Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE PRODUCOES ARTISTICAS ADUR CONSTEC FACTORING ACÓRDÃO

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1 APELAÇÃO CÍVEL. ANULAÇÃO DE TÍTULO CHEQUES. EMPRÉSTIMO INDEVIDO. PROVA. OPERAÇÃO DE FACTORING. Incumbe à parte autora comprovar mediante prova testemunhal ou outros documentos acerca da existência efetiva de empréstimo a juros onzenários (art. 333, I, do CPC). Na ocasião da dilação probatória apenas postulou a inversão do ônus fundada no art. 6º do CDC, por não se tratar de relação consumeirista, e a produção de perícia contábil, não se mostrar apta a comprovar a existência de eventual empréstimo indevido. Tais contratações invariavelmente ocorrem de maneira oral e informal, sendo adequada a prova testemunhal ou o depoimento pessoal das partes envolvidas. Negaram provimento. Unânime. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE PRODUCOES ARTISTICAS ADUR CONSTEC FACTORING APELANTE APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao recurso de apelação cível. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO. Porto Alegre, 01 de dezembro de

2 DES. MARIO ROCHA LOPES FILHO, Relator. RELATÓRIO DES. MARIO ROCHA LOPES FILHO (RELATOR) Demanda. Cuida-se de ação anulatória de título com pedido de tutela antecipada ajuizada por Produções Artísticas Adur Ltda. contra Constec Factoring visando a sustação do protesto de um cheque de R$ 5.000,00 (nº ) e respectiva anulação do título. Alegou que visando a obtenção de recursos imediatos emitiu em favor da empresa de factorin o cheque de R$ 5.000,00 (nº ), com data de vencimento para 25/09/2002. Argumentou ter emitido mais dois cheques em garantia do pagamento da dívida: um no valor de R$ 750,00 (nº ) com data de 26/08/2002, para pagamentos dos juros abusivamente cobrados e outro de R$ 3.750,00 (nº ) com previsão de pagamento para após o vencimento do primeiro, mas que acabou sendo descontado em 23/08/2002. Sustentou que a proposta de pagamento envolvia a devolução do cheque de R$ 5.000,00, que restou levado a protesto, mesmo já tendo pago um total de R$ 4.500,00, restando apenas débito de R$ 500,00. Postulou antecipação de tutela para sustação do protesto, oferecendo bens móveis em caução e informou ter ajuizado também cautelar preparatória com este propósito, porém julgada extinta por ausência de interesse. idônea. Restou denegada a antecipação de tutela por ausência de caução Contestação. Devidamente citada, contestou a empresa Constec Mercantil de Fomento Ltda. sustenta ter firmado com a autora contrato de fomento mercantil, tendo adquirido, em 27/06/2002, através de endosso translatício duas duplicatas: uma sacada contra Vonpar Refrescos S/A no valor 2

3 de 8.500,00, com vencimento em 15/08/2002, a segunda contra Sadia S/A, no valor de R$ 4.000,00, totalizando operação de R$ ,00, rendendo à autora a importância de R$ ,76, conforme contratos anexos. Sustentou que os cheques repassados à ré se referem a pagamentos que a Vonpar teria feito diretamente à endossatária da duplicata enviando os dois cheques de R$ 3.500,00 e de R$ 5.000,00. Aduziu inexistir qualquer cheque no valor de R$ 750,00. Alega que o protesto se mostra legítimo, por ser credora da quantia representada no cheque. Reconvenção. A Constec postula o pagamento da quantia de R$ 7.551,71, referente ao débito representado na cártula devidamente acrescido de juros e correção. Contestação da reconvenção. Produções Artísticas Adur Ltda. sustenta que efetivamente realizou operações de faturização de títulos, tendo emitido o cheque de nº Alega que teriam acordado que seriam entregues mais dois cheques um para garantir o pagamento de uma parte do valor combinado e outro para pagar os juros do empréstimo. Reprisou que teria sido acertado que o cheque de R$ 5.000,00 seria devolvido, não havendo qualquer razão para a exigência do débito em tela, devendo ser condenada ao pagamento em dobro da quantia exigida nos termos do art. 940 do CC/2002. Sentença. O Magistrado da 4ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre julgou improcedente o pedido de anulação do título e procedente a reconvenção. Condenou a parte autora/reconvinda ao pagamento dos valores postulados na reconvenção, bem como das custas processuais e dos honorários do patrono da parte adversa, fixados em R$ 1.000,00. Condenou a parte autora ao pagamento de sanção de litigância de má-fé fixada em 1% e indenização à parte ré de 10% sobre o valor da causa. Recurso de Apelação. Inconformado, Produções Artísticas Adur Ltda. interpôs recurso de apelação, propugnando pela reforma da sentença, pleiteando, em síntese, ter realizado operação para obtenção de 3

4 recursos emitindo três cheques em favor da ré, sendo R$ 3.500,00 corresponderia a parte do pagamento principal, o de R$ 750,00 seria para pagamento de juros abusivos e o de R$ 5.000,00, ora protestado deveria serlhe devolvido após o pagamento total da dívida, sendo inexistente a sua causa jurídica. sentença. Contra-razões. A parte apelada postula a manutenção da É o relatório. VOTOS DES. MARIO ROCHA LOPES FILHO (RELATOR) Eminentes Colegas: No presente caso, resta incontroverso o seguinte fato: a autora realmente emitiu dois cheques em favor da ré, sendo o de R$ 5.000,00 (nº ), cuja anulação se discute e outro de R$ 3.750,00 (nº ), que não guarda pertinência direta com o pedido. Restou controverso o seguinte: a) a existência de empréstimo a que se refeririam os presentes cheques, sendo que o título ora discutido seria apenas para a garantia de tal empréstimo. b) ter sido emitido um terceiro cheque de R$ 750,00, que se referiria a juros abusivos decorrentes do alegado empréstimo. Todavia, a autora não demonstrou suficientemente a efetiva existência do alegado empréstimo, nem mesmo esclarece como teria ocorrido. Da inicial permite-se a compreensão de que a relação envolveria um empréstimo, pois refere apenas uma obtenção de recursos, sem mencionar qualquer eventual operação de fomento mercantil, envolvendo 4

5 duplicatas mercantis. Assim, suas alegações envolveria a prática ilegal, ao menos em tese, por parte da faturizadora. Na contestação da reconvenção admitiu parcialmente a tese da ré/reconvinte, ao reconhecer que a emissão dos cheques efetivamente estava relacionada ao pagamento da duplicata da Vonpar. Porém, posteriormente, mostrou-se contraditória ao insistir que o tal cheque de R$ 5.000,00 decorreria de um empréstimo que deveria ser devolvido ao final. A ré/reconvinte por sua vez traz uma versão plausível de que os dois cheques referem-se ao pagamento de R$ 8.750,00 que a Vonpar, ao invés de entregar à endossatária do título (Constec), teria feito diretamente à endossante (Produções Artísticas Adur). Comprovou tais alegações com o contrato dessa operação (fl. 75/77) e com a correspondência remetida à empresa de fomento encaminhando apenas os cheques e (fl. 78), firmada pelo preposto da empresa autora. Tais documentos em nenhum momento restaram impugnados em sua veracidade ou validade. Data vênia, incumbiria à autora comprovar mediante prova testemunhal ou outros documentos de que dispusesse acerca da existência efetiva de empréstimo a juros onzenários (art. 333, I, do CPC). Na ocasião da dilação probatória apenas postulou a inversão do ônus fundada no art. 6º do CDC e a produção de perícia contábil (fl. 113). Acontece que não se trata de relação consumeirista, mas de relação meramente comercial. A prova pericial contábil também não se mostra apta a comprovar a existência de eventual empréstimo indevido, porquanto esses invariavelmente ocorrem de maneira oral e informal, sendo adequada a prova testemunhal ou o depoimento pessoal das partes envolvidas. 5

6 de má-fé. Assim, mostra-se acertada inclusive a condenação em litigância Dessa forma, merece ser mantida a sentença pelos seus próprios fundamentos, vez que não há prova da inexistência da relação que gerou o débito. Diante do exposto e pelas razões apontadas, NEGO PROVIMENTO ao recurso de apelação cível. DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo. DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO - De acordo. DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: MARIA THEREZA BARBIERI 6