Uma guerra de todos contra todos
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- Domingos Santiago de Andrade
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2 Em todas as relações da vida, sobretudo nas relações afectivoamorosas, são importantes a empatia, a compaixão, a partilha e a compreensão, entre outros ingredientes essenciais, mencionados ao longo da obra de Goleman. Um casamento em que o conflito, o egoísmo e o insulto prevaleçam, rapidamente se corrompe. Transforma-se num insuportável inferno, numa fonte de verdadeira angústia e desespero, com consequências graves e nefastas para a saúde dos elementos envolvidos. Muito mais significativo para o bem-estar físico do que o número absoluto de laços sociais que temos pode bem ser o tom emocional dos nossos relacionamentos. Mais importante do que a quantidade de pessoas que rodeiam a nossa vida, é a qualidade dos relacionamentos estabelecidos. A saúde dos intervenientes é um dos principais indicadores do tipo de relacionamento vivido. Segundo Goleman, os relacionamentos tóxicos são um factor de risco tão importante em termos de doença e morte como o fumar, a pressão arterial elevada e o colestrol, a obesidade e o sedentarismo. Uma guerra de todos contra todos Quando se vive em constante ansiedade e tensão, as glândulas supra-renais segregam o chamado cortisol, uma das hormonas que o corpo mobiliza em caso de emergência. Se o nível desta hormona se mantiver elevado por longos períodos de tempo, a saúde é afectada, com impactos negativos a diferentes níveis - a memória, por exemplo, é altamente prejudicada, originando-se
3 também sensações de medo e hipervigilância. A toxicidade do insulto Não é só nos relacionamentos afectivos que a constante pressão afecta a saúde. Nos meios laborais é, muitas vezes, usual a perseguição, a injustiça, o conflito e o insulto, prejudicando o estado de saúde da vítima. Segundo Goleman, nas hierarquias rígidas, os chefes tendem a ser autoritários; expressam mais livremente desprezo pelos seus subordinados que, em paga, sentem naturalmente uma confusa mistura de hostilidade, medo e insegurança. Os insultos que podem ser uma rotina com chefes tão prepotentes servem para reafirmar o poder do superior, ao mesmo tempo que deixam o subordinado a sentir-se impotente e vulnerável. Como se poderá então lidar com um insulto? Num relacionamento entre pares, as pessoas, por vezes, confrontam-se, podendo exigir-se um pedido de desculpas. Se o insulto provém, no entanto, de uma pessoa dotada de poder, os subordinados demonstram-se forçosamente tolerantes e tendem a reprimir a sua ira a pessoa que se retrai sente-se cada vez mais impotente, ansiosa e, finalmente, deprimida. A cadeia causal Os investigadores continuam a procurar descobrir uma relação biológica causal, diametral e clara, entre relacionamentos geradores de stress e problemas de saúde. Sheldon Cohen, um psicólogo da Carnegie Mellon University,
4 procurou perceber se um relacionamento gerador de stress podia contribuir para aumentar a probabilidade de uma infecção (constipação). A resposta a que chegou, através de uma avaliação dos encontros sociais nas semanas anteriores à exposição ao vírus, foi afirmativa. A conclusão é que discussões constantes e isolamento são prejudiciais à saúde, chegando mesmo a significar uma probabilidade 4,2 vezes superior de apanhar uma constipação. Pelo contrário, conexões sociais vibrantes, nas palavras de Goleman, impulsionam estados de espírito positivos, reduzem os níveis de cortisol e aumentam a função imunológica sob tensão. A percepção da malícia De todos os tipos de stress, o que mais nos prejudica, em termos de resultados biológicos, é sentir que se está a ser julgado e ser alvo de duras críticas frente a um público e nada poder fazer para as evitar. Margaret Kemeny e Sally Dickerson, especialistas em medicina comportamental da University of California Medical School, dizem que ser avaliado ameaça o Eu social, ou seja, a forma como nos vemos através dos olhos dos outros. O Grupo Hem Sincroni@ dá o exemplo de uma médica a frequentar o seu segundo ano de especialidade. Ao apresentar um trabalho que lhe tinha sido proposto, foi duramente criticada pela directora do serviço onde estava. Apesar de saber que o seu trabalho estava correcto, nada podia fazer em relação ao seu superior. Esta situação levou a que se questionasse sobre o seu valor. Mais tarde veio a descobrir que as duras críticas se deviam a problemas
5 internos do serviço e que o trabalho estava tão bom que a convidaram a publicar numa revista da especialidade. O cérebro social parece também fazer uma distinção entre malícia acidental e intencional. Esta distinção faz com que em situações acidentais a nossa necessidade mais básica de aceitação e pertença não seja ameaçada; enquanto que em casos intencionais, o nosso corpo reage de forma mais negativa, demorando mais tempo a recuperar. Isto é tanto verdade quanto nos casos de catástrofes naturais: as pessoas recuperam mais rapidamente de um stress pós traumático, do que em casos de terrorismo ou abusos intencionais. A classe de 57 Este sub tema trata a análise de um caso por Richard Davidson em que pretendia definir a qualidade dos relacionamentos ao longo da vida dos sujeitos. Goleman reflecte sobre a seguinte conclusão: "os investigadores descobriram que os relacionamentos são importantes: há uma forte associação entre ter um perfil de alto risco físico e um tom emocional desfavorável cumulativo nos relacionamentos mais importantes da vida dos sujeitos". A importância de alguém que nos motive e que nos ensine a viver, enquanto crianças, é muito significativa. Poderá ter mesmo um papel preponderante para a resolução de problemas. Ou seja, um historial de relacionamentos saudáveis e estáveis teoriza, dá à pessoa os recursos interiores necessários para recuperar de problemas e perdas emocionais.
6 Epigenética Social Goleman termina este capítulo falando da epigenética social, ou seja, o stress pode mesmo influenciar os genes das células imunitárias, essenciais para combater infecções e sarar ferimentos. Segundo várias investigações, qualquer pessoa que tenha de cuidar de um ente querido doente fica em constante tensão tensão que cobra um tributo à sua própria saúde e bem-estar. Goleman refere que quem está sujeito a stress demora mais tempo a tratar, por exemplo, de uma constipação. "Um factor chave desta imunidade diminuída pode ser a ACHT, um percursor do cortisol e uma das hormonas segregadas quando o eixo HPA se descontrola. Ou seja, o stress contínuo da prestação constante de cuidados num estado de isolamento social afecta o controlo do cérebro sobre o eixo HPA, o que por sua vez enfraquece a capacidade dos genes do sistema imunológico, como o GHmRNA, de fazerem o seu trabalho no combate à doença". A prestação de cuidados a alguém doente recai na nossa idade, ou seja, acelera o ritmo a que as nossas células envelhecem, acrescentando, assim, anos à idade biológica. Goleman refere uma alternativa a estes casos - a inteligência social colectiva. Ou seja, um grupo de pessoas que se oferece para ajudar alguém doente, uma espécie de ajuda social, como por exemplo o voluntariado em centros de saúde, hospitais ou associações.
7 Anexos Epigenética pela Wikipédia: "Epigenética é um termo usado na biologia para se referir a características de organismos unicelulares e multicelulares (como as modificações de cromatina e DNA) que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares mas que não envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo. Estas mudanças epigenéticas desempenham um importante papel no processo de diferenciação celular, permitindo que as células mantenham características estáveis diferentes apesar de conterem o mesmo material genômico". O próximo artigo reflecte sobre as diferentes vertentes mencionadas - a questão da toxicidade do insulto (e não só), sob o ponto de vista laboral, e as suas consequências ao nível da saúde: nizacionais.html Cortisol e ansiedade: Uma forma cómica de encarar o stress: e=related
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