Opinião ABC Brasil /06/2016
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- Maria Vitória Ribeiro Wagner
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1 24/06/2016 Como ressaltado no Opinião da semana passada, o resultado do plebiscito sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia (UE), teria componentes além da simples discussão econômica. Olhando de fora, não parecia fazer muito sentido dar esse passo, mas para os britânicos pareceu fazer, de modo que, temos agora diante de nós mais uma incerteza sobre a economia global... Qual será o impacto do Brexit para as economias ao redor do mundo? Como os BCs vão reagir? Quais as consequências para o Brasil? Portanto, vamos usar o Opinião de hoje para tentar responder a essas perguntas e discutir o que levou o Reino Unido a sair da UE. A decisão do Reino Unido de sair do UE é um passo na direção contrária à integração dos países e no sentido do isolacionismo. Podemos discutir se isso também é um golpe na globalização, uma vez que, não necessariamente, fazer parte de um bloco econômico vai reduzir a sua integração com o mundo. Entretanto, não deixa de ser irônico que o país que foi responsável pelo maior bloco econômico que já vimos, o Commonwealth Britânico, decidir seguir o seu caminho isolado do maior bloco econômico atual, a UE. O Reino Unido sempre foi visto como um símbolo da mercado livre e da globalização, com a grande marca do seu Império sendo a frase O sol nunca se põe no Império Britânico. Até pela sua posição geográfica, o comércio internacional sempre foi o caminho natural para o crescimento da economia britânica sendo o acesso aos mercados internacionais mister para o seu desempenho. O mundo mudou e, hoje em dia, esse acesso se faz mais pelos serviços do que pelos bens, mas a questão da integração do Reino Unido aos mercados ainda é o assunto principal nas discussões econômicas por lá. Por isso é por aqui que temos que começar a discussão. Boa parte da surpresa com o resultado do plebiscito decorre, exatamente, da análise de que boa parte dos problemas do Reino Unido em sair da UE virá da restrição do seu acesso aos mercados ao redor do mundo. Para se ter uma ideia do peso disso, basta notar que 80% dos tratados comerciais dos britânicos são com países da UE, ou foram firmados através desse
2 grupo e que 44% das suas exportações vão para países da UE. Portanto, a primeira avaliação do custo que o país terá em sair desse bloco econômico tem que levar em consideração que uma quantidade absurda de tratados terá que ser renegociada. Uma forma de dimensionar o trabalho que isso dará, é notar que, os tais 80%, representam mais acordos que os EUA e o Canadá tem em conjunto. Mas será que, pelo seu peso político e/ou econômico essa tarefa não será facilitada? Pode ser, mas um detalhe poderá complicar um pouco essa visão otimista: A saída de um membro da UE, feita sem dor, pode incentivar movimentos eurocéticos em outros países a ganhar força, colocando em risco a própria sobrevivência do bloco. Por isso, não devemos nos esquecer do aviso feito por Barack Obama ao defender a permanência do Reino Unido, de que o país iria para o final da fila nas negociações de novos tratados comerciais com os EUA. Recado dado, mas parece que não assimilado. Portanto, acreditamos que o fato de que a Libra vai se desvalorizar e, com isso tornar os produtos britânicos mais competitivos, não vai ser suficiente para reverter as perdas que os britânicos terão em termos de acesso aos mercados em situação vantajosa. Obviamente que no longo prazo isso poderá ser revertido pela reconquista dos tais mercados, mas, como diria o economista britânico, Lorde Maynard Keynes, No longo prazo estaremos todos mortos. No geral, um estudo do Tesouro britânico, citado no Opinião da semana passada, estima uma queda do PIB britânico entre 3,6 p.p. e 6,0 p.p. nos próximos 2 anos e, nesse cálculo não entra apenas os efeitos diretos de uma provável perda de acesso a parte do comércio internacional. Outras questões também são bastante relevantes, todas elas afetando a economia britânica via incerteza. A primeira dela diz respeito ao processo de saída. As estimativas consideram que o processo todo pode durar entre 2 a 7 anos, período no qual outras questões vão emergir. Um exemplo seria a questão do mercado de trabalho. Existem aproximadamente 1,2 milhões de britânicos vivendo em países da UE e 3 milhões de pessoas nascidas em países do bloco vivendo no Reino Unido... Como ficarão os direitos e deveres 2
3 desse contingente de pessoas nessa nova realidade? Um exemplo bastante singelo dessa situação poderá ser vista na Premier League, a 1ª divisão do futebol inglês. Atualmente existem 31 jogadores espanhóis em times ingleses, sendo que se estes perderem a condição de comunitários, apenas 6 deles poderiam jogar com a saída do Reino Unido da UE. Como será a regra agora? Com certeza essa é um a questão menor, mas será que não haverá uma paralisação na negociação dos times ingleses para a próxima temporada? Portanto, assim como no caso dos times ingleses, vários negócios ficarão em suspenso até que as novas regras sejam definidas. Outro fator que deverá aumentar as incertezas nesse momento de transição será a questão da Escócia. Em setembro de 2014 os escoceses decidiram permanecer no Reino Unido em uma campanha bastante disputada, que acabou em 55% a 45% pela união. Naquela ocasião, um dos temas mais sensíveis daquele plebiscito, foi exatamente que a saída da Grã-Bretanha implicaria na saída da UE, coisa que os escoceses não queriam. Tanto não queriam, que a o maior apoio pelo Bremain veio da Escócia com 62% dos votos. Ou seja, juntando as duas informações, podemos esperar que não vai demorar muito para que a terra de Alba volte a colocar em dúvida permanência ou não no Reino Unido. Parece muito complexo quantificar qual será o real impacto do Brexit sobre a economia do Reino Unido, mas, certamente, pelo menos, no curto prazo, parece difícil este seja positivo. Só pela paralisação das decisões econômicas, reflexo das incertezas, já teríamos subsídios suficientes para apostar em um impacto negativo. E para o resto do mundo em geral e o Brasil em particular? Sem dúvida, o maior impacto do Brexit, fora do Reino Unido, se dará na Europa. Entretanto, mesmo aqui o perigo estará mais no campo político do que econômico. A UE em geral e o Euro em particular, são mais uma aposta política para unificar um continente que passou os últimos séculos em guerra, do que uma forma revolucionar a forma de gerir um 3
4 bloco econômico. Dessa forma, pensando no sentido estritamente econômico, a UE é mais importante para o Reino Unido do que o inverso. Em que pese este representar 17,5% do PIB da UE, as exportações do Bloco para ele representa apenas 8,0% do total, contra 44,0% no sentido inverso, como supracitado. Portanto, economicamente falando, o Brexit não seria uma boa notícia para a UE, mas também não haveria motivos para pânico. Entretanto, não podemos falar apenas da parte econômica. O principal motivador do plebiscito no Reino Unido, que foi a questão migratória, é um tema sensível em quase todos os países do Bloco e este não tem conseguido endereçar o assunto de forma convincente. Ou seja, a porta aberta pelos britânicos pode ser explorada por parcelas insatisfeitas de vários países da UE, colocando em risco a própria existência do Bloco. Dessa forma, após a Libra, consideramos que o Euro deverá ser a moeda mais atingida pelo Brexit. Além disso, por uma questão de sobrevivência, acreditamos que as negociações entre a UE e o Reino Unido não será das mais fáceis... Quanto mais parecer que os britânicos se deram bem ao sair do Bloco, mais incentivo haverá para que outros países sigam o mesmo caminho. Para o Brasil, podemos dividir o impacto em dois momentos: No curto prazo podemos ter alguns problemas por conta da aversão ao risco que pode durar algum tempo; No médio prazo o impacto poderá ser positivo para os ativos brasileiros, se bem que o impacto para as empresas poderá ser mais dúbio. Quanto a questão da aversão ao risco, parece não haver muito a ser explicado: Nesse tipo de movimento, os investidores fogem de ativos mais arriscados e como o Brasil pode ser incluído nesse nível de risco, podemos ver uma depreciação do Real e uma queda na Bolsa. Entretanto, no caso da parte boa do movimento, devemos ser um pouco mais cuidadosos. As incertezas que estarão afligindo o Reino Unido nos próximos meses, terão impactos sobre a economia global, uma vez que estas tendem a postergar as decisões de investimento e consumo. O resultado disso é que, nos países em que temos uma política monetária acomodatícia, essa deverá ser ainda mais acomodatícia e naqueles, como os EUA, onde 4
5 estamos com alguma tendência de aperto, os próximos movimentos poderão ser postergados ou, até mesmo, revertidos. De qualquer forma, a tendência para os próximos meses é de uma maior liquidez na economia mundial. Para nós, mesmo que pelos motivos ruins, deverá haver uma entrada maior de recursos, principalmente para o mercado de renda fixa. Para o Real, a consequência dessa entrada de recursos, deverá ser a manutenção da tendência de apreciação da moeda brasileira, com a redução do estoque de swap suavizando o processo. Com isso, com a manutenção do fluxo de boas notícias vindo das questões político/fiscal, podemos manter o círculo virtuoso atual que passa, necessariamente, pela queda da Selic no 2º semestre do ano. Se esse cenário benigno realmente se verificar, as perspectivas para economia brasileira em 2017 ficam cada vez mais auspiciosas, mesmo com perspectiva de um crescimento mundial menor. Para variar temos mais perguntas do que respostas, mas algumas conclusões podem ser tiradas: 1) Dificilmente as perspectivas serão boas, tanto para economia britânica quanto para a europeia, significando que tanto a Libra quanto o Euro deverão passar por algum movimento adicional de correção; 2) A perspectiva de aumento na liquidez mundial deverá crescer com os BCs que estão com uma política monetária expansionista reforçando esse movimento e, os que estão no sentido oposto, postergando novos apertos ou mesmo revertendo a tendência. Sendo mais específico, os juros nos EUA devem demorar mais para subir se é que vão subir tão cedo; 3) Apesar de inicialmente prevalecer o movimento de aversão ao risco, até porque estaremos entrando em um momento de menor liquidez externa por conta das férias de verão no hemisfério norte, a partir de setembro, com a solução de alguns problemas internos e a volta à normalidade dos mercados internacionais em um cenário de maior liquidez, poderemos observar uma onda de apreciação dos ativos brasileiros, abrindo espaço para o início de um ciclo de queda dos juros e mantendo as expectativas de recuperação da economia brasileira em alta. 5
6 Para finalizar, devemos salientar que o Brexit não pode ser visto de forma nenhuma uma boa notícia por inserir mais uma fonte de incerteza em um cenário internacional já complexo, mas acreditamos que, caso esse evento não desencadeie nenhum processo de crise financeira, ele poderá gerar algumas oportunidades interessantes se bem mapeadas. No mais, citando Charles Kindleberger no livro Manias, Pânicos e Crises: Quando o resto do mundo está louco, devemos imita-lo de algum modo. Este material possui cunho meramente informativo, não constituindo qualquer tipo de oferta, convite, proposta ou aconselhamento por parte do Banco ABC Brasil S.A. ( Banco ) aos seus destinatários para quaisquer fins, inclusive, mas não limitado, à contratação ou não de operações financeiras, negócios ou investimentos, bem como quanto ao desenvolvimento por estes, ou não, de quaisquer estratégias correlatas. O envio deste material aos seus destinatários se dá de forma gratuita e por mera liberalidade do Banco, não se configurando como qualquer tipo de produto ou prestação de serviços por parte deste, ao qual fica reservado o direito de descontinuar o envio destas informações a qualquer tempo e sem qualquer tipo de aviso prévio a seus destinatários. As informações contidas neste material foram obtidas de fontes públicas e consideradas razoavelmente apuradas na data de sua divulgação. O Banco não confere aos destinatários deste material qualquer espécie de garantia, direito ou pretensão no que se refere às informações ora apresentadas, bem como quanto à sua exatidão, completude, isenção, confiabilidade ou atualização. Quaisquer decisões, contratações, investimentos, negócios ou estratégias, relacionadas ou não às informações ora apresentadas, deverão ser adotadas, efetuadas ou desenvolvidas pelos destinatários deste material exclusivamente de acordo com seus critérios de avaliação próprios e sob sua integral responsabilidade, com base nas informações por estes obtidas de forma independente e de acordo com a análise e opinião de seus consultores, analistas e administradores próprios. O Banco não será responsável, perante os destinatários deste material ou quaisquer terceiros, por qualquer forma de utilização das informações ora apresentadas, bem como por quaisquer perdas diretas, indiretas ou quaisquer tipos de prejuízos e/ou lucros cessantes que possam ser decorrentes do uso deste conteúdo. Este material e as informações dele constantes somente poderão ser reproduzidos, divulgados ou redistribuídos com a expressa anuência por escrito do Banco. Este material não se constitui, e não deve ser interpretado, para quaisquer fins, como relatório de análise nos termos do artigo 1º da Instrução CVM n.º 483, de 06 de Julho de
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