Nº COMARCA DE BAGÉ GILDA MENESES PALMA DIAS ACÓRDÃO

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1 APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CHEQUE. ENDOSSO. OPERAÇÃO DE FACTORING. NÃO COMPROVADA MÁ-FÉ DA ENDOSSATÁRIA NA AQUISIÇÃO DO TÍTULO. PENHORA SOBRE DIREITOS E AÇÕES DE AUTOMÓVEL ALIENADO FIDUCIARIAMENTE. POSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. Não são oponíveis as exceções relativas ao negócio jurídico subjacente contra o endossatário de boa-fé, face à autonomia e abstração inerente ao título, que circulou mediante endosso e operação de factoring. Incomprovada má-fé da endossatária na obtenção do endosso. Impenhorabilidade não reconhecida. Possibilidade de penhora dos direitos que o executado possui em automóvel alienado fiduciariamente. Sentença de improcedência confirmada. PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO IMPROVIDO. UNÂNIME. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE BAGÉ GILDA MENESES PALMA DIAS BAGE FACTORING E SERVICOS LTDA APELANTE APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em afastar a preliminar de ilegitimidade passiva e negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO E DES. MARIO ROCHA LOPES FILHO. 1

2 Porto Alegre, 14 de setembro de DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES, Relator. RELATÓRIO DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (RELATOR) Cuida-se de recurso de apelação interposto por Gilda Meneses Palma Dias contra sentença que julgou improcedentes os embargos opostos à execução movida por Bagé Factoring e Serviços Ltda e condenou a embargante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10 % do valor da causa. Em razões (fls. 29/32) assevera a embargante, preliminarmente, sua ilegitimidade passiva ad causam, à medida que nunca teve qualquer relação com a empresa Bagé Factoring e Serviços Ltda e sim com a empresa Laerte Veículos Ltda, a quem emitiu os cheques nominalmente. No mérito, sustenta ser nula a constrição realizada, porquanto o automóvel penhorado encontra-se alienado ao Banco Volkswagem S/A. Diz que a cópia da ocorrência policial anexada aos autos, comprova que o portador dos cheques executados, Edison Luis Gasparoni de Mello, desfez negociação havida com Anderson Reginaldo Pelegrino Gasparoni, sócio da firma Laerte Veículos, embora tenham sido os cheques extraviados por este fato que denota a necessidade da execução restar movida pela empresa com a qual manteve relação. Diz ser pessoa honesta e trabalhadora, que restou atingida pelos atos de má-fé praticados pela empresa Laerte Veículos, por Edison Luis Gasparoni de Mello e Anderson Reginaldo Peregrino Gasparoni. Pugna, ao final, pela procedência do recurso. 36/37). Recebido o recurso, foram apresentadas contra-razões (fls. 2

3 Após, remetidos os autos a este Tribunal, vieram-me conclusos para julgamento. É o relatório. VOTOS DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (RELATOR) Da sentença que julgou improcedentes os embargos opostos por Gilda Meneses Palma Dias à execução movida por Bagé Factoring e Serviços Ltda, apela a embargante. De início, impõe-se a análise e rejeição da preliminar de ilegitimidade passiva ad causam suscitada em razões de apelação. Inobstante a alegação de não ter realizado qualquer negócio com a apelada, olvidou-se a apelante tratar-se o cheque de título de crédito com natureza abstrata que, não só pode moldar-se a qualquer obrigação como se desvincular do negócio jurídico que determinou sua emissão. Embora seja a empresa Laerte Veículos destinatário inicial do título, nada obsta tenha havido a transferência deste à apelada, já que os títulos de crédito encontram-se sujeitos aos princípios que regem a circulação dos bens dessa natureza. Portanto, não há falar em legitimidade passiva ad causam, pois o título pode ser cobrado independente do negócio que lhe deu origem. No mérito, sem melhor sorte à apelante. Ainda que admitíssemos oponíveis as exceções pessoais por tratar-se a embargada de empresa de factoring, outro não seria o resultado da demanda, na medida em que não logrou a embargante comprovar o vício e a má-fé na emissão ou circulação do cheque. Argumento de que foi extraviado o cheque objeto da execução e desfeito o negócio envolvendo Edson Luiz Gasparoni de Melo e Anderson 3

4 Gasparoni não assume qualquer relevância no caso concreto, seja pelo fato destes não fazerem parte da lide, seja por não ter demonstrado a má-fé da embargada, ora apelada, na aquisição do título. Impende considerar, ademais, o fato de que a embargante não nega a emissão do cheque objeto da execução, pelo contrário, confirma ter realizado negócio com a empresa Laerte Veículos. Neste sentido, farta a orientação desta Corte: AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULO EXECUTIVO. CHEQUE SUSTADO. ORDEM DE PAGAMENTO. DESCARACTERIZAÇÃO. PROVA. DISCUSSÃO DO NEGÓCIO SUBJACENTE. IMPOSSIBILIDADE. O cheque, como ordem de pagamento a vista, vale por si só. Para desconstituí-lo, caberia ao emitente o ônus de provar os eventuais fatos modificativos, ou extintivos do direito do credor, o que não se verificou nos autos. Ademais, tendo sido repassado a terceiro, tal situação equipara-se ao endosso, o que veda discussão do negócio subjacente. Abstração cambiária. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº , Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ary Vessini de Lima, Julgado em 31/03/2005) DECLARATÓRIA DE NULIDADE E SUSTAÇÃO DE PROTESTO DE CHEQUES. OPERAÇÃO DE FACTORING. 1. Abstração e inoponibilidade das exceções pessoais. Tendo os cheques circulados através de endosso e de operação de factoring, tornam-se abstratos, impossibilitando ao emitente opor exceções pessoais que caberiam contra o endossante e não contra o credor endossatário, que recebeu os títulos de boa-fé. 2. A nulidade de cheque é de ser reconhecida somente quando ausente um de seus requisitos essenciais, não ocorrente no caso em tela. Apelo provido. (Apelação Cível Nº , Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Orlando Heemann Júnior, Julgado em 17/03/2005) CHEQUES. FACTORING. SUSTAÇÃO DE PROTESTO E ANULATÓRIAS. CHEQUES EMITIDOS COMO 4

5 PAGAMENTO DE PEDIDO DE MERCADORIAS, ALEGADAMENTE NÃO ENTREGUES. FRAUDE DA VENDEDORA. CHEQUES DESCONTADOS EM OPERAÇÃO DE FACTORING. Não havendo necessidade de perquirir a origem do débito, aquele que emitiu o cheque fica responsabilizado pelos efeitos decorrentes de seu ato, não podendo alegar contra o portador de boa-fé relação contraída com terceiro. Esta não tem o condão de retirar a literalidade da dívida contida na cártula, por ser o cheque, como ordem de pagamento à vista, um título abstrato, independente da causa que lhe deu origem, obrigando o emitente. Ademais, a se justificar a discussão da causa debendi, haveria restar demonstrado que os títulos se referem efetivamente a pedidos de mercadorias não atendidos, ônus do qual não se desincumbiu a parte autora. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº , Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 15/12/2004) APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CHEQUE. ENDOSSO. TERCEIRO DE BOA FÉ. Não há falar em nulidade da ação pela reativação do feito, determinada pelo juízo, tendo em vista que contra esta decisão não se irresignou a embargante, restando a questão superada pela preclusão. O fato de os títulos estarem sendo questionados em face de negócio que seria nulo não retira destes a condição de executividade. Não tendo sido alegada a má-fé da endossatária/exeqüente, correta a sentença que desacolheu a fundamentação do embargante, uma vez que as circunstâncias do negócio original não atingem a exeqüente. PRELIMINARES REJEITADAS. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº , Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Helena Ruppenthal Cunha, Julgado em 16/03/2005) No que tange a alegada nulidade da penhora, a justificativa de encontrar-se o bem conscrito alienado ao Banco Volkswagem, não justifica a modificação da sentença. Ocorre que a alienação fiduciária não é impedimento para a realização da constrição, mormente porque, na hipótese, restaram penhorados 5

6 os direitos e ações que o apelante possui, restando respeitados os direitos do credor fiduciário. Neste sentido a jurisprudência: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE DIREITOS DE BEM ALIENADO FIDUCIARIAMENTE. PAGAMENTO PARCIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. 1. Embora o bem não pertença ao embargante, as quotas já adimplidas em contrato de alienação fiduciária fazem parte de seu patrimônio, podendo sobre elas recair a penhora. 2. A averbação da existência de ação executiva na matrícula do imóvel limita-se apenas a dar publicidade a terceiros de boa-fé a respeito da existência de título em execução. 3. Diante da ausência da comprovação de pagamento, não há motivos para acolher o pedido de quitação parcial da dívida. APELAÇÃO DESPROVIDA. (APELAÇÃO CÍVEL Nº , NONA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA, JULGADO EM 22/12/2004) AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. EXECUÇÃO. PENHORA. DIREITOS E AÇÕES. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. É possível a penhora sobre direitos e ações oriundos do contrato de alienação fiduciária, pertencentes ao devedor, restando preservado o patrimônio do credor fiduciário. Precedentes. Aplicação do art. 557, 1º-A, do CPC. Agravo provido. (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº , DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, DO RS, RELATOR: JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD, JULGADO EM 23/11/2004) EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE DIREITOS E AÇÕES DE AUTOMÓVEL ALIENADO FIDUCIARIAMENTE. EXCESSO DE PENHORA. MANUTENÇÃO. É de ser mantida a penhora do veículo, por ser a única garantia da ação de execução. Não houve, por parte do executado, o oferecimento de bens passíveis de penhora para substituição do veículo. Por essas razões, o voto é pelo improvimento do recurso de apelação, a fim de confirmar a sentença de primeiro grau, por seus próprios e jurídicos fundamentos. 6

7 DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO (REVISOR) - De acordo. DES. MARIO ROCHA LOPES FILHO - De acordo. DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Bagé: "AFASTARAM A PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E NEGARAM PROVIMENTO AO APELO." Julgador(a) de 1º Grau: RICARDO PEREIRA DE PEREIRA 7