altitude. O alcance do KC-390 será de 1450 milhas náuticas com 19 toneladas de carga e 2750 milhas náuticas com 11 toneladas, podendo voar de Manaus a Nova York com essa carga. Todos os KC-390 poderão receber e transferir combustível em vôo para outras aeronaves. O KC-390 será o maior avião a ser produzido no Brasil, com 33,5 metros de comprimento. O desenvolvimento do KC-390 exigirá investimentos de 1,3 bilhões de dólares e os primeiros aviões devem voar por volta de Assinatura do contrato entre a FAB e a Embraer para o desenvolvimento do KC-390. (Fotos: autor) Outro importante contrato assinado no evento foi o da modernização de doze A- 4 Skyhawk da Marinha, dos quais nove são monoposto e três bibospo. Após a modernização esses caças terão um painel digital semelhante ao dos F- 5M da FAB, radar multímodo Grifo que lhe darão a capacidade de lançar mísseis BVR Derby e bombas guiadas. O custo do contrato é de 140 milhões de dólares. O Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, também informou que a Marinha está analisando juntamente com a Embraer a aquisição de aeronaves Grumman Traker que serão remotorizadas com motores turbo-hélice e equipados para missões de alerta aéreo antecipado, Revo e transporte, o que daria ao porta aviões São Paulo meios operacionais mais adequados. Assinatura do contrato entre a Marinha e a Embraer para a modernização dos A-4 Skyhawk e apresentação da maquete do KC-390. (Fotos: autor)

3 A disputa entre a Dassault, Boeing e Saab pelo contrato de compra dos novos caças, para a Força Aérea Brasileira, também foi um ponto alto da feira. Deve-se ressaltar que qualquer um dos três aviões pré-selecionados representará um grande salto evolutivo/tecnológico na capacidade operacional da FAB. Todos têm vantagens e desvantagens, mas deve-se levar em conta a nossa realidade atual na área de defesa. Um dos finalistas, o Saab Gripen NG, é um projeto moderno, porém ainda não em produção seriada, existindo apenas um demonstrador de tecnologia, com um Radar AESA a ser desenvolvido futuramente, tem as mesma dimensões do Gripen atual, com um alcance superior, devido à modificações estruturais, que permitiram o aumento de 40% na carga interna de combustível. O raio de combate do Gripen NG com 4 mísseis BVR e 2 mísseis de curto alcance, com trinta minutos em patrulha, é de 1300 Km. A motorização 25% mais potente, promete um desempenho supercruiser (capacidade de voar a velocidades supersônicas sem acionar a pós combustão) com um motor General Eletric F414G, derivado do GE que equipa os F/A-18E/F. Dos pré selecionados é o único monomotor, o que pressupõe um custo de manutenção inferior. O Gripen pode levar um total de 12 mísseis ar-ar entre o Metoer, Amramm, AIM-9X, porém com carga máxima seu alcance é menor. Uma desvantagem é que, até o momento, não se tem garantida uma produção em grande escala, apesar o avião estar sendo considerado por diversas forças aéreas. Outra desvantagem é que a compra não poderia vir acompanhada de um acordo de cooperação estratégica na área de defesa, tão amplo como os que potencialmente podem ser conseguidos com os do outros dois concorrentes. Maquete do Gripen no stand da Saab. (Foto: autor) O outro concorrente, o Dassault Raffale é também um projeto moderno, com a vantagem de possuir uma versão naval, que pode atender aos anseios da Marinha Brasileira, podendo vir a operar no porta aviões São Paulo, ainda que com limitações. Também possui um radar AESA na versão F-3, sistema de guerra eletrônica Spectra, totalmente interno, que deixa todos os pilones externos disponíveis para armamentos, ou tanques de combustível. A autodefesa do Raffale dispõe de chaffs e

4 flares e realiza interferência eletrônica em radares e laser. O Raffale já foi testado em combate no Afeganistão e conta com o compromisso do governo francês para a aquisição de 300 aeronaves, sendo que 120 já estão com pedido confirmado. Segundo a Raffale Internacional, a transferência de tecnologia e de códigos-fonte proporcionaria à FAB total autonomia para enfrentar necessidades futuras. A desvantagem do Raffale é também a falta de garantia de uma produção em grande escala e o alto preço de aquisição e operação. Maquete do Rafale. (Foto: autor) O terceiro concorrente, o Boeing FA-18E/F Block II é uma aeronave moderna, equipado com o radar APG-79 Active Electronically Scanned Array-AESA com capacidade de múltiplas missões simultâneas. O FA-18E pode transportar 12 AIM-120C mais dois AIM-9X. No futuro, poderá vir a ser equipado com os AIM-120D (anteriormente designado AIM-120C-8). O FA-18E/F Block II tem datalink e sistema digital integrado de contramedidas eletrônicas, baixa assinatura de radar (quase toda a superfície do FA-18E é de Carbono-Epoxi). O FA-18E/F Block II também incorpora tecnologias comuns à nova geração de caças norte-americanos: F-22 e F-35. O preço de tabela do FA-18E é de US$82 milhões. Dentro do quadro atual em se encontra a Força Aérea Brasileira, e dentro da necessidade premente dos aviões, dos três finalistas, o único que se encontra operacional já com um radar AESA, produzido em larga escala, com uma média de quarenta unidades ao ano, desde 2002, é o F/A-18E/F. Simulador do F/A-18F exposto na LAAD (Fotos: autor)

5 A Helibras, em um stand de 500m2 exibiu um Cougar AS-532AL e um Panther AS-365 K do Exército Brasileiro e prestou homenagem aos esquadrões do Exército e da Marinha pela participação no auxílio às vítimas das enchentes em Santa Catarina e na Bolívia. Já o 4 Batalhão de Aviação do Exército foi homenageado pela participação no resgate aos reféns das Farc na Colômbia em fevereiro último. A Helibrás anunciou também que vai trazer para o Brasil um simulador de vôo do helicóptero Cougar EC-725, que será baseado no Rio de Janeiro. Stand Helibras e Cougar AS-532AL. (Fotos: autor) A Mectrom e a Britanite apresentaram seus kits de guiamento para bombas que podem utilizar sistema de navegação inercial, GPS o novo Glonass da Rússia. Esses kits foram desenvolvidos em parceria com o Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA). A Mectrom apresentou também vários modelos de mísseis como os MAA-1, MAA-1B e o MAR 1 anti-radar bem como o míssil anti-tanque MSS-1.2 e o radar Spio que equipará os aviões AMX da FAB após a modernização. Stand Mectrom e bombas guiada em uma produção com a Britanite. (Fotos: autor) A Avibrás trouxe sua nova aeronave UAV para a feira, que foi exibida no stand da mesma. A Digex exibiu em seu stand os serviços de manutenção de aeronaves civis e militares, entre elas os Hércules da Força Aérea Brasileira. A israelense IAI apresentou o projeto de conversão de aeronaves Boeing 767 para cargueiros/tanque.

6 Aeronave UAV da Avibras e maquete do Boeing 767 tanque da IAI. (Fotos: autor) A IMI (Israeli Military Industries) exibiu o míssil Delilah que é um mini Cruise, com alcance de mais de duzentos quilômetros podendo ser lançado de terra, aviões helicópteros e navios. A Elbit deu destaque a seus programas de modernização de aeronaves militares brasileiras através de sua subsidiária Aeroeletrônica. A Selex Galileo apresentou seus novos radares Aesa Vixen 850E e Vixen 500E destinado a aeronaves de pequeno porte. A Selex Galileo desenvolve por meio de um programa de colaboração com a Saab, os radares AESA que equiparão os Gripen NG. Modelo do radar AESA Vixen 850E da Selex Galileo. (Foto: autor)

7 O Stand da Índia mostrou os novos caças supersônicos de concepção nacional HAL LCA-Tejas e os novos treinadores IJT Intermediate Jet Treiner e os helicópteros médios DRUV cujo primeiro cliente na América do Sul é o Equador. A Lockheed Martim deu destaque ao C-130J, o F-35 e ao F-16. Stand da Lockheed Martin mostrando maquete do F-35 e painel do C-130 J. (Foto: autor) A Raytheon apresentou seus mísseis AIM-9X Sidewinder, última versão desta família de exitosos mísseis e o AIM-120C-7 Amraam. Esses dois mísseis poderão fazer parte dos arsenais da FAB no caso de os Boeing FA-18E/F serem os vencedores do programa FX-2. A Raytheon também apresentou seus radares AESA NA/APG-79 que também equipa o Boeing FA-18E/F e o RACR (Raytheon Advanced Combat Radar), destinados ao upgrade de aeronaves F-16 mais antigas a um custo razoável, pois não exige mudanças estruturais nas aeronaves que serão modernizadas. A participação Russa foi bastante modesta no que se refere a aeronaves, e em uma entrevista coletiva foi novamente feito o oferecimento dos SU-35 à FAB, apesar de já ter sida excluída do processo de seleção. Os russos também se dizem abertos para uma possível participação do Brasil no seu programa de caça de 5ª geração chamado PAC/FA. Sem dúvida a edição 2009 da LAAD foi a mais exitosa e mostrou uma aparente mudança na visão de defesa por parte dos políticos. Esperemos que essa mudança seja real e que se mantenham com seriedade todos os programas apresentados.