INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LEITE NA REGIÃO CENTRO OESTE: IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS.

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1 INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LEITE NA REGIÃO CENTRO OESTE: IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS. Esta comunicação trata dos impactos sociais e ambientais resultantes da intensificação da produção agropecuária na região Centro Oeste, tendo como base estudo da bacia leiteira de Piracanjuba em Goiás. Entre 1990 e 2008 a produção de leite do município aumenta em 388% e passa a ocupar a terceira posição no ranking nacional. O PIB per capita salta de R$ 3.386,00 (1999) para R$ 9.217,00 (2006), no entanto no mesmo período a população rural diminui na razão de 0,27% e a população total na razão de 0,15%. O IDH avança de 0,714 (1991) para 0,755 (2000), abaixo do avanço de Goiás que passou de 0,700 (1991) para 0,776 (2000), e abaixo também do avanço do Brasil que passou de 0,696 (1991) para 0,766 (2000). A expansão da produção de leite ao longo das décadas de 1990 e 2000 foi o resultado da disseminação de novas tecnologias de produção. A matriz leiteira de sangue predominante zebuíno adaptada ao clima e às forrageiras tropicais é progressivamente substituída por uma matriz de sangue predominante europeu, de produção leiteira muito mais elevada, mas não adaptada ao clima e às gramíneas tropicais. Esta nova matriz leiteira vem acompanhada de um pacote tecnológico intensivo em utilização de insumos e maquinários, muito mais dispendioso para o produtor rural. Ao aderir aos novos sistemas de produção o produtor alavanca um grande mercado, mas ao mesmo tempo passa a ter dificuldade para defender a lucratividade de sua própria atividade. Os acréscimos em produtividade são apropriados pelos segmentos industriais e comerciais ao longo da cadeia produtiva: a indústria de produtos veterinários; de máquinas agrícolas; indústria de ordenha e refrigeração; indústria de rações; laticínios; indústria de embalagens e cartonagens; indústria de melhoramento genético; adubos e defensivos agrícolas; supermercados e outros. Instala-se um círculo vicioso: o produtor estimulado pela indústria e para alcançar melhor renda intensifica cada vez mais a produção. Aumentam os riscos da segurança do produto para o consumidor final assim como do equilíbrio ambiental.

2 Em 2001 iniciamos uma série de pesquisas com o objetivo de elucidar os impactos sociais e ambientais dos novos sistemas de produção na bacia leiteira de Piracanjuba. Estas pesquisas abrangem: 1) perfil dos sistemas de produção de leite; 2) condições de trabalho e renda dos trabalhadores permanentes; 3) perfil do produtor de leite; 4) custos da produção e renda do produtor de leite ao longo de doze meses por amostragem estratificada; 5) avaliação socioambiental das mesmas fazendas; 6) sistematização de indicadores de emprego e renda no município como um todo. HIPÓTESE Lucram com a intensificação de produção de leite no Centro Oeste os segmentos industriais e comerciais do agronegócio do leite. Não há benefícios para produtores, trabalhadores, consumidores e a população local. O aumento de produtividade por meio da utilização crescente de insumos coloca em risco o equilíbrio ambiental e a segurança do produto para o consumidor. METODOLOGIA A metodologia de pesquisa adota o desenvolvimento sustentável como modelo de futuro, articulando as dimensões econômicas, sociais e ambientais. São parceiros da pesquisa a PUC Goiás, a Cooperativa Agropecuária Mista de Piracanjuba, a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás e a Faculdade de Piracanjuba. Participam da equipe produtores e trabalhadores rurais, extensionistas ligados à cooperativa local, estudantes e professores do próprio município. As pesquisas sobre o perfil da produção e do produtor e as condições do trabalhador foram realizadas nos anos de 2001, 2002, 2005, 2006 e 2008 aplicando duzentos e sete questionários distribuídos aleatoriamente em 23 diferentes regiões. A pesquisa sobre custos de produção e renda do produtor utiliza a metodologia PRODAP, foi iniciada em agosto de 2009 em vinte e sete propriedades adotando o critério da amostragem aleatória estratificada e será finalizada em julho de 2010.

3 A avaliação socioambiental de fazendas será realizada em agosto de 2010 e utiliza como ferramenta a metodologia APOIA NovoRural da Embrapa - Meio Ambiente, Jaguariúna. O levantamento de dados referentes à renda dos domicílios, pobreza, e emprego no município de Piracanjuba foi realizado em Foram aplicados questionários da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar IBGE em cento e quarenta e quatro domicílios da área urbana e rural. PARTE DOS RESULTADOS Os resultados parciais das pesquisas indicam: 1) Em 70% das propriedades predomina a matriz leiteira de sangue predominante taurino, utilizam tanque de expansão 75,38%, trator 50%, ordenha mecânica 35,5%. O combate a carrapatos e moscas está praticamente fora de controle, sendo praticado em intervalos médios de dezoito dias, colocando em risco a segurança do produto para a saúde do consumidor. 2) As condições de trabalho são precárias. As jornadas de trabalho são longas, maiores que 60 horas semanais em 87% dos casos, sem nenhum descanso semanal em 56% dos casos, os salários são baixos, em média 1,62 salários mínimos, renda familiar per capita próxima à pobreza em 35% dos domicílios. Como resultado da má qualidade dos empregos é alta a rotatividade: mais de 50% dos trabalhadores permanecem menos de seis meses nos empregos. 3) Pesquisa de Gomes (2009, p. 51) indica que em média o produtor de leite trabalha com um prejuízo anual de R$ 54,77, dado que deverá ser confirmado por nós. Está em curso um processo de envelhecimento do produtor rural, cuja média de idade em Goiás é hoje de 51 anos. 4) Os dados preliminares referentes a emprego e renda no município como um todo, indicam um alto nível de desemprego, 26,25%, e alto índice de informalidade, acima de 70%. Os níveis de salários estão abaixo dos níveis praticados em Goiás.

4 REFLEXÕES A modernização da pecuária leiteira no Centro Oeste brasileiro ocorreu transplantando modelos de produção dos países centrais não adequados às regiões tropicais. O produtor rural abraçou com entusiasmo tecnologias dito modernas, acreditando que ascenderia à condição de moderno empresário rural. Mas a utilização de novas tecnologias não modificou a relação dos segmentos industriais e comerciais com o produtor, tampouco modificou a relação do produtor com o seu empregado. As relações no interior das cadeias produtivas configuram uma clara situação de hiposuficiência e vulnerabilidade por parte do produtor e também do trabalhador rural. Identificar quem ganha e quem perde com a intensificação da produção é fundamental para que se busque avançar no sentido de novos sistemas de produção. Ao mesmo tempo é necessário que se ordenem as relações no interior das cadeias produtivas constituídas, garantindo melhores e mais estáveis margens de renda para o produtor e trabalhador, segurança para o consumidor e menor pressão sobre os recursos ambientais. BIBLIOGRAFIA INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE. Censo Rural Pesquisa da Produção Pecuária Municipal, GOMES, S. T. Diagnóstico da cadeia produtiva do leite em Goiás, Goiânia: FAEG, RODRIGUES, G.S. Diagnóstico e gestão ambiental de atividades rurais. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, et alli. Sistema Base para Avaliação e Eco-Certificação de Atividades Rurais. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 37. EMBRAPA Meio-Ambiente, Jaguariúna, 2007.

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