TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 3 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santo Anastácio, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANASTÁCIO, são apelados TABELIONATO DE NOTAS E DE PROTESTOS DE LETRAS E TÍTULOS, RODRIGO JOSÉ MAIA BOLFARINI e CLAUDIO APARECIDO SEVILHA CORREIA. ACORDAM, em 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RAUL DE FELICE (Presidente), SILVA RUSSO E RODRIGUES DE AGUIAR., 19 de julho de RAUL DE FELICE RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 4 Apelação cível nº Apelante: Prefeitura Municipal de Santo Anastácio Apelados: Rodrigo José Maia Bolfarini e Claudio Aparecido Sevilha Interessado: Tabelionato de Notas e de Protesto de Letras e Títulos Comarca : Santo Anastácio Vistos. VOTO 2248 APELAÇÃO CIVEL Exceção de pré-executividade Município de Santo Anastácio ISSQN referente ao período de a CDA em nome do Tabelionato de Notas e de Protesto de Letras e Títulos Ilegitimidade passiva Responsabilidade pessoal dos titulares dos serviços notariais e de registro Pretensão de inclusão dos delegados dos serviços - Impossibilidade de alteração do polo passivo da demanda - Inteligência da Súmula nº 392 do STJ A modificação do sujeito passivo da relação tributária em razão do que dispõem os artigos 121 a 123 e 128 do CTN só é permitida na fase administrativa Precedentes do STJ e deste Tribunal - Sentença mantida Recurso não provido. Trata-se de recurso de apelação cível, interposto pela PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANASTÁCIO em face da r. sentença de fls. 64/67, que acolheu a exceção de préexecutividade apresentada por RODRIGO JOSÉ MAIA BOLFARINI, e extinguiu a execução fiscal por ela proposta inicialmente em face do TABELIONATO DE NOTAS E DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS e posteriormente Apelação nº Voto nº

3 fls. 5 direcionada aos tabeliães RODRIGO JOSÉ MAIA BOLFARINI e CLAUDIO APARECIDO SEVILHA CORREIA, com fundamento na impossibilidade de substituição do polo passivo nos termos da Súmula 392 do STJ e julgou extinta a execução, com fulcro no art. 267, VI do CPC/73, condenando a Municipalidade ao pagamento dos honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 20, 4º do CPC/73. Alega a Municipalidade, em síntese, que anteriormente à decisão da ADI nº 3089 de , que reconheceu a capacidade contributiva de ISSQN pelas pessoas que exercem atividade notarial, eram precárias as informações para identificar o sujeito passivo da obrigação tributária, motivo pelo qual lançou mão da Instrução Normativa RFB nº 1005/2010 e utilizou o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica para efetuar o lançamento. Aduz mais que a identificação correta dos responsáveis somente foi possível após a publicação da decisão proferida pelo Corregedor Geral da Justiça do Estado de, no Processo nº 2009/ , o que ocorreu em (fls. 23). Pugna pela reforma da sentença e prosseguimento da execução constando os responsáveis na época do fato gerador como substitutos processuais ou litisconsórcio passivo necessário. Contrarrazões apresentadas por Rodrigo José Maia Bolfarini às fls. 79/85 em que sustenta a ilegitimidade de parte, tendo em vista que o lançamento da dívida está em nome do contribuinte Tabelionato de Notas e Protestos de Letras e Títulos, que figura no polo passivo da execução fiscal; asseverou mais que os tabelionatos Apelação nº Voto nº

4 fls. 6 não possuem personalidade jurídica e a responsabilidade pela prestação dos serviços notariais é pessoal do seu titular (notário ou tabelião, Oficial de registro ou Registrador), mediante a delegação que é conferida após aprovação em concurso público. É O RELATÓRIO. O recurso não merece provimento. A execução fiscal para a cobrança de ISSQN vencido no período compreendido entre a , foi ajuizada em , em nome de TABELIÃO DE NOTAS E DE PROTESTOS DE LETRAS E TÍTULOS, de acordo com a CDA nº 222/2013, no valor de R$53.519,58 (fls. 2/7). O executado não foi citado (fls. 43). Em a Municipalidade requereu a inclusão de Rodrigo José Maia Bolfarini e Claudio Aparecido Sevilha Correia, oficiais designados para responder pelo tabelionato, nos períodos de a e a , respectivamente (fls. 20/24), deferida a fls. 25. Citados (fls. 42 e 46), Rodrigo José Maia Bolfarini apresentou a exceção de pré-executividade, alegando ilegitimidade de parte, tendo em vista que a CDA não traz seu nome e o Tabelionato não tem personalidade jurídica para responder pela dívida. Apelação nº Voto nº

5 fls. 7 Pois bem. As alegações da Municipalidade não encontram guarida quanto às dificuldades em identificar corretamente o contribuinte, antes de efetuar o lançamento. Como é cediço, a ADI 3089, que negou imunidade recíproca e reconheceu a capacidade contributiva das pessoas que exercem atividades notariais, foi julgada em , ao passo que a publicação das nomeações Processo nº 2009/ Santo Anastácio DICOGE-3, foi efetuada em e a dívida foi inscrita somente em novembro de De sorte que transcorreu tempo significativo que possibilitasse à Municipalidade exercer o poder-dever de agir, no sentido de diligenciar, fiscalizar, apurar e indicar corretamente o contribuinte devedor. Preconiza o art. 236 da Constituição Federal que: Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. Como se observa, os cartórios que prestam serviços notariais não detém personalidade jurídica. O fato de ser cadastrado perante a Receita Federal CNPJ não lhe atribui personalidade jurídica, pois se trata de serviço público delegado a profissional de Apelação nº Voto nº

6 fls. 8 direito, dotado de fé pública, concursado, que é o responsável pela prestação dos serviços notariais e de registro, enquanto investido na delegação. Essa é a jurisprudência do STJ: TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 557 DO CPC. CARTÓRIO DE NOTAS. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA ILEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. 1. A eventual nulidade da decisão monocrática fica superada com a reapreciação do recurso pelo órgão colegiado, na via de agravo regimental, conforme precedentes desta Corte. 2. Nos termos da jurisprudência do STJ, o tabelionato não detém personalidade jurídica. Quem responde pelos atos decorrentes dos serviços notariais é o titular do cartório na época dos fatos. Logo, não possui legitimidade para figurar como polo passivo na presente demanda. Agravo regimental improvido.(agrg no REsp / RS AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2014/ Relator Ministro HUMBERTO MARTINS Julg. 20/11/2014- Publ. DJe 04/12/2014). Sobre a matéria, esta Corte decidiu: APELAÇÃO - Ação anulatória de débito fiscal ISS - Auto de infração lavrado contra o Cartório de Registro Civil, ente desprovido de personalidade jurídica e de personalidade judiciária Ilegitimidade passiva para a obrigação tributária Apelação nº Voto nº

7 fls. 9 Sentença mantida Julgamento na forma do art. 252 do RITJSP Recurso não provido. (Apl. Cível nº Relatora Desembargadora Mônica Serrano - Comarca de - 14ª Câmara de Direito Público Julg. 09/04/2015) Nessa esteira, tendo a dívida tributária sido inscrita em nome do Tabelionato, os tabeliães Rodrigo José Maia Bolfarini e Claudio Aparecido Sevilha Correia são partes ilegítimas para figurarem no polo passivo da presente execução fiscal, em razão de não terem sido indicados como contribuintes na CDA 222/2013. O tabelionato, por evidência, é ilegítimo para figurar no polo passivo por não deter personalidade jurídica. Rodrigo e Claudio poderiam ser incluídos no polo passivo da execução fiscal, caso os lançamentos tivessem sido efetuados em seus nomes, referentes aos períodos de prestação dos serviços sob a responsabilidade de cada um, o que não ocorreu na situação destes autos, Por outro lado, é aplicável ao caso a Súmula nº 392 do STJ, segundo a qual A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. (Grifei). Sobre o assunto, o STJ se posicionou: Apelação nº Voto nº

8 fls. 10 EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. ALIENAÇÃO DO IMÓVEL ANTERIOR AO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. REDIRECIONAMENTO DO FEITO EXECUTÓRIO CONTRA O ATUAL PROPRIETÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. CDA NULA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. I - A hipótese em questão diz respeito a execução fiscal relativa a dívida de IPTU e taxas, concernente aos exercícios de 1996 e 1997, em que a Fazenda Pública Municipal requer a inclusão no polo passivo de pessoa física que adquiriu imóvel da empresa executada no ano de II - A sentença a quo julgou extinto o processo, sem julgamento de mérito, com base no art. 267, inciso VI, do CPC, em razão da ilegitimidade passiva ad causam da executada, ora recorrida. III - É inviável a substituição do sujeito passivo no curso da lide, após a constatação da ilegitimidade passiva ad causam, ensejadora da extinção do processo sem exame do mérito, conforme inteligência do art. 267, inciso VI, do CPC. A substituição da Certidão de Dívida Ativa é permitida até o momento em que for proferida decisão de primeira instância, somente quando se tratar de erro formal ou material, e não em casos que impliquem alteração do próprio lançamento. Precedentes: AgRg no Ag nº /BA, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de 22/05/06; REsp nº /BA, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de 07/08/06 e REsp nº /AC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ de 05/08/02. IV - Recurso especial improvido. (REsp /SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/05/2007, DJe Apelação nº Voto nº

9 fls /08/2008) (Grifei). Outrossim, cabia ao Município utilizar-se da esfera administrativa para acionar os responsáveis tributários, nos termos do disposto no art. 131 do CTN, para que, quando da propositura da ação, o requisito da legitimidade estivesse devidamente atendido, prosseguindo a ação em face de quem de direito. Os artigos 121 e 128 do CTN, que tratam da sujeição passiva e atribuição de responsabilidade tributária, autorizam a Fazenda Pública a exigir o crédito de quem de direito, alterando se necessário o polo passivo, desde que na esfera administrativa. Em sede judicial, quando já definido o legítimo devedor, passam a incidir as normas processuais que vedam qualquer alteração no curso da demanda por ter sido o crédito já consolidado na esfera administrativa. É a inteligência dos artigos 41 e 267, inciso VI do CPC/73, vigente ao tempo da prolação da sentença: Art. 41. Só é permitida, no curso do processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei. Art Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (...) Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;. Apelação nº Voto nº

10 fls. 12 Neste sentido, esta Corte decidiu: Exceção de pré-executividade acolhida. Cabimento do meio de defesa. Súmula 393 do STJ. Multa pelo não recolhimento de ISSQN. Exercício Serviço registral. Ilegitimidade passiva. Entidade cartorária desprovida de personalidade jurídica responsabilidade pessoal do titular da serventia na época dos fatos. Impossibilidade de substituição da CDA. Aplicação da Súmula 392 do STJ. Honorários advocatícios devidos. Manutenção da sentença. Ratificação de seus fundamentos, nos termos do artigo 252 do Regimento Interno deste Tribunal. Nega-se provimento ao recurso.(apl Relatora Desembargadora Beatriz Braga - Comarca de Leme - 18ª Câmara de Direito Público Julg. 03/03/2016). Desse modo, é de rigor a manutenção da sentença extintiva do feito. Face ao exposto, nega-se provimento ao recurso interposto. Raul De Felice Relator Apelação nº Voto nº