CAPITALISMO E EDUCAÇÃO NO CAMPO: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DO CAMPO
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- Norma Maranhão Vilarinho
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1 CAPITALISMO E EDUCAÇÃO NO CAMPO: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DO CAMPO Vania Cristina Pauluk de Jesus Rejane Aurora Mion Neste texto, o qual trata de resultados parciais de pesquisa no Mestrado em Educação, pretendemos discutir as necessidades educacionais dos sujeitos do campo, nesse mundo neoliberal, no qual o capitalismo globalizado destrói as identidades particulares. Para tanto, objetivamos: 1) refletir sobre o atual contexto educacional brasileiro, pois, estamos inseridos numa sociedade capitalista, a qual universaliza e destrói as identidades particulares e não podemos separar a discussão de construção de escola do campo, do contexto social mais amplo; 2) analisar a proposta do Estado às escolas do campo, ou seja, As Diretrizes Operacionais para Escola do Campo, (documento oficial do Estado brasileiro); 3) caracterizar a proposta educacional para o campo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), como também, 4) verificar os anseios educacionais dos sujeitos do campo. Nossa pesquisa é de abordagem qualitativa, usamos além de análise documental, como instrumento de coleta de dados, entrevistas estruturadas abertas, com todos os representantes da comunidade e comunidade escolar. Nossos sujeitos foram: uma comunidade rural de Ponta Grossa e um assentamento próximo à Ponta Grossa. Neste mundo neoliberal, onde os organismos de financiamento impõem aos países em desenvolvimento; os quais têm grande dívida externa; medidas de ajuste econômico aprovadas no Consenso de Washington, (e os citados países se submetem aceitando os ajustes a fim de conseguir refinanciamento, pois não têm como pagar suas dívidas). Com isto, os países são compelidos a diminuir seus gastos com programas sociais, saúde e educação. Nessa fase do capitalismo, o Estado, cada vez mais diminui suas funções e
2 responsabilidades. A participação da comunidade é incentivada para substituir e ocupar o lugar mantenedor do Estado. Esta participação é posta apenas como colaboração, não tendo caráter decisório e político. A mídia incentiva os voluntários da educação. Coloca-se a participação da comunidade como elemento suficiente para resolver os inúmeros problemas educacionais. O neoliberalismo ataca a escola pública a partir de uma série de estratégias privatizantes, mediante a aplicação de uma política de descentralização autoritária e, ao mesmo tempo, mediante uma política de reforma cultural que pretende apagar do horizonte ideológico de nossas sociedades a possibilidade mesma de uma educação democrática, pública e de qualidade para as massas. Uma política de reforma cultural que, em suma, pretende negar e dissolver a existência mesma do direito à educação (GENTILI, 1996, p. 244). A educação está sendo posta para contribuir à solidificação do modelo neoliberal, procurando despolitizá-la, atribuindo-lhe um novo significado, o de mercadoria. Esta concepção não apresenta nenhuma preocupação com a cultura, com à formação de cidadania, nenhuma referência ao humanismo. Há apenas referências insistentes sobre profissão, mercado, economia da educação, a produtividade, o desempenho. (IANNI, 2002, p.33). A educação deixa de ser vista como direito do cidadão. No campo, a adoção de novos processos e técnicas produtivas agiliza o deslocamento do trabalho e exige novas formas de seu adestramento. A globalização destrói, recria e subordina todas as formas de trabalho. Ao exército industrial de reserva, agrega-se um contingente dispensável, uma espécie de subclasse, no sentido de situar-se abaixo das classes sociais que parecem compor habitualmente a dinâmica da sociedade (IANNI, 1996, p ). As classes sociais são interdependentes, o capitalista depende do trabalhador e viceversa, mas o capitalista pode viver mais tempo sem o trabalhador do que o contrário, de acordo com MARX (2002, p. 65). Esta situação contribui para perpetuação da exploração do trabalho pelo capital, já que os avanços científicos e tecnológicos colaboram à diminuição dos postos de trabalho, aumentando o desemprego estrutural. O
3 poder de barganha do trabalhador diminuiu, obrigando-o a aceitar subempregos com salários aviltantes. O mundo agrário, neste contexto, vai gradualmente perdendo sua identidade, se transformando devido a ação das grandes corporações transnacionais, que modificam o modo de produção ao realizarem atividades produtivas mercantis, geopolíticas, marketings, incentivo ao consumismo. Os valores incentivados são os do mundo urbano capitalista, onde verificamos uma incansável e insaciável demanda de crescimento e progresso; sua expansão dos desejos humanos para além das fronteiras locais, nacionais e morais, conforme BERMAN, (2003, p.138). É difícil falar sobre a identidade do campo, uma vez que a globalização destrói as identidades particulares. O capitalismo aparece como um processo civilizatório, universal e autoritário, impondo-se às formas sociais de vida e trabalho, resultando em inúmeras contradições e injustiças. Quais são as especificidades do campo se o capitalismo universaliza tudo? É um desafio construir uma escola diferenciada para o campo, em meio ao capitalismo que destrói as identidades particulares e universaliza tudo. As condições das escolas na cidade são sórdidas, o que não se modifica, infelizmente, no campo. As escolas no campo enfrentam graves problemas: faltam escolas, infraestrutura, valorização e qualificação docente, falta apoio às iniciativas de renovação pedagógica. O currículo é inadequado às necessidades e interesses dos sujeitos do campo; os conteúdos escolares são totalmente desvinculados da realidade dos alunos, os mesmos não vêem necessidade de aprendê-los.. As escolas estão situadas no campo, mas constituem apenas um apêndice de uma escola pensada para cidade. Dados do IBGE, Censo Demográfico de 2002, revelam : os anos de escolaridade média no campo são 3,4, enquanto que na cidade encontram-se entre 7 anos. As taxas de analfabetismo e atraso escolar também são maiores. Sendo a primeira, no campo 29,8% e na cidade 10,3%. A Segunda no espaço rural está em 72% e no espaço urbano 50%. Estes dados revelam que a população do campo não tem seu direito à educação assegurado pelo Estado brasileiro. A escola precisa estar no campo e ser do campo. É
4 preciso romper com o círculo a que os jovens estão condenados, segundo GENTILI, McCOWAN, sair do campo para continuar a estudar, e estudar para sair do campo. Reafirmamos que é preciso estudar para viver no campo (2003, p.139). Vemos muitos avanços nas diretrizes operacionais para escola do campo, a saber: maior número de recursos, participação da comunidade e movimentos sociais na construção de proposta pedagógica; organização do currículo e calendário escolar conforme necessidades e realidade, entre outros. Enquanto que, a proposta educacional do MST visa despertar a consciência de classe nos envolvidos no processo, e pretende também formar militantes. Este movimento preocupa-se com adequação do currículo à realidade do campo, formação inicial e continuada de professores, aquisição e melhoria de recursos didáticos e materiais. Para que a escola satisfaça as necessidades: sociais, políticas, econômicas e culturais dos sujeitos do campo. Nas nossas visitas e entrevistas nas comunidades rurais verificamos que entre as necessidades e anseios apontados pelos sujeitos do campo, encontram-se essas: ensino de matemática e língua portuguesa. Um pai se queixa que o filho da 4ª série não sabe fazer conta e ele que teve menos anos de escolaridade é quem precisa ensiná-lo. Grande parte reclama da qualidade da escola do campo, e alguns mandam seus filhos à cidade estudar. Outros colocam como anseio, a necessidade da escola educar, no sentido moral e ético de formação. E ainda, para outros a escola deve ensinar algo relacionado ao trabalho do campo (ensinar a plantar, cuidar da lavoura, dos animais, entre outros). Contudo, vemos que tanto as Diretrizes como os ideais educacionais do MST, de certa forma, estão alinhados com os anseios dos povos do campo. Entretanto, consideramos que à efetivação da construção de uma nova escola para o campo, exige perceber que este precisa de uma educação diferenciada, que não se restrinja às necessidades agrícolas e do mercado de trabalho. Mas, uma formação cultural ampla, que privilegie à aquisição e recriação dos conhecimentos acumulados historicamente pela sociedade. Os sujeitos do campo precisam ter acesso ao saber elitizado. É indispensável superar a visão depreciativa do campo e defender os valores culturais do mesmo. O grande
5 desafio deste momento histórico, é fazer cumprir as Diretrizes, as quais, trazem muitos avanços e em muitos pontos convergem com as aspirações e ideais do MST. Pois permitem a participação da comunidade e movimentos sociais na escola, participação esta que pode oxigenar a construção de uma escola verdadeiramente do campo. Evidentemente, o Estado precisa aumentar os recursos destinados às escolas, pois as condições materiais têm grande influência na qualidade de ensino. Qualidade esta social, contrapondo-se ao modelo neoliberal de qualidade total. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BERMAN, M., Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Trad. Carlos Felipe Moisés, Ana Maria L. Ioriatti. 19ª ed. SP: Companhia as Letras, GENTILI, P., (org.) Pedagogia da exclusão: crítica ao neoliberalismo em educação. 2 º ed. Petrópolis: Vozes, , A falsidade do consenso: simulacro e importância na reforma educacional do neoliberalismo. Petrópolis: Vozes, , McCOWAN, (org.), Reinventar a escola pública: política educacional para um novo Brasil. Petrópolis: Vozes, IANNI, O., Esse governo fez do país uma província do capital mundial. Caros amigos, p.30-33, jan IANNI, O., A sociedade global. 8 ª ed. RJ: Civilização Brasileira, 1999.
6 KOLLING, E. J., MOLINA, M., Por uma educação básica no campo, v.1. Brasília: Unb, MARX, K.,, Manuscritos econômicos e filosóficos. Trad. Alex Marins. SP: Martin Claret,
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