FIBROSSARCOMA ORAL EM CÃO - RELATO DE CASO

Transcrição

1 1 FIBROSSARCOMA ORAL EM CÃO - RELATO DE CASO Lucas Côrtes Marçal de MENDONÇA 1 ; Vilma Ferreira de OLIVEIRA 2 ; Nadine Bou FARES 3 ; Beatriz Fernandes Santos CATELAN 1 ; Kauê Caetano RIBEIRO 1 ; Taís Andrade Dias de SOUZA 4 ; Luiz Augusto de SOUZA 5 1 Estudantes de graduação em Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, lucascortesmm@hotmail.com 2 Médica Veterinária Oncologista no Hospital Veterinário, Escola de Veterinária e Zootecnia, 3 Residente de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, Escola de Veterinária e Zootecnia 4 Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária e Zootecnia, 5 Médico Veterinário professor do Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Clínica e Cirurgia Animal, Universidade Federal de Goiás Resumo O fibrossarcoma oral é uma neoplasia que acomete frequentemente cães com uma média de idade de 7,6 anos e de grande porte, cujo diagnóstico definitivo deve ser feito por meio de exames citológicos ou histopatológicos e o tratamento por meio de ressecção agressiva. O presente relato objetivou descrever o caso de uma cadela, dois anos de idade, da raça fila brasileiro sob suspeita de neoplasia oral. Foi realizada avaliação citológica e histopatológica, que determinaram os achados compatíveis com fibrossarcoma oral. Realizou-se, então, uma hemimaxilectomia central, extirpando-se completamente a neoplasia. Palavras-chave: oncologia; cirurgia; neoplasia oral. Keywords: oncology; surgery; mouth neoplasms. Revisão de literatura A cavidade oral dos cães é o quarto local mais acometido por neoplasias nessa espécie, sendo que os tumores orais representam cerca de 6% de todas as neoplasias caninas. O fibrossarcoma é o terceiro tumor maligno mais comum na cavidade oral dessa espécie, representando aproximadamente 20% dos casos nessa localidade (RODRÍGUEZ-QUEIRÓS et al., 1999). Segundo Todoroff e Brodey (1979), o fibrossarcoma oral acomete cães com uma média de idade de 7,6 anos e esses autores relataram uma maior ocorrência em cães machos, porém outros afirmaram não haver predisposição sexual para essa neoplasia (KOSOVSKY et al., 1991). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0639

2 2 Os sinais clínicos associados ao fibrossarcoma oral são os mesmos associados às demais neoplasias orais malignas (RODRÍGUEZ-QUEIRÓS et al., 1999; GHIRELLI, 2008). Ao exame físico, pode-se evidenciar uma massa palpável, vermelha ou rosada, firme e achatada na superfície, podendo apresentar ulceração (DALECK et al., 2008). O diagnóstico definitivo pode ser feito tanto pela histopatologia quanto pela citologia, sendo a histopatologia mais confiável (GARDNER et al., 2015). A radiografia é utilizada para avaliar a extensão do tumor, o grau de envolvimento ósseo e a quantidade do osso que deve ser removida (VERSTRAETE, 2005; GHIRELLI, 2008). O tratamento de escolha para o fibrossarcoma oral, assim como para as outras neoplasias orais malignas, é a excisão cirúrgica com amplas margens de segurança, cujas principais técnicas serão a maxilectomia e a mandibulectomia (VERSTRAETE, 2005). A essa modalidade pode-se associar quimioterapia e radioterapia adjuvantes (FRAZIER et al., 2012). Esse resumo teve por objetivo relatar um caso de fibrossarcoma oral em um cão, abordando o método de diagnóstico e tratamento por meio da maxilectomia central. Descrição do Caso Uma cadela da raça fila brasileiro, com dois anos de idade, pesando 52 kg, foi atendida com a queixa principal de dificuldade na alimentação devido à presença de um nódulo na cavidade oral. Há quatro meses à consulta o animal havia sido atendido por outro profissional que realizou a excisão do nódulo sem ter o conhecimento do diagnóstico definitivo. O proprietário relata ainda que após algumas semanas o nódulo voltou a crescer de maneira lenta e progressiva até a atual consulta. Durante a avaliação clínica não foram observadas alterações e os linfonodos palpáveis não se encontravam reativos. No exame físico da cavidade oral foi possível observar a presença de dois nódulos, um ulcerado e ambos de aspecto friável, infiltrativo com característica pendular, localizados na região central da maxila esquerda, comprometendo a área do palato duro e mucosa gengival. Tais nódulos apresentavam aproximadamente 7,0cm cada. Foram solicitados exames laboratoriais, além de exames radiográficos nas projeções crânio-caudal, latero-lateral direita e latero-lateral esquerda do crânio. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0640

3 3 Neste mesmo momento, optou-se pela realização da citologia aspirativa por agulha fina com objetivo de fechar o diagnóstico. Por meio das imagens radiográficas, foi possível observar áreas de intensa reabsorção óssea principalmente na região central do osso maxilar e dos ossos nasais. No exame citológico, foram encontradas abundantes hemácias, moderados leucócitos, eventuais células epiteliais de descamação e raros clusters de células mesenquimais pouco celulares entremeadas por material eosinofílico amorfo, sendo dado o diagnóstico presuntivo de processo neoplásico mesenquimal. Diante desse resultado, foi marcada a cirurgia com o objetivo de se excisar a massa e coletar material para a realização do exame histopatológico. Após a anestesia geral, o paciente em decúbito dorsal e com a cavidade oral mantida aberta, a antissepsia foi realizada e executou-se a incisão das mucosas bucal, gengival e do palato duro, mantendo-se uma distância de no mínimo 1,5 cm de tecido mole normal em torno do tumor. As mucosas gengival e palatina foram descoladas e rebatidas utilizando-se um elevador periostal e a hemorragia foi controlada pinçando-se os vasos identificáveis. Em seguida, um osteótomo e martelo foram usados para seccionar o osso maxilar, novamente mantendo uma distância de no mínimo 1,5 cm do tecido normal. O bloco foi elevado e os tecidos moles remanescentes foram afastados para expor a cavidade nasal. A hemorragia foi controlada novamente ligando a veia e a artéria palatina maior. A ferida cirúrgica foi então higienizada com solução de NaCl 0,9% e inspecionada para assegurar que todo o tecido afetado havia sido excisado. Já no fechamento da ferida, a mucosa e a submucosa bucal foram elevadas e aproximadas da gengiva e mucosa palatina com sutura simples isolada livre de tensão com fio poliglecaprone nº 3-0 na submucosa. Uma segunda sutura foi realizada para promover a aposição da mucosa bucal à mucosa palatina e gengival, utilizando-se o mesmo fio e padrão de sutura. O material excisado foi enviado para o exame histopatológico, no qual se encontrou proliferação de células neoplásicas de origem mesenquimal, o que sugeriu o diagnóstico definitivo de fibrossarcoma oral. No pós-operatório foram prescritos por via oral 30mg/kg de cefalexina, BID por dez dias, 4,0mg/kg de cloridrato de tramadol, BID por seis dias, 0,1 mg/kg de meloxicam SID, por seis dias e 25mg/kg de dipirona, BID por oito dias. Indicou-se que a limpeza da ferida fosse feita com solução de NaCl 0,9% e solução de gluconato de clorexidine duas vezes ao dia. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0641

4 4 Discussão O fibrossarcoma oral encontrado neste caso ocorreu em uma cadela de dois anos de idade e da raça fila brasileiro, tendo uma idade de ocorrência muito abaixo da idade média reportada na literatura de 7,6 anos, estando incluída nas raças de grande porte, que Todoroff e Brodey (1979) afirmam serem as raças mais predispostas, mas não estando incluída na predisposição sexual que esses mesmos autores encontraram, corroborando, ao invés disso, com o trabalho de Kosovsky et al. (1991), que afirma não haver predisposição sexual. A localização do tumor na cavidade oral foi relatada nos estudos de Daleck et al. (2008), pois esses tipos neoplásicos localizavam-se na mucosa gengival e no palato duro. Com relação aos métodos de diagnóstico, apenas o diagnóstico descritivo pôde ser feito pela citologia, o qual revelou uma neoplasia mesenquimal, sem revelar o tipo específico. Por tal motivo foi realizado o exame histopatológico baseado nas informações de Gardner et al. (2015), o qual relata que a histopatologia é mais confiável que a citologia no diagnóstico definitivo. O tratamento cirúrgico é o indicado, uma vez que ainda não se comprovou o benefício de se realizar o tratamento quimioterápico para os casos de fibrossarcoma oral, fato também observado por Frazier et al. (2012). Optou-se por margens intraoperatórias de aproximadamente 1,5cm, pois as diretrizes que existem para o estabelecimento de margens para os tumores orais sugerem uma amplitude de 1 a 2,0cm segundo Frazier et al. (2012). Os mesmos autores encontraram uma baixa propensão em se metastatizar, com seus índices variando de 0 a 20%, isso provavelmente explica a ausência de metástases e a ineficiência da quimioterapia nesses casos. Entretanto, essa neoplasia possui altos índices de recorrência local, mesmo após ressecção agressiva, sendo que Schwarz et al. (1991) reportaram uma taxa de recorrência local de 31% a 57%, o que explica as margens tão amplas. Conclusão O fibrossarcoma oral é uma neoplasia comum em cães e apresenta alta taxa de recidiva. O diagnóstico precoce e sua ressecção com amplas margens deve ser preconizada. A técnica de maxilectomia central é eficaz nos casos em que o osso da maxila esteja acometido. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0642

5 5 Referências DALECK, C. R.; DE NARDI, A. B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2008, 612p. FRAZIER, S. A.; JOHNS, S. M.; ORTEGA, J.; ZWINGENBERGER, A. L.; KENT, M. S.; HAMMOND, G. M.; RODRIGUEZ JR., C. O.; STEFFEY, M. A.; SKORUPSKI, K. A. Outcome in dogs with surgically resected oral fibrosarcoma ( ). Veterinary and Comparative Oncology, Malden, v.10, n.1, p.33-43, GARDNER, H.; FIDEL, J.; HALDORSON, G.; DERNELL, W.; WHEELER, B. Canine oral fibrosarcomas: a retrospective analysis of 65 cases ( ). Veterinary and Comparative Oncology, Malden, v.13, n.1, p.40-47, GHIRELLI, C. O. Estudo radiográfico e por tomografia computadorizada das formações orais em cães. 121f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária), Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Cirurgia, São Paulo, KOSOVSKY, J. M.; MATTHIESEN, D. T.; MARRETTA, S. M.; PATNAIK, A.K. Results of partial mandibulectomy for the treatment of oral tumors in 142 dogs. Veterinary Surgery, Philadelphia, v.20, n.6, p , RODRÍGUEZ-QUEIRÓS, J.; MUNIZ, J. I. T.; COLLADO, J.; ROMAN, F. S. Neoplasias orais em pequenos animais, cirurgia maxilofacial I. In: ROMAN, F. S. Atlas de odontologia de pequenos animais. São Paulo: Manole, p SCHWARZ, P. D.; WITHROW, S. J.; CURTIS, C. R.; POWERS, B. E.; STRAW, R. C. Partial maxillary resection as treatment for oral cancer in 61 dogs. Journal of the American Animal Hospital Association, Lakewood, v.27, n.6, p , TODOROFF, R. J.; BRODEY, R. S. Oral and pharyngeal neoplasia in the dog - retrospective survey of 361 cases. Journal of the American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v.175, n.6, p , VERSTRAETE, F. J. M. Mandibulectomy and maxillectomy. Veterinary Clinics of North America - Small Animal Practice, Philadelphia, v. 35, n. 4, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0643