NEVES, JF; DIAS, LDE.; SEABRA JÚNIOR, S; PIZANO, RE.; SILVA, AN.; BARELLI, CSGAP Projeto Horta Ativa. Horticultura Brasileira 29: S416-S422

Transcrição

1 Projeto Horta Ativa Jucimar Ferreira Neves¹; Leonardo Diogo Ehle Dias 1 ; Santino Seabra Júnior¹; Roberval Emerson Pizano 2 ; Antonio Nobre da Silva 2 ; Carla S. G. A. P. Barelli 3. 1 UNEMAT/Cáceres Depto de Agronomia, Av. São João, Sn, Bairro Cavalhadas, CEP ; 2 IFMT/Cáceres Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Campus de Cáceres MT, Avenida dos Ramires, S/n, Distrito Industrial, CEP ; 3 PSF-Vitória Régia/Cáceres MT, Rua Amazonas, S/n, Bairro Jardim Popular jucimarferreira@globo.com; leoehledias@hotmail.com; santinoseabra@hotmail.com; robervalpizano@hotmail.com; didinobre@gmail.com; carlabarelli@terra.com.br. RESUMO Horta Ativa é um projeto desenvolvido desde abril de 2010 pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT - campus de Cáceres, e tem a participação de idosos que são vinculados ao Programa de Saúde da Família Vitória Régia (PSF), em Cáceres-MT. O projeto tem como objetivo promover ações que possam contribuir com a qualidade de vida e a troca de conhecimentos por meio de atividades interdisciplinares entre Agronomia, Enfermagem e Educação Física. Busca trabalhar a horta comunitária como um espaço de interação entre discentes, docentes e o grupo de idosos através do incentivo a produção e consumo de hortaliças. Além disso, promove a interação cultural e social com a comunidade. A horta é desenvolvida no terreno ocioso ao fundo do Posto de Saúde da Família Vitória Régia (PSF), no sistema de cultivo agroecológico de hortaliças convencionais e não convencionais. Participam das atividades cerca de 40 idosos de ambos os sexos na área de abrangência do PSF Vitória Régia que compreende os bairros Vitória Régia, Santo Antonio, Jardim Popular, 12 de Agosto e Jardim Primavera, com idades entre 60 e 82 anos. Conclui-se que horta comunitária tem sido importante espaço de socialização, de trocas culturais e de conhecimentos diversos na prática de produção de hortaliças e ainda veículo de divulgação à sociedade de hábitos saudáveis que podem levar a uma melhor qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVES: horta comunitária, agricultura urbana, incentivo ao consumo de hortaliças, socialização, cultivo agroecológico. S416

2 ABSTRAT Horta Ativa " is a project developed since April, 2010 by the University of Mato Grosso - UNEMAT - Caceres campus, and has the participation of elderly who are bound by the Family Health Program of Vitoria Regia (PSF) in Cáceres -MT. The project aims to promote actions that may contribute to the quality of life and knowledge exchange, through interdisciplinary activities between Agriculture, Nursing and Physical Education. Seeks to address the community garden as a space for interaction between students, teachers and the group of elderly by encouraging the production and consumption of vegetables. Furthermore, it promotes cultural and social interaction with the community. The garden is developed on the ground to the bottom of Family Health Center- Victoria Regia (PSF), of agroecological system farming of conventional and unconventional vegetables. Participate in activities of around 40 elderly men and women in the area around the PSF which includes the Victoria Regia neighborhoods, Santo Antonio, Popular Garden, 12 de Agosto Garden and Primavera Garden, aged between 60 and 82 years. We conclude that community garden has been an important area of socialization, cultural exchange and knowledge in various horticultural practice and still means for promoting the company of health habits that can lead to a better quality of life. KEYWORDS: community garden, urban agriculture, boost consumption of vegetables, socialization, agroecological farming. INTRODUÇÃO A agricultura não é uma atividade realizada exclusivamente no espaço rural, mas pode ser praticada também nas cidades ou no seu entorno, sendo chamada, nesta situação, de agricultura urbana ou peri-urbana (Curado & Roese 2004). O cultivo de hortaliças na área urbana constitui uma alternativa para suplementar a dieta alimentar de famílias carentes que sofrem com os efeitos da urbanização. As hortas comunitárias são exemplos de hortas urbanas que permitem à população produzir em conjunto, alimentos saudáveis de maneira agroecológica, promovendo uma S417

3 alimentação livre de contaminação química, podendo também gerar atividades comerciais, educativas, recreativas e sociais (Sousa & Resende, 2003). Neste espaço, além de cultivar hortaliças, frutas, condimentos e espécies medicinais, estes também desenvolvem habilidades sociais e cultivam amizades que contribuem para sua socialização a um grupo criando uma identidade coletiva e ao mesmo tempo construindo a identidade individual (Seabra et al., 2003). As hortas comunitárias podem ainda ser uma maneira de disseminar a produção de hortas urbanas nos quintais domésticos e espaços pequenos que podem manter alta densidade e grande diversidade de espécies oleráceas (Bezerra et al., 2008). A horta comunitária assim como a doméstica pode proporcionar atividades que geram prazer ao ser humano, além de contribuir para um estilo de vida ativo, minimizando as conseqüências biológicas negativas que se tornam presentes durante o envelhecimento. Com isso o projeto procura contribuir com a qualidade de vida por meio de atividades interdisciplinares entre Agronomia, Enfermagem e Educação Física, com o objetivo de tornar a horta comunitária um espaço de cultivo, educação e saúde. MATERIAL E MÉTODOS O Projeto Horta Ativa vem sendo desenvolvido desde abril de 2010, com as famílias que aderiram à proposta do Projeto de Extensão junto ao Posto de Saúde da Família (PSF) - Vitória Régia, Cáceres-MT, em parceria com a Universidade do Estado do Mato Grosso Campus de Cáceres, envolvendo as áreas de Agronomia, Educação Física e Enfermagem. A horta comunitária começou a ser desenvolvida em abril de 2010, a partir do convite realizado aos idosos pelas agentes comunitárias do PSF Vitória Régia, e além das atividades de cultivo desenvolvidas na horta, atividades físicas também foram acrescentadas ao trabalho, com acompanhamento feito pelos acadêmicos de Enfermagem e Educação Física que participam do projeto. O projeto assiste 40 idosos em risco de vulnerabilidade social e alimentar interessados em uma melhor qualidade de vida. Sendo estes dos bairros Vitória Régia, Santo Antonio, Jardim Popular, 12 de Agosto e Jardim Primavera vinculados ao PSF Vitória Régia. Na horta comunitária existe participação de acadêmicos do curso de Agronomia, professores e enfermeira. O tempo de convivência no projeto contribui na formação S418

4 técnica dos acadêmicos de agronomia, contribuindo na formação na área de horticultura, desenvolvendo atividades práticas como preparar substrato, produzir mudas, preparar canteiros, transplantar, identificar e controlar pragas e doenças, a aplicar os tratos culturais ampliando o conhecimento de espécies, além de promover o contato social, que aperfeiçoa a convivência em grupo, preparando-o para a vida profissional. Além dos discentes de agronomia o projeto conta com a participação de acadêmicos voluntários de outras áreas, o que enriquece a formação geral dos discentes através de uma formação interdisciplinar. A horta está instalada nas dependências do PSF Vitória Régia, ocupando uma área com cerca de 450 m 2. O sistema de cultivo é agroecológico, utilizando resíduos naturais disponíveis na região, adubação verde na área nos períodos de recesso (dezembro a fevereiro) e o controle de pragas e plantas daninhas, realizado por meio de controle biológico e natural, catação manual e capinas. O preparo de solo e a confecção dos canteiros são realizados pelos idosos e acadêmicos com a utilização de ferramentas simples como enxadas e enxadões. As atividades de cultivo são realizadas aos sábados pela manhã no sistema de mutirões, onde participam os idosos desenvolvendo atividades de plantio e tratos culturais necessários, além da colheita das hortaliças produzidas que são distribuídas igualmente entre os idosos do projeto. O plantio é realizado por mudas produzidas no viveiro da Universidade do Estado de Mato Grosso e mudas disponibilizadas pelos idosos, além da utilização de técnicas como estaquia e semeadura direta, também com participação dos idosos que contribuem efetivamente com o fornecimento de materiais de propagação. A irrigação é realizada durante a semana, sendo de responsabilidade dos idosos e acadêmicos. Esses se revezam em duplas, atuando duas vezes ao dia. A escolha das culturas a serem implantadas é realizada de comum acordo para todos, onde são utilizadas hortaliças convencionais e não convencionais, porém com um olhar especial para a implantação e incentivo ao cultivo de hortaliças não convencionais, como, taioba (Xanthosoma sagitifolium), bertalha (Basella alba), nirá (Allium tuberosum), que pouco estão presentes nos hábitos alimentares dos participantes do projeto. As espécies convencionais mais cultivadas eram alface, couve, cebolinha, salsinha, rúcula, tomate e berinjela. RESULTADOS E DISCUSSÃO S419

5 O projeto Horta Ativa proporcionou diferentes vivências e contribuições para a comunidade, acadêmicos e para os idosos que dele participaram. Por meio das interações práticas na horta, os acadêmicos puderam desenvolver o aprimoramento e aprendizagem de técnicas de cultivo de hortaliças, principalmente no contato com hortaliças não convencionais que são pouco abordadas na formação teórica dos acadêmicos. Dessa maneira os acadêmicos se depararam muitas vezes com situações práticas que levaram à produção de novos conhecimentos e aprendizagem de conhecimentos empíricos passados pela convivência com os idosos, que juntos contribuem para a formação de um futuro profissional mais preparado e capacitado para enfrentar as situações práticas que a profissão empregará. Outro fator a destacar foi a construção das relações pessoais desenvolvidas através do convívio com os idosos, que contribuem para a formação profissional tornando capaz de entender as relações pessoais facilitando o trabalho em grupo. Para os idosos assistidos, o projeto pôde promover a abertura de novos horizontes, principalmente para uma vida mais saudável, contribuindo na alimentação, além de atividades que promoveram melhores condições de coordenação motora por meio das atividades desenvolvidas na horta, que segundo eles contribuíram para a sensação de bem estar e melhoria da qualidade de vida. Além disso, a horta gerou para eles o conhecimento sobre novas espécies de hortaliças, principalmente as não convencionais que por motivo de falta de incentivo não eram consumidas por eles. Outro fator importante que tem influenciado no baixo cultivo de espécies olerícolas é a falta de informações sobre espécies como a taioba, que apesar de ter sido domesticada e consumida por populações indígenas, e fazer parte por muitos anos da dieta alimentar dos primeiros núcleos populacionais colonizadores da América do Sul, atualmente são cultivadas nos quintais urbanos e consumidas em poucas regiões como os estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo (Filgueira, 2008), com isso confirma-se a importância social do projeto no incentivo ao consumo desta espécie. As atividades desenvolvidas permitiram a construção de espaços de socialização onde se observou processos de construção, reconstrução e manutenção da identidade pessoal e na constituição de vínculos grupais (Seabra et al 2010 ). Atividades estas que causaram melhora no convívio social entre os idosos que muitas vezes são vizinhos de S420

6 longa data e nem se conheciam, transformando as relações entre os integrantes do grupo do projeto harmoniosas, levando à criação de um grupo social forte. A iniciativa do projeto beneficiou a comunidade local como um todo, embora se restringisse à parte da população. Isto foi possível devido às iniciativas despertadas nos idosos em implantar hortas domésticas em suas residências, influenciando e ajudando os demais moradores a despertar o interesse pelo cultivo de hortaliças. O processo de conscientização e incentivo à sociedade é facilitado pelo fato de que, as hortaliças geralmente são de crescimento rápido, cultivadas em pequenos espaços, podendo serem utilizadas para despertar o interesse e estimular um hábito alimentar mais saudável, principalmente em crianças (Seabra et al., 2003). Conclui-se então a partir da discussão, que o projeto de extensão Horta Ativa pode proporcionar para todo o grupo do projeto, que envolve os idosos, os acadêmicos e orientadores, relações e práticas que proporcionaram melhoras no convívio social do grupo e para com toda a sociedade tornando as relações mais harmoniosas, promovendo o encontro e a troca de informações e cultura entre as gerações envolvidas. A troca de conhecimento técnico e empírico também foi um ponto forte do projeto que despertou em cada um o gosto pela atividade que além de saudável foi considerada prazerosa. Mas a principal meta do projeto que foi a saúde alimentar dos integrantes foi alcançada com sucesso, pois despertou nos assistidos o gosto pela produção e consumo de hortaliças, principalmente algumas não convencionais que a principio era um desafio. AGRADECIMENTOS Projeto Financiado pelo MEC/PROEXT REFERÊNCIAS BEZERRA KC; SEABRA JUNIOR S; SOUSA EA; SANTOS WM Horta Doméstica com Famílias do Programa de Saúde da Família Vitória Régia em Cáceres- MT. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 48. Resumos Maringá: Associação Brasileira de Horticultura (CD- ROM). CURADO FF; ROESE AD A contribuição da agricultura urbana na segurança alimentar comunitária em Corumbá e Ladária-MS. In: IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Socioeconômicos do Pantanal. FILGUEIRA FAR Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3 ed. Viçosa: UFV, 412p. S421

7 SEABRA JUNIOR S; CARDOSO AIA; BÔAS SOV; OLIVEIRA AM Cultivando Hortaliças: uma brincadeira de criança. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 43. Resumos Recife: Sociedade Brasileira de Olericultura (CD- ROM). SEABRA JÚNIOR S; PIZANO RE; BENEVIDEZ EM; MAGALHÃES J Projeto Comunidade Feliz: horta comunitária com idosos In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 50. Resumos Garaparí: Associação Brasileira de Horticultura (CD- ROM). SOUSA JL; RESENDE P Manual de horticultura orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil. 564p. S422