Agravo de Instrumento n , de Canoinhas Relator: Desembargador Luiz Fernando Boller

Transcrição

1 fls. 86, de Canoinhas Relator: Desembargador Luiz Fernando Boller AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. INSURGÊNCIA DO ESTADO. PRETENDIDA REFORMA DA DECISÃO QUE DEFERIU A SUBSTITUIÇÃO DA CARTA DE FIANÇA BANCÁRIA POR SEGURO GARANTIA COM PRAZO DETERMINADO. SUBSISTÊNCIA DA TESE. AUSÊNCIA DE CONCORDÂNCIA DA FAZENDA PÚBLICA OU DE ELEMENTOS CONCRETOS APTOS A JUSTIFICAR A PLAUSIBILIDADE DA MEDIDA. PRECEDENTES DO STJ. IMPOSITIVA REFORMA DO DECISUM. "[...] é legítima a recusa ou a substituição, pela Fazenda Pública, de bem nomeado à penhora em desacordo com a gradação legal prevista nos arts. 11 da Lei nº 6.830/80 e 655 do CPC, devendo a parte executada apresentar elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade para afastar a ordem legal. [...] Com efeito, a substituição do bem penhorado por seguro-garantia, sem concordância da Fazenda Pública, é admitida em casos excepcionais e desde que não ocasione prejuízo ao exequente". (STJ, AgInt no REsp nº /SC, Relª. Minª. Regina Helena Costa, j. 11/10/2016). RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n , da comarca de Canoinhas (2ª Vara Cível) em que é Agravante Estado de Santa Catarina e Agravada RIGESA-Celulose, Papel e Embalagens Ltda. A Primeira Câmara de Direito Público decidiu, à unanimidade,

2 fls. 87 conhecer do recurso, dando-lhe provimento. Custas legais. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Jorge Luiz de Borba, com voto, e dele participou o Excelentíssimo Senhor Desembargador Paulo Henrique Moritz Martins da Silva. Florianópolis, 19 de setembro de Desembargador LUIZ FERNANDO BOLLER Relator Documento assinado digitalmente

3 fls. 88 RELATÓRIO Cuida-se de Agravo de Instrumento interposto por Estado de Santa Catarina, contra decisão prolatada pelo juízo da 2ª Vara Cível da comarca de Canoinhas, que nos autos da Execução Fiscal n , ajuizada contra RIGESA-Celulose, Papel e Embalagens Ltda., deferiu a substituição da garantia prestada mediante carta de fiança por seguro garantia (fl. 49, dos autos principais). Malcontente, o Estado sustenta que "não obstante a Lei nº /14 tenha dado nova redação ao art. 9º da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80), incluindo o seguro garantia no rol das garantias facultadas ao executado, tal fato não significa que se possa impor ao exequente que aceite obrigatoriamente tal modalidade" (fl. 04). Assevera que "o seguro ofertado pela executada tem prazo determinado" e, por consequência, "não serve para a garantia permanente do juízo", rechaçando a substituição da Carta de Fiança Bancária com prazo indeterminado pela nova modalidade assecuratória da execucional, termos em que - pugnando pela concessão do efeito suspensivo -, brada pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 01/09). Admitido o processamento da insurgência, e deferido o almejado efeito suspensivo (fls. 11/15), sobrevieram as contrarrazões, onde RIGESA- Celulose, Papel e Embalagens Ltda. refuta a tese manejada, clamando pelo desprovimento do Agravo (fls. 21/28). Redistribuídos nos termos do Ato Regimental nº 41/00, vieram-me os autos conclusos (fl. 77). É, no essencial, o relatório.

4 fls. 89 VOTO O reclamo foi interposto a tempo e modo, preenchendo os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade e, portanto, deve ser conhecido. E pelo Enunciado da Súmula nº 189 do Superior Tribunal de Justiça, "é desnecessária a intervenção do Ministério Público nas execuções fiscais". Pois bem. O Estado de Santa Catarina rechaça a decisão que deferiu a substituição da Carta de Fiança Bancária, oferecida para assegurar a subjacente demanda executiva, por Seguro Garantia com prazo determinado, em razão do grave risco de perda da garantia quando do vencimento do respectivo título. É certo que a Lei nº 6.830/80, em seu art. 9º, inc. II, com as alterações trazidas pela Lei nº /14, passou a autorizar o executado a oferecer seguro garantia como modalidade assecuratória para as execuções fiscais. Nesse diapasão: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. SEGURO-GARANTIA. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. LEI Nº /14. MODALIDADE EXPRESSAMENTE INSERIDA NA LEI DE EXECUÇÃO FISCAL. ART. 9, INC. II, DA LEF. NORMA PROCESSUAL. APLICABILIDADE IMEDIATA. CABIMENTO. 1. Cinge-se a controvérsia a definir se o seguro garantia judicial pode ser utilizado, em Execução Fiscal, como modalidade de garantia da dívida. 2. A jurisprudência do STJ, em atenção ao princípio da especialidade, era no sentido do não cabimento, uma vez que o art. 9 da LEF não contemplava o seguro-garantia como meio adequado a assegurar a Execução Fiscal. 3. Sucede que a Lei nº /2014 deu nova redação ao art. 9, inc. II, da LEF para facultar expressamente ao executado a possibilidade de "oferecer fiança bancária ou seguro garantia". A norma é de cunho processual, de modo que possui aplicabilidade imediata aos processos em curso. 4. Não merece acolhida, portanto, a pretensão da Fazenda Pública do Estado de São Paulo de impedir que a dívida seja garantida mediante oferecimento de seguro-garantia. 5. Recurso Especial não provido. (STJ, REsp nº /SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 17/03/2015). No entanto, no caso o que se discute não é a possibilidade de

5 fls. 90 oferta do seguro como garantia da demanda, mas, sim, a substituição da fiança previamente oferecida pela executada e devidamente aceita pelo exequente, por modalidade menos eficiente de caução - com curto prazo de validade -, sem qualquer justificativa pela proponente e independentemente da concordância do Estado. O tema não necessita de maior digressão, devendo a decisão recorrida ser reformada e prontamente afastada a pretensão da empresa agravada, pois a Corte Cidadã, quando do julgamento do Agravo Interno no Recurso Especial nº 1.605/001/SC, de relatoria da Ministra Regina Helena Costa, já se pronunciou no sentido de que a substituição da garantia na execução fiscal depende da concordância da Fazenda Pública ou de justificativa plausível, além de não causar prejuízo ao exequente, requisitos não observados no caso em tela. Assim, em respeito ao primado da segurança jurídica (art. 926 do NCPC), abarco integralmente a intelecção professada pela eminente Ministra Relatora, consignando-a em meu voto como razões de decidir: [...] Sustenta a Agravante que a Lei nº /14, a qual trouxe mudanças na Lei de Execução Fiscal, passou a permitir a utilização do seguro garantia como garantia em Execução Fiscal. Entretanto, em que pesem as alegações trazidas, os argumentos apresentados são insuficientes para desconstituir a decisão impugnada. De início, anoto que não se discute o direito de o contribuinte indicar o seguro garantia para garantir o débito tributário, mas de substituir o bem dado em garantia - Carta de Fiança Bancária - pelo seguro garantia com prazo de validade determinado. Esta Corte firmou posicionamento, em recurso repetitivo, segundo o qual, é legítima a recusa ou a substituição, pela Fazenda Pública, de bem nomeado à penhora em desacordo com a gradação legal prevista nos arts. 11 da Lei nº 6.830/80 e 655 do CPC, devendo a parte executada apresentar elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade para afastar a ordem legal. [...] Com efeito, a substituição do bem penhorado por seguro-garantia, sem concordância da Fazenda Pública, é admitida em casos excepcionais e desde que não ocasione prejuízo ao exequente. Nessa linha: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. BENS PENHORÁVEIS. ORDEM LEGAL. SUBSTITUIÇÃO. DEPÓSITO EM DINHEIRO. SEGURO-

6 fls. 91 GARANTIA. ANUÊNCIA DA FAZENDA PÚBLICA. NECESSIDADE. PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS NO ACÓRDÃO RECORRIDO. 1. O Tribunal a quo manteve decisão que autorizou a substituição de depósito judicial por seguro-garantia, com base em precedente segundo o qual o art. 15, inc. I, da Lei 6.830/80 permite que a penhora possa ser substituída, sem anuência do credor, quando o bem oferecido for dinheiro, fiança bancária ou seguro-garantia. 2. Conforme definido pela Primeira Seção do STJ, em julgamento submetido ao rito do art. 543-C do CPC/73, é possível rejeitar pedido de substituição da penhora quando descumprida a ordem legal dos bens penhoráveis estatuída no art. 11 da LEF, além dos arts. 655 e 656 do CPC, mediante a recusa justificada da exequente (REsp nº /SP, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 31/08/2009). 3. Por outro lado, encontra-se assentado o entendimento de que fiança bancária não possui o mesmo status que dinheiro, de modo que a Fazenda Pública não é obrigada a sujeitar-se à substituição do depósito (AgRg nos EAREsp nº /PR, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, DJe 27/05/2015; AgRg no REsp nº /SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 23/09/2015; REsp /PE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 12/11/2013). 4. A mesma ratio decidendi deve ser aplicada à hipótese do seguro-garantia, a ela equiparado no art. 9, inc. II, da LEF. A propósito, em precedente específico, não se admitiu a substituição de depósito em dinheiro por seguro-garantia, sem concordância da Fazenda Pública (AgRg no AREsp /SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 24/10/2012). 5. Não consta, no acórdão recorrido, motivação pautada em elementos concretos que justifiquem, com base no princípio da menor onerosidade, a exceção à regra. 6. Recurso Especial provido. (REsp nº /PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 17/05/2016, DJe 01/06/2016). [...] In casu, a agravante pleiteia o direito de obrigar o Estado de Santa Catarina a aceitar a substituição da Carta de Fiança Bancária dada em garantia por Seguro-garantia com prazo de validade determinado, embasada unicamente nos argumentos de que a Lei nº 6.830/80, com redação dada pela Lei nº /14, alçou o seguro garantia ao mesmo patamar da carta de fiança, como instrumento apto à garantia da execução fiscal, e o prazo de validade do seguro-garantia não obsta a aceitação, vez que pode ser renovado ou substituído a qualquer tempo. Como visto, não consta das razões do agravo, argumentação suficiente para ensejar, com base no princípio da menor onerosidade, a exceção à regra. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. (julgado em 11/10/2016). Nesse viés, não tendo a RIGESA-Celulose, Papel e Embalagens Ltda. logrado êxito em justificar - com base em elementos concretos e pautado no princípio da menor onerosidade -, a plausibilidade da substituição da garantia ofertada na execução, impositiva a reforma da decisão com a rejeição do pedido. Dessarte, conheço do recurso, dando-lhe provimento.

7 fls. 92 É como penso. É como voto. Após, remetam-se os autos à Diretoria de Recursos e Incidentes para que emita a Certidão Narrativa, nos termos requeridos por RIGESA- Celulose, Papel e Embalagens Ltda. no petitório protocolado em 14/08/2017 (fls. 78/79).