O DIREITO DE ACESSO À EDUCAÇÃO. Profa. Dra. Luci Bonini
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- Moisés Caetano Sousa
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1 O DIREITO DE ACESSO À EDUCAÇÃO Profa. Dra. Luci Bonini Desde a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, alguns órgãos da sociedade têm se manifestado no sentido de promover as garantias dos direitos dos cidadãos se reflete em outros documentos publicados não só pela ONU, mas pela legislação brasileira que, em resposta a uma triste estatística publicada no início da década de 90 do século XX, procurou novos rumos para a Educação Brasileira. Esta estatística colocava o Brasil numa situação ruim com relação à Educação, éramos o quinto pior país do mundo. Era preciso fazer alguma coisa, e tempos depois, em 1996, publicou-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o que promoveu algumas mudanças positivas. Outro documento que impulsionou mudanças urgentes na educação brasileira foi assinado em 1990, na Tailândia: a Declaração da Educação para todos de cujo artigo primeiro destacamos alguns trechos: SATISFAZER AS NECESSIDADES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM - 1. Cada pessoa - criança, jovem ou adulto - deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. (...) (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), (...) (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo (...); 2. A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio-ambiente e de ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus, assegurando respeito aos valores humanistas e aos direitos humanos comumente aceitos, bem como de trabalhar
2 pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo interdependente; 3. Outro objetivo, não menos fundamental, do desenvolvimento da educação, é o enriquecimento dos valores culturais e morais comuns. São nesses valores que os indivíduos e a sociedade encontram sua identidade e sua dignidade; 4. A educação básica é mais do que uma finalidade em si mesma. Ela é a base para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual os países podem construir, sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados de educação e capacitação. Quando se pensa em inclusão, seja ela social ou educacional é preciso também pensar na diversidade cultural brasileira: O Brasil é uma sociedade multiétnica (Ribeiro: 1997), ou seja, aos índios que aqui viviam somaram-se os colonizadores portugueses, os africanos trazidos à força como escravos e mais tarde, nas últimas décadas do século XIX e ao longo do século XX recebemos italianos, alemães, russos, espanhóis, israelenses, japoneses, libaneses, árabes, coreanos, apenas para citar os grupos mais representativos. Pois bem, muitos países, menores que o Brasil, no entanto, convivem com minorias religiosas, étnicas, culturais, lingüísticas que mantém as raízes que as fizeram emergir lealdades que beiram ao fundamentalismo. Não é raro ver notícias de grupos separatistas, de conflitos religiosos e atitudes de intolerância às diferenças entre pessoas de uma mesma nação, o que não ocorre no Brasil. Nossa sociedade não apresenta essas dissidências, esses conflitos, esses vínculos fiéis que tanto distanciam os homens da vida entre seus iguais. A impressão que temos é que o Brasil nasceu um pouco mais tolerante que outros países. Aprendemos mais cedo a conviver com as desigualdades, talvez até porque em meio a tantas diferenças, mantemos uma imensa semelhança: falamos a mesma língua. A unidade lingüística em nosso território de dimensões continentais, faz do Brasil um país potencialmente forte culturalmente: os registros históricos, a memória cultural, as comemorações cívicas e religiosas ou as festas de modo geral, a mídia impressa, eletrônica ou digital tem uma penetração muito maior do que em países que possuem diferenças lingüísticas, por isso, muitos educadores
3 acreditam que é mais fácil trabalhar a inclusão educacional em território nacional. Mas, nem sempre isso é possível falar em inclusão educacional é pensar em termos de mundo, em cujo cenário encontram-se 125 milhões de crianças que não freqüentam a escola e deste número dois terços são meninas, temos também 150 milhões de crianças que abandonam a escola mesmo antes de aprender a ler e a escrever e 12 milhões de crianças que morrem de doenças ligadas à pobreza todos os anos. Parte desses números são crianças brasileiras. Como, então, pensar numa Educação para Todos, se ainda hoje, um em cada quatro adultos nos países em desenvolvimento não sabem ler ou escrever? Ou ainda, o que podemos dizer diante da triste estatística que aponta que 1% apenas dos deficientes físicos freqüentam algum tipo de escola na maioria dos países em desenvolvimento? Para Mitler (2002) muitos Estados têm agido com cinismo diante das declarações da ONU, que encontra descaso para suas metas afixadas de inclusão educacional de meninas e de portadores de deficiência, entre outros casos. Poucos avanços têm sido detectados em alguns países, no entanto, algumas iniciativas e alguns pesquisadores têm observado sujeitos que evoluíram mesmo depois de sofrerem grave estresse em situações de guerra, catástrofes naturais, perdas significativas, ou por serem portadores de alguma deficiência ou, ainda, por terem nascido em famílias disfuncionais. Esses pesquisadores constataram que o ser humano tem capacidade para enfrentar, vencer e ser fortalecido e transformado por experiências de adversidade. (Grotberg, 2005:15). Esta capacidade é denominada de resiliência pelos psicólogos e eles ainda afirmam que ela é parte da saúde mental e da qualidade de vida dos seres humanos. Para ir um pouco além, poderíamos afirmar que junto com as três grandes virtudes humanas: a Fé, a Esperança e a Caridade compõem os quatro pilares do amor a si mesmo. Se ela é uma capacidade humana significa, então que já nascemos com ela, precisamos apenas desenvolvê-la e para isso é preciso gostar de si mesmo. A auto-estima se desenvolve em nós quando aceitamos com amor aquilo que em nós não pode ser modificado e quando temos a coragem necessária para
4 melhorar aquilo que pode ser melhorado, significa que é preciso conhecer bem nossos limites, estudarmos até onde podemos ir e como expandi-los, tendo para isso disposição e iniciativa, começando do mais fácil para o mais difícil. Os primeiros sintomas de que a auto-estima de um indivíduo vai bem é a demonstração da capacidade de rir de si mesmo, o humor, a brincadeira, o lúdico na vida das pessoas é uma possível lente através da qual se pode ver a realidade e a partir da qual o homem desenvolve sua criatividade, pessoas criativas sempre têm uma elevada auto-estima. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no art. 53l: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; - direito de ser respeitado por seus educadores; - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; - direito de organização e participação em entidades estudantis; - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Como podemos ver, a educação que se pretende, segundo a Lei do ECA, quer que as crianças e os adolescentes tenham o direito à educação, sejam eles crianças ou adolescentes considerados normais ou portadores de alguma necessidade especial e que essa educação garanta-lhes o direito de lhes fazer felizes. A escola deve se converter num espaço de alegria, de convivência pacífica e solidária. Se juntarmos as questões apontadas pela noção de resiliência e o artigo 53 do ECA, podemos inferir que um bom trabalho pode ser realizado se os agentes da Educação, desde os representantes de governo até os profissionais envolvidos com a educação dessas crianças na escola, conhecerem mais profundamente metodologias de ensino, aprendizagem e gestão escolar que levem em consideração as diferenças e as necessidade de inclusão, ou segundo Imbernón (2003): É preciso assumir um modelo no qual a cultura das minorias seja um valor positivo e a educação multicultural promova a emancipação cultural e a melhoria social dos alunos, aumentando o seu autoconceito e as suas expectativas, rompendo o círculo de pobreza e a falta de oportunidades.
5 Muitos teóricos têm esgotado seus discursos apresentando inúmeros modelos educacionais que deram certo, no entanto, muitas vezes a escola parte solitária para a solução de seus problemas, sem levar em consideração que muitos documentos já registraram a intenção de trazer benefícios para o processo educacional como um todo. Apontamos aqui apenas algumas considerações sobre alguns documentos, cujas ações que semeiam, deveriam frutificar, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Para Mittler (idem): Atingir os objetivos da Educação para Todos custaria o mesmo que quatro dias de gastos militares mundiais. Por isso, podemos afirmar que enquanto a Educação não for encarada como uma solução em nível mundial, federal e da própria sociedade, muitas coisas serão prioridade antes dela. Luci Bonini, é Dra. em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professora universitária e Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Gestão Escolar da Faculdade de Arujá. Para ler mais
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