AUTARQUIA TRADICIONAL

Transcrição

1 Curso/Disciplina: Direito Administrativo / 2017 Aula: Autarquia / Aula 07 Professor: Luiz Jungstedt Monitora: Kelly Silva Aula 07 No final da aula passada falamos do gênero entidade autárquica. Foi feito um alerta de que ficou difícil o estudo da autarquia porque qualquer coisa é uma autarquia atualmente. E mais, existe a ideia de ter autarquia e de ter autarquia de regime especial. Mas, o que é uma autarquia de regime especial? Ninguém sabe dizer exatamente. Cada uma ter uma peculiaridade que caracteriza o regime especial. Por exemplo, clássica entidade autárquica de regime especial são as universidades federais (IFES instituição federal de ensino superior). O que tem de especial aqui? A escolha do reitor, que é eleito pela comunidade acadêmica. A lista é encaminhada ao Ministro da Educação que chancela a lista. Então, na verdade, o reitor não é escolhido pelo Chefe do Executivo, ao contrário do que acontece na maioria das autarquias. O Prof. acredita que, atualmente, as agências reguladoras devem ser o alvo. De acordo com o 2º, art. 8º da Lei nº (lei da Anatel): Art. 8º [...] 2º A natureza de autarquia especial conferida à Agência é caracterizada por independência administrativa, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira. Esse é um raríssimo texto normativo que diz o que é regime especial. Cabe destacar que o artigo só vale para a ANATEL, mas o que está disposto acima acaba sendo doutrina para todos. O 2º traz um rol de características que justifica ser chamada de regime especial. Legalmente só vale para a ANATEL porque está na lei da mesma, mas todas as agências reguladoras têm as características apresentadas pelo dispositivo acima transcrito. AUTARQUIA TRADICIONAL Página1 Em uma prova do MPRJ foi feita a seguinte pergunta: diferencie empresa pública de autarquia, apreciando, no mínimo... (e apresentou uma série de indagações). O Prof. vai aproveitar essa série de indagações para todas as entidades da administração indireta a serem estudadas.

2 Na questão do MP era solicitado, no mínimo, a diferenciação que está no quadro acima. Ou seja, se pediu no mínimo é porque queria mais do que o mínimo. Além das apresentas, ainda existem mais quatro questões, conforme abaixo esquematizado: Então, a forma de acesso, a natureza dos bens, compra ou contratação de serviços e responsabilidade civil são questões a mais. Personalidade jurídica de uma autarquia -> é uma pessoa jurídica de direito público. O DL nº 200/67 não diz que a autarquia é pessoa jurídica de direito público, mas isso não é problema, pois ninguém discorda que a autarquia é pessoa jurídica de direito público. De acordo com o DL nº 200: Página2 Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

3 A Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em seu inciso I do 2º do art. 77, é semelhante ao inciso acima transcrito. A única diferença é que na Constituição do Estado está expresso que a personalidade jurídica da autarquia é de direito público, conforme se vê: Art. 77 [...] 2º - Considera-se: I - autarquia - o serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada; O regime de pessoal da autarquia é o estatutário, em razão da exigência constitucional do regime jurídico único. De acordo com a lei nº 8.112/90: Art. 1º Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas federais. Qual a finalidade da autarquia, ou seja, para que a mesma foi criada? Para realizar atividade típica da administração pública. Assim, de acordo com o art. 5º da DL nº 200/67: Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. A autarquia é imagem e semelhança do ente da federação que a criou. Ora, se ela é igual ao ente da federação, para que é criada? O finalzinho do conceito acima transcrito explica isso. Então, uma autarquia é criada para que se possa fugir do rigor hierárquico que existe no órgão público. Às vezes, a hierarquia atrapalha o desenvolvimento de um órgão na cadeia hierárquica. Daí o surgimento da autarquia, que foge do rigor hierárquico, tendo somente a tutela administrativa, passando a ter maior liberdade de atuação, tendo em vista que passa a ter gestão administrativa e financeira descentralizada. Quais são as atividades típicas? Essa é uma pergunta difícil porque não é um rol fechado. Diogo de Figueiredo Moreira Neto elenca cinco atividades típicas: Página3 1) Função de polícia (poder de polícia) Diogo de Figueiredo diz que a expressão correta é função de polícia, pois o poder de polícia é exercido pelo Poder Legislativo quando cria a norma. O Poder Executivo não cria o poder, ele executa. O autor Álvaro Lazzarini, que para concursos de polícia civil e polícia federal é uma leitura obrigatória, fala em poder de polícia e poder da polícia, sendo o primeiro do Poder Legislativo, que atribui ao Executivo o poder

4 da polícia, que é o exercício da função do poder de polícia. Então, poder de polícia é a criação regra, da norma, da limitação individual em prol do coletivo. Poder da polícia é a execução da norma pelo Executivo. Assim, o Executivo tem a função de polícia ou poder da polícia. O Prof. afirma que em provas deve-se tomar cuidado com essa diferenciação, pois já viu questão que falava em poder da polícia ; 2) Serviço público; 3) Intervenção na ordem econômica essa intervenção é em matéria de fiscalização (controle), e não de executor, pois a atividade econômica deve ser realizada pela iniciativa privada; 4) Intervenção na ordem social aqui é execução; 5) Fomento público o Estado não deve executar atividade econômica, mas deve fomentar a mesma. Deve dar crédito, deve criar um ambiente para viabilizar a atividade, deve trabalhar com políticas de subsídio fiscal (respeitando a LRF). Então, o Estado tem o dever de fomentar regiões e atividades para que se tenha um desenvolvimento adequado. Agora, exemplificado: 1) Autarquia de poder da polícia IBAMA, que aplica multas ambientais quando nas suas fiscalizações encontra infrações administrativas em face do meio ambiente; 2) Autarquia de serviço público DNIT (DER, em âmbito estadual), que administra as rodovias que não foram desestatizadas. É um serviço público de conservação de rodovias; 3) Autarquia de intervenção na ordem econômica CADE, Banco Central, CVM, que controlam e fiscalizam a ordem econômica; 4) Autarquia de intervenção na ordem social INSS, IFES; 5) Autarquia de fomento SUDAM, SUDENE, SUDECO, SUFRAMA. Assim, está demonstrado que a autarquia faz a mesma coisa que o ente da federação, que são as atividades típicas. Página4 Quanto à forma, a autarquia é intraestatal ou infraestatal. A forma de uma autarquia é autárquica, é uma instituição que não tem paralelo na iniciativa privada, é uma instituição que só existe no governo. Então, a forma de autarquia é autárquica. Contudo, os examinadores não gostariam dessa resposta. Diogo de Figueiredo e Hely Lopes usam as expressões intraestatal e infraestatal porque é a entidade da administração indireta mais próxima ao Estado em relação às demais. Somente a autarquia é pessoa jurídica de direito público encontrada na administração indireta. Daí a ideia de intra. Diogo de Figueiredo chegava a chamar a autarquia de administração direta descentralizada. Para ele existia a administração direta, a administração direta descentralizada (que seria a autarquia) e a administração indireta. Com o DL nº 200/67, ele parou de insistir na administração direta descentralizada, uma vez que o decreto deixa claro que a autarquia integra a administração indireta.

5 Logo, das pessoas jurídicas que compõe a administração indireta, a mais próxima da administração direta é a autarquia. Daí a ideia do intra e infra. Alguns chegam a dizer que a autarquia é um braço do Estado, que é uma extensão do Estado. Celso Antônio Bandeira de Melo utiliza a expressão longa manus. A forma da autarquia é a única característica que não tem confirmação da legislação. Os privilégios fiscais da autarquia encontram previsão no art. 150, VI, a, 2º da Constituição: Art Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; [...] 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. Logo, em matéria de privilégio fiscal, a autarquia tem o mesmo tratamento dado ao poder público, sendo também abraçada pela imunidade tributária. Existe uma discussão se essa imunidade é total ou se é parcial. Exemplificando: o INSS tem vários imóveis em seu patrimônio desafetados, ou seja, que não são utilizados. Os imóveis são recebidos em dação em pagamento. Se o INSS resolve alugar os imóveis, tendo renda auferida pela locação, ele terá que pagar tributos? Ora, o INSS foi criado para alugar imóveis? Não. A imunidade é conferida em razão da atividade-fim da autarquia. Como alugar não é atividade-fim, teria que pagar tributo. Essa é uma tese existente. O Prof., ao contrário, acredita que a imunidade é total, pois a conclusão do 2º, acima transcrito, fala em vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. Tendo em vista que receber dação em pagamento é decorrente da atividade e que para ter dinheiro em caixa pode-se alugar, a imunidade é total, quer da atividade-fim, quer da atividade dela decorrente. E os privilégios processuais? Normalmente, ele vem colocado pela Constituição, pela legislação infraconstitucional, pelo CPC com a expressão Fazenda Pública. A autarquia está incluída nessa expressão? Sim, pois a expressão Fazenda Pública inclui toda e qualquer pessoa jurídica de direito público. Assim, como toda autarquia é uma pessoa jurídica de direito público, ela está inserida no contexto de Fazenda Pública. Página5 De acordo com o art. 100 da Constituição: Art Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem

6 cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). (Vide Emenda Constitucional nº 62, de 2009) Logo, autarquia tem precatório, pois Fazenda Pública incluí qualquer pessoa jurídica de direito público, inclusive entidade autárquica. Há uma necessidade de adaptação do art. 10 da lei nº 9.469/97, pois antes esse artigo estendia o que o CPC falava às entidades autárquicas. O atual art. 183 do CPC fala do prazo em dobro para contestar e recorrer. O art. 10 da lei referida, que é anterior ao atual CPC, falava em prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer. Com o novo CPC, os prazos foram unificados para em dobro tanto para contestar quanto para recorrer. Quem defende a autarquia em juízo é o Procurador Federal. Não existe mais procurador autárquico em nível federal, pois os mesmos foram transformados em Procuradores Federais da carreira da AGU lotados nas entidades autárquicas. Isso é uma prerrogativa processual. Tem-se um órgão público criado para essa finalidade e que tem prazo em dobro para recorrer e contestar. No que tange ao questionamento do examinador apresentado no início dessa aula, todas as características pedidas, no que tange à autarquia são as mesmas da administração direta, a exceção da forma. As demais características que complementam a questão do examinador serão apresentadas na próxima aula. Página6