APONTAÇÕES A RESPEITO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS ATÉ OS DIAS HODIERNOS.

Transcrição

1 APONTAÇÕES A RESPEITO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS ATÉ OS DIAS HODIERNOS. Luiz Henrique Silveira dos Santos 1 Eduardo da Silva Fagundes 2 Guilherme Pittaluga Hoffmeister 3 1 INTRODUÇÃO Os direitos humanos, entendidos como um conjunto de valores, princípios, normas e ações sem os quais os seres humanos não poderiam viver em sociedade, possuem uma característica visceral, a historicidade. Tal atributo impregnado na construção dos direitos humanos, constrói um vínculo extremamente forte entre estas garantias e toda sua construção histórica, relacionada a aspectos políticos, sociais, econômicos, dentre outros. O presente resumo demonstra como foi se dando a evolução concatenada dos direitos humanos, desde sua florescência por parte da fé monoteísta, perpassando pelo período axial e a concepção de Kant, até ir de encontro aos dias hodiernos. Ao cabo, o resumo analisa as doutrinas concernentes ao tema e vislumbra que mesmo após o período axial, os direitos humanos seguem construindo-se e não devem ser atravancados pelo Poder Estatal. 2 OBJETIVOS Segundo o autor Norberto Bobbio, os direitos humanos são uma construção permanente e não podem estar desvinculados à sua evolução histórica. Nascem quando podem nascer e não de uma vez por todas (2004). Desta forma o resumo em questão, tem por objetivo geral focar em um dos períodos mais importantes para a divulgação dos direitos do homem - o período axial e possui como objetivo específico demonstrar como estes direitos supra-estatais pertencentes ao homem, seguem em constante evolução. 3 METODOLOGIA Para desenvolver a pesquisa, o trabalho utilizou-se de uma abordagem dedutiva, para após pesquisar nas leituras e normas relacionadas ao tema em questão, sob um método de 1 Acadêmico do 6º semestre do Curso de Direito do Centro Universitário Franciscano. lh.silveira@hotmail.com 2 Acadêmico do 5º semestre do Curso de Direito do Centro Universitário Franciscano. efagundes626@gmail.com 3 Acadêmico do 10º semestre do Curso de Direito do Centro Universitário Franciscano. gphoffmeister@gmail.com

2 procedimento histórico e bibliográfico, conceituar o período axial dos direitos humanos e chegar no fim descrito. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os direitos humanos, podem ser compreendidos como direitos que inerentes ao homem, somente pela natureza de este ser um humano. Entretanto estas garantias inerentes ao homem não se deram desde o início dos tempos. Pode-se dizer que o início desta preeminência do homem no mundo é oferecida pela afirmação da fé monoteísta, visto que esta cria para todas as pessoas um único Deus anterior e superior ao próprio mundo, que amaria de igual forma todos os seres humanos. Posteriormente há uma tentativa afirmação racional do ser humano partindo principalmente dos poetas e filósofos gregos, que começam a se perguntar o que é este ser humano e como ele se desenvolve? Uma justificativa científica deste processo encadeado da evolução humana vem à tona pela primeira vez com Darwin na sua tentativa de demonstrar o processo evolutivo dos seres vivos, o que colocou o homem como o ápice da toda a cadeia evolutiva das espécies. A teoria de Darwin e uma série de descobertas científicas, mostraram que o processo de evolução do ser humano, incidiu diretamente na evolução de outras espécies. O homem passa a alterar o meio ambiente e interfere direta ou indiretamente em todas as espécies, inclusive a sua. (COMPARATO, 2003) 4.2 O INÍCIO DO PERÍODO AXIAL A evolução cultural do homem, dá um salto após o aparecimento da linguagem onde o mesmo pode compartilhar suas aspirações e conhecimentos. Em determinado período da história da civilização, grandes doutrinadores como Zaratustra, Buda, Lao-Tsê, Confúcio, Pitágoras e Dêutero-Isaías começam a se intercomunicar entre si, porém em diferentes partes do mundo. É nesse período, denominado como período axial, que se enunciaram os grandes princípios e se estabeleceram as diretrizes fundamentais em vigor até hoje. Nascem na Grécia a tragédia e a democracia, e pela primeira vez na história, o saber mitológico é substituído pelo saber racional, onde o indivíduo passa a exercer uma visão crítica da realidade, e o mesmo torna-se também objeto de análise e reflexão. As religiões tornam-se mais éticas, mais pessoais e menos rituais, na China por exemplo, desenvolve-se veneração aos antepassados e não mais aos deuses. No reino de Israel a relação religiosa torna-se mais individual, onde o homem

3 comunica se com o seu Deus sem a necessidade da intermediação sacerdotal. Começam a ser tecidos laços de proximidade entre as cidades e países. O período axial é caracterizado por ser o início da compreensão de ser humano dotado de liberdade, razão e igualdade independente de sexo, raça, religião ou costumes sociais e iniciar os fundamentos para a compreensão da pessoa humana e a criação de direitos universais a todos os seres humanos. Contudo a ideia de igualdade material entre seres, ganha força a partir do nascimento da lei escrita, como regra geral e uniforme, aplicável a todos os indivíduos de uma sociedade. Em Atenas a lei tornou-se o fundamento da sociedade política, e nas gerações posteriores foi sendo dissipado o caráter essencialmente religioso das leis não escritas. Com Aristóteles, são reconhecidas as chamadas leis comuns que tem por características serem universais, em contraponto as leis particulares, específicas de cada povo. Descartado o fundamento religioso das leis, os sofistas buscaram fundá-las sobre a existência de uma igualdade natural para todos os homens, e a partir dos ensinamentos de Paulo de Tarso foi sendo superada a ideia que Deus havia privilegiado determinados povos entre todos. Mesmo a mensagem religiosa de determinadas seitas pregando esta igualdade em plano sobrenatural, em um plano material diversos casos como a inferioridade da mulher e dos escravos continuavam ocorrendo. Coube aos teólogos e filósofos gregos aprofundar a ideia de natureza comum a todos os homens. Grandes estudiosos como Boécio e Santo Tomas de Aquino tentaram definir o homem e dar um conceito para pessoa. Para estes, o homem seria um composto de substância espiritual e corporal e é sobre este pressuposto que se fundamenta o núcleo do conceito universal de direitos humanos, uma igualdade de essência da pessoa, que garante a todos direitos universais. A partir desta premissa, normas positivas tanto religiosas quanto seculares pregaram que todas as imposições contrárias ao direito natural deveriam ser excluídas. 4.3 A PERCEPÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SOB UM NOVO PRISMA Kant em grande parte contribui para o conceito de pessoa. Segundo ele o ser racional possui a faculdade de agir segundo a representação de leis ou princípios e encontra o fim em si mesmo, diferente das coisas. O filósofo ainda dita que se o fim natural de todos os homens é a realização de sua própria felicidade, não basta agir de modo a não prejudicar ninguém, ou

4 seja, não basta o homem deixar de fazer mal a alguém, mas que tratar a humanidade como um fim, implica em um dever de favorecer o fim de outrem (BOBBIO, 2004). Esta concepção leva a condenação de muitas práticas ocorridas pelo homem, como a escravidão, o nazismo e os gulags, onde as pessoas foram transformadas em coisa, restringidas de sua liberdade, identidade e expressão. O valor absoluto da dignidade humana e o valor da relativo das coisas, prenunciou uma era de busca pelo conceito de pessoa, a partir de valores e fundamentos éticos. É sobre o fundamento último da liberdade que se assentou o período axial. Este período compreendeu que o homem dirige a sua vida em função de suas preferências valorativas, ou seja, a pessoa humana é ao mesmo tempo criador de suas normas, a partir dos valores éticos que aprecia, e submisso às mesmas. Esta realidade axiológica transformou também a teoria jurídica e os direitos humanos foram consagrados como os valores mais importantes da convivência humana. No século XX, com a filosofia da vida e o pensamento existencialista, que dá um foco a realidade essencialmente relacional da vida. Os filósofos desta inclinação definiram que o caráter único e insubstituível de cada ser humano, portador de um valor próprio, demonstra a existência da dignidade da pessoa humana em cada indivíduo. É com base em toda essa trajetória que é possível de se dizer que o reconhecimento do direito humano, como garantia geral a todos os indivíduos, foi sendo galgado e construídos progressivamente ao longo da história e com certeza a sua tradução em termos jamais será concluída. 4.4 FATOS IMPORTANTES PARA A PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Ao longo da história, cada surto de violência faz nascer a necessidade de normas para uma vida mais digna de todos e diversas guerras, batalhas e explorações fizeram nascer essa vontade de proteger-se contra os abusos do próprio ser humano. A primeira ideia de proteção do homem contra os abusos do próprio homem, surge na Magna Carta de 1215, garantindo a liberdade e resguardando o povo contra os abusos do rei. Este povo, agora de certa forma protegido, passa a ganhar contornos de maior poder a partir da ascensão social dos comerciantes em razão das comunicações marítimas. Surgem os burgos e com eles uma nova classe detentora de poder, os burgueses. O rei agora não detinha mais todo o poder dos feudos, e a instituição chave para a limitação deste poder e garantia na sociedade civil foi o parlamento.

5 Na Inglaterra surge o Bill of Rights, e um governo representativo, ainda que não de todo o povo, mas das camadas superiores, firma-se como garantia indispensável da liberdade civil. Merecem destaque também a Independência Americana de 1776 que constitui o reconhecimento solene que todos os seres humanos são iguais pela sua própria natureza, caracterizando o registro de nascimento dos direitos humanos e a Revolução Francesa ocorrida treze anos após, com a mesma ideia de liberdade e igualdade entre os seres. Após a Revolução Industrial, vem à baila o surgimento de direitos humanos de origem econômica e social, que visam proteger o trabalhador e garantir as mínimas condições para este. Um dos principais marcos para a evolução e internacionalização dos direitos humanos é a 2ª Guerra Mundial. Após a atrocidades ocorridas até 1945 a humanidade compreende a possibilidade de crueldade do homem e o valor supremo da dignidade humana. Partindo desta premissa em 1948 é aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração Universal do Direitos Humanos e a punição do crime de genocídio. 5 CONCLUSÕES Até os dias hodiernos os Direitos Humanos seguem em constante evolução, visto que mesmo com as grandes conquistas em muito ainda se tem que aperfeiçoar. Entretanto é necessário compreender que estas garantias, pelo fato de exprimirem de certa forma a consciência ética universal, se consideram como direitos supra-estatais e estão acima do ordenamento jurídico de cada Estado, não podendo ser sob hipótese alguma ignorados, diminuídos ou atravancados pelo Poder Estatal. Frente às constantes violações de direitos humanos, mais do que somente pelo Poder Público, compete à cada ser humano primar pela garantia dos direitos do homem, à luz da democracia, para que estes sigam em constante evolução e não permitam sob hipótese alguma os atentados à dignidade, liberdade e justiça. REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto, 1909 A era dos direitos / Norberto Bobbio; tradução de Carlos Nelson Coutinho; apresentação de Celso Lafer. Nova ed. Rio de Janeiro: Elsevier, ª reimpressão. COMPARATO, Fábio Konder, 1936 A afirmação histórica dos direitos humanos / Fábio Konder Comparato. 3. Ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2003.