XV Congresso Brasileiro de Sociologia 26 a 29 de Julho de 2011 Curitiba (PR)
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1 XV Congresso Brasileiro de Sociologia 26 a 29 de Julho de 2011 Curitiba (PR) Grupo de Trabalho: GT09 - Ensino de Sociologia Título do Trabalho: A Sociologia como técnica social na educação profissional, rumo a uma escola unitária? Autores: Leandro Raizer IFRS Mauro Meirelles PPGAS/UFRGS
2 A Sociologia como técnica social na educação profissional, rumo a uma escola unitária? Leandro Raizer (IFRS) 1 Mauro Meirelles (UFRGS) 2 Resumo Com a Lei de criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Decreto nº 6.095/2007 e legislação posterior), o ensino tecnológico passou por uma grande expansão. A disciplina de sociologia ganhou novos espaços e tornou-se obrigatória nesse nível de ensino. Esse estudo, a partir dos conceitos sociológicos de escola unitária (Gramsci) e técnica social (Manheim), problematiza o espaço, experiências e limite para o ensino de Sociologia nos cursos de formação técnica. Segundo a legislação (LDBN/96), os cursos técnicos viabilizam a formação profissional de nível médio, para a atuação na operação do processo produtivo, com autonomia relativa, requerendo geralmente supervisão de profissional de nível superior. O estudo empírico esta baseado num levantamento amostral e análise dos planos de ensino da disciplina nos Institutos Federais, que busca identificar tendências, conteúdos e eixos comuns. Palavras-chave: ensino de sociologia, institutos federais, educação técnica e tecnológica. 1 Professor do IFRS. leandroraizer@gmail.com. 2 Pesquisador da UFRGS. mauro-meirelles@hotmail.com.
3 Introdução Para Manheim a educação seria uma técnica-social estratégica no planejamento e na construção de uma sociedade democrática e que não reproduzisse o caos criado pelos regimes totalitários. Ou seja, ao contrário da visão de Durkheim e Parsons que tendem a classificar a educação principalmente por seu aspecto reprodutor e conservador do status quo, a educação é apontada como um instrumento de mudança social. Dessa forma, a educação torna-se o principal meio pelo qual deve-se ensinar/treinar os cidadãos para a prática de regras e ações democráticas (Mannheim, 1972). A educação democrática não se limitaria apenas às escolas, mas também se estenderia às famílias e aos grupos de referência (vizinhança, grupos de amigos, associações de bairro,etc.) e, ao local de trabalho (sindicatos, partidos, clubes, etc). É nesses diferentes espaços sociais, incluindo centros de atendimento social e profissionalizante, que as práticas democráticas seriam aprendidas, consolidadas e reproduzidas. De outra parte, para Gramsci - que pensava a educação italiana e suas relações com o desenvolvimento do capitalismo- a educação possui um papel muito importante na perpetuação do status quo, da desigualdade e da diferença de classes; ao mesmo tempo em que, de forma semelhante pela qual pensava Manheim, pode ser um meio de mudanças profundas nesse status. De acordo com ele, toda relação de hegemonia é uma relação pedagógica. A educação profissionalizante, sob um caráter falsamente democrático, visaria oferecer a todos uma profissão, mas, na verdade, estaria preocupada unicamente com interesses práticos e imediatos. Já a educação humanista, por estudar profundamente temas culturais, políticos e filosóficos, que não são abordados na escola profissionalizante é, somente, na interpretação desse autor, dedicada às classes dominantes.
4 Partindo dessas críticas, Gramsci defendia a implantação de uma escola unitária que proporciona-se o ensino de cultura geral e humanista desde o início da formação escolar; e que oferece-se um ensino equilibrado com o desenvolvimento de aptidões manuais e intelectuais. Para ele a educação era uma questão pública, e o Estado teria a responsabilidade de financiá-la (Gramsci, 1978). Tendo as perspectivas de Gramsci e Manheim como ponto de partido, o texto em questão problematiza a presença/ausência das disciplinas humanas com ênfase na sociologia, nos currículos de cursos técnicos e tecnológicos dos Institutos Federais. Metodologia A metodologia desse estudo foi a de análise de caso. Como técnicas de pesquisa, foram utilizadas: análise de currículos e legislação específica; análise estatística relativa à estrutura e funcionamento do ensino técnico no país; experiência de observação e docência no ensino técnico e tecnológico. Um breve histórico da educação técnica no Brasil O ensino de educação técnica e tecnológica no país tem suas origens no início do século passado, no ano de 1909, quando foram criadas 19 Escolas de Aprendizes Artífices, uma em cada estado da União, por meio do Decreto n.º Essas escolas foram, ao longo do tempo, destacando-se no contexto educacional brasileiro por oferecerem formação geral e específica de alta qualidade, sendo consideradas "ilhas de excelência", especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país. No sistema privado de ensino técnico, encontramos uma pluralidade de instituições que oferecem esse tipo de formação: SENAC e SENAI (ligadas aos setores
5 industrial e comercial); diversas escolas de ensino médio que ofertam ensino técnico; e instituições de ensino superior que ofertam cursos tecnológicos. A presença das Humanidades no ensino técnico e tecnológico Embora a maioria dos cursos oferecidos privilegiasse, historicamente, em seus currículos a inclusão de disciplinas técnicas e que estão ligadas diretamente as demandas do mercado de trabalho; a possibilidade de inclusão de disciplinas ligadas as humanidades, as quais se propõem a formar cidadãos e profissionais críticos e cientes da realidade social, econômica e política do país, esteve presente. Atualmente, analisandose o Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos e Tecnológicos, pode-se identificar a presença da disciplina em cursos de nível médio (ensino médio integrado); técnico subsequente; e superior (cursos tecnológicos). Tendências, conteúdos e eixos comuns no ensino de sociologia -Sociedade, tecnologia e ética Esse eixo temático é bastante comum em cursos de nível técnico subsequente, e em cursos superiores tecnológicos. Entre os temas abordados estão: sociedade e tecnologia, ciência e inovação, tecnologia e meio ambiente, e ética. -Globalização A presença de disciplinas que tratam do eixo globalização, de forma central ou tangencial, também é bastante comum tanto nos níveis médio integrado, como em cursos
6 técnicos. É o caso de disciplinas como: globalização e mercado de trabalho, globalização, globalização e cultura. -Trabalho O eixo trabalho faz parte de grande parte das disciplinas de sociologia oferecidas nos cursos técnicos e tecnológicos. Pode-se mencionar a presença relevante nos cursos de gestão (disciplinas de comportamento organizacional, sociologia das organizações, sociologia do trabalho, etc). Considerações finais Além da identificação desses eixos e tendências comuns no ensino na disciplina de sociologia na educação técnica e tecnológica, pode-se também identificar o papel que o professor(a) de sociologia acaba assumindo, não apenas no ensino, mas em atividades de pesquisa e extensão, além da gestão. Tal profissional, nesse sentido, é cobrado não só na função ensino, mas comumente é solicitado a se manifestar sobre assuntos como ética, sexualidade, política e gestão, drogadição, e violência escolar. Dessa forma, tem-se que a inclusão da disciplina de sociologia no nível técnico (médio integrado, subsequente, técnicos), assim como também no superior(cursos tecnológicos), poderia representar um avanço na implementação das políticas públicas de educação profissional, já que se manteria a formação técnica especializada, ao mesmo tempo em que se qualificaria os alunos com conhecimento reflexivo e crítico. Tal política poderia ajudar a consolidar a educação como técnica social para a transformação e emancipação individual e social e, a escola, como unitária.
7 Referencias: BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de Disponível em: acessado em 20/04/2006. CUNHA. L. A. Ensino Médio e Ensino Técnico na América Latina: Brasil, Argentina e Chile Disponível em: acessado em: 20/04/2006. GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. Sã o Paulo: Martins Fones, MANHEIM, K.(1972) Liberdade, poder e planificação democrática. São Paulo, Editora Mestre Jou. UFRGS. Perfil e Representações dos Estudantes da Escola Técnica da UFRGS. Porto Alegre: UFRGS, 2003.
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