MELANOMA EM CAVIDADE ORAL DE UM CÃO Melanoma in a dog s oral cavity

Transcrição

1 1 MELANOMA EM CAVIDADE ORAL DE UM CÃO Melanoma in a dog s oral cavity Barbara da Conceição GUILHERME 1 ; Ene Almeida Oliveira MADEIRA 2; ; Ana Celi Santos COSTA 2 ; Valeria Smith Neves e SANTOS 3 ; Gabriela Melo Alves dos SANTOS 3 ; Adenilde de Aparecida SILVA 3 ; Katiane SCHWANKE 4. 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Pará barbaraguilherme26@hotmail.com 2 Residente em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, Uiversidade Federal do Pará 3 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Pará 4 Médica Veterinária, Hospital Veterinário Universidade Federal do Pará Resumo: A nomenclatura das neoplasias melanocíticas nos animais domésticos não é homogênea. Alguns autores utilizam o termo melanoma cutâneo para descrever o tumor com diferenciação melanocítica e com potencial metastático não conhecido ou comprovado, porém esses tumores têm sido chamados de melanocitoma por outros autores. Na espécie canina, o melanoma é o tumor maligno mais comum da cavidade oral e dos olhos e a segunda neoplasia mais comum dos dígitos com localização subungueal, acometendo animais 9 e 13 anos. Neste trabalho relata-se um caso de melanoma na cavidade oral de um cão, cujo sintoma foi aumento de volume significativo na região infraorbitária do lado direito da face, o animal havia sido previamente tratado com antibiótico, apresentava normofagia e normodipsia. Através de exame citológico do nódulo confirmou-se a suspeita de melanoma. Após 45 dias verificou-se que o nódulo havia duplicado de tamanho. O animal alimentavase com dificuldade e havia sangramento presente na parte interna da cavidade oral. O proprietário optou pela eutanásia do animal se recusando a tentar outro tipo de tratamento. Palavras-chave: Melanoma. canino. Melanócitos. Neoplasia. Keywords: Melanoma. Dog. Melanocytes. Neoplasm. Revisão de Literatura De acordo com JONES et al. (2000), o termo melanoma refere-se a todos os tumores malignos das células produtoras de melanina. O melanoma maligno se origina a partir da transformação dos melanócitos, células responsáveis pela Anais do 38º CBA, p.0798

2 2 produção de melanina, um pigmento importante que atua no bloqueio endógeno dos raios ultravioletas da luz solar (KUMAR et al., 2005). Em medicina veterinária, a forma benigna dos tumores melanocíticos é denominada melanocitoma e a maligna de melanoma (GOLDSCHMIDT et al., 1998). Esta neoplasia normalmente surge em junções mucocutâneas (exceto nas pálpebras) e no leito ungueal (BREARLEY, 2003). Em geral, os melanomas malignos surgem na mucosa parcialmente pigmentada da gengiva, lábios, bochechas, palato, orofaringe e língua. (JONES et al., 2000). Em cães, as áreas comumente afetadas são a cavidade oral, olhos, cabeça, dígitos, membros e escroto, sendo as raças fortemente pigmentadas as mais afetadas, aparecendo na boca, onde pode haver uma grande quantidade de pigmentação melânica. Segundo Goldschimidt e Hendick (2002), os cães podem ser afetados entre três e 15 anos de idade, com pico de incidência entre nove e 13 anos. A principal característica dessa neoplasia é a manifestação de um nódulo pedunculado sendo solitário e delimitado, podendo variar a coloração de marrom a preta ou apigmentado, com variação no tamanho de 0,5 a 10 cm de diâmetro. Juntamente com essa neoplasia há o aparecimento de sinais clínicos como apatia, anorexia, disfagia e emagrecimento (SOUZA et al., 2011). Este é um tumor localmente agressivo e com potencial grande para produzir metástases locais ou regionais e distantes (ETTINGER e FELDMAN, 1997). O trabalho teve como objetivo relatar o caso de melanoma maligno na cavidade oral de cão atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará, na cidade de Castanhal-PA. Descrição do Caso Em 29 de Agosto de 2016, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará, na cidade de Castanhal-PA, um cão SRD, de 11 anos de idade pesando 12.8 kg. A proprietária relatou um aumento de volume localizado no lado direito da face, na região infraorbitária, que teria sido percebido há aproximadamente 20 dias, com crescimento progressivo. Foi também relatado que o animal estava apático, e que estava administrando ao animal Sulfametoxazol + Trimetoprima (20 mg/kg, BID, por 3 dias) e Omeprazol (1,0 mg/kg, SID, por 3 dias). O animal teve um episódio de vômito, apresentando normofagia, normodipsia, normoquesia e normoúria. Notou-se aumento de volume Anais do 38º CBA, p.0799

3 3 na bochecha direita há uns 20 dias e ainda apresentava otite no ouvido direito, os demais sistemas não apresentaram alterações. No exame físico o animal apresentou frequência cardíaca 96 bpm, frequência respiratória 76 rpm, temperatura 38,9ºC, tempo de preenchimento capilar 2 segundos, estava alerta, estado nutricional bom, mucosas normocoradas e linfonodo submandibular direito bastante aumentado. Foi realizada colheita de sangue para realização do hemograma e também punção aspirativa por agulha fina do nódulo referido para a citologia. Realizou-se limpeza do conduto auditivo direito e prescrito Triflex (Glucosamina + Condroitina + Ácido Hialurônico), a cada dois dias durante 15 dias, a partir do 16 dia 1 vez na semana e Cefalexina 20 mg/kg, BID, por 7 dias. O resultado da citologia confirmou melanoma e o hemograma revelou leucocitose de milhões/mm³. O proprietário foi informado do resultado obtido na citologia confirmando melanoma, que se tratava de um tumor agressivo, e das opções de tratamento, sendo solicitado que o mesmo retornasse para que fosse feita uma reavaliação do animal. Porém o proprietário retornou apenas dia 06 de Outubro de Foi relatado que o mesmo alimentava-se normalmente em alguns dias e em outros não, a proprietária não sabia relatar se havia alteração na ingestão hídrica, pois a água ficava a vontade, a mesma estava administrando Lisador 500 mg (dipirona + cloridrato de prometazina e cloridrato de adifenina) de 8/8h. A massa tumoral havia duplicado de tamanho e o animal apresentava sangramento na região interna da boca próximo ao dente canino superior direito com projeção da massa Durante o exame físico verificou-se frequência cardíaca 120 bmp, frequência respiratória 72 rpm, temperatura 38,6 ºC, estava alerta, estado nutricional bom, mucosas normocoradas e o linfonodo submandibular aumentado. Discussão O diagnóstico de melanoma pode ser complexo, uma vez que existem diversos graus de pigmentação melânica, chegando a casos de total ausência de pigmento (SANDUSKY et al. 1985, RAMOS-VARA et al. 2000, SULAIMON et al. 2002), porém clinicamente, os melanomas melanóticos são de fácil diagnóstico por serem tumores escuros (JONES, 2000). O comportamento maligno das neoplasias melanocíticas é amplamente dependente da localização do tumor, de maneira que a grande maioria dos melanomas orais é Anais do 38º CBA, p.0800

4 4 considerada maligna (RAMOS-VARA et al., 2000). Devido a evolução do crescimento do tumor e a inviabilidade de tratamento por parte do proprietário, o animal foi submetido à eutanásia, sendo realizada no dia 13 de outubro de O tratamento recomendado para os casos de melanoma é excisão cirúrgica (margens determinadas pela localização e extensão da lesão), associada à radioterapia ou quimioterapia, mas a eficiência destes tratamentos é muito pequena e a sobrevida do paciente por mais de um ano é de 10% (GROSS, 2009). Os agentes quimioterápicos que tem sido investigados, principalmente para o melanoma oral incluem mitoxantrona, doxorrubicina, carboplatina, entre outros (VAIL et al., 2007). Quando diagnosticado precocemente, o tempo médio de sobrevida é de 12 meses e a taxa de mortalidade é de 54% dentro de dois anos, contudo quando o tumor é diagnosticado tardiamente e já está grande, o tempo médio de vida diminui para apenas quatro meses e a taxa de morte aumenta para 100% em dois anos (SCOTT et al., 2001). Conclusão: O melanoma é uma neoplasia maligna agressiva de difícil tratamento e prognóstico ruim, quando está localizado na cavidade oral. É importante que o médico veterinário chegue a um diagnóstico definitivo para que o mesmo possa definir qual a melhor abordagem terapêutica, pois, como foi relatado neste trabalho, o animal em questão teve uma rápida evolução em seu quadro clínico, afetando sua qualidade de vida e bem-estar, os quais devem ser priorizados, por esta razão foi decidido pelo proprietário e recomendado pelo médico veterinário, como melhor opção a eutanásia do paciente. Referências: BREARLEY, M. J. Epithelial and other solitary skin tumours. In: DOBSON J. M.: LASCELLES B. D. (Ed). BSAVA Manual of Canine and Feline Oncology. 2.ed. Gloucester: British Small Animal Veterinary association, 2003, p ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina interna veterinária. 4ed. São Paulo: Manole. V Pag GOLDSCHMIDIT M.H., Dunstan R.W., Stannard A.A., Von Tscharner C., Walder E.J. & Yager J.A. Histological Classification of Epithelial and Melanocytic Tumors of the Anais do 38º CBA, p.0801

5 5 Skin of Domestic Animals. 2nd ed. Armed Forces Institute of Pathology, Washington, DC. 106p. GOLDSCHMIDT, M. H.; HENDRICK, M. J. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D.J. (E.d.). Tumors in domestic animals. Ames: Iowa State, Cp.2, p GROSS, T. L. Doenças de pele de cão e do gato: Diagnostico clinico e histopatológico. 2 ed. São Paulo: Roca, P889. JONES, C. J.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Sistema digestivo. Patologia veterinária. 6ed. Manole São Paulo Pag e KUMAR, V., ABBAS, A.K., FAUSTO, N, Robbins SL, Cotran RS. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 7a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; p RAMOS-VARA J.A., BEISSENHERZ M.E., MILLER M.A., JOHNSON G.C., PACE L.W., FARD A. & KOTTLER S.J. Retrospective study of 338 canine oral melanomas with clinical, histologic, and immunohistochemical review of 129 Cases. Vet. Pathol. 2000, P SANDUSKY Jr. G.E., CARLTON W.W. & WIGHTMA K.A Immunohistochemical staining for S100 protein in the diagnosis of canine amelanotic melanoma. Vet. Pathol SCOTT DW.; MILLER WH.; GRIFFIN.; CE. Muller & Kirk s Small Animal Dermatology. 6.ed. Philadelphia: WB Saunders., P SOUZA, F. B.; ESTEVES, N. A.; NETO, A. A. B.; LAVORATO, A. B.; STURION, D. J. Melanoma em cavidade oral de um canídeo - Relato de Caso Disponível em: %20C AVIDADE%20ORAL.pdf. Acesso em: 31, agosto, SULAIMON S.S., KITCHELL B.E. & EHRHART E.J Immunohistochemical detection of melanoma-specific antigens in spontaneous canine melanoma. J. Comp. Pathol Anais do 38º CBA, p.0802