TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N ACÓRDÃO ' * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n , da Comarca de Matão, em que é Agravante Baldan Implementos Agrícolas S/a, sendo Agravado Triunfo Factoring Ltda: ACORDAM, em 15 a Câmara Direito - Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: " Negaram provimento, vu. Acórdão com 2 o juiz. Fará declaração de voto o relator sorteado. ", de conformidade com o relatório e voto do Relator, que integram este acórdão. Participaram do julgamento os(as) Desembargadores(as) Waldir de Souza José, Araldo Telles e Edgard Jorge Lauand. Presidência do(a) Desembargador(a) Cyro Bonilha. São Paulo, 1 de julho de SAÍDO TELLES Relator designado _-- Waldir de Souza José Com declaração de voto

2 PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE MATÃO i v. AGRAVANTE: BALDAN IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS SA. AGRAVADA: TRIUNFO FACTORING LTDA. VOTO N EMENTA: Assunção de divida. Afastamento do antigo devedor Nâo sujeição do crédito, em conseqüência, à recuperação judicial deste Recuperação Judicial. Concessão que não implica, necessariamente, em pagamento, mas no implemento de novação sob condição suspensiva Hipótese em que terceiro que assumiu q compromisso e emitiu debêntures não pode assumir o pólo ativo da execução por conta de sub-rogação por pagamento Execução mantida Recurso desprovido. Dizendo ter-se. sub-rogado no crédito da agravada por conta da emissão de debêntures para cumprimento do plano de recuperação, judicial da sociedade Agri Tiilage do Brasil Indústria e Comércio de Implementos Agrícolas Ltda., a agravante pleiteou a assunção do pólo ativo da execução por título extrajudicial em que aquela figura como credora e viu sua pretensão rechaçada pelo r. decisão recorrida, o que motivou a ' interposição do presente, que correu sem contrariedade. É o relatório. -,

3 PODER JUDICIÁRIO 2 Convém, num primeiro passo, antes do exame da incidência ou não da recuperação judicial sobre o crédito da recorrida, examinar a natureza jurídica da operação que reuniu as partes e mais a sociedade Agri Tillage, então devedora da factoring. O documento de fls. 121 e seguintes registra, com efeito, a descrição de uma dívida desta última pessoa jurídica para com a Triunfo (agravada), decorrente de variadas operações de faturização. As partes apuraram o saldo devedor, sobre ele aplicaram juros da ordem de 2% ao mês e definiram um débito de R$ ,63, que deveria ser pago em, 36 parcelas de R$41.439,07. - Nesse ponto, naquele mesmo instrumento, interveio a agravante pessoa jurídica para assumir tal dívida, comprometendo-se a saldá-la no período de parcelamento, emitindo, para tanto, notas promissórias não circuláveis por endosso (não à ordem), avalizadas por todos os agravantes pessoas físicas. Operação de tal gênero está bem afeiçoada a instituto de direito privado que recebeu tratamento legal com a vigência"do novo-código Civil e que já era considerado admissível pela doutrina na codificação revogada. Trata-se da assunção de dívida, contemplada nos artigos 299 a 303 do diploma comum. Diz aquele primeiro dispositivo: Art É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o

4 PODER JUDICIÁRIO 3 devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era - insolvente e o credor o ignorava. Gomes: Seu conceito vem bem delineado na obra de' Orlando É o negócio jurídico por via do qual terceiro assume a responsabilidade da dívida contraída pelo devedor originário, sem que a obrigação deixe de ser ela própria. A relação obrigacional passa a ter novo devedor, liberando-se, ou não, o antigo. Um se exime e o outro se obriga, ou um entra sem que o outro saia 1. Ao afirmar que fica exonerado o devedor primitivo, a disposição evidencia sua natureza liberatória, inclusive porque" opera uma mudança subjetiva na relação obrigacional, não se confundindo com a hipótese de novação porque a'dívida continua a mesma. A idéia de que a regra é a liberação do devedor primitivo vem reforçada pela possibilidade de não exoneração decorrente^ da insolvência do terceiro e que era desconhecida do credor. Nessa cadência, o que se tem é uma obrigação dos agravantes para com a agravada e não mais da antiga devedora Agri Tillage. É certo que, de forma algo tortuosa, as razões buscam convencer que esta última permaneceu como coobrigada. 'Obrigações Rio de Janeiro Forense, p GAGLIANO, Pabro Stolze e PAMPLONA FILHO.' Rodolfo Novo Curso de Direito Civil. Obrigações São Paulo Saraiva, 2 006, vol II. p 253

5 PODER JUDICIÁRIO 4 Não é assim, entretanto, como antes se viu, e nem por disposição do instrumento denominado de "Compra de Títulos e Outras Avenças". O que ali se contempla, em termos de solidariedade, fica por conta de eventuais danos causados pelo faturizador a sacados de títulos que tenham sido negociados pela primitiva devedora e que tenham sido objeto de r protestos. E o que se lê na cláusula 7 a, I o (fls. 123). Por fim, no tocante a esse contrato, a eleição de 1 foro refere-se a devedores solidários, mas isto não significa que a primitiva devedora tenha-se conservado como obrigada. Devedores solidários, na verdade, passaram a ser os avalistas, que, com a formalização do aval, passam a nutrir a solidariedade de natureza cambial. Em suma, a conclusão que se tem é de, que a sociedade Agri Tillage, ora em regime de recuperação judicial, cedeu seu débito à sociedade recorrente e, com isso, exonerou-se da obrigação executada, que, por essa razão, não está sujeita aos efeitos daquele procedimento., Admitindo-se, por mero argumentar, não fosse assim e a devedora primitiva estivesse, ainda,.atrelada à dívida, não seria caso de se admitir a assunção do pólo ativo pela agravante. r E que, não obstante aprovado o plano de recuperação, inclusive com expressa disposição vde exoneração de garantes, e concedida por r. sentença irrecorrida, inaugura-se uma fase de espera, de aguardo de providências tendentes ao cumprimento do que prometera a empresa em crise, por isso mesmo também chamada fase cie execução. O Prof. Fábio Ulhoa Coelho bem explica o momento

6 PODER JUDICIÁRIO 5 processual em exame: / As novações, alterações e renegociações realizadas no âmbito da recuperação judicial são sempre condicionais. Quer dizer, valem e são eficazes unicamente na hipótese de o plano de recuperação ser implementado e ter sucesso. Caso se verifique a convolação da recuperação judicial em falência, os credores retornam, com todos os seus direitos, ao status quo ante 3. A evidência, se, por conta da concessão jda recuperação, fosse admitida a confusão de exeqüente e executada nos autos de origem, extinguir-se-ia o processo, quando a própria disposição do plano de recuperação fala em singela suspensão (fls.334). prosseguir conlra os recorrentes^ 'Correto, pois, o indeferimento, deve a execução É como voto. c JOSÉ AR^üO DA COSTA TELLES RELATOR: 3 Comentános à Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. São Paulo Saraiva , p 169 '. \

7 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Voto n Agravo de Instrumento n Declaração de voto Acompanhei o eminente Relator designado, porque meu voto igualmente orientava-se pelo não provimento do recurso, pelas razões abaixo alinhavadas: "O exame dos autos está a mostrar a seguinte situação: A agravada, em 06 junho de 2006, distribuiu contra a agravante e outros execução fundada em notas promissórias. Referidas cambiais foram emitidas conforme previsão existente em "instrumento particular de compra de títulos de crédito e outras avenças", o qual consubstanciou negócio jurídico celebrado entre a exeqüente, como fomentadora, e Agri Tillage do Brasil Indústria e Comércio de Máquinas e Implementos Agrícolas Ltda, como fomentada, figurando a ora agravante como "sub-rogada"-co-devedora e os demais executados como "intervenientes-avalistas" Em 26 de junho de 2006, a devedora principal [Agri Tillage) distribuiu pedido de recuperação judicial. O plano apresentado ao Juízo prevê a emissão de debêntures por parte da coexecutada-agravante Baldan como forma de recuperação judicial da Agri Tillage. Assim, acenando com a emissão, a escrituração e o registro dessas debêntures, a recorrente postulou ao Juízo tomar o lugar da Ifiw ARTES GRÁFICAS - TJ

8 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO agravada na execução, já que, a seu aviso, a simples emissão e disponibilização implicou pagamento da dívida que a recuperanda tinha para com a exeqüente. Esse é o quadro dos autos. Abstraída eventual discussão sobre a possibilidade de questionamento do contrato de fomento na seara em que o fundamento da execução vem amparado exclusivamente nas cambiais que a instruem (matéria que não pode ser aqui tratada, em insta da limitação imposta pelo teor da r decisão recorrida), temos que não colhe o inconformismo. Conforme já tivemos oportunidade de expressar em casos precedentes, o deferimento do processamento da recuperação judicial e a aprovação do respectivo plano, não afetam as garantias adicionais impostas no negócio. Dessa forma, tanto as garantias reais ofertadas na negociação como as execuções ajuizadas contra os coobrigados, não são alteradas por aquela situação especial na qual inserida a codevedora pessoa jurídica, tendo em vista aquela prevista na novel lei falimentar. Além disso, a regra do artigo 49, I o, da lei não deixa dúvidas quanto à manutenção da responsabilidade da agravante em relação ao débito em tela, na medida em que "Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso." E não há falar-se em pagamento, porque pagamento não houve, e só se o terá por achado se eventualmente ficar demonstrada a respectiva materialização do crédito, salvo se a credora expressamente se der por forrada, do aqui não se tem notícia. Cuidando-se apenas de "plano" de recuperação, a simples aprovação em jj^m ARTES GRÁFICAS -TJ

9 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO assembléia e homologação pelo Juízo não caracteriza automaticamente o pagamento esperado pelos credores. Vai, então, que está correta a r. decisão recorrida, que não atendeu ao pleito da agravante." Por tais razões, meu voto propunha o não provimento do recurso. São Paulo, 01 de julho de Waldirde SoUZa José Relator sorteado ARTES GRÁFICAS-TJ