III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Zootecnia
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- Bruno Aleixo Soares
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1 PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ADOTADAS POR AGRICULTORES ASSOCIADOS À COOPERATIVA DE LEITE DA AGRICULTURA FAMILIAR DE DOIS VIZINHOS - PR Laudecir Vargas¹*, Sidney Ortiz¹, Julio Cezar Machado¹. Sidemar Presotto Nunes², Almir Antonio Gnoatto², ¹ Alunos do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos. laudecirvargas@gmail.com, ortizsidney@yahoo.com.br, j_cezarmachado@hotmail.com ²Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos. sidemarnunes@utfpr.edu.br, almirgnoatto@utfpr.edu.br Resumo: Há uma tendência cada vez maior da valorização do leite de qualidade pelo mercado, com isso as fiscalizações vêm sendo intensificadas tanto na produção quanto no armazenamento e transporte dos produtos preconizados pela Instrução Normativa n 51 do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Sendo assim, esse trabalho foi realizado com o objetivo de diagnosticar as práticas de produção de leite adotadas por agricultores associados à Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar (CLAF) de Dois Vizinhos PR. A metodologia foi baseada na realização de entrevistas semi-estruturadas e observações. O estudo foi realizado com famílias associadas à CLAF de Dois Vizinhos entre os meses de setembro e novembro de Foram envolvidas 79 famílias, de um total de 230 associados, selecionadas de forma aleatória em 12 comunidades rurais. Verificou-se que 90% dos produtores utilizam como base para alimentação do gado pastagens de espécies de plantas da família das gramíneas, 73% dos produtores têm uma produção média de 5 a 10 litros de leite/animal/dia, 34% dos produtores possuem animais da raça Jersey, 56% realizam ordenha mecânica e 39% dos produtores resfriam o leite através de tanque de imersão. Pela realidade apresentada, pôde-se concluir que se torna necessário que sejam fortalecidas práticas de produção de leite que visem à qualidade e o aumento da produção. Palavras-chave: Cooperativas de leite, agricultura familiar, gado leiteiro, qualidade do leite, pastagem. Introdução A atividade leiteira tem aumentado gradativamente na região Sudoeste do Paraná, tornando-se uma das maiores bacias leiteiras do Estado, conforme constado no último censo agropecuário realizado pelo IBGE 1 em 2006, o que tem aberto novas oportunidades de trabalhos e está se tornando uma das principais atividades econômicas no meio rural, principalmente para a agricultura de base familiar. No período de dez anos considerados pelo IBGE ( ), a produção de leite da região aumentou, passando de 163 milhões para 380 milhões (132,32%) e a produção por estabelecimento aumentou de para litros (200,12%), bem acima da média nacional e estadual que foram de 61,35% e 122,4% respectivamente. Com a importância econômica e social da cadeia produtiva do leite várias cooperativas da agricultura familiar vêm sendo constituídas na região, sendo que as CLAF s 2 já estão presentes em 25 municípios da região Sudoeste do Paraná, com mais de associados. O principal objetivo desta organização é o fortalecimento sócio-econômico das famílias associadas, buscando alternativas para fortalecer o setor leiteiro na região no aspecto da comercialização e da prestação de serviços de assistência técnica com a implantação de projetos na área da produção e processamento do leite. As CLAFs têm tido uma preocupação muito grande não só com a produção do leite, mas também com a qualidade, pois o mercado consumidor está cada vez mais exigente. Em 2002 o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, instituiu a Instrução Normativa 51 que estabelece alguns padrões de qualidade que devem ser seguidos por todos os setores da cadeia produtiva do leite. Diante disso, as fiscalizações vêm sendo intensificadas tanto nas propriedades como nas indústrias. Portanto, surge um grande desafio principalmente para os produtores, que vêm buscando atingir os padrões de qualidade 1 2 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar
2 propostos pela legislação. Sendo assim, esse trabalho foi realizado com o objetivo de diagnosticar as práticas de produção de leite adotadas pelos agricultores associados à CLAF de Dois Vizinhos PR. Material e Métodos A pesquisa foi dividida em três etapas: 1º etapa: A escolha das comunidades e das famílias O presente estudo foi realizado apenas com famílias associadas à CLAF de Dois Vizinhos entre os meses de setembro e novembro de A escolha das comunidades e das famílias foi realizada de forma que abrangesse todo território do município. Com isso, foram envolvidas 79 famílias, de um total de 230 associados, selecionadas de forma aleatória em 12 comunidades: Comunidade Piracema, São Francisco da Bandeira, São Miguel da Canoa, São José da Canoa, Santa Cruz, Fazenda Mazurana, Santa Lucia, São Valentin, São Pedro do Sul, Empossado, Linha Benetti e Linha Tartari. 2º etapa: Primeira conversa com as famílias indicadas Houve uma primeira conversa com as famílias indicadas, com o objetivo de explicar o trabalho que seria desenvolvido com as mesmas e, ao mesmo tempo, saber se gostariam de colaborar com a realização deste estudo. Com a concordância das famílias em aceitar a participar, foi agendado um horário específico com cada uma delas, para num segundo momento realizar as entrevistas semi-estruturadas. 3º etapa: Realização das entrevistas semi-estruturadas e reconhecimento do local da pesquisa Optou-se por trabalhar com entrevistas semi-estruturas baseadas em um roteiro formulado previamente, que serviu de referência para o levantamento das informações. A entrevista se somou com a visita em loco. Este momento permitiu que se estabelecesse uma relação muito positiva entre o pesquisador e o pesquisado. A equipe de pesquisadores foi composta pelos técnicos da cooperativa, que interagiam com os agricultores. As observações serviram para identificar as práticas de manejo do rebanho, ordenha, armazenamento e transporte do leite, facilitando a interação e a expressão destes agricultores. Resultado e Discussão Na região Sudoeste do Paraná os pilares da produção leiteira é a produção de leite a base de pasto, seja perene de verão e anual de inverno, sendo o período mais critico o outono, pois nesse período os pastos de verão param de produzir e os de inverno ainda não estão em condições de serem pastejados. No presente estudo verificou-se que 90% dos produtores utilizam como base para alimentação do gado leiteiro espécies de plantas da família das gramíneas, sendo que a mais cultivada é a estrela africana (Cynodon plectostachins), outros 10 % utilizam o sistema de consórcio de gramíneas com leguminosas, como o trevo branco (Trifolium repens L.) e amendoim forrageiro (Arachis pintoi L.) (Figura 1). O consórcio com gramíneas e leguminosas faz com que a pastagem tenha um teor de proteína bruta mais elevado, pois ao comparar estas espécies, percebe-se que as gramíneas de modo geral têm um valor baixo de proteína bruta em relação às leguminosas. Segundo Primavesi (2004), a cada litro de leite o animal excreta quase 5 gramas de minerais, de modo que um animal com uma produção de 8 litros de leite diário perde 40 gramas de minerais e cada animal de corte, criado na propriedade, exporta 17,5 kg de minerais extraídos do solo através da vegetação. Uma pastagem onde predominam as gramíneas necessita de bom manejo, com piqueteamento e
3 adubação. Isto é essencial para obter uma pastagem de qualidade, pois quando não se leva em conta este aspecto pode-se ter uma pastagem fibrosa e com baixo teor proteína. Verificou-se que 73% dos produtores têm uma média de produção de 5 a 10 litros de leite/animal/dia. Um outro grupo de 24% dos produtores tem uma produção entre 10 e 15 litros de leite/animal/dia e apenas 3 % dos produtores produzem acima dos 15 litros de leite/animal/dia. A Figura 3 mostra as principais raças de animais utilizadas pelos produtores, sendo que 34% dos produtores possuem animais da raça Jersey, outros 33% têm animais de origem de cruzamento do Jersey com Holandês, 22% dos produtores possuem animais com raça não definida e 11% dos produtores criam animais da raça Holandesa. Segundo Pinheiro Machado (2004), o melhoramento genético é o fator de maximização do animal, e do aproveitamento da base alimentar. É freqüente ver-se produtores comprando animais de alto preço, sem ter em suas propriedades um mínimo de alimentação, sanidade, instalação e manejo. Considerando a forma de ordenha das vacas, constatou-se que 56% dos produtores possuem ordenha mecânica e outros 44% dos produtores realizam a ordenha manual. Percebe-se que um número grande de produtores ainda não utilizam ordenha mecânica (Figura 4). Segundo Embrapa (2004), a ordenha manual oferece maior risco de contaminação microbiana do leite, pois aumenta o manuseio do leite na propriedade e requer o uso de mais utensílios. Isso, porém, não significa que o leite de ordenha manual seja de pior qualidade. Quanto ao armazenamento do leite na propriedade, verificou-se que o leite é resfriado em tanque de imersão por 39% dos produtores, 39% resfriam o leite utilizando o freezer, 19% resfriam por meio de tanque de expansão e 3% dos produtores resfriam o leite na geladeira (Figura 5). A Normativa 51, que trata dos padrões de qualidade do leite cru e leite pasteurizado no Brasil, determina que o leite deve ser resfriado a 7 C num período de até três horas após a ordenha e, para tanto, o sistema de expansão (tanque de inox sistema direto) e imersão (tanque com água) são os recomendados. No sistema de expansão o leite atinge a temperatura de 4 C em três horas, já no sistema de imersão deve-se resfriar o leite até a temperatura igual de 7 C no máximo em três horas, para isso, o produtor precisa mexer varias vezes o leite durante as três horas. Portanto, quanto mais rápido o leite for resfriado, menor o numero de microorganismo que se proliferam. Conclusão Pela realidade apresentada, pode-se conclui que se torna necessário que sejam fortalecidos métodos de produção de leite que visem a qualidade. Para isso, algumas práticas poderão contribuir, tais como: a higiene na hora da ordenha, eliminar os três primeiros jatos de leite de cada teta, fazer uma ordenha rápida e sem interrupção, desinfetar as tetas com solução específica quanto termina a ordenha e limpar todos os equipamentos com produto adequado. Outra prática que deve ser fortalecida é o aumento da produção por hectare. Como se trata da agricultura familiar, essa categoria tem limitação em área de terra. Assim, o produtor deve sempre buscar a maior eficiência produtiva, de acordo com os mais altos padrões de qualidade, entretanto, deve adotar sistemas que viabilizem o máximo o aproveitamento da pastagem e que se reflita em maior produção de leite por hectare. Cabe ressaltar, ainda, que esta pesquisa presta-se como subsídio a trabalhos futuros que venham a ser desenvolvidos na área de estudo.
4 Referências EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Gado de Leite: o produtor pergunta, a Embrapa responde. 2ª ed. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, p. IBGE. Censo Agropecuário. Disponível em: Acesso em 10 de março de 2008 IPARDES; EMATER. Caracterização socioeconômica da atividade leiteira no Paraná. Curitiba p PINHEIRO MACHADO, L.C. Pastoreio Racional Voisin: Tecnologia para Terceiro Milênio. Porto Alegre: Cinco Continentes, p. PRIMAVESI, A. Manejo Ecológico de Pastagens: Em regiões tropicais e subtropicais. São Paulo: Nobel, p. Gramíneas/ Leguminosas 10% Gramíneas 90% Figura 1. Espécies de forrageiras utilizadas pelos produtores da cooperativa de leite da agricultura familiar de Dois Vizinhos 3% 24% 5 a 10 litros 10 a 15 litros > de 15 litros 73% Figura 2. Produção média de leite / animal / dia dos cooperados da CLAF - Dois Vizinhos
5 11% 34% Jersey 22% Cruzamento Jersey/Holandês Mista Holandês 33% Figura 3. Principais raças criadas para produzir leite entre os cooperados da CLAF - Dois Vizinhos MECÂNICA 56% MANUAL 44% Figura 4. Forma de ordenha entre os cooperados da CLAF - Dois Vizinhos 19% 39% FREEZER GELADEIRA IMERSÃO EXPANSÃO 39% 3% Figura 5. Forma que os agricultores resfriam o leite em suas propriedades.
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