DIVISÃO DE GEOLOGIA E MINERALOGIA
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- Mario Geovane Pacheco Stachinski
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1 Número 65 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL DIVISÃO DE GEOLOGIA E MINERALOGIA NOTAS PRELIMINARES E ESTUDOS RIO DE JANEIRO O GÊNERO PAULOCARIS CLARKE NAS CAMADAS II DO BRASIL MERIDIONAL por KARL RIETTBT. Y INTRODUÇÃO Nas camadas Iratí (grupo Estrada Nova, Série Passa Dois) ocorre uma pequena fauna de Crustáceos. Em 1921, J. M. CLARKE, descreveu o novo jpênero Paulocaris e uma espécie Gampsonyx, procedente do Estado de São Paulo. Em 1931, K. BEURLEN descreveu o gênero Liocaris e, em 1934, Pygaspis. Baseando-se em material melhor conservado, de São Paulo, SÉRGIO MEZZALIRA, em 1952, redescreveu esta espécie de "Gampsonyx" mostrando que a mesma é o representante de um novo gênero, Clarkecaris MEZZALIRA, semelhante aos gêneros Palaeocarís e Uronectes, incluído, portanto, por MEZZALIRA, na família üronectiãae. Em folhelhos betuminosos que ocorrem perto de Iratí, Estado do Paraná, encontrei restos de Pygaspis e algumas carapaças de uma espécie de Paulocaris, diferente da espécie descrita por CLARKE. Em leitos calcários das camadas Iratí nos municípios de Bagé e Dom Pedrito, Estado do Rio Grande do Sul, MARIANO SENA SOBRINHO descobriu uma ocorrência de Crustáceos onde com os Drs. E. A. MARTINS e SENA SOBRI- NHO, colhi restos bem conservados de mais uma espécie de Paulocaris, que possibilitam completar e ampliar os conhecimentos do gênero. Baseando-me neste material, continuo a revisão da fauna de Crustáceos das camadas Iratí, iniciada por SÉRGIO MEZZALIRA.
2 DESCRIÇÃO Gênero Paulocaris CLARKE 1921 Paulocaris n.gen. J. M. CLARKE, New York State Mus. Buli., vol. 219/220, pg Paulocaris CLARKE K. BEURLEN, Palaeontol. Zeitschr., vol. 13, pg. 41. CLARKE estabeleceu o gênero baseando-se èm carapaças comprimidas, procedentes de folhelhos betuminosos das camadas Iratí. A carapaça é univalva e bem abaulada; a margem anterior é mais ou menos reta, com um pequeno rostro triangular. As margens laterais são encurvadas e distintamente separadas da margem anterior; a margem posterior, moderadamente côncava, tem, aproximadamente, o mesmo comprimento que a margem anterior, ou, talvez, seja um pouco maior. Na terça parte anterior da carapaça há um sulco cervical, que se bifurca perto da margem antero-lateral com um ramo dirigido para frente e outro dirigido lateralmente. Na linha média o sulco forma um ângulo bem ^gudo orientado para trás. No rostro há uma carena elevada, curta. As regiões brânquiais são bastante infladas e lisas. O corte transversal da carapaça é cilíndrico ou mais ou menos deprimido. A maior largura situa-se no terço posterior da carapaça. O abdômen é bem desenvolvido, consiste em seis segmentos mais ou menos retangulares e em um telson arredondado; o sexto segmento possui urópodes. A largura da margem anterior do abdômen corresponde à da margem côncava, posterior, da carapaça, enquanto a largura do abdômen diminui, suavemente, para trás. Os apêndices da cabeça (antênula, antena, mandíbula, maxílula e maxila) não são conhecidos. Os toracópodes estão em parte conservados em um exemplar procedente de Iratí. A base dos toracópodes (coxopódito e basipódito) é bem de-
3 senvolvida. O coxopódito é relativamente grande e separado do basipódito. O isquiopódito é cilíndrico e bem comprido. Não se encontram conservados o meropódito, carpodódito, propódito e dactilopódito. O último par dos toracópodes é bem menor do que os outros, os dois pares anteriores não estão conservados de modo que não se sabe se o primeiro par dos toracópodes está transformado em um maxilípede. Dos exopóditos nada se pode observar, provàvelmente eram pequenos e frágeis ao contrário dos endopóditos que estão bem conservados e são fortes. Não são conhecidas as patas dos segmentos abdominais, pleópodes, somente os urópodes do último segmento abdominal estão conservados. Genótipo: Paulocaris pachecoi J. M. CLARKE Paulocaris pachecoi J. M. CLARKE 1921 Paulocaris pachecoi n.sp. J. M. CLARKE, New York State Mus., vol. 219/220, pg. 135, est. 3, figuras Paulocaris pachecoi n.sp. K. BEURLEN, Palaeont. Zeitsehr., vol. 13, pg. 39, fig. 3. A descrição desta espécie tem por base exemplares comprimidos dos folhelhos betuminosos de Iratí. Nos exemplares dorsoventralmente achatados a largura é maior do que o comprimento e a maior largura situa-se, aproximadamente, na porção média. As margens anterior e posterior têm o mesmo comprimento. Além do pequeno rostro triangular há, na margem anterior, duas pontas triangulares, dirigidas para frente, que separam a margem anterior e as margens laterais. CLARKE não menciona, nem na descrição, nem nas figuras, a existência de um sulco cervical, provàvelmente êste sulco desapareceu em virtude do estado comprimido do material. Na porção posterior da linha média há uma carena longitudinal pronunciada. Além da carapaça, CLARKE observou alguns restos isolados de segmentos abdominais. Procedência: Guareí, Estado de São Paulo.
4 Paulocaris clarkei, n.sp. Desta espécie são conhecidas, também, somente carapaças comprimidas que ocorrem em folhelhos betuminosos. O contorno da carapaça, dorsoventralmente, é mais ou menos circular, sendo a largura maior do que o comprimento. A extensão longitudinal alcança cêrca de 2,5 cm e a transversal 3,0 cm. A margem anterior, reta, possui um pequeno rostro triangular, com uma carena curta e elevada, e tem 1,4 cm de comprimento, Não ocorrem pontas laterais na margem anterior, porém a margem anterior passa à lateral em ângulo fracamente arredondado. A maior largura da carapaça está situada na terça parte posterior. A parte anterior da margem lateral é reta, ou ligeiramente côncava, enquanto a posterior é convexa e fortemente encurvada. O sulco cervical é bem pronunciado, bifurcado lateralmente. O ramo anterior dêste sulco dirige-se para o ângulo lateral da margem anterior. Na linha média êste sulco apresenta um ângulo ponteagudo dirigido para trás. A carena média da porção posterior da carapaça é apenas ligeiramente desenvolvida e, às vêzes, falta completamente. A superfície das carapaças é coberta de minúsculos tubérculos irregulares. A carapaça desta espécie difere da de Paulocaris pachecoi na margem anterior, que passa para a lateral em um ângulo arredondado, sem pontas triangulares laterais, pela falta da carena média da carapaça e na maior largura que está situada mais para trás. Além disso parece que o sulco cervical é mais desenvolvido. Procedência: As carapaças descritas procedem de folhe- Iho betuminoso da estação ferroviária de Engenheiro Gutierres, Município de Irati,Estado do Paraná. Desta mesma localidade há um resto incompleto, mostrando 5 segmentos abdominais e a região ventral da carapaça, com os toracópodes, mas não mostra o contorno da mesma. Não se pode incluir êste resto, com segurança, nesta espécie, porém, como
5 5 a procedência é a mesma, é possível que o resto em aprêço a ela pertença. Os toracópodes mostram os caracteres acima descritos. Uma carapaça incompleta, provàvelmente da mesma espécie, procede do município de Rio Claro, Estado de São Paulo. Paulocaris marianoi n.sp. Esta espécie encontra-se bem conservada em calcários, e as carapaças não estão comprimidas. A margem anterior da carapaça é reta e possui um pequeno rostro triangular com uma carena curta e elevada. As margens anterior e lateral são separadas por um ângulo um pouco arredondado sem pontas laterais. O terço anterior da margem lateral é ligeiramente côncavo, enquanto a porção posterior da margem lateral é convexamente encurvada. A margem posterior, fracamente côncava, é pouco mais comprida do que a anterior. O corte transversal da carapaça apresenta convexidade ligeiramente deprimida. O tamanho desta espécie é relativamente pequeno, o comprimento da carapaça vai de 6 a 10 mm e sua superfície é lisa. O sulco cervical, bifurcado lateralmente, é bem pronunciado; além disso, antes do sulco cervical há mais um sulco transversal que divide a área média em duas partes. Dois outros sulcos limitam uma pequena área rostral triangular. Junto às carapaças observa-se o resto de um abdômen com 5 segmentos conservados, com um telson e urópodes ovóides. A largura anterior do abdômen corresponde à da margem posterior da carapaça. Procedência: Esta espécie ocorre nos leitos calcários das camadas Irati nos Municípios de Dom Pedrito e Bagé, Estado do Rio Grande do Sul. Paulocaris marianoi difere das duas outras espécies pelo menor tamanho. Difere de P. pachecoi pela falta das duas pontas laterais na margem anterior e pela falta da carena
6 média na porção posterior da carapaça. Concorda com P. clarkei pelo ângulo lateral arredondado da margem anterior e pela maior largura da carapaça situada na terça parte posterior. Difere de P. clarkei pela superfície lisa da carapaça e pela menor largura. Retificando-se a convexidade da carapaça de P. marianoi a largura fica menor do que o comprimento; além disso, P. marianoi difere das duas outras espécies pela concavidade bem pronunciada do terço anterior da margem lateral. POSIÇÃO SISTEMATICA CLARKE, ao descrever o gênero Paulocaris, acentuou sua semelhança com os Phyllocarida e com os Decapoda, e inseriu-o entre êstes últimos. K. BEULEN, estabelecendo o gênero Liocaris, mostrou que êstes dois gêneros das camadas Iratí apresentam bastante afinidade, mas não são representantes nem dos Phyllocarida, nem dos Decapoda, colocando-os entre os Pygocephamorpha, um grupo extinto da ordem Eucarida, do Paleozóico Superior. Os novos achados confirmam definitivamente esta idéia. Sem dúvida, o gênero Liocaris é aliado próximo do gênero Paulocaris. Ambos concordam em relação à carapaça univalva com um rostro triangular e em relação ao sulco cervical dirigido para a margem anterior formando um ângulo ponteagudo dirigido para trás. O gênero Liocaris difere de Paulocaris pela carapaça mais estreita e alongada, menos deprimida, e, principalmente, pelo rostro maior; a maior largura da carapuça de Liocaris situa-se perto da margem anterior, enquanto Paulocaris mostra a maior largura um pouco mais para trás, na região branquial, razão por que esta região é pronunciadamente inflada. A região branquial inflada é um carater bem típico de Paulocaris; possivelmente êste gênero possuía brânquias bem desenvolvidas e exageradas devida ao ambiente sapropélico com escassez de oxigênio. Paulocaris ocorre, predominantemente, nos folhelhos betu-
7 minosos; Paulocaris marianoi, procedente de leitos calcários, pouco betuminosos, mostra a região branquial menos inflada, aproximando-se, portanto, do gênero Liocaris, dêle diferindo, porém, pelo rostro menor e pela maior largura que está situada na terça parte posterior da carapaça. Discutindo a posição sistemática de Liocaris e Paulocaris, em 1931, acentuei que o tipo de sulco cervical dêstes gêneros concorda com o dos Phyllocarida e dos Pygocephalomorpha, diferindo, fundamentalmente, do dos Decapoda. Pelo tipo dêste sulco concluí que a carapaça une-se, imediatamente, só com a cabeça, não porém, com o próprio tórax. O caráter inflado da parte posterior da carapaça não comprimida de Paulocaris marianoi parece confirmar esta suposição. Considerando o rostro não isolado e a carapaça univalva sem sutura média, incluí os dois gêneros, nos Pygocephalomorpha. Estas conclusões não tinham segurança definitiva; pois baseavam-se somente na carapaça. Agora, conhecendo também o abdômen, o telson e. os urópodes, posso confirmar esta determinação, pois o telson e os urópodes apresentam o tipo dos Eucarida (Pygocephalomorpha, Schizopoda, Decapoda), enquanto os Phyllocarida possuem um telson estreito e ponteagudo e, em lugar de urópodes, uma furca. Os Phyllocarida apresentam, além disso, um abdômen muito mais estreito do qüe a carapaça, enquanto Liocaris e Paulocaris possuem o abdômen mais largo, correspondendo a largura do abdômen ao comprimento da margem posterior da carapaça, como nos Eucarida. Os toracópodes representam mais um caráter muito importante. Os Phyllocarida recentes possuem toracópodes curtos e reduzidos, com exopódito bem desenvolvido. Também o gênero Nahecaris (Devoniano) possui toracópodes fracos com exopóditos bem desenvolvidos. O exemplar descrito de Paulocaris cf. clarkei apresenta toracópodes com endopóditos fortes, diferindo dos toracópodes dos Phyllocarida. O coxopódito relativamente grande, o basipódito separado e o isquiopódito comprido, cilíndrico, dos toracópodes dêste exemplar de Paulocaris mostram o mesmo tipo que as partes correspondentes dos toracópodes de Pygocephalus. Também o último toracó-
8 pode, muito menor do que os toracópodes anteriores, concorda com Pygocephalus. A existência de, pelo menos, seis toracópodes iguais, neste exemplar de Paulocaris, distingue êste gênero do mesmo modo que Pygocephalus dos Decapoda; êstes possuem somente cinco pares de toracópodes iguais, enquanto os três pares anteriores são transformados em maxilípedes. Resulta disso, que Paulocaris (e do mesmo modo Liocaris) é aliado próximo de Pygocephalus, quer dizer, é um representante dos Pygocephalomorpha. Os Pygocephalomorpha são o grupo mais primitivo dos Eucarida. Os três grupos recentes dos Eucarida, os Schizopoda, os Euphausiacea e os Decapoda derivam-se dos Pygocephalomorpha do Paleozóico Superior. Os Schizopoda apresentam o primeiro par dos toracópodes transformado em maxilípedes e o coxopódito dos toracópodes bem reduzido; os Decapoda mostram os três pares anteriores dos toracópodes transformados em maxilípedes; os Euphausiacea não possuem nenhum par de toracópodes transformado em maxilípedes, porém, o último par de toracópodes é reduzido, e o coxopódito dos toracópodes é relativamente grande. Como os Pygocephalomorpha não possuem nenhum par de maxilípedes, mas um coxopódito relativamente grande, nos toracópodes, e o último par de toracópodes é relativamente pequeno, os Pygocephalomorpha aproximam-se mais de Euphausiacea do que dos Schizopoda e Decapoda, diferindo, porém, dos Euphausiacea, pela carapaça dorsoventralmente deprimida e pelos endopóditos mais fortes. Os Pygocephalomorpha do Paleozóico Superior parecem ser um grupo eurialino, encerrando representantes marinhos e de água doce.
9 BIBLIOGRAFIA BEURLEN, K. Crustaceenreste aus ãen Mesosaurierschichten (Unterperm) von Brasilien (São Paulo). Palaeontologische Zeitschr. vol. 13, Berlin, CLARKE, J. M. New paleozoic Crustacea. II. Crustaceans from the Permian of São Paulo, Brazil. New York State Museum Buli. 219/220, 15. Rep. of the Director 1918, Albany Trad. de MEZZALIRA, I. G. G. rev. vol. 4, S. Paulo 1946). MEZZALIRA, S. Clarkecaris, novo gênero de Crustáceos Syncariâa do Permiano. Boi. Soe. Bras. Geologia, vol. 1, São Paulo 1952.
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11 ESTAMPA I Fig. a** Paulocaris clarkei n.sp. Carapaça comprimida, folhelho betuminoso, Estação de Engenheiro Gutierres, Município de Irati, Estado do Paraná. Tamanho natural. Fig. b Desenho esquemático do espécime representado na fig. a Tamanho 2:1 Fig. c Paulocaris marianoi n.sp. Carapaça. Leito calcário, Dom Pedrito, Estado do Rio Grande do Sul. Tamanho natural. Fid. d Desenho esquemático do espécime representado na fig. c. Tamanho 3:1. Fig. e Paulocaris marianoi n.sp. Desenho esquemático da carapaça e abdômen de um outro exemplar. Leito calcário, Dom Pedrito, Estado do Rio Grande do Sul. Tamanho 3:1.
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