O TRABALHO DOCENTE NAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes i Aliciene Fusca Machado Cordeiro ii

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1 03080 O TRABALHO DOCENTE NAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes i Aliciene Fusca Machado Cordeiro ii Resumo: O presente estudo tem como objetivo conhecer as professoras das Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) da Rede Municipal de Ensino de Joinville-SC e o que entendem como a sua função neste serviço. Este trabalho apresenta dados parciais da dissertação de mestrado intitulada Trabalho Docente nas Salas de Recursos Multifuncionais: concepções de professores do Atendimento Educacional Especializado, vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e Formação Docente (GETRAFOR) da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE). A abordagem adotada neste estudo é qualitativa e utiliza como instrumentos de coleta de dados a aplicação de questionários a professores(as) que atuam nas SRM desta rede municipal de ensino. Empregou-se a metodologia de análise de conteúdo para o tratamento dos dados. Como resultados parciais deste estudo, constatou-se que todas as participantes da pesquisa são mulheres, com idade entre 31 e 50 anos, concursadas, com atuação de 40 horas semanais na SRM. 24 (71%) professoras estão na rede municipal de ensino entre 6 e mais de 21 anos, mas neste serviço, muitas na fase de (re)conhecimento, pois iniciaram há apenas um ano. Predomina o curso de graduação em Pedagogia e há um número expressivo de profissionais que possuem especialização com enfoques diversificados. Evidenciou-se também, que não há coesão na fala das professoras no que se refere à sua função na SRM e ainda, que este trabalho é entendido como uma atuação do(a) professor(a) centralizada apenas no estudante, configurando-se num trabalho isolado, o que acredita-se, poder trazer interferências ao processo de escolarização dos estudantes considerados da Educação Especial. Palavras-chave: Salas de recursos, atendimento especializado e trabalho docente. Fundamentação Teórica e Introdução Com ênfase a partir do início deste século, a Educação Especial (EE), modalidade transversal de ensino no Brasil, tem vivenciado avanços nas políticas públicas e implantação de serviços como prioritário, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) oferecidos aos estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, que frequentam a rede regular de ensino. A oferta do AEE, prestado de forma complementar e/ou suplementar aos estudantes da EE, matriculados nas escolas regulares, tendo como lócus prioritário as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) é apresentada pelo Ministério da Educação, como estratégia pedagógica da escola, que disponibiliza recursos que asseguram aos estudantes, condições de acesso, participação e desenvolvimento da aprendizagem. Neste sentido, em Abril de 2007, por meio da Portaria Normativa nº 13, cria-se em nível nacional o Programa de Implantação das Salas de Recursos Multifuncionais, com o objetivo de apoiar os sistemas público de ensino, na organização e oferta do

2 03081 Atendimento Educacional Especializado e contribuir para o fortalecimento do processo de inclusão educacional nas escolas comuns do ensino. (Art. 1º) Deste modo, a escola regular permanece com a responsabilidade pelo processo de escolarização dos estudantes considerados da EE, mas passa a contar com as SRM como serviço prioritário do AEE, não mais substitutivo ao ensino comum, pois orienta que este deva ser oferecido no turno inverso ao da escolarização do estudante da EE. Considerando estas orientações, o trabalho desenvolvido nas SRM, precisa considerar as necessidades específicas dos estudantes, para que participem das atividades escolares e aprendam. Logo, entende-se que para cumprir com sua função, deva necessariamente haver articulação entre este serviço e toda a comunidade escolar de modo que o conceba como um apoio ao processo de escolarização dos estudantes considerados da EE e não num trabalho isolado do professor da SRM. O presente estudo apresenta dados parciais de uma pesquisa de dissertação de mestrado, que tem por objetivo conhecer o trabalho docente das SRM na rede municipal de ensino de Joinville (SC), na concepção das professoras que atuam neste serviço. A seguir será apresentado o percurso metodológico, o perfil das professoras das SRM, o que entendem como sua função neste serviço e por fim as considerações preliminares. Percurso Metodológico Concebendo os sujeitos da pesquisa como seres históricos, que produzem e reproduzem sua realidade, que transformam e por ela são transformados, a abordagem adotada nesta pesquisa é qualitativa. Nesse sentido, o estudo desenvolveu-se com 34 professoras das 42 SRM da rede municipal de ensino de Joinville-SC, por meio da aplicação de questionários contendo perguntas abertas e fechadas. A organização das respostas deu-se com a utilização do programa Excel, em que estas foram digitadas na íntegra e agrupadas conforme recorrência, contradição e complementariedade, passos que estão de acordo com a análise de conteúdo, metodologia de análise de dados adotada neste estudo. O ponto de partida da Análise de Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada. (FRANCO, 2012, p.12) Por meio desta forma de análise, os dados foram agrupados em indicadores que emergiram das respostas das professoras. Para apresentar as participantes da pesquisa será exposto a seguir um perfil das professoras. Este será seguido das concepções e

3 03082 percepções sobre o trabalho docente realizado nas SRM, articulados ao referencial teórico, o que se espera, contribuirão para conhecer este serviço no município pesquisado. Caracterização das participantes e concepções sobre a sua função na SRM Todas as participantes da pesquisa são mulheres, com idade entre 31 e 50 anos e atuam 40 horas como docentes na SRM. A feminização no magistério trata-se de um fenômeno de nível nacional e com algumas diferenciações ao longo das etapas da educação, com predomínio de mulheres na Educação Básica. Pode-se dizer, que as professoras que atuam na SRM são experientes, já que trabalham como professoras na rede municipal de ensino de Joinville a partir de 6 e a mais de 21 anos. Contudo, 33 (97%) das professoras estão em fase de reconhecimento do serviço da SRM pois as primeiras salas foram implantadas no município a partir de Predomina a formação inicial em pedagogia (25 73%) e 32 (94%) docentes possuem especialização, mas com enfoques diversificados. No que tange a formação específica para atuar no AEE, no Art. 12 da Resolução 4/2009 (CNE/CEB) orienta-se: [...] o professor deve ter formação inicial que o habilite para o exercício da docência e formação específica para o AEE. Das 34 participantes, são somente 11 as que possuem especialização em AEE. Das professoras que indicam não possuir formação específica, 13 percebem necessidade formativa para atuar na área. Deste modo, pode-se dizer que as professoras das SRM de Joinville, atendem em partes ao que as legislações - Resolução CNE/CEB n.º 4/2009 e Resolução 02/2001- preconizam. A constatação de necessidades formativas para atuar na SRM, adverte para a importância de problematizar os aspectos que interferem no trabalho docente e que podem trazer implicações no processo de escolarização dos estudantes, principalmente, porque o professor da SRM torna-se referência para comunidade escolar quando se fala dos estudantes considerados da EE. Por outro lado, não se exclui a necessidade de pensar a formação para todos os professores numa perspectiva inclusiva e nem está se afirmando que resolvendo as contradições da formação de professores, vá também se conseguir uma escola de fato inclusiva. No que se acredita, é que a formação docente necessita considerar as condições concretas da escola. Isso impõe o reconhecimento da complexidade deste espaço educativo, que construído na/pela diversidade, precisa atender às necessidades diferenciadas de aprendizagem de todos os estudantes.

4 03083 A caracterização das professoras, relacionada ao que estas definem como sua função na SRM, trazem indicativos sobre aspectos do trabalho docente no município estudado, conforme dados a seguir. Das respostas sobre a sua função, emergiram os seguintes indicadores: 12 (35%) participantes centralizam a função de professora da SRM, no seu trabalho com o estudante que é atendido; 11 (32%) colocam como um trabalho que envolve toda a comunidade escolar; 4 (12%) concentram as respostas na formação deste professor, com falas como necessitando de mais formação e 5 (15%) respostas, enquadraram-se no indicador outros, por trazer diferentes nuances sobre a função ou por não encaixarem-se em nenhum dos indicadores anteriores. A análise destas respostas sugere que não há coesão no que as professoras entendem sobre a sua função. Observa-se ainda, que apenas 12 das 34 participantes, apontam a sua função, como aquela que envolve toda a comunidade escolar, o que poderia indicar uma visão mais próxima ao que se postula como inclusão. O restante das professoras (23 68%) compreende o seu trabalho como isolado; não respondem ao que vem a ser a função ou ainda apontam que estão em formação, logo parecem não saber ao certo do que se trata a sua função. O entendimento equivocado sobre a função do professor da SRM interfere negativamente no seu trabalho junto à comunidade escolar (demais professores, equipe pedagógica, pais, estudantes). Jesus (2010) aponta que para pensar e trabalhar a escolarização dos estudantes, numa escola que acolhe e disponibiliza os saberes/conhecimentos a todos, são necessárias práticas de colaboração. Pensar assim, é assumir que todos os estudantes, são de toda a escola e não apenas da professora da sala de aula. É ainda, compartilhar os saberes-fazeres dos professores, dos pedagogos, do gestor escolar e dos demais funcionários, pois na escola inclusiva, cada uma dessas peças dá suporte à aprendizagem dos educandos. (JESUS, 2010, p.245) Cabe ainda destacar, que como a maioria das professoras atua em escolas polo, o trabalho do professor da SRM pensado isoladamente, pode vir a naturalizar o entendimento de que cabe apenas ao professor da SRM o trabalho com os estudantes considerados da EE, o que por sua vez pode levar à compreensão de que como este serviço se dá de forma isolada não necessariamente precise ser no contexto das escolas regulares. Corre-se o risco assim, de um serviço criado para incluir os estudantes público da EE, metamorfosear-se em um marco excludente, reforçando a ideia de que o lugar destes estudantes é à parte da escola regular, em um serviço especializado. Um paradoxo, que remete a uma história recente da Educação Especial.

5 03084 Considerações Preliminares A fala das participantes revelou uma falta de coesão sobre a função de professora da SRM, o que indica a necessidade de propor entre as professoras, discussões sobre o assunto a fim de buscar compreender a função e até mesmo ressignificar a SRM como estratégia pedagógica no contexto escolar, pois apesar de estar dentro da escola, algumas professoras desenvolvem seu trabalho de forma isolada. Contudo, por se tratar de um serviço novo para atender os estudantes da Educação Especial, supõe-se que muitas ações/entendimentos estão em processo de implantação, reconhecimento e até mesmo fazem parte da construção de identidade deste serviço. Assim, pode-se dizer que também as professoras estão num momento de (re)conhecimento do serviço e do trabalho a ser realizado na SRM. Fontes de referência BRASIL. Conselho Nacional de Educação.Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB n.º 4, de 2 de outubro de Disponível em: < Acesso em: 6març Conselho Nacional de Educação.Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB 2/2001. Disponível em: <portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ceb0201.pdf > Acesso em: 6 març FRANCO, Maria Laura. Análise de Conteúdo. 4ª Ed. Brasília: Liber Livro, JESUS, Denise Meyrelles. Tensões e possibilidades na inclusão escolar: conexões com a formação docente. In: SOARES, Leôncio et al. (Org). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, Portaria Normativa Nº 13, de 24 de abril de 2007, que dispõe sobre a criação do Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais. i Mestranda em Educação pela Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), bolsista Capes/Prosup. ii Doutora em Educação, docente do Mestrado em Educação da UNIVILLE.