Estudante de Graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás 4
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1 CARCINOMA BASOESCAMOSO EM CÃO: RELATO DE CASO Nadine Bou FARES 1, Franciele Alves da Silva de PAULA 2, Beatriz Fernandes Santos CATELAN 3, Taís Andrade Dias de SOUZA 4, Luiz Augusto de SOUZA 5 1 Residente de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, Universidade Federal de Goiás nadinebf@gmail.com 2 Residente de Anestesiologia e Medicina de Emergência, Universidade Federal de Goiás 3 Estudante de Graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás 4 Pós-Graduanda em Ciência Animal, Universidade Federal de Goiás 5 Professor doutor adjunto I, Departamento Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás Resumo O carcinoma basoescamoso, considerado um tumor de baixo grau de malignidade, ocorre com maior frequência em cães, com idade média de 6 a 12 anos e tem maior predisposição em cães das raças Cocker Spaniel e Scottish Terrier. O carcinoma tem como principais características macroscópicas, o nódulo bem delimitado, geralmente úlcerado e com áreas de alopécia. Em humanos, está relacionado com a incidência de raios ultravioletas. Entretanto, em Medicina Veterinária, a exposição solar não influencia o desenvolvimento de carcinoma basoescamoso em cães e gatos. O presente relato, descreve o tratamento cirúrgico para excisão de nódulo no terceiro dígito do membro pélvico direito em um cão, da raça Cocker Spaniel, de 14 anos de idade, acometido por carcinoma basoescamoso. Palavras-chave: Carcinoma de células basais, Amputação de dígito, Claudicação, Basalioma, Neoplasia Keywords: Basal cell carcinoma, Digital amputation, Lameness, Basalioma, Neoplasia Revisão de Literatura O carcinoma basoescamoso (CBE), composto primariamente de células basais com focos de diferenciação escamosa, é uma neoplasia com baixo grau de malignidade (GOLDSCHMIDT e HENDRICK, 2002). Acomete cães e gatos, com idade média entre seis e 12 anos, não há predisposição sexual e, em cães, algumas raças como Scottish Terrier, English Springer Spaniel, Cocker Spaniel e o Golden Retriever são mais susceptíveis (GOLDSCHMIDT e SHOFER, 1992). O CBE, ou carcinoma basocelular queratinizado, ocorre frequentemente em cães, enquanto os gatos ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0302
2 são mais acometidos com o carcinoma de celulas basais sólido (MULLER et al., 1985). Goldschmidt e Shofer (1992) demonstraram a partir de uma análise retrospectiva de neoplasias cutâneas de origem epitelial uma prevalência de 1% em cães e inferior a 1% em gatos dos carcinomas basoescamosos. Macroscopicamente, o CBE se apresenta na forma de nódulos intradérmicos, firmes, arredondados, elevados, bem circunscritos, frequentemente se ulceram e se tornam alopécicos. Seu diâmetro varia de 0,5 a 10cm (MULLER, et. al. 1985) Na medicina humana existem relatos relacionando a exposição crônica a radiação ultravioleta ao desenvolvimentos de carcinoma de células escamosas, carcinoma de células basais e melanoma. Apesar dos animais de companhia apresentarem áreas amplamente protegidas, lesões crônicas por exposição ao raios ultravioletas podem ocorrer em regiões com pouca ou nenhuma pigmentação (WALDER, 1995). Uma avaliação a partir de 129 carcinomas basoescamosos, realizada por Goldschmidt e Shofer (1992), apresentou os seguintes resultados a cerca dos locais comumente afetados: cabeça (38%), membro posterior (15,5%), pescoço e dorso (9,3%), membro anterior e abomen (7,8%), tórax (7,0%), cauda (2,3%) e períneo (1,6%). O tratamento clínico dos basaliomas pode considerar a excisão cirúrgica, criocirurgia, eletrocirurgia e radioterapia (MULLER et al., 1985). O prognóstico é geralmente de caráter reservado, uma vez que, podem ocorrem rescidivas, entretanto, metástases não foram relatadas. Descrição do Caso Um canino, macho, da raça Cocker Spaniel, não castrado, com 14 anos de idade, pesando 12kg, sem doenças pré existentes foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. O animal apresentava um nódulo ulcerado e aderido, localizado no terceiro dedo do membro pélvico direito, medindo aproximadamente 4,0 x 4,0cm. O nódulo apresentou crescimento progressivo durante um a- no. Inicialmente, o animal não manifestava incômodo ou claudicação, porém após crescimento do nódulo, animal demonstrou claudicação do membro acometido além de, posteriormente, evitar se apoiar no membro em questão, mantendo-o elevado. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0303
3 Algumas semanas antes do procedimento cirúrgico, o animal não se alimentava bem, encontrava-se prostado e com perda de peso progressiva. Foi requisitado exames pré-operatórios como hemograma completo, análise de bioquímicas séricas (alanina aminotransferase e creatinina), exame comum de urina, radiografia de tórax em projeções ventrodorsal e laterolateral direita e esquerda, ultrassonografia abdominal e eletrocardiograma. Nenhuma alteração foi encontrada nos exames requeridos, sendo encaminhado para cirurgia. Como medicação pré-anestésica, utilizou-se 0,02 mg/kg de acepromazina e 0,4 mg/kg de morfina por via intramuscular. Para indução do paciente, fez-se uso de 4,0 mg/kg de propofol por via intravenosa e a manutenção anestésica promovida por vaporização de isoflurano em oxigênio e infusão contínua de fentanil na dose de 5 µg/kg/h e lidocaína 30 µg/kg/min. Após ampla tricotomia da área e com o animal em decúbito lateral direito foram realizadas as antissepsias prévia e definitiva com iodo degermante, tópico e álcool 70%. O nódulo foi extirpado após a realização de uma incisão elíptica paralela ao eixo longitudinal das falanges distal, média e proximal do terceiro dedo do membro pélvico esquerdo. Teve início na porção proximal sobre a face dorsal da falange proximal com término sobre a face dorsal da falange distal na superfície plantar. Em seguida, por meio da divulsão dos tecidos adjacentes com auxílio de uma tesoura a articulação entre as falanges proximal e média foi i- dentificada e promovida a desarticulção com posterior remoção das falanges acometidas preservando o coxim plantar. Em seguida, pontos simples isolados com fio de ácido poliglicólico nº 2-0 foram utilizados para reaproximação dos tecidos e promover a hemostasia definitiva de pequenos vasos. A dermorrafia também foi realizada com o mesmo padrão de sutura, porém com fio de náilon nº 3-0. Amostras do nódulo foram coletadas e enviadas para avaliação histopatológica que confirmou o diagnóstico de carcinoma basoescamoso. No pós-operatório foram prescritos 30 mg/kg de cefalexina BID durante sete dias, 0,1 mg/kg de meloxicam SID durante quatro dias, 25 mg/kg de dipirona TID por sete dias, 2,0 mg/kg de tramadol TID durante cinco dias. O curativo foi aplicado com ataduras de crepe, gazes estéreis, solução fisiológico e pomada a base de penicilina (Ganadol ). A cada três dias realizava-se a troca do curativo. Os pontos foram removidos após 15 dias do procedimento cirúrgico, data em que a ferida encontrava-se totalmente cicatrizada. Após tratamento clínico e cirúrgi- ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0304
4 co o animal voltou a se alimentar, ganhou peso e deixou de apresentar episódios de claudicação e até o presente momento não apresentou ocorrência de metástases. Discussão Conforme descrito no presente relato, o nódulo apresentou crescimento progressivo e estava localizado no terceiro dedo do membro pélvico direito. De acordo com Goldschmidt e Shofer (1992) o membro pélvico é o segundo local mais acometido por carcinoma basoescamoso, representando 15,5% dos casos em estudo realizado. Muller et al. (1985) apontam cães entre 7 e 9 anos como animais predispostos, já Walder (2002) relata cães com idade média de 10 anos como animais susceptíveis. Posteriormente Goldschmidt e Hendrick (2002) estabelece faixa etária entre 6 e 12 anos para cães predispostos ao carcinoma basoescamoso. Em contraste ao já relatado em literatura, o animal deste relato possuia 14 anos de idade. A região acometida pelo processo neoplásico foi o terceiro dedo do membro pélvico direito em contraste com o relatado na literatura. Sabe-se que as áreas conhecidamente mais acometidas concentram um menor número de pelame o que oferece menor proteção a incidência solar. Segundo Walder (1995), na medicina humana existem relatos de carcinoma de células escamosas e melanomas devido a exposição crônica a radiação ultravioleta. Porém, tanto em gatos como em cães não houve relato de incidência do carcinoma de celulas basais relacionado a exposição crônica a radiações ultravioleta. No presente relato não foi realizado o exame histopatológico prévio do nódulo ulcerado o que não condiz com as recomendações da literatura consultada. Johnson et al. (1989) e Lages et al. (2012), afirmaram que não existem características específicas para distinguir o carcinoma basoescamoso de outros tipos de neoplasias malignas na pele, como o melanoma. Logo, o diagnóstico definitivo auxiliará na conduta terapêutica para cada caso específico, seja neoplasias malignas ou benignas. Sabe-se que a estirpação dessas neoplasias são recomendadas logo após o seu diagnóstico, seja ela por biópsia incisional ou por punção aspirativa por agulha fina. Para Muller et al. (1985), o diagnóstico deve ser precoce e a remoção dos nódulos promovida a fim de evitar possíveis complicações. Ressalta-se que o nódulo foi estirpado respeitando as margens de segurança conforme relato de Argila e Ortiz (2003). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0305
5 Os resultados obtidos após o tratamento preconizado foram similares aos relatados anteriormente na literatura, segundo Walder (1995) o índice de recorrência e metástase de carcinomas de céulas basais é muito baixo. Entretanto, Goldschmidt e Hendrick (2002) relatam que não é infrequente a ocorrência de recidivas, mas corrobora com Walder ao afimar que casos de metástases não são relatados, motivo pelo qual não foi instituída a terapia com quimioterápicos, uma vez que, a investigação de mestástases pelos exames de imagem não as confirmaram. Conclusão O tratamento cirúrgico isolado por meio da excisão total dos nódulos de carcinoma basoescamoso é eficaz. Devido ao seu baixo grau de malignidade, na maioria dos casos, não é necessário quimioterapia. No entanto, recomenda-se o acompanhamento pós-tratamento a fim de diagnosticar de forma precoce possíveis metástases. Referências ARGILA, D.; ORTIZ, P. L. Tumores epidérmicos y metástasis cutáneas. In: DIEZ, L. I.; GUERRA, T. A.; ORTIZ P. L. Tratado de Dermatologia. Espanha: McGraw-Hill, GOLDSCHMIDT, M. H. e HENDRICK, M. J. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals. Ames: Iowa State, p GOLDSCHMIDT,M.H. e SHOFER,F.S. Skin tumors of the dog and cat, 3ª Edição, Oxford: Pergamon, p. JOHNSON, B.; MOORE, P.;GOEPEL, J.; SLATER D. Basosquamous carcinoma, a wolf in sheeps clothings: Report of 3 cases. Postgranduate Medical Journal, Londres, 65, p , LAGES, N.; DORNELA, F.; LUIZ, J.; APARECIDA, S. Histopathological Features. Indian Journal of Dermatology, Mumbai, 57 (5), p , MULLER, G. H. et al. Dermatologia dos pequenos animais, 3ª Edição, São Paulo: Manole, 1985, 935p. WALDER, E. J. Comparative aspects of nonmelanoma skin cancer. Clinics in dermatology, New York, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0306
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