COESÃO SOCIAL: UMA CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS E PERTENCIMENTO EM REDES COMPARTILHADAS
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- Brian Edison Gil Barata
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1 COESÃO SOCIAL: UMA CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS E PERTENCIMENTO EM REDES COMPARTILHADAS Thayane Pereira da Silva Ferreira (UFPB) Carmen Teresa Costa (UFPB) Karl Marx da Nóbrega Cabral (UFPB) Milena Bezerra Coutinho (UFPB). RESUMO O cuidado em saúde mental na atenção básica, quando encontra-se articulado com os segmentos sociais disponíveis no território pode funcionar como dispositivos que configuram novas perspectivas em relação a orientação das práticas de cuidado em saúde/saúde mental. O presente estudo foi realizado pelos extensionistas do projeto saúde mental na atenção básica: desafio e necessidades da Universidade Federal da Paraíba, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Mudança de Vida em João Pessoa-PB. Nosso objetivo era conhecer como a atenção básica permite contribuições no campo da saúde mental pela sua configuração de base territorial que transcende os limites geográficos e engloba a dimensão das relações sociais e as dinâmicas de poder que configuram estes lugares como territórios-vivos. Utilizamos a concepção de territórios existenciais, que podem ser individuais ou de grupo, representam espaços e processos de circulação das subjetividades das pessoas, que se configuram, desconfiguram, reconfiguram possibilidades, agenciamentos e relações que as pessoas e grupos estabelecem entre si. Inicialmente, buscou-se conhecer e mapear os segmentos sociais e as redes de apoio distribuídas nas comunidades do Gervásio Maia, Gramame, Engenho Velho e Colinas do Sul / João Pessoa-PB, regiões de extrema vulnerabilidade social do município. Para tal contou-se com o suporte dos agentes comunitários de saúde que compartilharam informações relacionadas à realidade territorial e o contato direto com as redes com vista à construção de diferentes abordagens que atendessem às dificuldades encontradas na comunidade em preservar e estimular os laços que unem as pessoas em comunidade e sociedade que caracteriza a coesão social, um dos indicadores de saúde das coletividades. Nossa experiência na comunidade perpassou o conhecimento e descrição das organizações, visto que possibilitou a materialização de encontros traduzidos em parcerias expressas em ações como a participação na Comunidade Ativa na Educação Ambiental, promovida pela Escola Municipal Raimundo Nonato, EVOT (Escola Viva Olho do Tempo) e o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), e oficinas em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas), envolvendo os segmentos sociais do território. Estas ações contaram com o apoio e envolvimento das crianças, suas famílias e comunidade em geral e mostraramse como espaços que possibilitaram o envolvimento das pessoas na comunidade e o fortalecimento de laços sociais. Palavras-chaves: atenção básica à saúde, saúde mental, coesão social. 214
2 INTRODUÇÃO A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS), formando um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2013). A implementação de ações de saúde mental na atenção básica, apresenta-se ainda como um desafio e necessidade, no entanto este nível primário de assistência oferece possibilidades de atuação dos profissionais de Terapia Ocupacional especialmente, pela sua configuração territorial. O território é um componente fundamental na organização dos serviços da Atenção Básica, pois é a partir deles que se estabelecem limites geográficos e de cobertura populacional que ficam sob a responsabilidade clínica e sanitária das equipes de saúde. Mas a noção geográfica de território, enquanto espaço físico com limites precisos, não é suficiente para dar conta da sociodinâmica que as pessoas e os grupos estabelecem entre si (BRASIL, 2013). A noção de território, transcende estes limites e se configuram nas relações sociais e dinâmicas de poder, transformando-os em lugares nos quais circulam as subjetividade das pessoas e os seus sentimentos de pertença. De acordo com Guattari (1990), os territórios existenciais, que podem ser individuais ou de grupo, representam espaços e processos de circulação das subjetividades das pessoas. São territórios que se configuram/desconfiguram/reconfiguram a partir das possibilidades, agenciamentos e relações que as pessoas e grupos estabelecem entre si. Evidentemente, levam-se em conta as diferentes perspectivas de território e suas interferências no cuidado do ser humano. Saúde deixa assim, de ser questão de um grupo profissional especifico, pois se constrói numa rede de fatores e processos que envolvem o indivíduo, família, comunidade, cultura, justiça social (BRASIL, 2006). É nesse contexto de ressignificações: concepção ampliada de saúde que abrange a 215
3 integração social, as condições dignas de vida e as redes sociais e de suporte que a saúde mental está inserida. 216
4 OBJETIVO Objetiva-se relatar nossas percepções de como o cuidado em saúde mental na atenção básica, pode ser fortalecido através da articulação dos dispositivos de saúde com os sociais disponíveis no território, sendo desenvolvido por diversos profissionais, entre eles o Terapeuta Ocupacional, com vista a construção do cuidado em saúde multiprofissional, transdisciplinar e dentro dos princípios da intersetorialidade. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência que se construiu através da vivência do grupo de extensão Saúde Mental na Atenção Básica: Desafio e Necessidades em uma unidade básica de saúde de uma região de extrema vulnerabilidade social do município de João Pessoa-PB. DISCUSSÃO E RESULTADOS A atenção básica, enquanto nível de assistência primária à saúde, se configura como uma estratégia voltada para as necessidades territoriais, visto que os profissionais envolvidos no cuidado encontram-se próximo à vida das pessoas e dos seus afazeres. Tendo em vista, esta aproximação dos serviços com os usuários, torna-se cada vez mais possível e necessária a implementação de ações em saúde mental na rede básica, em parceria com os dispositivos comunitários, com vista a intersetorialidade no cuidado. Andar pela comunidade, mapear e conhecer as suas redes sociais de apoio é fundamental para o profissional que almeja reestruturar sua prática assistencial através do reconhecimento de que a comunidade também apresenta contribuições significativas na promoção à saúde, prevenção de doenças, e na recuperação de possíveis agravos à saúde. O processo de mapeamento realizado no território visitado, possibilitou o conhecimento dos segmentos sociais e de apoio disponíveis na comunidade. Dentre estes, destacamos a Quadrilha do Marinês, a Ciranda do Vale do Gramame, Associação de Moradores do Engenho Velho, Centro de Atividades e Lazer Padre 217
5 Juarez Benício (CEJUBE), Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), Centro Espírita Lar e Vida, Escola Municipal Raimundo Nonato, Escola Viva Olho do Tempo (EVOT), Cozinha Comunitária, Praça de Lazer do Gervásio Maia, Central Única das Favelas (CUFA). Comumente, estas redes de suporte social eram ditas como desconhecidas pelos profissionais e moradores do território. Logo, surgiu a seguinte reflexão: Como realizar a assistência em saúde/saúde mental, sem conhecer a realidade da comunidade e pactuar com o que esta oferece de apoio social no cuidado? A partir desta indagação, e da necessidade de informar os profissionais sobre estes dispositivos de apoio social, realizamos a divulgação e apresentação das redes aos trabalhadores da unidade básica de saúde e suas propostas que visam à integração social do indivíduo na comunidade, a valorização da cultura local, o desenvolvimento de habilidades e potencialidade dos moradores, a proteção social, a educação, o esporte, o lazer, e principalmente o fortalecimento de vínculos e laços entre as pessoas. É nessa perspectiva de redes que as ações em saúde mental se fortalecem na atenção básica a saúde, uma vez que articulados estes espaços mostram-se fundamentais para a formação de vínculos entre as pessoas através do acolhimento, diálogo e do compartilhamento das necessidades, que coloca à luz as dificuldades da comunidade em manter a sua coesão social e que frequentemente se traduzem em demandas de saúde mental. A coesão social tem sido sugerida como um indicador de saúde das coletividades. Entre as situações que podem ameaçar a coesão social, encontramos: a desigualdade socioeconômica; as migrações; a transformação política e econômica; as novas culturas do excesso; o aumento do individualismo e do consumismo; as mudanças nos valores tradicionais; as sociedades em situação de conflito ou pósconflito; a urbanização rápida; o colapso do respeito à lei e a economia local baseada nas drogas (ONU, 2012). É nesse contexto, de extrema vulnerabilidade que as pessoas da comunidade visitada, encontram-se inseridas. No entanto, é possível trabalhar enquanto profissional de saúde e mais especificamente de Terapia Ocupacional na construção de vínculos, pertencimento e fortalecimento de laços entre as pessoas do território, através da articulação e pactuação com as redes sociais e de apoio do local. Segundo, Rocha et al (2012), a inserção das ações de terapia ocupacional na Atenção Primária à Saúde, APS, pode parecer simples a olhares menos atentos, que 218
6 supõem que as mesmas são ações básicas de saúde e não exigem esforços no sentido de desenvolvimento tecnológico. Não se trata de adaptação da tecnologia tradicional a um novo mercado de trabalho. Trata-se, sim, da constituição de novas formas do agir profissional, que insere tecnologias próprias a esse nível assistencial, que exige, portanto, a incorporação dos pressupostos defendidos na APS abrangente. Portanto, trabalhar na perspectiva da saúde mental na atenção básica com vista a prevenção de agravos à saúde da população por meio da articulação com os dispositivos sociais, é papel do Terapeuta Ocupacional que [...]media os conflitos sociais através de intervenções contextualizadas e significativas, estabelece relações horizontalizadas, baseia-se na cultura e alteridade, vincula ação técnica e política e utilizar tecnologias leves para o desenvolvimento de ações territorialidades que garantam o protagonismo social [...].(BARROS, et al. 2007). CONCLUSÃO Nossa experiência na comunidade perpassou o conhecimento e descrição das organizações, visto que possibilitou a materialização de encontros traduzidos em parcerias expressas em ações como a participação na Comunidade Ativa na Educação Ambiental, promovida pela Escola Municipal Raimundo Nonato, EVOT (Escola Viva Olho do Tempo) e o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), e oficinas em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas), envolvendo os segmentos sociais do território. Estas ações contaram com o apoio e envolvimento das crianças, suas famílias e comunidade em geral e mostraram-se como espaços que possibilitaram o envolvimento das pessoas na comunidade e o fortalecimento de laços sociais. Portanto, para que essa promoção do cuidado atenda as demandas locais, propõe-se o fortalecimento das relações entre a unidade e as redes sociais e de suporte. Esta integração se promove por meio da constituição de vínculos e laços através de fóruns, rodas de conversa, encontros culturais, de lazer e espirituais. Constrói-se assim, novas possibilidades de atuação dos profissionais de saúde, por exemplo o Terapeuta Ocupacional, de modo que atendam às demandas de saúde e bem estar dos indivíduos em suas comunidades, respeitando-se suas particularidades e identidades. 219
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS D.D, LOPES R.E, GALHEIGO S. M.Novos espaços, novos sujeitos: a Terapia Ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In: Cavalcanti, A; Galvão, C. Terapia ocupacional fundamentação e pratica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007 p BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. A construção do SUS: histórias da Reforma Sanitária e do Processo Participativo / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Brasília: Ministério da Saúde, p. (Série I. História da Saúde no Brasil). BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de Atenção Básica, Saúde Mental. Editora MS; Brasília-DF, GUATTARI, F. As três ecologias. 13. ed. Campinas, SP: Papirus, ROCHA, E.F. PAIVA, L.F.A. OLIVEIRA, R.H. Terapia ocupacional na Atenção Primária à Saúde: atribuições, ações e tecnologias. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 20, n. 3, p , ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS. Informe de la Junta Internacional de Fiscalización de Estupefacientes correspondiente a Nueva York: ONU,
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