PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GAB. DO DES. LEANDRO DOS SANTOS

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1 ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GAB. DO DES. LEANDRO DOS SANTOS APELAÇÃO Cá/EL n /001 RELATOR : Des. Leandro dos Santos APELANTE : Condomínio do Edifício Residencial Ana Bela ADVOGADO : Yanko Cyrillo Filho APELADO : Município de João Pessoa, representado por seu Prefeito ADVOGADO : Guerreiro Arco de Melo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO MANDADO DE SEGURANÇA CONDOMÍNIO RESIDENCIAL CARTA "HABITE-SE" NÃO EMITIDA PELO ÓRGÃO PÚBLICO MUNICIPAL DESCUMPRIMENTO DAS REGRAS DE ACESSIBILIDADE DE PORTADORES DE DEFICIÊNCIA EXIGÊNCIAS DO DECRETO FEDERAL N 5.296/2004 AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO DENEGAÇÃO DA ORDEM IRRESIGNAÇÃO RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIMENTO. - Segundo a regra do 2, do art. 13, do Decreto n 5.296/2004, "para emissão de carta de "habite-se" ou habilitação equivalente e para sua renovação, quando esta tiver sido emitida anteriormente às exigências de acessibilidade contidas na legislação específica, devem ser observadas e certificadas as regras de acessibilidade previstas neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT'. - Na definição clássica de Hely Lopes Meirelles, direito líquido e certo é "o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração (in Mandado de Segurança, 27a ed., Malheiros, p. 36). Vistos, relatados e discutidos estes autos, antes identificados:

2 AC O R DAa Egrégia 1a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, e em harmonia com parecer ministerial, NEGAR PROVIMENTO à Apelação Cível. RELATÓRIO Trata-se de Mandado de Segurança impetrado pelo Condomínio Residencial "Ana Bela", em face de suposto ato omissivo do Secretário de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa, com o objetivo de compeli-lo a expedir e conceder o "HABITE-SE". Aduziu, que muito embora tenha juntado todos os documentos exigidos para a expedição da referida carta, via requerimento administrativo apresentado à Secretaria Municipal do Planejamento, o pedido não foi deferido sob o argumento de não cumprir o Decreto n 5.296/2004, que trata das regras de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência. Em razão disso, impetrou a presente ação mandamental no sentido, sob o entendimento de que a obra foi aprovada na égide de lei anterior que não exigia tais condições de acessibilidade e que, mesmo assim, SÓ seriam aplicáveis às edificações públicas (fls. 02/12). Juntou documentos de fls Em suas informações de fls. 49/55, a autoridade coatora levantou, em preliminar, a sua ilegitimidade passiva. No mérito, pela denegação da segurança pleiteada. Liminar indeferida às fls. 56/57.1mpugnação às fls. 121/123. Em sentença de fls. 62/66, o Juiz "a quo", afastou a preliminar aventada e, no mérito, denegou a ordem, por entender que a regra do 2, do art. 13, do Decreto 5.296/2004, são aplicáveis inclusive nas renovações de Carta Habite-se concedidas anteriormente à sua vigência. Devidamente intimado, o Condomínio Residencial Ana Bela interpôs apelação cível de fls. 71/78, renovando, em síntese, os mesmos argumentos da inicial. Devidamente intimado, o apelado ofereceu contrarrazões pugnando pelo desprovimento do recurso (fls. 83/87). A Procuradoria de Justiça posicionou-se pelo desprovimento do recurso (fls. 93/95). É o relatório. VOTO.

3 Compulsando os autos, verifico que o apelante alegou que muito embora tenha juntado todos os documentos exigidos para a expedição da Carta "HABITE-SE", via requerimento administrativo apresentado à Secretaria Municipal do Planejamento de João Pessoa, o pedido não foi deferido sob o argumento de que o Condomínio Residencial "Ana Bela" não cumpriu as normas de acessibilidade aos portadores de deficiência, conforme estatuído no Decreto Federal n 5296/2004. Nesse norte, tenho que todo o debate cinge-se em saber se o supracitado decreto é aplicável ou não a presente hipótese, tendo em vista as alegações do recorrente de que o projeto da obra foi aprovado sob a égide da lei anterior que não exigia tais normas de acesso de pessoas portadoras de deficiência e, mesmo que aplicáveis, somente poderiam ser cobradas das construções de edificações públicas. Assim sendo, fazendo a simples leitura de alguns dos artigos do Decreto n 5.296/2004, mister reconhecer que não merece acolhida a tese sustentada pelo impetrante, tendo em vista não só ser possível a sua aplicação imediata, independentemente do período em que o projeto da obra foi autorizado, como também pela circunstância de ela ser exigível para qualquer tipo de edificação, seja de natureza pública ou privada, esta última, inclusive, na categoria multifamiliar na qual o impetrante se diz enquadrar. Veja-se: Art.8 Para os fins de acessibilidade, considera-se: VIII - edificações de uso privado: aquelas destinadas à habitação, que podem ser classificadas como unifamiliar ou multifamiliar; e Art. 13. Orientam-se, no que couber, pelas regras previstas nas normas técnicas brasileiras de acessibilidade, na legislação específica, observado o disposto na Lei no , de 10 de julho de 2001, e neste Decreto: 2. Para emissão de carta de "habite-se" ou habilitação equivalente e para sua renovação, quando esta tiver sido emitida anteriormente às exigências de acessibilidade contidas na legislação especifica, devem ser observadas e certificadas as regras de acessibilidade previstas neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT. dispõem: O artigo 18, caput, e o seu parágrafo único, por sua vez, assim Art.18. A construção de edificações de uso privado multifamiliar e a construção, ampliação ou reforma de edificações de uso coletivo devem atender aos preceitos da acessibilidade na interligação de todas as partes de uso 01{A'

4 comum ou abertas ao público, conforme os padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT Parágrafo único. Também estão sujeitos ao disposto no caput os acessos, piscinas, andares de recreação, salão de festas e reuniões, saunas e banheiros, quadras esportivas, portarias, estacionamentos e garagens, entre outras partes das áreas internas ou externas de uso comum das edificações de uso privado multifamiliar e das de uso coletivo. Ora, na definição clássica de Hely Lopes Meirelles, direito líquido e certo é "o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante; se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros meios judiciais". (in Mandado de Segurança, 27a ed., Malheiros, p. 36s) Isso posto, imperioso reconhecer que o ato impugnado não foi ilegal ou abusivo, visto que a Secretaria de Planejamento do Município de João Pessoas apenas deu plena aplicação às regras do Decreto Federal n 5.296/2004. Ademais, o direito constitucional de acessibilidade é hoje erigido à categoria de 3a Geração. É, antes de tudo, uma materialização do direito de inclusão social. E, para que ele ocorra, necessário mudar o paradigma que atualmente norteia a relação das pessoas com deficiência, de forma a garantir que elas possam fazer parte da sociedade. O modelo da inclusão social consiste em tornarmos toda a sociedade, um lugar viável para a convivência entre pessoas de todos os tipos e condições na realização de seus direitos, necessidades e potencialidades, tais como: educação, trabalho, saúde, lazer, mídia, cultura, esporte, transporte e, com muito mais razão, à sua própria moradia. Sobre o tema, veja-se a lição de Cretela Jr in "CRETELA JR., José, "Comentários à Constituição 1988", 2.a ed., Volume VIII, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1993, p " "Como toda pessoa, o portador de deficiência (a) transita por logradouros, ruas, jardins, parques e praças, (b) penetra em edifícios, bens públicos de uso especial, como escolas e hospitais públicos e, por fim, (c) utiliza veículos de transporte coletivo como ônibus e metrô. A fim de o'

5 facilitar o acesso aos mencionados logradouros, edifícios e meios de transportes, serão editadas normas a respeito, sobre construção dos dois primeiros logradouros e edifícios e de fabricação dos segundos veículos de transporte, ou então, determinarão as normas editadas sobre a adaptação do que já existe para o acesso dos deficientes (art. 244)." Portanto, estranha-me que o Condomínio recorrente, diante de direito constitucional criado em benefício dos portadores de necessidades especiais, argumente que o edifício está autorizado a negar esse acesso, por ter sido construído antes da lei em referência, esquecendo-se que tal atitude pode prejudicar os seus próprios moradores. Raciocínio, ao meu sentir, egoístico. Ora, norma dessa natureza deve alcançar fatos passados, exatamente por que é benéfica, e se o condomínio não queria ser atingido por ela, que tivesse requerido o "HABITE-SE" antes de sua vigência. Portanto, não havendo direito líquido e certo a ser amparado pela via estreita do mandado de segurança, conheço da apelação cível, mas NEGO-LHE PROVIMENTO. É como voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Leandro dos Santos. Participaram do julgamento, além do relator, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Leandro dos Santos, a Excelentíssima Senhora Dra. Vanda Elizabeth Marinho (Juíza Convocada para substituir o Exmo. Desembargador José Di Lorenzo Serpa) e o Excelentíssimo Desembargador José Ricardo Porto. Presente à sessão a douta Procuradora de Justiça Otanilza Nunes de Lucena. Sala de Sessões da Primeira Câmara Cível "Desembargador Mário Moacyr Porto" do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, 29 de janeiro de Lute,to c, a,u,[1,,i Des. Le*ndrp dds Santos R!ator

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