EFEITO DE DIFERENTES AÇÕES MUSCULARES SOBRE A FADIGA METABOLICA APÓS EXERCÍCIO EM DINAMÔMETRO ISOCINÉTICO EM HOMENS JOVENS

Transcrição

1 EFEITO DE DIFERENTES AÇÕES MUSCULARES SOBRE A FADIGA METABOLICA APÓS EXERCÍCIO EM DINAMÔMETRO ISOCINÉTICO EM HOMENS JOVENS Erick Henrique Pereira Eches (UEL), Fernanda dos Santos Neri (UEL), Beatriz Simões Galera (UEL), Letícia Trindade Cyrino (UEL), Crivaldo Gomes Cardoso Júnior (UEL) RESUMO A realização de diferentes ações musculares no exercício em dinamômetro isocinético pode provocar diferentes respostas cardiovasculares, neuromusculares e de fadiga muscular. O que tem se visto na literatura é que a ação muscular concêntrica provoca uma maior concentração de lactato sanguíneo após sua realização, comparada a ação muscular excêntrica. Porém os dados disponíveis na literatura são oriundos de cargas relativas ou máximas, sendo necessário a comparação de diferentes intensidades e ações musculares. O objetivo foi analisar a concentração de lactato sanguíneo após a realização das ações musculares concêntrica e excêntrica com intensidade absolutas e relativas em dinamômetro isocinético. Participaram do estudo 13 homens jovens e saudáveis (24±4anos e 24±2 kg/m²). Os sujeitos realizaram cinco sessões experimentais, com a ação muscular concêntrica e excêntrica, uma sessão completa e um controle. Os resultados encontrados demonstraram que a ação muscular na mesma intensidade absoluta gera a mesma concentração de lactato, porém quando a intensidade foi relativa ao seu próprio teste máximo a concentração de lactato foi maior na ação muscular excêntrica. Concluímos que a concentração de lactato é independente da ação muscular, ela é maior durante uma maior intensidade aplicada durante o exercício. Palavras-chave: ação concêntrica; ação excêntrica; lactato sanguíneo. INTRODUÇÃO O exercício realizado no dinamômetro isocinético está cada vez mais popularizado e recomendado, sobretudo por possibilitar maior individualização da prática, a ponto de viabilizar, inclusive, a realização do exercício em suas respectivas ações musculares (concêntrica e excêntrica) e da compilação dessas ações. Ademais, tem sido sugerido que a realização do exercício no dinamômetro isocinético promove um menor estresse articular durante a sua pratica quando comparado com outras modalidades de prática (Terreri et al., 2001). Do ponto de vista cardiovascular, a realização do exercício concêntrico promove uma maior sobrecarga cardíaca, com aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, do que o exercício excêntrica (Okamoto et al., 2006; 2008; Hortobagyi e DeVitta, 2000; Overend et al., 2000). E, do ponto de vista neuromuscular o exercício concêntrico promove uma maior ativação neuromuscular, em comparação ao exercício excêntrico (Sczpanski et al., 1991; Grabiner e Owings, 2002; Higibie et al., 1996). Como consequência dessas respostas, estudos apontam que os sujeitos tendem a ter uma maior percepção subjetiva de esforço durante a realização da ação muscular concêntrica (Hortobagyi e DeVitta, 2000; Overend et al., 2000). Sabe-se que as variáveis cardiovasculares, neuromusculares e de percepção subjetiva de esforço podem ser preditoras da fadiga muscular, porém pouco tem sido estudado sobre a concentração de lactato sanguíneo após a realização de diferentes ações musculares. O que têm

2 sido descrito na literatura é que a ação muscular concêntrica promove maiores concentrações de lactato após sua finalização, comparada com a ação muscular excêntrica (Carrasco et al., 1999). Porém, os dados da literatura que apontam tais respostas, são oriundos de comparações de cargas relativas no mesmo pico de torque concêntrico (carga absoluta), tanto para o exercício excêntrico como para o concêntrico, ou mesmo realizam a comparação das ações musculares durante seus respectivos testes máximos. Sabe-se que a geração de força durante a ação muscular excêntrica chega a ser 45,5% maior do que durante a ação muscular concêntrica (Overend et al., 2000). Todavia, infelizmente até o momento não há comparações da realização das diferentes ações musculares para o pico de torque proporcional à mesma ação muscular, ou seja, para a mesma intensidade relativa, limitando, portanto, a individualização do treinamento resistido concêntrico e excêntrico no dinamômetro isocinético, fato que pode gerar diferentes respostas de fadiga muscular. OBJETIVO Analisar o efeito da ação muscular concêntrica e excêntrica e da intensidade absoluta e relativa na concentração de lactato sanguíneo após exercício em dinamômetro isocinético. METODOLOGIA O presente projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, da Universidade Local. E previamente todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Participaram 13 homens, todos com idade entre 18 a 35 anos. Como critérios de inclusão eles deveriam ser normotensos autodeclarados, não poderiam estar engajados com a prática regular e sistematizada do exercício físico, por duas ou mais vezes na semana, nos seis meses precedentes ao estudo. Ademais, os voluntários não faziam uso crônico de medicamentos, tampouco uso episódico durante o estudo; não apresentaram qualquer limitação para a pratica do exercício físico por motivo de lesão ou doença; bem como não eram tabagistas e nem obesos, com baixo risco cardiovascular (THOMPSON et al., 2010),. Para a medida da massa corporal e da estatura, foi utilizada uma balança digital da marca Balmak (modelo BK-200F, S. Barbara d Oeste, Brasil) de resolução de 0,1 kg, com um estadiômetro acoplado na balança, de resolução de 0,1 cm. Com base nas informações de massa corporal e estatura, foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC). Testes Máximos Antes de se iniciar os testes máximos e as sessões experimentais, os sujeitos foram familiarizados com o exercício em dinamômetro isocinético. Os testes máximos foram realizados no dinamômetro isocinético (Biodex - modelo Multi- Joint System Pro4, Shirley, New York) após o mínimo de 48 horas da ultima sessão de

3 familiarização. Os sujeitos realizaram duas sessões máximas, aleatorizadas ( com intervalo de 15 min entre elas, para se verificar o Pico de Torque Concêntrico (PTC) e o Pico de Torque Excêntrico (PTE). Nesta sessão os sujeitos realizaram três séries de três repetições máximas respeitando o ROM (amplitude de movimento) máximo de cada um, em uma velocidade angular de 60º/s. Para o PTC os sujeitos realizaram a ação concêntrica do movimento de extensão dos joelhos, relaxando a musculatura na ação excêntrica até se retornar ao ponto inicial. Para o PTE os sujeitos elevaram a perna, sem realizar força, até a extensão da mesma, e então realizaram força para segurar o peso do equipamento no retorno ao ponto inicial do movimento, realizando a ação excêntrica. Os padrões do equipamento adotados para os testes máximos foram: protocolo isocinético unilateral ; no padrão extensão/flexão ; com a articulação do joelho ; com lado envolvido direito ; no modo isocinético. Foi ainda, adotada a contração CON/EXC para a sessão máxima do PTE, e a contração CON/CON para a sessão máxima do PTC. Sessões experimentais Para realização dos exercícios, também foi utilizado o dinamômetro isocinético da marca Biodex (modelo Multi-Joint System Pro4, Shirley, New York). Após um mínimo de 48 h de intervalo das sessões máximas, os participantes foram aleatorizados ( para realizar cinco diferentes intervenções, com um mínimo de 48 h de intervalo entre elas, sendo quatro intervenções com exercício, e uma intervenção controle (sem exercício), a saber: Controle [CO] (repouso sentado na cadeira do dinamômetro isocinético); concêntrica-concêntrica [CC] (exercício concêntrico realizado com 60% do PTC); excêntrica-concêntrica [EC] (exercício excêntrico realizado com 60% do PTC); excêntrica-excêntrica [EE] (exercício excêntrico realizado com 60% do PTE); e padrão [SPA] (exercício completo [concêntrico e excêntrico] realizado com 60% do PTC). Para esses testes foram adotadas a seguinte programação: três séries com 10 repetições, na velocidade angular de 45º/s. Os intervalos de recuperação entre as séries foram de 90 s. Os padrões do equipamento adotados para todas as intervenções foram: protocolo isocinético unilateral ; no padrão extensão/flexão ; com a articulação do joelho ; com lado envolvido direito ; no modo isocinético. Sendo ainda, adotada a contração CON/EXC para as intervenções SPA, EC, EE e, a contração CON/CON para a intervenção CC. Esses procedimentos foram utilizados tanto nas sessões de familiarização, quanto nas sessões experimentais. Na sessão CO os indivíduos realizaram todas as medidas, e no momento de realizar o exercício ficaram por sete minutos em repouso para equiparar a duração da intervenção controle com as que envolvem exercício. Para que a intensidade fosse mantida, a carga correspondente foi demarcada na tela do computador por uma linha que o dinamômetro isocínetico oferece e, por meio de um estímulo visual e também verbal, os participantes foram orientados a controlarem a força empregada, de modo que cada repetição deveria ser mantida dentro da intensidade estabelecida. Foram aceitas

4 repetições que ficaram até 10% acima ou abaixo da carga estipulada, caso contrário era agendado outro dia com pelo menos 48 h de intervalo, para que se repetisse a sessão. Durante todas as sessões experimentais a temperatura ambiente foi monitorada por uma estação meteorológica radiográfica portátil (Twins, Munchener). Lactato Sanguíneo e Salivar Foram coletadas amostras de sangue no lóbulo da orelha direita dos indivíduos para análise do lactato, logo antes do inicio da realização das sessões experimentais e cinco min após sua finalização. O sangue foi armazenado em um Ependorf com 25 µl de sague e 50 µl de solução de fluoreto de sódio. Todas as amostras foram congeladas em refrigeração a -20ºC para posterior análise. Para a análise foi utilizado um analisador de lactato da marca Yellow Springs (modelo YSI 2300 STAT PLUS, Yellow Springs, OH, Estados Unidos). O equipamento foi calibrado sempre antes de cada sequência de análises, conforme orientações do fabricante. Análise estatística Após a descrição dos dados, foi testada a normalidade dos dados pelo teste de Shapiro- Wilk, com um p > 0,05. O teste de Levene será utilizado para análise da homogeneidade dos dados. Para a comparação das sessões experimentais, será empregada a análise de variância de dois caminhos (ANOVA two-way), para medidas repetidas, e foi empregado o teste de contraste (post-hoc) de Newman-Keuls. Os dados estão apresentados como média e desvio padrão da média e foi adotado um nível de significância de 5%. RESULTADOS A tabela 1 mostra os resultados de caracterização da amostra quanto a idade, ao perfil antropométrico e hemodinâmico, a força e experiência de treinamento. Destaca-se que o teste máximo excêntrico (PTE) foi superior em 37,4% ao teste máximo concêntrico (PTC). Tabela 1. Caracterização da amostra quanto a idade, perfil antropométrico, perfil hemodinâmico, força e experiência de treinamento (n=13). Média (dp) Idade (anos) 24,2 (4,3) Perfil Antropométrico Massa Corporal (kg) 77,0 (10,1) Estatura (m) 1,79 (0,08) IMC (kg/m²) 24,1 (2,0) Indicadores de Força e Amplitude Angular PTC (N) 253,7 (26,7) PTE (N) 348,6 (33,5) ROM (º) 81 (8)

5 Nota: IMC= índice de massa corporal; PTC= pico de torque concêntrico; PTE= pico de torque excêntrico; ROM= amplitude angular do movimento. Para a medida de lactato sanguíneo (figura 1) houve diferença significativa na Anova oneway entre as sessões (p<0,05). * * * * Figura 1. Delta do lactato sanguíneo após a realização de diferentes ações musculares em dinamômetro isocinético em homens jovens (n=13). As barras são as médias das sessões e os círculos são os valores individuais. Dados em média e desvio padrão. Nota: * diferente do CO (p<0,05); diferente do SPA (p<0,05); diferente do EC (p<0,05). SPA= sessão padrão, com realização da ação muscular concêntrica e excêntrica com 60% do pico de torque concêntrico (PTC); CO= sessão controle, sem exercício. CC= sessão concêntrica realizada com 60% do PTC; EC= sessão excêntrica realizada com 60% do PTC. EE= sessão excêntrica realizada com 60% do pico de torque excêntrico; R= repetição. CONCLUSÕES Concluímos que a concentração de lactato aumenta independente da ação muscular envolvida, e que quanto maior for a intensidade do exercício maior será a concentração de lactato. EFFECT OF DIFFERENT MUSCLE ACTIONS ON THE FATIGUE METABOLIC AFTER EXERCISE IN ISOKINETIC DYNAMOMETER IN YOUNG MEN ABSTRACT The performance of different muscle actions in the year isokinetic dynamometer can cause different cardiovascular responses, neuromuscular and muscle fatigue. What has been seen in the literature is that the concentric muscle action causes increased blood lactate concentration after its completion, compared to eccentric muscle action. But the data available in the literature are from charges related or maximum, requiring the comparison of different intensities and muscle actions. The aim was to analyze the blood lactate concentration after the completion of the concentric and eccentric muscle actions with absolute and relative strength using an isokinetic dynamometer. The study included 13 young men and healthy (24 ± 4Years and 24 ± 2 kg / m²). The subjects performed five experimental sessions, with concentric and eccentric muscle action, a full session and a control. The results showed that muscular action at the same absolute intensity generates the same lactate concentration, but when the intensity is relative to its own maximum test lactate concentration was higher in the eccentric muscle action. We conclude that the lactate concentration is independent of muscle action, it is higher for a higher intensity applied during the year. Keywords: concentric action; eccentric action; blood lactate.

6 REFERÊNCIAS CARRASCO, D. I; DELP, M. D; RAY, C. A. Effect of concentric and eccentric muscle actions on muscle sympathetic nerve activity. Journal of Applied Physiology, v. 86, n. 2, p , feb GRABINER, M. D; OWINGS, T. M. EMG differences between concentric and eccentric maximum voluntary contractions are evident prior to movement onset. Experimental brain research. 2002;145(4): Epub 2002/08/13. HIGIBIE, E. J; CURETON, K. J; WARREN, G. L, 3rd, Prior BM. Effects of concentric and eccentric training on muscle strength, cross-sectional area, and neural activation. J Appl Physiol (1985). 1996;81(5): Epub 1996/11/01. HORTOBAGYI, T; DEVITA, P. Favorable neuromuscular and cardiovascular responses to 7 days of exercise with an eccentric overload in elderly women. The journals of gerontology Series A, Biological sciences and medical sciences. 2000;55(8):B Epub 2000/08/22. OKAMOTO, T; MASUHARA, M; IKUTA, K. Cardiovascular responses induced during highintensity eccentric and concentric isokinetic muscle contraction in healthy young adults. Clinical physiology and functional imaging. 2006;26(1): Epub 2006/01/10. OKAMOTO, T; MASUHARA, M; IKUTA, K. Relationship between plasma endothelin-1 concentration and cardiovascular responses during high-intensity eccentric and concentric exercise. Clinical physiology and functional imaging. 2008;28(1):43-8. OVEREND, T. J; VERSTEEGH, T. H; THOMPSON, E; BIRMINGHAM, T. B; VANDERVOORT, A. A. Cardiovascular stress associated with concentric and eccentric isokinetic exercise in young and older adults. The journals of gerontology Series A, Biological sciences and medical sciences. 2000;55(4):B Epub 2000/05/16. SCZEPANSKI, T. L; GROSS, M. T; DUNCAN, P. W; CHANDLER, J. M. Effect of Contraction Type, Angular Velocity, and Arc of Motion on VMO:VL EMG Ratio. The Journal of orthopaedic and sports physical therapy. 1991;14(6): Epub 1991/01/01. TERRERI, A. S. A. P; GREVE, J. M. D; AMATUZZI, M. M. Avaliação isocinética no joelho do atleta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2001;7(2):62-6. THOMPSON, E; VERSTEEGH, T. H; OVEREND, T. J; BIRMINGHAM, T. B; VANDERVOORT, A. A. Cardiovascular responses to submaximal concentric and eccentric isokinetic exercise in older adults. Journal of aging and physical activity. 1999;7(1): THOMPSON, W. R; GORDON, N. F; PESCATELLO, L. S; et. al. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 8. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2010.