Por Tolstoi Seara Nolasco. Vice Diretor de Assuntos Fiscais e Tributários do IAF
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1 A ELABORAÇÃO DE PEÇAS PROCESSUAIS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE MEIOS ELETRÔNICOS (CONSIDERAÇÕES EM TORNO DAS DISPOSIÇÕES DO REGULAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL DA BAHIA) Por Tolstoi Seara Nolasco Vice Diretor de Assuntos Fiscais e Tributários do IAF Objetiva o presente artigo discutir o alcance das normas contidas no RPAF (Regulamento do Processo Administrativo Fiscal), aprovado pelo Decreto nº 7.629/99, que disciplinam a elaboração das peças e a prática de atos processuais através da utilização de meios eletrônicos. Toda a análise se volta, portanto, para um estudo restrito ao âmbito do processo administrativo fiscal da Bahia, conforme disciplinado nos comandos normativos que serão analisados. Neste primeiro artigo trataremos de forma específica da temática envolvendo a elaboração das peças processuais. Como sabemos, o processo é um encadeamento de atos praticados pelos sujeitos processuais, em especial as partes, com o objetivo de formar o convencimento do órgão julgador, que ao final, deverá formular uma decisão voltada a resolver a controvérsia ou lide. Os atos processuais são formalizados, ou seja, tomam uma forma exterior e passam a compor os autos do processo. Esses atos se apresentam ao mundo por meio das peças processuais. A título de exemplo, podemos citar os atos de postulação, que no PAF (Processo Administrativo Fiscal) são praticados pelo contribuinte, via impugnação e recursos. Temos também o Auto de Infração e seus anexos, que consubstanciam o ato de lançamento de ofício e as informações prestadas pelas autoridades fiscais. Ainda, de forma exemplificativa, podemos citar os pareceres técnicos e jurídicos, de competência dos revisores fiscais, peritos e procuradores do Estado. No capítulo do RPAF, referente às Petições do sujeito passivo e das suas intervenções no processo, há disciplinamento específico da matéria abordada neste breve estudo, nos parágrafos 3º, 4º e 5º, do art. 8º, com os seguintes comandos normativos: Art. 8º As petições deverão conter: (...) 3º As peças processuais como defesa, informação fiscal, diligências, perícias, recursos, parecer da Procuradoria Geral do Estado e outras
2 manifestações do contribuinte e do autuante, bem como os demonstrativos e planilhas elaborados pelo autuante, autuado e diligentes ou peritos, referentes a processo administrativo fiscal, deverão ser apresentadas em papel e, também, em disco de armazenamento de dados, em arquivo em formato texto ou tabela, conforme o caso, onde conste cópia exata da peça apresentada. 4º As peças processuais produzidas pelo autuante, pelo representante da Procuradoria Geral do Estado e pelos diligentes ou peritos poderão, em substituição ao disco de armazenamento de dados, ser enviadas por correio eletrônico para endereço designado pelo Conselho de Fazenda Estadual CONSEF. 5º A obrigatoriedade de apresentação, prevista nos 3º e 4º deste artigo, não se aplica aos documentos comprobatórios das peças processuais ali referidas. Apesar do regramento acima reproduzido se encontrar topicamente inserido no capítulo destinado a disciplinar as intervenções do contribuinte no processo administrativo fiscal (PAF), os comandos normativos em análise têm alcance e destinação mais ampla, pois as normas em questão se dirigem a outras intervenções, a serem realizadas pelos autuantes, diligentes, peritos e procuradores do Estado. Logo, prima facie, o que se observa é que a redação do RPAF não se restringe aos atos do sujeito passivo, destinando-se a disciplinar a prática de atos de outros sujeitos da relação processual tributária. Convém, ainda, em análise preliminar, esclarecer que a lavratura do Auto de Infração por si só não deflagra a relação administrativa-processual. Com a formalização do lançamento, opera-se a conclusão do procedimento fiscal, em que se apura o descumprimento de obrigação principal e/ou acessória e concomitante, se aplica penalidade prevista na lei do tributo. A formação da relação administrativa-processual tem sua gênese com a apresentação da defesa/impugnação, pelo contribuinte ou responsável tributário, conforme disposição contida no art. 121, incisos I e II, abaixo reproduzido: Art Instaura-se o processo administrativo fiscal para solução de litígios entre o fisco e os sujeitos passivos tributários: I - quando da apresentação da defesa, por escrito, impugnando o lançamento de crédito tributário efetuado mediante Auto de Infração; II - quando da apresentação de petição escrita, pelo contribuinte ou responsável, impugnando qualquer medida ou exigência fiscal imposta. Feitas as considerações acima retornemos ao tema central do nosso estudo, ou seja, formalização dos atos processuais-administrativos através da peças integram os autos do processo fiscal.
3 Dispõe a norma processual que as peças processuais deverão ser apresentadas em papel e, também, em disco de armazenamento de dados, em arquivo formato texto ou tabela, conforme o caso, onde conste cópia exata da peça apresentada Em substituição ao disco de armazenamento, as peças processuais poderão ser envidas por correio eletrônico para o endereço designado pelo Conselho de Fazenda Estadual (CONSEF). Conforme já frisamos acima, apesar da disposição normativa em referência se encontrar inserida no capítulo referente às intervenções do sujeito passivo no PAF, seu alcance é mais amplo, visto que disciplina os atos de defesa, informação fiscal, diligências, perícias, planilhas, demonstrativos e pareceres técnicos e jurídicos. Apesar do legislador do RPAF não ter se amparado na melhor técnica para redigir o dispositivo normativo regulador da prática dos atos e elaboração de peças processuais, visto que a inseriu fora do real contexto destinado ao seu alcance, cabe ao intérprete e aplicador corrigir essa falha. Nesse sentido é importante que se faça uso dos princípios que regem a processo administrativo fiscal, gerais e específicos, para que se melhor ordene esse tema. De imediato faz-se importante destacar que o próprio RPAF, em seu art. 2º, elenca o rol de princípios expressos, que regem o processo fiscal, conforme redação abaixo: Art. 2º Na instauração, preparo, instrução, tramitação e decisão do processo administrativo e dos procedimentos administrativos não contenciosos, atender-se-á aos princípios da oficialidade, da legalidade objetiva, da verdade material, do informalismo e da garantia de ampla defesa, sem prejuízo de outros princípios de direito. 1º No preparo, instrução e tramitação do processo, ter-se-á sempre em vista a conveniência da rápida solução do pedido ou litígio, restringindo-se as exigências ao estritamente necessário à elucidação do processo e à formação do convencimento da autoridade requerida ou do órgão julgador. 2º Quando por mais de um modo se puder praticar o ato ou cumprir a exigência, preferir-se-á o menos oneroso para o requerente. Dentre os princípios acima elencados destacam-se, por pertinência com o tema por nós abordado, a garantia da ampla defesa, a celeridade e a economia processuais, estes dois últimos, colocados no contexto da rápida solução do litígio pelo meio menos oneroso ( 1º e 2º). À luz do princípio da ampla defesa, no qual se insere o princípio do contraditório, devese garantir ao contribuinte acusado, a paridade de armas, ou seja, se o fisco lavra o Auto de Infração e confecciona os demonstrativos e planilhas que lhe dão suporte, com a utilização de meios eletrônicos - via processamentos de dados -, esses
4 elementos devem ser disponibilizados para que o acusado possa formular a impugnação ou recurso. Importante destacar que no processo administrativo fiscal da Bahia o prazo de impugnação é de 30 (trinta) dias, contados a partir da intimação do sujeito passivo ou responsável tributário (art. 123, do RPAF). Frente a tal regramento mostra-se razoável a interpretação que assegura ao acusado a entrega dos arquivos eletrônicos que serviram de base para fundamentar o lançamento, visto que a partir deles poderá identificar eventuais erros, para efeito de melhor fundamentar a impugnação, ou mesmo reconhecer, de forma mais célere, a procedência das imputações fiscais. Ademais, dado que o prazo de impugnação do contribuinte é de 30 (trinta) dias, sob pena de revelia, reforça-se, nessa norma relativa ao direito de defesa, o entendimento de que, ao contribuinte, seja assegurada a entrega dos arquivos eletrônicos gerados pela autoridade fiscal autuante, com as informações que lastreiam a acusação, visto que, regra geral, as auditorias fiscais de maior magnitude e complexidade, ou que contemplam vários roteiros, geram uma gama muito grande de informações e relatórios. Também não é incomum que os períodos fiscalizados se estendam por mais de um exercício fiscal, circunstância que demanda do auditor fiscal a necessidade de executar os trabalhos de fiscalização por mais de um mês, até porque, a norma do procedimento fiscal, contida no art. 28, 1º, do RPAF, declara que a fiscalização deverá ser concluída no prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável por iguais períodos consecutivos, mediante comunicação escrita à autoridade fazendária competente. Além dos argumentos relacionados aos direitos e garantias do contribuinte, que convém ressaltar, têm origem na Constituição Federal, no art. 5º, inc. LV, - pois a Carta Magna assegura aos litigantes, em processo judicial e administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes -, destaca-se, em relação ao tema abordado, o interesse da administração pública, na rápida solução do litígio (celeridade processual), pela forma menos onerosa (economia processual). Nesse contexto a questão muda de enfoque, pois o ângulo de visão agora é o interesse da administração pública, mais propriamente o interesse público. Assim, se o lançamento se encontra revestido de peças, todas elas ou sua a grande maioria, geradas a partir do uso de dados processados eletronicamente, a exemplo de demonstrativos, relatórios e planilhas, apresenta-se, nessa circunstância, a necessidade de que os mesmos venham aos autos, através das mídias próprias, ou sejam disponibilizados na rede de informações do órgão fazendário para que os atos de instrução do processo, em especial aqueles de competência do órgão julgador, sejam mais céleres e passíveis de menor margem de erro na avaliação da verdade material subjacente aos fatos. Em outras palavras: o processo será instruído com mais celeridade se as provas e argumentos das partes poderem ser avaliados de forma mais
5 conveniente e rápida e com menor custo para a Administração Pública. O uso do ferramental da tecnologia da informação, em todas as fases do processo, em especial, na sua formação e julgamento, é a garantia da rápida e menos custosa solução das lides administrativas e também judiciais, desde que seja assegurada, é claro, a confiabilidade dos dados e sua inviolabilidade. O que se vislumbra para o futuro recente é a virtualização de grande parte do processo administrativo fiscal, no Estado da Bahia, através da implantação do PAF eletrônico, já em fase de estudos. Registre-se que essa prática integra hodiernamente a rotina de alguns tribunais do nosso país, a exemplo da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme se encontra disciplinado na Lei nº /06, que trata da informatização do processo judicial e promoveu, no CPC (Código de Processo Civil), alterações nesse sentido. No sistema normativo hoje vigente na Bahia, atinente ao processo administrativo fiscal, cujo estatuto principal é RPAF, há um conjunto de normas que já disciplinam o uso de meios eletrônicos, a exemplo da produção de peças processuais. Essa virtualização PAF, entretanto, ainda não substitui, integralmente, o processo físico, em papel. Ponderamos ainda que toda interpretação normativa deve estar revestida de razoabilidade e dentro dos critérios do princípio da proporcionalidade, ou seja, com a devida adequação, necessidade e na justa medida. Assim, há margem de tolerância no sistema normativo atual para que ainda tramitem PAFs com peças produzidas somente em papel e sem os anexos em mídia eletrônica. Vislumbramos não haver qualquer ofensa às normas contidas no art. 8º, 3º e 4º, do RPAF, acima reproduzidas, nos processos de menor complexidade probatória, a exemplo: a) dos lançamentos tributários verificados no trânsito de mercadorias - matéria que a nossa expectativa seja pelo retorno à competência dos Auditores Fiscais da Bahia, no julgamento da ADI nº 4233-Ba, em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) ; b) para aplicação de multas por descumprimento de obrigações acessórias não vinculadas a arquivos eletrônicos do ICMS; c) nas exigências de tributo de pequeno valor e nos PAFs cuja instrução probatória não demande a produção de planilhas extensas ou demonstrativos com grande quantidade de dados. NO PRÓXIMO ARTIGO TRATAREMOS DO TEMA PERTINENTE AOS ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL NO PAF
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