ANÁLISE SOCIOESPACIAL DA VIOLÊNCIA NO BAIRRO DO GUAMÁ: O USO DO TERRITÓRIO, DINÂMICA POPULACIONAL E INFLUENCIAS DA VIOLÊNCIA URBANA EM BELÉM- PA.
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- Davi Duarte Cesário
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1 ANÁLISE SOCIOESPACIAL DA VIOLÊNCIA NO BAIRRO DO GUAMÁ: O USO DO TERRITÓRIO, DINÂMICA POPULACIONAL E INFLUENCIAS DA VIOLÊNCIA URBANA EM BELÉM- PA. 1 Marcelle Peres da Silva² Universidade do Estado do Pará Lorena de Lima Sanches Santana² Universidade do Estado do Pará Jamilli Medeiros de Oliveira da Silva² Universidade do Estado do Pará Resumo Este trabalho tem como intuito refletir acerca da Análise socioespacial da violência no bairro do Guamá: o uso do território, dinâmica populacional e influencias da violência urbana em Belém- PA, voltado especialmente para a análise dos índices de homicídios no bairro. Nesta área além de ser a mais populosa, os índices de violência são os mais elevados de toda a Região metropolitana de Belém RMB (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM, 2012). Ainda há o intuito de compreender a dinâmica populacional do bairro, e fazer uma relação entre urbanização, demografia e buscar ponderar se essas variáveis interagem, e com o mau planejamento causam o subproduto violência. Palavras-chave: Violência urbana; Homicídio; Guamá. Grupo de Trabalho n.º 14 Desigualdade sócio-espacial e políticas urbanas. 1 Trabalho orientado pelo Professor Dr. Clay Anderson Nunes Chagas, do Curso de Geografia da Universidade do Estado do Pará e da Universidade Federal do Pará. Coordenador do projeto de extensão Uso de ferramentas de geoinformação na prevenção e combate à criminalidade na Região Metropolitana de Belém, Estado do Pará. ² Discente do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade do Estado do Pará.
2 1. Introdução O crescimento da violência urbana está diretamente associado ao processo de crescimento urbano concentrado e a ampliação do crescimento da taxa de ocupação das áreas de expansão das cidades e de periferização. As áreas pobres são espaços comuns em grandes centros urbanos, na Região Metropolitana de Belém, não é diferente. É marca presente no espaço da RMB as áreas de intensa pobreza, marcadas por um processo de baixa participação do poder público e de precários indicadores sociais. Essas áreas de expansão e de pobreza associado à mobilidade da criminalidade e da violência, motivada processo de saída de criminosos, que fogem das áreas centrais que contam com maior vigilância e aparato militar, se tornam espaços de disputas entre os diversos agentes territoriais, já que existe uma espécie de vazio de poder deixando pela baixa participação do Estado. A partir dessa realidade, o bairro foi escolhido, devido aos elevados índices demográficos e de violência, comparado a outras áreas de Belém (PMB). E ainda, buscamos entender quais as motivações para que seja considerado um dos bairros mais violentos, assim como entender a dinâmica populacional do mesmo, os indicadores sociais e as influencias que a violência urbana exerce sobre tais indicadores. Como objetivo procurou-se compreender e refletir acerca da realidade de violência e uso do território no bairro do Guamá, na cidade de Belém. Analisar os índices de violência, em especial os homicídios no bairro e seus condicionantes. Entender os indicadores e dinâmica populacional do bairro, indicadores sociais e vivência dessa população específica. Assim como analisar o processo de (re) produção espacial e gestão territorial. A metodologia necessária ao desenvolvimento deste trabalho encontra-se primeiramente baseada em um levantamento bibliográfico e documental, na qual serão utilizadas para o embasamento teórico, sobretudo, as temáticas relacionadas à violência, população, e território. Coleta de dados a do IBGE, Prefeitura Municipal de Belém (PMB), Secretaria de Segurança Pública (SEGUP), sendo esses mais específicos para auxiliar na melhor compreensão das questões de interesse a serem trabalhadas no bairro do Guamá. O trabalho de campo também foi necessário, contando com entrevistas, objetos metodológicos como câmeras e gravadores, observação contínua e a cartografia do lugar 2
3 para análise do espaço urbano de uma maneira mais otimizada (produção de mapas, tabelas e gráficos temáticos referentes a demografia, crime e homicídios). 2. A dinâmica socioespacial e produção do espaço urbano do bairro O recorte geográfico deste estudo é o bairro do Guamá, que está localizado na cidade de Belém. O bairro localiza-se entre os bairros de Canudos (ao norte) terra firme (nordeste), Nazaré (noroeste), Universitário (sudeste), Condor (sudoeste) e o Rio que dá nome ao bairro ao sul. Conforme especificado no mapa a seguir. Segundo o anuário estatístico do munícipio de Belém de 2010 e 2012, baseado no censo do IBGE de 2010 a área ocupada por este bairro é de 4,1754km², com uma população atualmente de habitantes, fazendo parte dos distritos administrativos do Guamá (DAGUA), sendo este o oitavo Distrito Administrativo, abrangendo os bairros de Montese (Terra Firme), Condor e parte dos bairros do Jurunas, Batista Campos, Cidade Velha, Cremação, Guamá, Canudos, São Brás, Marco e Curió-Utinga. E do distrito administrativo de Belém (DABEL), que abrange os seguintes bairros: Reduto, Campina, Nazaré e parte dos bairros do Marco, Umarizal, São Brás, Guamá, Cremação, Batista Campos, Cidade Velha, Jurunas e Canudos. 3
4 FIGURA 01: Localização do Bairro do Guamá Fonte: IBGE/IBAMA-SISCOM, 2013 A urbanização em países subdesenvolvidos como é o caso do Brasil ganha força a partir de Porém os países do Sul do globo, diferentemente aos do Norte contaram com uma urbanização acelerada e desigual, já que as suas indústrias se estruturaram nestes espaços de maneira concentrada em determinadas áreas e rarefeitas em outras, o que causou diversos tipos de problemas como o inchaço urbano nesses locais devido ao maciço êxodo rural, marginalização dos centros urbanos, aumento da violência, prostituição, tráfico de drogas, entre outros (SANTOS 2008). 4
5 No contexto específico do estado do Pará este quadro de urbanização acelerada também pode ser observado, principalmente a partir dos anos de 1960, com a implementação da modernização da fronteira, que culminou com a intensificação do processo de migração inter-regional, cidades como Marabá, Parauabepas e a Região Metropolitana de Belém, entre outras, tiveram um rápido crescimento populacional. Um dos principais problemas causados por esse crescimento populacional acelerado e concentrado nas cidades paraenses foi fenômeno da violência. A materialização da violência é mais latente nos segmentos sociais de menor poder aquisitivo, ou seja, para a população que vive em condições sub-humanas sem a mínima condição estrutural, faltando-lhes questões básicas como saneamento, moradia e segurança pública o crime se prolifera com muito mais rapidez e profundidade do que, por exemplo, em áreas de maior poder aquisitivo da Grande Belém. p. 70) afirma: Acerca dessa relação intrínseca entre urbanização e violência Beato Filho (2012, O fenômeno de maior estreitamento associado ao crescimento dos homicídios no Brasil é a urbanização. A rigor, poderíamos dizer que os crimes violentos são fenômenos urbanos associados a processos de desorganização nos grandes centros urbanos, nos quais os mecanismos de controle se deterioram, tal como ocorreu também em outros países. A partir deste fragmento, podemos perceber que o precário planejamento e a intervenção do agente estatal na cidade interferem diretamente no aumento da violência. Dessa forma, levando esses conceitos para o nosso objeto de estudo, o bairro do Guamá, como foi observado por meio de visitas, possui uma dualidade e vários contrastes em sua organização socioespacial. Em locais como na Rua Barão de Igarapé-Miri e Augusto Corrêa e transversais sua a organização basicamente está constituída por casas, lojas comerciais, mercados, farmácias, igrejas, escolas municipais/estaduais e a presença de órgãos públicos, como os polos da Secretaria de Segurança Pública, do CRAS, e da Secretaria de Administração (SEAD), delegacia, entre outros. Mostra-se como uma área mais urbanizada, na qual a presença do comércio é forte e os serviços públicos aparentam chegar de maneira mais evidente. Enquanto na Rua Bernardo Saião e transversais próxima à área portuária e do Rio Guamá, a dinâmica encontrada é outra. A começar pelas residências, que em sua maioria são constituídas de madeira, aparentando pouca segurança, alguma com características de palafita, pois foram construídas acima do canal por onde a água do rio e esgoto passam, pouquíssimas foram as moradias de alvenaria observadas. Existe um 5
6 grande canal a céu aberto e bastante lixo jogado pela rua, próximo das casas, o que mostra o descaso com o saneamento básico e limpeza pública no local. Do outro lado da rua, as margens do rio, estão presentes, além de uma praça já um pouco abandonada e descuidada, as grandes empresas de navegação, transporte e mercadorias, principalmente privadas, com embarcações médias e lanchas, além de uma empresa do próprio governo do Estado. Mostrando assim, o contraste econômico ocorrente em uma mesma área. As fotos abaixo mostram o contraste social e econômico umas das principais vias de circulação no bairro, a Barão de Igarapé-Miri, mais comercial e a Bernardo Saião, com a presença de residências, na maioria das vezes precárias, e a área portuária. FOTO 01: Proximidade da Avenida Bernardo Sayão. O canal localizado as margens da Rodovia Bernardo Sayão, apresenta uma condição de precariedade. Nos meses de janeiro a março acontece à cheia do rio Guamá, coincidindo com o período de intensa chuva na cidade, o que acaba provocando o transbordamento do canal e consequente enchente em diversas ruas próximas. Fonte: Marcelle Peres (Nov./2012). 6
7 FOTO 02: A Avenida Barão do Igarapé-Miri, marcada por um intenso comércio, composto basicamente de comércio de pequeno porte, feiras e barracas de camelôs, espalhadas ao longo dessa avenida. Fonte: Marcelle Peres (Nov./2012). A partir dessa espacialização, podemos perceber a heterogeneidade que se constitui no bairro sendo essas áreas espacialmente fragmentadas e diversas mais propicias ao aparecimento de conflitos desencadeando a violência e o medo. Como afirma Souza (2008, p. 55) E é em cidades sócio-político-espacialmente fragmentadas que o medo generalizado prospera e se sente em casa são elas as fobópoles 2 por excelência. Com isso, é ratificada a ideia do bairro do Guamá como o mais violento da cidade de Belém, de acordo com a classificação de maior índice de criminalidade do município entre , mostrados nas tabelas 1 e 2 a seguir. 2 Conceito de Marcelo de Lopes Sousa, que é resultado da derivação das palavras gregas phobos, que significa medo e pólis que significa cidade. Essa combinação é o que o autor propõe como a cidade do medo (SOUZA, 2008, p ). 7
8 TABELA 01: Classificações dos bairros de maior incidência de criminalidade, no Município de Belém, 2008 Fonte: SEGUP e Prefeitura Municipal de Belém (PMB), TABELA 02: Classificações dos bairros de maior incidência de criminalidade, no Município de Belém, Fonte: SEGUP e Prefeitura Municipal de Belém (PMB),
9 Conforme podemos visualizar nas duas tabelas anteriores o bairro do Guamá apresenta o maior índice de criminalidade na Região Metropolitana de Belém é importante ressaltar também, que a multitemporalidade no processo de ocupação, associado aos precários indicadores sociais é um fator importante para compreender esses elevados índices de violência no bairro. 3. Indicadores Populacionais Estudos populacionais revelam que a América latina teve um crescimento demográfico mais veloz do mundo no período de Segundo Jean Chesnais (1999), esses dados são comprobatórios no Brasil, no qual apresentou um aumento triplico no período de 1950 e 1995 passando de 53,4 milhões no primeiro período para 161,8 milhões no ano de Apesar de esses dados terem diminuídos cerca de 2% em há uma complexidade constante e difícil de gerir essa população crescente, gerando uma explosão urbana e uma grande contingência assim como o aumento da fecundidade nas periferias gerando uma progressão demográfica continua. No estado do Pará, em específico, na região metropolitana de Belém podemos perceber também um acentuado aumento demográfico, sobretudo no que tange os municípios da RMB. A partir de 1960 (como já foi abordado com a modernização das fronteiras) houve um incremento populacional bastante significativo. As causas são a falta de investimentos nos primeiros setores da economia o que levou as migrações contínuas em direção as cidades devido estas se encontrarem mais desenvolvidas e serem fontes de capital intensivo, o que segundo (SANTOS, 2006) seriam os pontos luminosos, nos quais fomentariam a mobilidade da força de trabalho em busca por parte dessa mão de obra, de melhores condições de vida. 9
10 GRÁFICO 1: População residente do Município de Belém 1980 / 1991/2000/2004/2007 Fonte - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Elaboração: SEGEP Calculo: SEPOF/DIEPI/GEDE (1) População estimada. Ou seja, de acordo com o gráfico elaborado com dados a partir de 1980 do Anuário estatístico do município de Belém 2010, percebe-se de certa maneira que se consolidou o maior número da população nas cidades da RMB o que só aumentou com o passar dos anos, tendo como taxa média geométrica de incremento da população, no Município de Belém 1,51% dos anos de 1980 a Todavia, não podemos deixar de citar os ônus que esse crescimento populacional elevado e mal planejado causou nas cidades um alto exército de reserva para o trabalho que por si acarretou no inchaço urbano, periferização da cidade, aumento da prostituição e do consumo de drogas, entre outros. O bairro do Guamá por sua vez é o bairro mais populoso de Belém - segundo o Banco de Dados Agregados (SIDRA) disponível no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) no censo de 2010 possuindo cerca de habitantes. Como demostra a seguir a população do bairro por grupos de idade. 10
11 TABELA 3 - População do Guamá por grupo de idade. Pode-se perceber o numeroso grupo de jovens de 15 a 29 anos, se sobressaindo em relação à população idosa no bairro, o que contraria o índice da população brasileira, em que se sobressai à população idosa. Nesse sentido, torna-se bastante relevante ressaltar acerca do aparecimento cada vez maior dos jovens nos índices de violência, tanto como vítima, quanto como atores que contribuem para o aumento desta. Por isso, o Brasil de acordo com Cara e Gauto (2007) é o país do genocídio dos jovens, e que esta mortandade está diretamente relacionada à história da violência no país. A partir desta realidade Beato Filho (2012, p. 152) comenta: As chances de morrer, vítima de homicídio quando se é um homem jovem habitante da periferia, chega a ser de até trezentas vezes mais do que para uma senhora de meia idade que habita bairros de classe média. No entanto todos os esforços de nosso sistema de justiça e de organizações às voltas com a segurança pública parece ser a de proteger justamente aqueles que estão menos expostos a violência. Porém, há vários equívocos quando o assunto é violência, como por exemplo, analisá-la apenas pelo viés socioeconômico, pois temos que pensar que a mesma coabita em todos os espaços sejam eles ricos ou pobres, a diferença é que os primeiros por terem mais recursos podem pagar por uma aparente segurança, como morar em condomínios fechados (feudalização do século XXI), contratar seguranças particulares, uso de carros blindados, entre outros, diferentemente da camada pobre que se expõe muito mais a violência, sobretudo o crime contra a pessoa. Em nosso trabalho a tipologia criminal que mais ganha destaque é o homicídio. Analisando o AEMB, 11
12 percebe-se que o bairro campeão em homicídios no município de Belém no ano de 2009 é o lócus de nossa pesquisa, o bairro do Guamá. 4. Território da violência e Indicadores de Homicídio no bairro do Guamá A violência pode ser entendida de diversas formas, mas o que as diferem principalmente são as relações sociais, na qual nos indicará a sua definição e gravidade a cada sociedade. Sendo assim, nos implica o seu uso dentro do bairro de estudo Guamá em uma circunferência da violência urbana devido o alto índice de violência acometidos no mesmo e como já foi analisado a sua classificação no mais alto índice de criminalidade nos anos de 2008 e 2009 nos dados disponibilizado pela SEGUP e pela prefeitura municipal de Belém. Assim, para entendermos a questão da violência urbana no bairro do Guamá, temos que nos acometer ao que as levam. Dessa forma, Anthony Ablaster (2011) apud Abreu (2012), nos evidencia que a violência urbana é uma constante ameça a estabilidade da sociedade, e dessa forma, ele enfatiza a pobreza e desigualdades socias como seus agravantes. Nessa linha de análise, Ignácio Cano e Nilton Santos (2007) fazem uma reflexão acerca da desigualdade e pobreza como estimuladoras da violência, e por conseguinte a distribuição de homicídios, nos trazendo diversos debates no qual nos mostram que as práticas criminosas estão ligadas a obtenção e motivação econômica, eles alertam ainda mais: O comportamento ilegal e violento supostamente gera uma renda mais alta do que o emprego legal para os que o cometem, ainda que se considere a punição aplicada no caso de o criminoso ser preso. Quando essa compensação diferencial da atividade criminosa violenta ultrapassa certo patamar, estabelecido pela consciência moral do sujeito, o ser racional optaria, então, pelo crime. Em outras palavras, o crime violento seria escolhido a fim de obter um lucro que de outro modo seria inatingível (IGNÁCIO E SANTOS 2007, p. 11). Nesse sentido, trazendo para o bairro do Guamá, no qual se concentra na periferia da RMB, sendo o mais populoso da mesma e o lócus de reprodução da criminalidade devido a sua desorganização espacial urbana, além de apresentar carências na sua infraestrutura, essas evidências resultam no aumento da problemática de violência urbana, levando as relações do poder paralelos ali existentes a exercer seus 12
13 trunfos e até mesmo a incluir muitos moradores pobres, no qual poucos estão inseridos no sistema formal econômico a exercer o processo que corresponde à violência urbana, já que o Estado acaba por deixar lacunas em sua baixa participação. Dessa forma, caracteriza-se a territorialização de redes criminosas no bairro do Guamá, na qual exercem suas relações de poder e acabam tendo um alvo fácil de aliciação por parte da população pobre ali existente, em que convivem com estremas desigualdades espaciais onde e a miséria e a pobreza se proliferam, e acabam fazendo parte dessas relações ilegais como uma saída para sua sobrevivência. As redes de articulação criminosa acabam por configurar seus exércitos do crime em meio a esse cenário de desolação socioeconômica e acabam impondo o controle dessa áreas e pessoas, tomando-as para a sua práticas criminosa para formar seus fluxos de atuação ilegais. Também se torna evidente nessa realidade, a baixa ou até mesmo inexistente atuação do Estado no controle desses fluxos ilegais que acabam por perder parte do controle do espaço de atuação do crime, essa ilegitimidade do Estado acabam abrindo uma lacuna para essa territorialização perversa 3 da criminalidade em que exerce o controle dos espaços, agindo com extrema violência e repressão para sua melhor organização e atuação de seus atos criminosos. E o que encontramos no Bairro do Guamá nada mais é do que essa realidade já mostrada, como podemos observar na fala de moradores e entrevistas. Em meio a esse contexto destacamos os conceitos de crime e criminalidade, os quais são importantes para compreender a ocorrência de crimes no território urbano do bairro estudado. Segundo Ferreira (2002), fazendo uma análise do crime em Emile Durkheim, afirma que (...) o crime consiste essencialmente ou quase unicamente em matar, em ferir, em roubar. Quando nos representamos o criminoso, é sempre sob o aspecto de um homem que atenta contra a propriedade ou a pessoa de outro. (p. 154). Um dos crimes que merece destaque para estudo são os homicídios, crimes letais que vem acontecendo no mundo, no Brasil, e logo, no bairro do Guamá. As definições legais de homicídio parecem ter mudado pouco desde a Idade Média, mas a maioria gira em torno da morte de um ser humano por outro. 3 Termo utilizado na monografia A geografia do crime na metrópole: da economia do narcotráfico à territorialização perversa em uma área de baixada de Belém do autor Aiala Colares Couto. (COUTO, 2008) 13
14 Nesse sentido, muitos são os motivos que podem levar uma pessoa a cometer o crime de homicídio. Não só os diversos sentimentos podem levar ao assassínio como, onde são fortes, eles produzem uma espécie de disposição moral, crônica que, por si mesma e de maneira geral, inclina ao homicídio. Sobre isso pode-se afirmar que: os homicídios constituem lembrança que amarga a alma, risco e medo reais que atemorizam os dias e e lançam duvidas sobre a possibilidade do porvir de milhares de pessoas que vivem em favelas dos grandes centros urbanos, onde viver tem sido muito perigoso. (Silveira, 2008, p. 120). E ainda, de acordo com o Código Penal brasileiro, o homicídio pode possuir cinco definições (BRASIL, 1940, apud SILVEIRA, 2008): Nos termos do artigo 121 do Código Penal brasileiro, considera-se homicídio simples matar alguém, para o qual está prevista pena que pode variar de 6 a 20 anos. Já o 2º do mesmo artigo define o homicídio qualificado como aquele cometido I mediante paga ou promessa de recompensa, ou por motivo torpe; II por motivo fútil; III com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. Ainda nos termos do Código Penal brasileiro, um crime é culposo quando o agente que deu causa ao resultado por imprudência, negligencia ou imperícia e doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo (p. 121). Com diversos fatores que levam ao homicídio, não se limitar a analise de suas ocorrências na circunferência do bairro do Guamá por seu alto índice de criminalidade em meio a sua realidade de estrema pobreza, já que o comportamento ilegal levaria a hipótese de uma maior renda com relação ao emprego legal, o que aumenta o raio de atuação das redes criminosas em bairros periféricos como o Guamá. Os registros de homicídios disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública nos revelam um aumento nos casos de homicídios nos anos de 2008 e 2009 na região metropolitana de Belém como nos mostra a tabela a seguir. TABELA 4 - Registros de homicídios ocorridos nos Distritos e Municípios, na Região Metropolitana de Belém
15 Fonte: SEGUP Pode-se observar o crescimento da ocorrência de homicídios na cidade de Belém e Ananindeua, vizinha à primeira. Sendo importante destacar a localização do bairro do Guamá que está inserido na cidade de Belém, onde foram encontrados índices do crime em questão mais elevados em relação à cidade de Ananindeua. Em seguida, ratificando o crescimento do homicídio em Belém, apresentamos a seguinte tabela que demonstra a ocorrência de homicídios no bairro do Guamá e nos bairros vizinhos, que fazem parte da 11ª SUPC (Seccional Urbana de Polícia Civil). TABELA 5- Registros de vítimas de homicídio, segundo os bairros, no Município de Belém Fonte: SEGUP A partir da tabela acima, podemos observar o crescimento da ocorrência de homicídios no bairro do Guamá, em relação aos demais bairros, apresenta-se como o primeiro e maior elevação nos índices de homicídio da área. Dessa forma o bairro do Guamá assim como em outros bairros e cidades brasileiras com elevados índices de criminalidade, mais especificamente de homicídios, percebe-se a fragmentação dessas zonas urbanas e um conflito territorial, já que no Guamá o poder se apresenta não apenas unicamente pelo estado e seus aparatos institucionais e muitas vezes repressores, mas também pelos agentes territoriais locais que aparecem por meio de associações de moradores, mas ainda pelo poder paralelo que causa uma instabilidade socioespacial, já que a violência além de vitimar várias camadas sociais, também cria um sentimento de insegurança e medo. 15
16 5. Conclusão A partir de reflexões acerca do bairro do Guamá, podemos perceber a necessidade de estudo do bairro, pois este de acordo com os dados obtidos pelo anuário estatístico do município de Belém (EMB) e do Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE) é o local de maior incidência de criminalidade, mais especificamente, com os maiores índices de homicídios no ano de Além da importância de se compreender as relações de territorialidade do crime, já que esse fomenta o aumento dos indicadores de violência e ainda criam uma sensação de insegurança a população tanto a transeunte quanto a que reside neste local. A pesquisa se encontra em estágio avançado, inicialmente discutido pelo grupo Produção do espaço dinâmicas territoriais e geoinformação: Geografia e violência no estado do Pará. Busca ainda compreender geograficamente as relações entre urbanização fragmentária nas periferias, indicadores demográficos do bairro, sua (re) produção espacial e a relação entre território da violência. Bibliografia BEATO FILHO, Claudio Chaves. Crimes e Cidades. Belo Horizonte: Editora UFMG, CARA, Daniel; Gauto, Maitê. Juventude: percepção e exposição à violência CANO, Ignacio e NILTON, Santos. Violência letal, renda e desigualdade no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: 7Letral, CHESNAIS, Jean Claude. A violência no Brasil: causas e recomendações políticas para a sua prevenção. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, Disponível em< 05&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 14 jun FERREIRA, Oliveira S. et al. Emile Durkheim: Lições de sociologia. Martins Fontes: São Paulo, FOUCALT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, GOVERNO DO PARÁ. Secretaria de segurança pública, IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Belém/PA: IBGE, 2010 e PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM Anuário Estatístico do Município de Belém, RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática,
17 SILVEIRA, Andréa Maria. A prevenção dos homicídios: desafio para a segurança pública. In: BEATO, Cláudio (Org.) Compreendendo e avaliando: projetos de segurança pública. Belo Horizonte: Editora UFMG, SANTOS, Milton. Manual de Geografia urbana. 3ª ed. São Paulo: Edusp, A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª ed. São Paulo: Edusp, SOUZA, Marcelo Lopes de. Fobópole: o medo generalizado e a militarização da questão urbana. 1ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas metrópoles brasileiras. 1ª ed. São Paulo: Bertrand Brasil,
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