Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. da Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural

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1 Parlamento Europeu Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural 2017/2192(INI) PARECER da Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural dirigido à Comissão do Comércio Internacional sobre a recomendação ao Conselho sobre a proposta de mandato de negociação para a realização de negociações comerciais com a Austrália (2017/2192(INI)) Relator de parecer: Eric Andrieu AD\ docx PE v02-00 Unida na diversidade

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3 SUGESTÕES A Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural insta a Comissão do Comércio Internacional, competente quanto à matéria de fundo, a incorporar as seguintes sugestões na proposta de resolução que aprovar: 1. Considera que a Austrália é um dos principais intervenientes mundiais no comércio de produtos agrícolas e tem vindo a desenvolver importantes setores destinados à exportação (70 % da produção é exportada); 2. Considera que, em 2015, a Austrália foi o terceiro maior exportador mundial de carne de bovino, o oitavo maior exportador mundial de produtos lácteos, o quinto maior exportador mundial de culturas arvenses e o terceiro maior exportador mundial de açúcar; 3. Recorda que, devido ao baixo custo da produção agrícola decorrente da grande dimensão das suas explorações, a Austrália possui um setor agrícola muito competitivo, fortemente orientado para a exportação e constantemente à procura de novas oportunidades para escoar a sua produção nos mercados internacionais; realça, por conseguinte, que um maior acesso ao vasto mercado da UE, graças à eliminação ou redução das barreiras pautais e não pautais neste setor será, sem dúvida, para os produtores e exportadores australianos, uma das prioridades aquando das negociações, e considera que um acordo de comércio livre (ACL) equilibrado e abrangente, que respeite os setores mais vulneráveis da agricultura europeia, poderá ser mutuamente benéfico; 4. Sublinha que a agricultura europeia tem um papel especial a desempenhar na manutenção do tecido das comunidades rurais e na alimentação das populações europeias; destaca que os agricultores e os seus meios de subsistência não devem ser usados como moeda de troca em acordos comerciais; 5. Considera que a criação de incentivos com vista a elevados padrões e reciprocidade, bem como o respeito pleno das normas e dos princípios elevados nos domínios da produção, do ambiente e do bem-estar animal, bem como dos princípios da agricultura sustentável estabelecidos pelos produtores da UE, são fundamentais para um ACL equilibrado, que possa proporcionar algumas oportunidades aos produtores europeus e promover a posição da UE como um dos principais intervenientes à escala mundial; considera que tais normas não podem ser reduzidas no âmbito do mercado interno da importação ou exportação, e salienta que o respeito da produção sustentável e da preservação rigorosa das normas em matéria de segurança alimentar, saúde humana, proteção dos consumidores, saúde e bem-estar animal, tal como definido na legislação da UE, constitui um princípio fundamental e irredutível de todas as negociações de ACL da UE no que diz respeito à agricultura europeia; 6. Salienta que devem ser tomadas medidas para garantir a melhoria das normas em matérias de bem-estar animal, em conformidade com as convicções da população no domínio da saúde e da ética; 7. Salienta que o reconhecimento mútuo de normas relativas a medidas sanitárias e fitossanitárias não deve colocar em risco o ambiente, as pessoas e os animais, por AD\ docx 3/8 PE v02-00

4 exemplo, em resultado da eliminação de controlos das importações de géneros alimentícios e de alimentos para animais; 8. Congratula-se com o facto de a Comissão ter publicado a sua primeira avaliação do impacto de um ACL entre a UE e a Austrália, mas assinala que os produtores e os exportadores europeus de produtos agrícolas podem não conseguir avaliar plenamente os seus potenciais benefícios e perdas devido à informação limitada sobre as importações, sobretudo no que respeita às subcategorias do setor da carne, e lamenta a inexistência de avaliações por Estado-Membro da UE e por setor, bem como de informação sobre o eventual impacto nas regiões ultraperiféricas e sobre o impacto do Brexit no que respeita às quotas existentes; observa, além disso, ainda com preocupação, que o estudo prevê que a carne de ruminantes vá registar o maior decréscimo na produção setorial da UE, e espera ainda que sejam fornecidas análises adicionais mais pormenorizadas para colmatar estas lacunas de informação; 9. Sublinha que, para os exportadores europeus de produtos agrícolas, a Austrália representa uma nova área de mercado com 23 milhões de consumidores, mais de 20 vezes inferior ao mercado europeu, e que os interesses agrícolas ofensivos europeus se circunscrevem à proteção das indicações geográficas e de produtos de nicho e estão dependentes da supressão das barreiras não pautais; insta, por conseguinte, a Comissão a ter este facto em devida consideração; 10. Manifesta a sua preocupação com o risco de o acordo se caracterizar por um forte desequilíbrio em relação às disposições do setor agrícola, desequilíbrio esse prejudicial para os produtores agrícolas da UE, e salienta que a agricultura não deve ser utilizada como moeda de troca para um maior acesso dos produtos não agrícolas e dos serviços ao mercado australiano; 11. Assinala que as explorações agrícolas australianas não suportam os custos decorrentes da identificação eletrónica dos ovinos, das zonas vulneráveis aos nitratos ou da incineração de animais mortos, e solicita que tal seja clarificado através da rotulagem; 12. Sublinha que o princípio da precaução, no qual se baseiam os regulamentos da UE em matéria de segurança alimentar, e a abordagem «do prado ao prato», que estabelece regras mais estritas da UE, bem como as normas e procedimentos sanitários e fitossanitários da UE, devem ser mantidos no quadro das negociações; 13. Chama a atenção para o caráter sensível de determinados setores agrícolas europeus, tais como os da carne de bovino, de caprino e de ovino, do açúcar, do mel, dos cereais e dos produtos lácteos, muitos dos quais atravessaram recentemente grandes crises que implicaram a adoção de regimes de apoio especial de emergência, e considera que uma maior abertura do mercado nestes setores pode ter consequências negativas e desestabilizadoras ulteriores para os produtores europeus; solicita, portanto, à Comissão que assegure condições de concorrência equitativas, tratando como sensíveis os produtos relativamente aos quais uma concorrência direta submeteria os produtores agrícolas da UE a uma pressão excessiva ou insustentável, e apela à inclusão de medidas de salvaguarda bilaterais efetivas e pertinentes, de períodos transitórios e de quotas reduzidas adequadas, tendo em conta a competitividade do setor australiano, para evitar um aumento das importações suscetível de causar, ou que ameace causar, prejuízos graves para os produtores europeus em setores sensíveis, ou cujas empresas PE v /8 AD\ docx

5 sejam de pequenas ou médias dimensões; 14. Entende que, relativamente aos produtos agrícolas mais sensíveis, como os laticínios, a carne de bovino e de ovino e os açúcares especiais, a União deve abster-se de assumir qualquer compromisso, devendo assegurar condições de concorrência equitativas, e deve excluir esses produtos das negociações; 15. Salienta que qualquer acordo comercial só pode ser construído numa base de vantagens mútuas, e exorta a Comissão a garantir uma proteção permanente contra as ameaças resultantes da liberalização das importações, designadamente através da inclusão, no disposto no acordo, de cláusulas de salvaguarda, que seriam ativadas mediante mecanismos simples e flexíveis no caso de as importações provenientes da Austrália excederem os limites estabelecidos e provocarem desequilíbrios excessivos para o mercado europeu, bem como através da inclusão de uma cláusula bilateral de salvaguarda de duração ilimitada para o setor agrícola; 16. Espera que as medidas adotadas pela União Europeia no contexto da crise do setor leiteiro não sejam consideradas pela Austrália como uma forma de auxílio estatal (como já aconteceu no passado no setor do tomate) e, por isso, não sejam utilizadas como pretexto para limitar o acesso dos produtos europeus ao mercado australiano; 17. Insta a Comissão a resolver todos os litígios comerciais em curso entre a UE e a Austrália antes de dar início a quaisquer negociações sobre questões agrícolas, tais como, entre outras, a controvérsia relacionada com as medidas anti-dumping impostas pelas autoridades australianas a empresas europeias de transformação de tomate; 18. Realça a importância da definição de critérios comuns em matéria de normas de qualidade e de segurança no que se refere a produtos agrícolas para o comércio; 19. Recorda sobretudo que, na União Europeia, os borregos só podem ser comercializados aos seis ou nove meses de idade, ao passo que, na Austrália, é permitida uma idade superior, ou seja, 12 meses; insiste em que o futuro acordo deva estabelecer um limite de idade de seis ou nove meses para a venda legal no mercado interno da UE de borrego de países terceiros. 20. Salienta que nenhum elemento do acordo deve impedir qualquer das Partes de legislar, independentemente, para fixar e aplicar objetivos políticos legítimos, nomeadamente objetivos e salvaguardas sociais e ambientais e relacionados com a saúde pública; 21. Insiste no aspeto do impacto cumulado das concessões comerciais atribuídas pela União no setor agrícola, tanto no quadro multilateral como no quadro bilateral; exige, por conseguinte, a avaliação de todas as concessões agrícolas da UE no contexto das negociações propostas, tomando em plena consideração as concessões já acordadas pela OMC (por exemplo, compensação referente à carne de bovino tratada com hormonas) e pelo Canadá (Acordo Económico e Comercial Global (CETA)), e as que poderiam ser acordadas em breve com o Mercosul, o México, a Nova Zelândia e os Estados Unidos da América (caso as discussões no âmbito das negociações da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) sejam retomadas); observa, além disso, que, no caso da carne de bovino, as quotas CETA elevam o montante acumulado das quotas acordadas para o limiar de absorção do mercado europeu, fixado em toneladas AD\ docx 5/8 PE v02-00

6 durante a década de 2000, o que significa que, juntamente com a diminuição do consumo interno, o mercado europeu está a atingir um nível de saturação; salienta, por fim, que o estudo da Comissão sobre o impacto cumulado dos futuros acordos revela que o défice comercial poderá duplicar no que respeita à carne de bovino e ascender a cerca de 0,9 mil milhões de euros, segundo a hipótese de liberalização; 22. Convida a Comissão a manter uma abordagem harmonizada das negociações, em consonância com a abordagem aprovada durante as negociações paralelas com a Nova Zelândia, tendo devidamente em consideração as especificidades que diferenciam os dois mercados; 23. Relembra que todos os contingentes pautais que possam ser concedidos à Austrália deverão, na sequência do Brexit, ser aplicados a um mercado comunitário reduzido; insta a Comissão a ter em conta as atuais negociações sobre o Brexit e o impacto do Brexit nos setores agrícola e alimentar da UE no âmbito das negociações comerciais com a Austrália, especialmente em setores em que o Reino Unido representa um volume significativo do consumo e/ou das importações; insiste em que, doravante, a UE terá de ter em devida conta o Brexit ao tomar decisões sobre que concessões poderá eventualmente propor no âmbito de novos acordos comerciais, e, se necessário, proceder à revisão do mandato de negociação; 24. Insta a Comissão a garantir no mercado australiano a proteção jurídica adequada das indicações geográficas da UE e dos produtos agrícolas de qualidade da UE, assim como a criação de medidas para lidar com o uso indevido e práticas e informações enganosas; exorta igualmente a Comissão a garantir a proteção em matéria de rotulagem, rastreabilidade e verdadeira origem dos produtos agrícolas, que constitui um elemento fundamental para a elaboração de um acordo equilibrado; 25. Insiste na necessidade de incluir medidas destinadas a combater a contrafação dos produtos agroalimentares; 26. Reconhece a importância, para a UE, de um acordo com a Austrália no que respeita à redução das barreiras pautais para determinados produtos agrícolas transformados, ao alívio dos controlos sanitários excessivos e à proteção eficaz de todas as indicações geográficas, ao mesmo tempo que deve ser uma condição prévia para a conclusão de qualquer acordo a existência de disposições claras que protejam o maior número possível de indicações geográficas, nomeadamente para os vinhos, incluindo os já abrangidos pelo acordo bilateral entre a UE e a Austrália sobre o comércio de vinho, bem como as bebidas espirituosas e outros produtos alimentares, e a proteção dos setores sensíveis; recorda, no entanto, à Comissão que seria inaceitável sacrificar os interesses da agricultura europeia para assegurar um acordo e que, em conformidade com o artigo 207.º, n.º 3, do TFUE, a Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, do Parlamento Europeu, deve ser informada sobre a situação das negociações no que se refere a todos os aspetos da agricultura, e salienta que a Comissão deve colaborar de forma totalmente transparente, oportuna e abrangente com todas as partes interessadas do setor agrícola relativamente a todos os aspetos das negociações, tornando público o mandato. PE v /8 AD\ docx

7 COMISSÃO ENCARREGADA DE EMITIR PARECER Data de aprovação Resultado da votação final +: : 0: Deputados presentes no momento da votação final Suplentes presentes no momento da votação final John Stuart Agnew, Clara Eugenia Aguilera García, Eric Andrieu, Richard Ashworth, José Bové, Daniel Buda, Nicola Caputo, Matt Carthy, Viorica Dăncilă, Michel Dantin, Paolo De Castro, Jean-Paul Denanot, Albert Deß, Diane Dodds, Jørn Dohrmann, Herbert Dorfmann, Norbert Erdős, Edouard Ferrand, Luke Ming Flanagan, Beata Gosiewska, Martin Häusling, Anja Hazekamp, Esther Herranz García, Jan Huitema, Peter Jahr, Ivan Jakovčić, Jarosław Kalinowski, Zbigniew Kuźmiuk, Philippe Loiseau, Nuno Melo, Giulia Moi, Ulrike Müller, James Nicholson, Maria Noichl, Marijana Petir, Bronis Ropė, Maria Lidia Senra Rodríguez, Ricardo Serrão Santos, Czesław Adam Siekierski, Tibor Szanyi, Marc Tarabella, Marco Zullo Franc Bogovič, Angélique Delahaye, Karin Kadenbach, Norbert Lins, Hannu Takkula, Tom Vandenkendelaere AD\ docx 7/8 PE v02-00

8 VOTAÇÃO NOMINAL FINAL NA COMISSÃO ENCARREGADA DE EMITIR PARECER 31 + PPE S&D ECR Verts/ALE EFDD ENF Franc Bogovič, Daniel Buda, Michel Dantin, Albert Deß, Herbert Dorfmann, Norbert Erdős, Esther Herranz García, Peter Jahr, Jarosław Kalinowski, Nuno Melo, Marijana Petir, Czesław Adam Siekierski, Tom Vandenkendelaere Clara Eugenia Aguilera García, Eric Andrieu, Nicola Caputo, Paolo De Castro, Jean- Paul Denanot, Viorica Dăncilă, Maria Noichl, Ricardo Serrão Santos, Tibor Szanyi, Marc Tarabella Beata Gosiewska, Zbigniew Kuźmiuk Martin Häusling, Bronis Ropė Giulia Moi, Marco Zullo Edouard Ferrand, Philippe Loiseau 12 - ECR ALDE GUE/NGL Verts/ALE EFDD Richard Ashworth, Jørn Dohrmann, James Nicholson Jan Huitema, Ivan Jakovčić, Ulrike Müller, Hannu Takkula Luke Ming Flanagan, Anja Hazekamp, Maria Lidia Senra Rodríguez José Bové John Stuart Agnew 2 0 GUE/NGL NI Matt Carthy Diane Dodds Chave dos símbolos: + : a favor - : contra 0 : abstenções PE v /8 AD\ docx