. 61. BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE
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1 CAPÍTULO BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE. 61 7
2 Funcionamento do programa As etapas qualitativa e quantitativa da pesquisa mostraram enorme desconhecimento das famílias beneficiadas com relação às regras do programa. A falta de informação ocorre desde o momento em que o(a) potencial beneficiado(a) toma conhecimento do programa, principalmente por meio de parentes, amigas e amigos. Figura 42 Meio pelo qual titulares tomaram conhecimento do programa NS Outros Programa do Ministério do Desenvolvimento Social 0,1% 0,9% 0,3% Visita do agente de saúde 5,5% Prefeitura 0,3% Por meio de amigos e parentes 24% Na igreja 0,4% No posto de saúde/hospital 7,1% Na escola 23,2% Na Secretaria ou Núcleo de Assistência Social 9,5% Carro de som Jornal 1,3% 0,4% Rádio 5,6% TV 21,4% A escola aparece como um segundo veículo de informação em função da própria condicionalidade a ela relacionada. Quanto à televisão, presume-se, isso ocorre por conta da publicidade veiculada pelo governo federal sobre o Programa Bolsa Família. 62. IBASE instituto brasileiro de análises sociais e econômicas
3 Na fase qualitativa, quando os grupos focais discutiram os critérios para inclusão no programa, observou-se que a maior parte dos(as) titulares não os conheciam e os confundiam com as condicionalidades. Desconheciam, também, as razões pelas quais as famílias recebem valores diferentes e os limites de renda para cada faixa de benefício correspondente. Figura 43 Critérios de elegibilidade citados pelos(as) titulares* NS 22,4% Outros Problemas de saúde Ter filhos(as) matriculados(as) na escola 1,2% 6,8% 44,0% Baixa renda 61,3% Não ter carteira assinada Chefe de família desempregado(a) 12,1% 15,9% Apesar do visível desconhecimento, a maior parte das pessoas (78,1%) afirmou não ter dúvidas sobre o programa. Entre as que admitiram ter dúvidas, 28,4% disseram que buscaram respostas e as consideraram satisfatórias, 29,9% não ficaram satisfeitas e 41,7% não buscaram os esclarecimentos. É interessante observar que 43,1% dos(as) titulares do programa apontaram a prefeitura como o primeiro recurso ao qual recorrem para o esclarecimento dessas dúvidas, com larga distância sobre outros meios. O segundo recurso é a ligação para o telefone 0800, com apenas 14,8% das respostas. A escola e o posto de saúde são usados para esse fim por 9,2% e 8%, respectivamente. As entrevistas com gestores(as) mostraram que, por vezes, os responsáveis pelo atendimento nem sempre estão preparados(as) para dar informações, principalmente com relação a inclusões ou exclusões e alterações no valor do benefício. A enorme desinformação acerca da inclusão no programa gera incompreensão e desconfiança por parte dos(as) titulares, gestores(as) e integrantes de instância de controle social. * Pergunta aberta, com opção de até três respostas. BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE. 63
4 O acesso a informações sobre o programa e o fluxo destas entre as esferas de governo e usuários(as) é uma lacuna importante no processo de implementação que deve ser enfrentada para garantir maior transparência ao Programa Bolsa Família. A pesquisa revelou que o conhecimento das famílias sobre as condicionalidades determinadas para a concessão do benefício é razoável quando o assunto está relacionado às obrigações que devem cumprir. Dentre elas, a manutenção da criança na escola é a mais reconhecida. Figura 44 Condicionalidades citadas pelos(as) titulares* NS 19,0% Outros Compra apenas alimentos com o dinheiro do benefício Recadastramento periódico 1,0% 1,4% 0,9% Vacinar as crianças 33,2% Participar de ações de educação alimentar Acompanhar a saúde e o estado nutricional dos(as) filhos(as) Matricular e acompanhar freqüência escolar dos(as) filhos(as) 10,3% 39,6% 74,2% Na fase qualitativa da pesquisa, foram relatadas dificuldades associadas ao cumprimento das condicionalidades, com destaque para problemas de transporte (distância e custo) em municípios menores, de base rural, e para o acesso aos serviços de saúde. O custo pago pelas famílias para cumprir as condicionalidades também varia em função do próprio tipo de serviço. O atendimento pré-natal pode ser mais custoso que a vacinação, pois o acesso a esse último é facilitado por meio de campanhas. Como as condicionalidades estão voltadas, especificamente, para alguns dos componentes da família crianças e adolescentes, de 0 a 15 anos, mulheres grávidas e mães em amamentação, esse estímulo ao acesso a serviços públicos excluiu, sobretudo, os homens acima de 15 anos, que tradicionalmente já não freqüentam os serviços de saúde. Vale ressaltar que o acompanhamento das condicionalidades acaba recaindo sobre a mulher, sobrecarregando ainda mais sua jornada de trabalho. Os participantes dos grupos focais manifestavam, geralmente, sua aceitação às condicionalidades, ora registrando a importância que elas tinham para garantir a presença das crianças na escola em lugar de estarem na rua, ora por obrigarem o fun- * Pergunta aberta, com opção de até três respostas. 64. IBASE instituto brasileiro de análises sociais e econômicas
5 cionamento de certos serviços, especialmente os oferecidos em unidades de saúde. Consideraram, ainda, as condicionalidades como um compromisso de contrapartida que traz ganhos incontestáveis. A concordância da condicionalidade como contrapartida obrigatória foi igualmente manifestada por gestores(as) municipais dessas áreas. Figura 45 Opinião dos(as) titulares sobre desligamento das famílias que não cumprem com condicionalidades por grandes regiões 9,2% 26,9% 63,9% Sim Não NS/NR Em entrevistas semi-estruturadas com gestores(as) locais, foram expressas dificuldades nas questões referentes ao acompanhamento do cumprimento das condicionalidades, seja pela falta de infra-estrutura, pela mobilidade das famílias, ou ainda pela falta de interesse e capacidade dos(as) responsáveis pela informação. Nos depoimentos colhidos nas entrevistas semi-estruturadas, percebe-se que a participação de gestores(as) e representantes municipais é considerada uma tarefa a cumprir, sem muita atenção e interesse, e o predomínio nítido de uma postura estritamente setorial. Em alguns municípios, houve menção à freqüente simulação de informações, até mesmo pela preocupação de gestores(as) com possíveis exclusões de famílias em situação de pobreza. Mediante as dificuldades apresentadas no acompanhamento das condicionalidades, fica a dúvida quanto à qualidade da informação enviada pelas prefeituras. Conclui-se que é inadequado chamar de condicionalidade a exigência de filhos e filhas na escola e a freqüência aos serviços de saúde, que seriam direitos dessas famílias. Isso encobre o lado virtuoso de favorecer a articulação do Bolsa Família com outros programas e ações ligados à saúde e à educação, além da própria pressão gerada para que esses serviços sejam de fato oferecidos à população como direito. Mais fiel ao que efetivamente ocorre seria denominar como contrapartida os compromissos assumidos pelos(as) titulares com a educação e a saúde da família. A questão do controle social sobre a execução do Programa Bolsa Família é compreendida por pessoas titulares do programa e por gestores(as) como espaço de fiscalização e denúncia quanto a possíveis erros no valor dos benefícios e na avaliação das necessidades sociais das famílias. Os mecanismos de controle social são pouco conhecidos pelos(as) titulares. BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE. 65
6 Figura 46 Conhecimento dos(as) titulares sobre instâncias de controle social e demais formas de participação no programa 10,3% 89,7% Sim Não Figura 47 Conhecimento dos(as) titulares sobre como fazer denúncia de irregularidades 68,4% 31,6% Sim Não Dentre as pessoas que conhecem as instâncias de controle social, os mais citados são os órgãos de assistência social do município. Percebe-se, assim, a persistência de grande fragilidade nessa atribuição por parte das instâncias que recebem a responsabilidade. Geralmente, são conselhos de assistência social já sobrecarregados com as outras funções exercidas e acabam tratando o programa de forma burocrática. É grande também o desconhecimento, pelos(as) titulares, sobre as possibilidades de participação. Um desafio para o campo das políticas públicas é refletir acerca do papel que a sociedade civil deve desempenhar no controle social, para que não acabe recaindo sobre a sociedade a responsabilidade de fiscalizar as políticas em detrimento da participação efetiva em seu aprimoramento. A cooperação a ser estabelecida entre os entes federativos, com base no Programa Bolsa Família, deve contemplar a realização de programas e ações dirigidas ao seu público titular, no sentido da emancipação das famílias incluídas. No entanto, ainda é pouco expressiva a integração do Programa Bolsa Família com outras políticas. Em todas as regiões do país, a maioria dos(as) titulares informou que o programa não os(as) ajudou a acessar programas que ampliam o acesso à educação, à saúde e ao trabalho, conforme observado no capítulo 6. A fase qualitativa da pesquisa apontou dificuldades na inserção das famílias em outros programas sociais, seja porque essas ações não estão sendo implementadas ou pelo pouco conhecimento sobre elas. Um importante aspecto a ser considerado é em que medida o programa contribui para uma prática intersetorial no âmbito local. 66. IBASE instituto brasileiro de análises sociais e econômicas
7 Em entrevistas com gestores(as) municipais da área de saúde, constatou-se que alguns têm a concepção da intersetorialidade e, mais ainda, a compreensão de que o PBF pode servir para a inserção das famílias em outros programas. Parte desses gestores(as) percebem o PBF como uma porta de acesso aos serviços de saúde, dado o aumento da freqüência das famílias aos postos de saúde. Porém, é comum a ressalva de que o atendimento qualificado e a implementação de intervenções específicas para esses grupos dificilmente se operacionalizam, por causa das múltiplas atividades que o setor precisa realizar. Uma preocupação relevante acerca do programa, freqüentemente manifestada na etapa qualitativa da pesquisa, é sobre o custo de tempo e dinheiro despendidos para buscar o recurso do Bolsa Família. As figuras 47 e 48 mostram que o despêndio de tempo e recurso é maior nas áreas rurais. Figura 48 Tempo gasto para buscar o recurso do PBF por área Total Brasil 60,2 25,6 6,2 7,5 Rural 27,9 33,1 15,0 23,6 Urbana 69,2 23,5 3,8 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Menos de 1 hora Mais de 4 horas De 1 a 2 horas NS/Não lembra De 2 a 4 horas Figura 49 Dinheiro gasto para buscar o recurso do PBF por área Total Brasil 63,2 5,1 21,1 8,7 Rural 24,5 7,2 32,7 29,6 5,7 Urbana 73,9 4,5 17,9 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Nada Mais de R$ 5,00 até R$ 15,00 Até R$ 2,00 Mais de R$ 15,00 Mais de R$ 2,00 até R$ 5,00 NS/Não lembra BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE. 67
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