ANÁLISE DO USO DA TERRA E DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS: ESTUDO DO RIACHO DOS CÁGADOS - REGIÃO AGRESTE DO ESTADO DE ALAGOAS
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- Elias de Sequeira Carlos
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1 ANÁLISE DO USO DA TERRA E DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS: ESTUDO DO RIACHO DOS CÁGADOS - REGIÃO AGRESTE DO ESTADO DE ALAGOAS Denize dos Santos Pontes, denize_ambiente@hotmail.com Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL Cícero Bezerra da Silva, cicerogeografia016@gmail.com Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL Jailma Ferro Cabral, Jailmacabral.12@gmailcom Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL Ana Paula Cabral Ferro, anapaulacabral@gmail.com Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL INTRODUÇÃO Entendida como unidade de planejamento e estudo, as bacias hidrográficas são fundamentais na compreensão da dinâmica das águas, mas também pode evidenciar as relações da sociedade com o meio físico e a dinâmica da paisagem na qual se encontra inserida. Esses estudos, além possibilitar um diagnóstico do sistema natural pode possibilitar também a aplicação de técnicas de zoneamento. Delimitadas a partir de critérios geomorfológicos, as bacias hidrográficas são fundamentais também no entendimento dos processos fisiográficas atuantes na região, levando em consideração os tipos de solo e os usos a ele atribuídos, a formação vegetal, as formas geomorfológicas, as rochas e ação humana. O uso cada vez mais frequente da bacia hidrográfica como unidade de estudo é resultante da visão sistêmica e integrada que esses espaços físicos representam já que se relacionam diretamente com os elementos biótico, abióticos e ação humana (BOTELHO; SILVA, 2012).
2 Diante dessas abordagens, nesse trabalho é realizada uma análise dos usos atribuídos ao solo na sub-bacia hidrográfica do riacho dos Cágados (contribuinte do riacho Lunga inserido na mesorregião do Agreste Alagoano) e dos impactos ambientais decorrentes desse tipo de uso. Além disso, é feita também uma breve análise do mapeamento da rede de drenagem da sub-bacia, levando em conta que em trabalhos anteriores foram detectados algumas falhas em sua representação (FONSÊCA; SILVA; PONTES, 2014). Nesse sentido, a fim de buscar uma compreensão detalhada da área em estudo foi realizado o mapeamento da rede de drenagem do riacho dos Cágados identificando e concertando as falhas na representação a partir do uso de imagens SRTM e da sobreposição das cartas topográficas da SUDENE folhas Palmeira dos Índios e Arapiraca. OBJETIVO Os estudos relacionados a bacias hidrográficas ganham enfoque por essas serem parte integrante do sistema hidrológico, responsável pela drenagem das precipitações e pela circulação da água na superfície terrestre. A compreensão desses sistemas naturais pode levar a elucidação dos variados fatores que atuam na paisagem como solo, vegetação, recursos hídricos, dentre outros. Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo a realização do mapeamento de uso da terra e dos impactos ambientais ocorrentes na sub-bacia hidrográfica do riacho dos Cágados, pertencente à rede de drenagem do rio Coruripe (bacia) no Estado de Alagoas. Com esses mapeamentos será possível à identificação das características fisiográficas da referida rede de drenagem bem como o entendimento das alterações ocorrentes em decorrência das atividades desenvolvidas pelo homem. METODOLOGIAS O riacho dos Cágados é um afluente da margem direita do riacho Lunga, que por vez integra a rede de drenagem do rio Coruripe no estado de Alagoas. O riacho dos Cágados drena terras pertencentes aos municípios alagoanos de Palmeira dos Índios (cabeceiras de drenagem) e Igaci onde tem sua confluência com o riacho Lunga.
3 A delimitação da área de estudo (bacia) foi realizada com base nas cartas topográficas da SUDENE folhas Palmeira dos Índios e Arapiraca com escala de 1:1000 e com os dados do projeto Topodata /SRTM (Shutt Radar Topographic Mission). Esses dados são disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os dados referentes ao uso do solo e cobertura vegetal são disponibilizados pelo Ministério de Meio Ambiente do Estado de Alagoas - IMA. Assim como a delimitação, essas informações também foram fundamentais para a identificação de alguns erros contidos na representação da malha hídrica da referida sub-bacia. A geração dos mapas temáticos foi realizada a partir do software livre QGIS (versão 2.8) e objetivando a realização de uma análise mais categórica, nesse trabalho também foram utilizados dados e informações de um trabalho de campo já realizado na área, que possibilitou a análise e compreensão de variadas situações e fenômenos ocorrentes in loco. O aporte teórico que subsidia o trabalho refere-se às formas de uso e ocupação do solo, dando ênfase a ocupação humana em sistemas naturais a exemplo de bacias hidrográficas. Esses estudos, segundo o IBGE (2006, p.20) comporta a análise de mapeamentos e é de grande utilidade para o conhecimento atualizado das formas de uso e ocupação do espaço, constituindo importante ferramenta de planejamento e de orientação a tomada de decisões. As observações já realizadas em campo proporcionaram análises setorizadas sobre as formas de ocupação do solo, sendo necessária agora uma abordagem holística desses usos. Nesse sentido, a aplicação do uso de técnicas de geoprocessamento pode favorecer o desenvolvimento de muitas análises a cerca do ambiente, e assim da organização do território usado. RESULTADOS PRELIMINARES Bacia hidrográfica ou bacias de drenagem é a área da superfície da terra drenada por um rio principal e seus tributários, podendo ser compreendida como uma célula básica de análise ambiental que permite reconhecer e avaliar os diversos componentes e processos atuantes na paisagem (BOTELHO, 2012).
4 Por vez, Novo conceitua a bacia hidrográfica com a área da superfície da terra drenada por um rio principal e seus tributários. Ela representa a área de captação natural da água da precipitação que faz convergir o escoamento para um único ponto de saída, o exutório (2008, p. 220). Essas bacias drenam além de água sedimentos e diferentes tipos de detritos originários da ação antrópica. O estudo de bacias hidrográficas ganha êxito por ser um sistema aberto que reflete e recebe simultaneamente energia de outros sistemas e elementos existentes na paisagem como a vegetação e os solos. Diante dessa abordagem, Cunha (2006) evidencia que a bacia hidrográfica é o sistema natural que melhor representa a interação do meio físico com o homem e engloba os elementos sociais, econômicos e naturais. É acrescentado ainda que, Sob o ponto de vista do alto-ajuste pode-se deduzir que as bacias hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas uma vez que, mudanças significativas em qualquer dessas unidades, podem gerar alterações, efeitos e / ou impactos a jusante e nos fluxos energéticos de saída (CUNHA; GUERRA, 2012, p. 353). Assim, é possível avaliar que o homem atua como um agente modelar e transformado da paisagem, principalmente em decorrência das atividades econômicas e dos usos atribuídos ao meio ambiente. O uso desordenado e inconsciente dos recursos naturais como o solo e a água pode acarretar em diferentes tipos de impactos causando alterações significativas em todo o sistema ambiental. Alterações em ambientes fluviais como as bacias hidrográficas pode ocasionar um verdadeiro desiquilíbrio ambiental, destacando-se o acelerado processo de erosão dos solos que é acarretado pela ausência de vegetação, alterações na dinâmica das águas, assoreamento do canal de drenagem e quebra das margens. Além disso, esses sistemas naturais são parte integrante do ciclo hidrológico, fundamental a sua manutenção. Assim é preciso considerar que, Ao distinguimos o estado dos elementos que compõem o sistema hidrológico (solo, água, ar, vegetação etc.) e os processos a eles relacionados (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação, contaminação etc.), somos capazes de avaliar o equilíbrio
5 do sistema ou ainda a qualidade ambiental nele existente (BOTELHO, SILVA, 2012, p. 153). A partir do mapeamento e da delimitação da bacia do riacho dos Cágados foi verificado duas falhas na representação da referida rede de drenagem (Figura 01), denotando, por tanto, a necessidade de adoção de novos métodos de análise e correção. A correção das falhas foi realizada a partir da aquisição de dados SRTM e sobreposição das cartas topográficas da SUDENE folhas Palmeira dos Índios e Arapiraca. A correção da base cartográfica do riacho dos cágados foi fundamental para se estabelecer a hierarquia de drenagem. Figura 01: Erro na Representação da Rede de Drenagem do Riacho dos Cágados Fonte: Dados SRTM, IMA (2010). Elaboração: Cícero Bezerra da Silva. A sub-bacia hidrográfica do riacho dos Cágados é formada por uma bacia endorreica que verte suas águas para o riacho Lunga que por vez é afluente do rio Coruripe,
6 importante bacia do estado de Alagoas. Essa sub-bacia apresenta características tipicamente rurais, sendo fundamental ao desenvolvimento socioeconômico da área drenada, principalmente quando se leva em consideração as condições naturais da região, estando em uma área de transição (Agreste) entre as mesorregiões do Leste (Zona da Mata) e Sertão alagoano. O riacho dos Cágados é formado por cursos de primeira, segunda e terceira ordem de acordo com a classificação de Strahler (192) apud Christofoletti (1980), e possui um regime fluvial intermitente. Durante boa parte do ano, a água permanece acumulada em apenas alguns trechos do canal caracterizado como pequenos barramentos. Essa água é fundamental a manutenção da pecuária, atividade econômica predominante na região. Conforme a proposta de Mendonça (1999), o mapeamento de uso do solo permite espacializar de forma sistemática as principais atividades econômicas desenvolvidas na área de estudo, possibilitando também uma análise dos impactos que essas atividades causam no espaço físico da sub-bacia. Esse tipo de mapeamento revela por si só parte da dinâmica social e econômica da área de estudo (MENDONÇA, 1999, p. 79). O mapeamento de uso do solo da bacia do Cágado (Figura 02) evidencia a realidade tal como se apresenta, levando em consideração as atividades desenvolvidas ao longo dos cursos d água, dando ênfase as de maior destaque como a pecuária e as culturas de subsistência. O mapeamento de uso do solo chama atenção também para a substituição cada vez mais intensa da vegetação nativa por pastagem e pela agricultura de subsistência desenvolvida principalmente no médio curso da bacia. Figura 02: Mapa de Uso e Ocupação do Solo da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho dos Cágados
7 Fonte: IMA (2010). Elaboração: Cícero Bezerra da Silva. A partir da análise desse mapeamento é possível verificar que o mesmo chama atenção para o desenvolvimento da agricultura de subsistência desenvolvida ao longo da bacia. Esse tipo de atividade é predominante nas áreas onde há a maior concentração populacional, próximo principalmente aos povoados Lagoa do Caldeirão, Lagoa do Capim e Serra Verde. Mesmo com esse destaque, essas cultas são temporárias, dando lugar à pecuária no período de estiagem que se estende ao longo do ano. Dentre as culturas temporárias desenvolvidas na sub-bacia do riacho dos Cágados destacam-se o Milho e a Mandioca, que ocorrem de forma pontual. A palma, muito usada na alimentação animal em períodos de longa estiagem também é cultivada nas margens e vertentes do riacho, que o deixa desestruturado perdendo as características
8 físicas. Segundo o Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE as lavouras temporárias ou de subsistência representam e compõem, Sistemas produtivos que constituem a base alimentar e também fonte de renda básica para pequenos e médios produtores. Os cultivos variam de acordo com as características regionais em função de suas potencialidades edafoclimáticas e socioculturais. Na maior parte dos estados elas estão centradas nos cultivos de mandioca, milho, feijão e tubérculos. Via de regra, correspondem a estabelecimentos de até 10 há, podendo eventualmente chegar a estabelecimentos de até 50 ha, empregam tecnologia rudimentar e mão-de-obra basicamente familiar (IBGE, 2006, p. 27). Essas características estabelecidas pelo IBGE são perceptíveis ao longo da sub-bacia do riacho dos Cágados, onde as condições naturais do clima e do próprio solo permitem apenas o desenvolvimento de culturas temporárias e de subsistência. Essas propriedades, caracterizadas por pequenas parcelas de terra são trabalhadas de forma intuitiva e não levam em consideração as condições naturais da região, o que intensifica evidentemente a degradação do ambiente. Existe na sub-bacia alguns fragmentos de vegetação nativa, representada pelo bioma da Caatinga e de outras formações vegetais típicas da região Agreste. No mapa de uso e ocupação do solo (Figura 02 representada acima) é possível diferenciar does tipos de formação de Caatinga, um apresenta-se como densa e outra como espaçada, ou seja, com menor presença de vegetação. Essa formação vegetal aparece especificamente próxima à confluência do riacho dos Cágados com o riacho Lunga. Ao longo do riacho dos Cágados existem parcelas do solo exposto (Figura 03), o que em parte é resultado da intensa exploração agrícola sem manejo e da substituição cada vez mais intensa da vegetação pela pastagem. Esses solos expostos favorecem um acelerado processo de erosão, principalmente em áreas de encostas e vertentes, descaracterizando o curso do riacho e empobrecendo os solos. Figura 03: Solo Exposto as Margens do Riacho dos Cágados
9 Fonte: Google Earth, Os problemas ambientais ocorrentes ao longo da sub-bacia remete-se principalmente a erosão dos solos causada principalmente pela ausência da vegetação, além disso, é frequente nas áreas agricultáveis a prática de queimadas e a extração de areia do leito do riacho para a construção civil. Nas margens dos cursos d água também é frequente a presença e lançamento de resíduos sólidos (lixo, esgoto) vindo principalmente do povoado Lagoa do Caldeirão, onde o riacho é barrado e tem sua forma totalmente desestruturada. Assim, é possível considerar que a análise e o diagnóstico das formas de cobertura e uso do solo pode ser um indicador direto das condições ambientais as quais está sujeito o sistema hídrico. Diante dessa abordagem é preciso considerar a qualidade ambiental como um reflexo das atividades humanas, que junto ao meio sofre as consequências. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso do solo evidenciado no mapeamento refere-se ao predomínio da pastagem que aos poucos substitui a vegetação nativa caracterizada pelo bioma da Caatinga, deixando as margens dos cursos d água totalmente desprotegidos propícios à erosão e a consequente descaracterização do leito do rio. As margens e vertentes desprotegidas
10 tendem a acelerar a erosão e o consequente carreamento do material orgânico para o leito do rio deixando-o assoreado. Nas margens do riacho dos Cágados é desenvolvida a agricultura de subsistência, que ocorre de forma intuitiva no período de maior precipitação. O riacho dos Cágados possui um regime fluvial intermitente (temporário), o que o deixa mais instável e propicio a degradação. No mesmo tempo em que os pequenos barramentos ao longo da sub-bacia evidencia a importância da água também deixa claro a incompreensão da população local para com a necessidade de preservar os recursos naturais levando em conta o lançamento de dejetos nesses espaços. REFERÊNCIAS BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; SILVA, Antonio Soares; (org.). Erosão e Conservação dos Solos: conceitos, temas e aplicações. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, ; SILVA, Antonio Soares da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira (orgs.). Reflexões Sobre a Geografia Física no Brasil. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. 2 ed. São Paulo: Edgard Blucher, CUNHA, Sandra Baptista da. Sistemas ambientais de grandes rios: degradação e recuperação. In: SILVA, José Borzacchiello da; LIMA, Luiz Cruz e ELIAS, Denise (org.). Panorama da geografia brasileira, v. 1. São Paulo: Annablume, ; GUERRA, Antonio José Teixeira (orgs.). Degradação Ambiental. In: Geomorfologia e Meio Ambiente. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, FONSÊCA, José William Leite da; SILVA, Cícero Bezerra da; PONTES, Denize dos Santos. Impactos Ambientais da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Lunga/AL. In: VII Congresso Brasileiro de Geógrafos (CBG). Vitória - ES, Natureza/Meio Ambiente. Anais. ISBN:
11 GUERRA, Antonio José Teixeira Guerra; MAÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manuel Técnico do Uso da Terra. 2 ed. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, orçamento e gestão, MENDOÇA, Francisco. Diagnóstico e Análise Ambiental de Microbacia Hidrográfica: proposição metodológica na perspectiva do zoneamento, planejamento e gestão ambiental. In: RA E GA, Nº 3, ano III, Editora UFPR, 1999, p NOVO, Evlyn Márcia L. de M. Ambientes Fluviais. In: FLORENZANO, Teresa Gallotti (org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de textos, 2008.
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