PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ

Transcrição

1 A assinatura do autor por ELIZABETH MARIA DE FRANCA ROCHA:7733 é inválida PODER JUDICIÁRIO da 2ª Vara Cível da Comarca de Apucarana. Apelante: Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Multisetorial Silverado Maximum. Apelados: Mariza Terezinha de Assis Lima e Cícero Aparecido de Lima. Relatora: Juíza Elizabeth M. F. Rocha, em substituição ao Des. Luiz Carlos Gabardo. EMBARGOS DE TERCEIRO LEGITIMIDADE DOS EMBARGANTES DECORRENTE DE ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL DESPROVIDA DE REGISTRO OPOSIÇÃO À AVERBAÇÃO PREMONITÓRIA REALIZADA NA MATRÍCULA IMOBILIÁRIA RESPEITANTE AO AJUIZAMENTO DE EXECUÇÃO INTERESSE PROCESSUAL CONFIGURADO ANTE OS EFEITOS RESTRITIVOS DESSE ATO EXEGESE DO PAR. 3º DO ART. 615-A DO CPC AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO ENTRE EXEQUENTE E EXECUTADO EXERCÍCIO DA POSSE ANTERIOR À AVERBAÇÃO PREMONITÓRIA QUE DEPENDE DE CANCELAMENTO JUDICIAL - NÃO CONFIGURAÇÃO DE FRAUDE À EXECUÇÃO MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. Apelação desprovida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , da 2ª Vara Cível da Comarca de Apucarana, em que figuram, como Apelante, Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Multisetorial Silverado Maximum e, como Apelados, Mariza Terezinha de Assis Lima e Cícero Aparecido de Lima. Página 1 de 5

2 1. Trata-se de apelação interposta por Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Multisetorial Silverado Maximum, da sentença que ao julgar procedentes os embargos de terceiros opostos por Mariza Terezinha de Assis Lima e Cícero Aparecido de Lima, determinou o levantamento da constrição ocorrida nos autos de ação de execução... que o embargado move em face de CS Pesquisas e Participações Industriais Ltda.,... sobre o imóvel sob Matrícula , com a condenação dos embargantes ao pagamento das despesas processuais. Em suas razões recursais, o Embargado suscita a falta de interesse dos Apelados, ao argumento de que a averbação respeitante à execução na matrícula imobiliária não consiste em constrição judicial, pois visa exclusivamente impedir a fraude à execução, sendo ato distinto do arresto ou da penhora. Invoca, ainda, a anulação da sentença, para fins de inclusão no pólo passivo da executada CS Pesquisa e Participações Industriais Ltda., tendo em vista que o cancelamento da averbação traz efeitos na sua esfera de direitos e obrigações. Quanto ao mérito, assevera que ante a inexistência de registro da escritura de compra e venda do imóvel quando da averbação premonitória, a executada permanecia sendo dele proprietária, razão pela qual os Apelados deviam ter se voltado contra ela em ação indenizatória. Salienta que transferência de posse não implica em transferência de propriedade do imóvel. Conclui pela reforma da sentença, enunciando estar comprovado documentalmente que a transferência do direito real de propriedade aconteceu DEPOIS da averbação premonitória, o que leva à ineficácia desse ato porque realizado em fraude à execução. Processado o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este Tribunal. 2. De início, não há que se falar em ausência de interesse processual por parte dos Apelados/embargantes, sob a alegação de ausência de arresto ou penhora do imóvel em questão, tratando-se de mera averbação premonitória em sua matrícula referente ao ajuizamento da execução em face de CS Pesquisas e Participações Industriais Ltda., na qualidade de proprietária desse bem. Página 2 de 5

3 Na petição inicial constou o pedido de manutenção na posse do imóvel com gravação de ônus, com a exclusão dos bens relacionados para arresto e penhora e o cancelamento da prenotação nº datado de Por mais que não tenha sido efetivado o arresto ou a penhora, subsiste a pretensão dos Embargantes de cancelar a mencionada averbação, de modo a extinguir seus efeitos restritivos, diante da inviabilidade de se promover esse cancelamento extrajudicial, por não prever o ordenamento jurídico brasileiro tal possibilidade e porque a Lei 6.015/73 vale-se do princípio da continuidade dos registros públicos para evitar fraudes. Por mais que a averbação objurgada não tenha o condão de alterar os elementos constantes no registro imobiliário, nem tornar indisponível o bem objeto da respectiva matrícula, ela constitui medida acautelatória de direitos, visando dar publicidade a terceiros do ajuizamento de execução contra o proprietário do respectivo bem imóvel, de modo a proteger o adquirente de boa-fé. Aliás, o art. 615-A do Código de Processo Civil dispõe que O exequente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis (...). Tal ato configura uma constrição ao direito de propriedade, tanto que o par. 3º desse dispositivo expressamente estatui que Presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação (art. 593). Superado isso, igualmente não prospera a preliminar de nulidade da sentença aventada pela Embargada em seu recurso, que seria decorrente da não inclusão no polo passivo da executada CS Pesquisas e Participações Industriais Ltda. Isso porque a indicação do bem imóvel foi realizada pela exequente... cabendo apenas a esta a contestação da pretensão deduzida pela embargante... tal como efetivamente ocorreu. Inexistente, portanto, o litisconsórcio passivo necessário entre credor e devedor, também porque este decorre apenas da lei ou da natureza jurídica da relação de direito material acaso existente entre exequente e executado, circunstâncias que não se verificam no âmbito dos Embargos de Terceiro (CPC, art. Página 3 de 5

4 47). Precedente: 3a. Turma, REsp /SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJU , p (1º Turma do STJ, REsp /DF, rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, j. 28/02/2012). No mais, como bem leciona Humberto Theodoro Júnior: Os embargos são como uma ação de natureza constitutiva, que busca desconstituir o ato judicial abusivo, restituindo as partes ao estado anterior à apreensão impugnada. (Processo de Execução, 21.ed., São Paulo: LEUD, 2002 p. 415). Ou seja, o objetivo da lide é exclusivamente a liberação de bem pertencente a terceiro estranho à demanda executória, podendo a ação ser ajuizada tanto na defesa da posse fundada em domínio, quanto da posse em si mesma considerada, enfatizando-se que, de acordo com a Súmula 84 do STJ, é admissível a oposição de embargos de terceiros fundados em alegação de posse advinda de compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido de registro. No caso dos autos, está comprovado que em 10 de setembro de 2001, a executada CS Pesquisa e Participação Industrial Ltda. comprometeu-se em vender o imóvel em questão, mediante o pagamento de 50 parcelas mensais com vencimento a partir de 10 de outubro de 2001, para Gersino Gama de Oliveira (f. 12/13), que passou a ter a posse do bem, tanto que em seu nome se encontra a documentação respeitante ao IPTU de 2003 a 2013 (f. 41/53). Outrossim, pela escritura pública de f. 10/11 resta demonstrado que em 18 de junho de 2007, a mencionada executada, com a anuência de Gersino Gama de Oliveira e seu cônjuge, que então renunciaram a quaisquer direitos sobre o imóvel, vendeu- o para a embargante Mariza Terezinha de Assis Lima, com a ressalva de que já tendo sido efetivada a tradição real do imóvel, confirma a adquirente em sua posse, e lhe transmite, por este escrito, o domínio. Referidos documentos e a declaração do imposto de renda dos exercícios de 2011 e 2013 (f. 74/86) evidenciam a posse dos Embargantes/apelados exercida sobre o imóvel desde 18 de junho de Nesse contexto, como os Embargantes estavam na posse do imóvel quando da averbação premonitória realizada em 1 de abril de 2011, respeitante ao ajuizamento da execução em 30 de março de 2011, não há dúvida de sua Página 4 de 5

5 legitimidade em opor os embargos de terceiro. Ademais, não há que se falar em fraude à execução, considerando que os Embargantes sofreram restrição ao direito exercido sobre o imóvel adquirido em 18 de junho de 2007, com a averbação premonitória da execução extrajudicial ajuizada em 30 de março de 2011, da qual não são partes. Veja-se que a jurisprudência é muito segura quantos aos requisitos da fraude, tanto que foi editada a súmula 375, do STJ: "O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente". 3. Nesse contexto, impõe-se a manutenção da sentença apelada para fins de cancelamento daquela averbação premonitória; daí o desprovimento do presente recurso Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento à apelação, nos termos da fundamentação acima. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem voto, e dele participaram, com voto, os Excelentíssimos Desembargadores Shiroshi Yendo e Jucimar Novochadlo. Curitiba, 18 de novembro de Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau. Página 5 de 5