HERNIA PERITONIO PERICÁRDICA EM CÃO: RELATO DE CASO PERICARDIO-PERITONEAL HERNIA IN DOG: CASE REPORT

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1 1 HERNIA PERITONIO PERICÁRDICA EM CÃO: RELATO DE CASO PERICARDIO-PERITONEAL HERNIA IN DOG: CASE REPORT Gabriel Luiz Montanhim 1 ; Juliana Aparecida do Carmo Emidio e Silva 2, Juliana de Oliveira Ribeiro 3; Pedro Paulo ROSSIGNOLI 4 ; Daniele Belchior Vela 5 e Paola Castro Moraes 6 1 Pós graduando em Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2 Graduanda em Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Unesp campus de Jaboticabal, SP, Brasil.(juh_emidio@hotmail.com) 3 Pós graduando em Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 4 Pós graduando em Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 6 Pós graduanda em Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 7 MV. Profa. Ma. Dra. - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Unesp campus de Jaboticabal, SP, Brasil Resumo: A hérnia peritônio pericárdica é uma doença rara, pouco descrita na literatura, caracterizada por uma comunicação direta entre o abdômen e o pericárdio, através de um defeito no diafragma. Seu prognóstico é favorável tanto para o tratamento cirúrgico. Este trabalho teve como objetivo relatar o diagnostico presuntivo e tratamento de um cão filhote com hérnia peritônio pericárdica. Palavras-chave: hérnia, peritônio, pericárdio, herniorrafia Keywords: hernia, peritoneal, pericardium, herniorrhaphy Introdução: A hérnia peritônio pericárdica é uma doença rara, caracterizada por uma comunicação entre o abdômen e o pericárdio através de um defeito no diafragma que permite a migração dos órgãos da cavidade abdominal, como fígado, ligamento falciforme, omento, baço e intestino delgado, para o interior do pericárdio (JOHNSON, 1998; BONAGURA e SAMII, 2006; HICKS e BRITTON, 2013). A prevalência desta condição, entre as doenças cardíacas, em felinos é de 0,29%, enquanto que em cães é 0,3%. (OLIVEIRA, et al, 2011; HICKS e BRITTON, Anais do 38º CBA, p.1410

2 2 2013). As principais raças felinas afetadas são Persa, Himalaia e Maine Coon, ao passo que em cães relata-se em Werimaraner (HICKS e BRITTON, 2013). As manifestações clínicas são variáveis, sendo que os sinais gastrointestinais e respiratórios são os mais comuns (REIMER, KYLES e FILIPOWICZ, 2004; BANZ e GOTTFRIED, 2010). Em gatos, nota-se com maior frequência indícios respiratórios como dispneia, taquipneia e tosse, em contraposição nos cães, a predominância é de emese, anorexia e diarreia. (BANZ e GOTTFRIED, 2010; HICKS e BRITTON, 2013). Outros sinais inespecíficos são perda de peso, dores abdominais, ascite, intolerância ao exercício, choque e colapso (JOHNSON,1998). Entretanto, deve-se salientar que os animais podem permanecer assintomáticos por um período ou por toda vida (WARE, 2006). O diagnóstico pode ser feito com a associação do exame físico por meio da auscultação e exames complementares como radiografia e ecocardiografia. Na auscultação, o achado mais comum são bulhas cardíacas abafados em um ou ambos os lados do tórax (REIMER, KYLES e FILIPOWICZ, 2004; WARE, 2006). Ao exame radiográfico torácico, nota-se silhueta cardíaca aumentada, deslocamento dorsal da traqueia, presença anormal de densidades adiposas e ou gasosas na silhueta cardíaca são alterações características que auxiliam na confirmação do diagnóstico (JOHNSON, 1998; WARE, 2006). Por fim, a ecocardiografia tem como objetivo auxiliar na confirmação do diagnóstico quando os aspectos radiográficos não são claros (WARE, 2006). O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. O primeiro consiste em monitorar o paciente e eliminar sinais de desconforto respiratório ou distúrbios gastrointestinais (BURNS, BERGH e MCLOUGHLIN, 2013). Já a herniorrafia, é uma técnica que resulta na oclusão do saco pericárdico e da hérnia e apresenta grande eficácia (JOHNSON, 1998). Diante disso, este trabalho teve como objetivo relatar o diagnóstico bem como descrever os sinais clínicos e a terapia empregada em um paciente canino, filhote com hérnia peritônio pericárdica. Relato de Caso Deu entrada ao Hospital Veterinário Governador Laudo Natel da UNESP, Câmpus de Jaboticabal uma cachorra, de dois meses, 1,5 kg, com queixa de Anais do 38º CBA, p.1411

3 3 aumento de volume na região de transição entre o tórax e abdômen. Os exames físicos não demonstraram nenhuma alteração significativa, frequência cardíaca da 124 bpm 1, frequência respiratória de 24 mr 2, temperatura corporal de 38,8ºC, TPC 3 de 2, mucosas normocarodas, normohidratada e sem alterações em linofonodos. O hemograma e bioquímico para função renal e hepática também não demonstraram nenhuma alteração. Na inspeção do aumento de volume que media cerca de 8 cm x 6 cm, pode-se notar presença de alças intestinais, bem com presença de epíplon. As alças não demonstravam sinais de encarceramento. Sendo assim, o paciente foi encaminhado para correção do defeito. A incisão cirúrgica foi realizada por cima do aumento de volume na qual após abertura do saco herniário, fora confirmada a presença do omento, bem como alças intestinais. Com a inspeção foi visto um defeito no diafragma, na qual o peritônio se comunicava com o pericárdio. As alças que estavam dentro do tórax foram reduzidas para cavidade abdominal e a ligação entre o peritônio e o pericárdio foi divulsionada, sendo feito hemostasia por cauterização dos vasos rompidos. As bordas do defeito do diafragma e da parede abdominal foram reavivadas, seguida de aproximação com sutura no padrão Reverdin com nylon 2-0 e padrão Sultan com caprofyl 2-0 respectivamente. A pele remanescente do aumento de volume foi retirada, na qual as bordas foram aproximadas com caprofyl 3-0 no padrão ziguezague, bem como o tecido subcutâneo. A dermorrafia foi realizada com pontos simples separados, com fios de nylon 3-0. A paciente se manteve estável ao longo de todo procedimento cirúrgico. No pós-operatório imediato o paciente apresentou leve dispneia e com a presença de pneumotórax discreto, além de pneumopericárdio, porém isso foi se resolvendo ao longo do dia. O pós-operatório foi realizado com terapia medicamentosa com amoxicilina com ácido clavulânico (22 mg/kg, BID 4, durante 10 dias), cloridrato de ranitidina (2,2 mg/kg, BID, durante 10 dias), cloridrato de tramadol (3 mg/kg BID, durante 5 dias), dipirona sódica (25 mg/kg TID 5, durante 7 dias), meloxican (0,1 mg/kg, SID 6, durante 1 Batimentos por minuto 2 Movimentos respiratórios 3 Tempo de preenchimento capilar 4 Bis in die duas vezes ao dia 5 Ter in die três vezes ao dia 6 Semel in die uma vez ao dia Anais do 38º CBA, p.1412

4 4 3 dias) e limpeza da ferida com solução fisiológica NaCl 0.9% seguida de aplicação de rifamicina spray. No décimo de dia de pós-operatório a paciente retornou ao atendimento, na qual não demonstrava nenhuma alteração. Estava respirando sem dificuldade e realizando suas necessidades fisiológicas sem nenhuma alteração. Segue em acompanhamento até os dias de hoje, tendo por volta de dez meses de idade. Discussão: Assim como no caso descrito acima da paciente de dois meses, esta é uma anomalia congênita cardíaca que de acordo com Oliveira et al. (2011), a prevalência dessa hérnia em cães é de 0,3%. Ademais, assim como na literatura, o animal não apresentou nenhuma alteração clínica significativa que evidenciasse a doença (HICKS e BRITTON, 2013). Durante a inspeção o que se notou foi a presença de alças intestinais e epiplon herniado, sendo bem comum encontrar em outros cães (HICKS e BRITTON, 2013). No entanto, apesar do fígado ser o órgão mais herniado, este não foi observado (BANZ e GOTTFRIED, 2010). Segundo Ware (2006), a comunicação entre o peritônio e o pericárdio facilita a movimentação do conteúdo abdominal permitindo que o contato deste com o coração leve a disfunções cardíacas. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. Na paciente optou-se por realizar a herniorrafia, na qual foi feita a redução das alças que estavam inseridas no tórax para a cavidade abdominal e posteriormente foi feito a divulsão do ligamento entre o peritônio e o pericárdio afim de solucionar o quadro. Esta técnica é considerada de grande eficácia para a resolução dos sinais clínicos de acordo com Burns et al. (2013). O acompanhamento do animal após o tratamento é de extrema importância para confirmar a completa recuperação, sem evidencia de qualquer complicação clínica que possa ser detectável. Conclusão: Este relato descreveu um caso de hérnia peritônio pericárdica em cão filhote. Sugere-se que que esta anomalia congênita, apesar de rara, deve ser suspeitada em animais principalmente assintomáticos, devendo ser investigado por meio de Anais do 38º CBA, p.1413

5 5 exames de imagem para a determinação do diagnóstico e posteriormente ao tratamento realizar o acompanhamento periodicamente. Referências: 1. BANZ, A. C.; GOTTFRIED, S. D. Peritoneopericardial diaphragmatic hernia: a retrospective study of 31 cats and eight dogs. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 46, p , BONAGURA, J.D.; SAMII, V.F. Cardiovascular radiography. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Saunders Manual of Small Animal Practice. 3ed. Missouri: Saunders Elsevier, p.1440, BURNS, C. G.; BERGH, M. S.; MCLOUGHLIN, M. A. Surgical and nonsurgical treatment of peritoneopericardial diaphragmatic hernia in dogs and cats: 58 cases ( ). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 242, p , HICKS, K. A.; BRITTON, A. P. A fatal case of complicated congenital peritoneopericardial diaphragmatic hernia in a Holstein calf. The Canadian Veterinary Journal, v. 54, p , JOHNSON, K.A. Hérnia diafragmática, pericárdica e hiatal. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo : Manole, Cap.37. V.1. p OLIVEIRA, P.; DOMENECH, O.; SILVA, J.; VANNINI, S.; BUSSADORI, R.; BUSSADORI, C. Retrospective review of congenital heart disease in 976 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 25, p , REIMER, S. B.; KYLES, A. E.; FILIPOWICZ, D. E.; Long-term outcome of cats treated conservatively or surgically for peritoneopericardial diaphragmatic hernia: 66 cases ( ). Journal of the American Animal Hospital Association, v. 224, p , WARE, W. A. Doença pericárdica e tumores cardíacos. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Elseirer Ltda, p , Anais do 38º CBA, p.1414