ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - WILLIAM COUTO GONÇALVES 13 de março de 2012

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1 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - WILLIAM COUTO GONÇALVES 13 de março de 2012 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº LINHARES - 2ª VARA CÍVEL E COMERCIAL AGRAVANTE :MULLER INDUSTRIA E COMERCIO DE ESTOFADOS LTDA ME AGRAVADO : SANKO ESPUMAS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA RELATOR SUBSTITUTO DES. EWERTON SCHWAB PINTO JUNIOR R E L A T Ó R I O V O T O S O SR. DESEMBARGADOR FABIO CLEM DE OLIVEIRA :- Voto no mesmo sentido *

2 O SR. DESEMBARGADOR ARNALDO SANTOS SOUZA :- Voto no mesmo sentido * O SR. DESEMBARGADOR EWERTON SCHWAB PINTO JUNIOR (RELATOR):- Primeira Câmara Cível Agravo de Instrumento n.º Agravante: Muller Indústria e Comércio de Estofados Ltda - Me Agravada: Sanko Espumas Indústria e Comércio Ltda Relator: Des. Substituto Ewerton Schwab Pinto Júnior Relatório Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por Muller Indústria e Comércio de Estofados Ltda - Me em razão da Decisão reprografada às fls , proferida no requerimento de Falência, processo de n.º , formulado pela sociedade empresária Sanko Espumas Indústria e Comércio Ltda, por meio da qual o Magistrado da Segunda Vara Cível e Comercial de Linhares indeferiu o pedido de suspensão dos efeitos dos protestos deduzido nos autos. Em síntese, sustenta a Agravante nas razões de fls que, conjuntamente com a contestação apresentada, procedeu o depósito integral do crédito "executado/cobrado" (fls. 08), daí porque "diante deste depósito elisivo, o requerimento de falência, por conseqüência lógica, convolou-se em cobrança" (fls. 08), culminando, assim, na "sustação dos efeitos" (fls. 09) dos protestos dos títulos que serviram de sustentáculo para a pretensão formulada na petição inicial. Pugnou, no final, pela antecipação da tutela recursal no sentido de determinar a expedição de ofício "à Serventia de Protesto de Títulos, para a imediata suspensão dos efeitos do protesto, diante do depósito elisivo efetivado nos autos, uma vez que sua manutenção causa e causará transtornos graves à sua atividade empresarial" (fls. 11). O eminente Desembargador William Couto Gonçalves, por meio da Decisão de fls , deferiu a tutela de urgência recursal requerida pela parte Agravante. Informações do Juízo a quo às fls Apesar de intimada, a sociedade empresária Agravada não apresentou contrarrazões (conforme Certidão de fls. 139). Relatoriei.

3 Sem revisão. Peço dia para julgamento. Vitória, ES, em 26 de janeiro de Desembargador Substituto Ewerton Schwab Pinto Júnior Relator Primeira Câmara Cível Agravo de Instrumento n.º Agravante: Muller Indústria e Comércio de Estofados Ltda - Me Agravada: Sanko Espumas Indústria e Comércio Ltda Relator: Des. Substituto Ewerton Schwab Pinto Júnior Voto Eminentes Pares, a sociedade empresária Agravada (Sanko Espumas Indústria e Comércio Ltda) apresentou em juízo requerimento de Falência da empresa Agravante (Muller Indústria e Comércio de Estofados Ltda - Me), pedido este tombado sob o n.º , em trâmite na Segunda Vara Cível e Comercial de Linhares. O motivo deste requerimento foi a impontualidade da Agravante (art. 94, I, da Lei n.º /2005), consubstanciada no não pagamento de 05 (cinco) duplicatas, devidamente protestadas, que, somadas, perfaziam o montante de R$ ,37 (trinta e dois mil, seiscentos e trinta e oito reais e trinta e sete centavos). Citada, a Agravante apresentou contestação, na qual afirmou que o valor devido era menor (R$ ,88 - fls. 37, cópia), e depositou a integralidade do montante descrito como devido pela Agravada (R$ ,37 - fls. 77). Conjuntamente com a contestação, bem é dizer, a Agravante ajuizou Reconvenção (cópia às fls ). Posteriormente, a Agravante, através da petição reprografada às fls , aduziu que procedeu o depósito elisivo "do montante integral perquirido nos autos" (fls. 97), motivo pelo qual requereu a suspensão dos efeitos dos protestos dos títulos descritos na petição inicial. O Magistrado a quo, então, proferiu a Decisão recorrida (fls ), indeferindo de plano o pedido reconvencional, e indeferindo, também, o pedido de suspensão dos efeitos do protesto, porque "estranho objeto daquele deduzido em meio aos presentes" (fls. 123, cópia). Daí o presente recurso. A Agravante aduz (fls ) que a Decisão recorrida deve ser reformada, porque, em síntese, "diante deste depósito elisivo, o requerimento de falência, por conseqüência lógica, convolou-se em cobrança" (fls. 08), culminando, assim, na "sustação dos efeitos" (fls. 09) dos protestos dos títulos que serviram de sustentáculo para a pretensão formulada na petição inicial.

4 O Desembargador William Couto Gonçalves, na Decisão de fls , atribuiu efeito suspensivo a este Agravo de Instrumento, consignando o seguinte: Analisando os autos, até mesmo na cognição superficial típica desta fase preliminar, verifica-se facilmente que a alegação da Agravante encontra amparo nas provas acostadas aos autos. Como exemplo, pode-se ver na cópia da petição inicial que o requerimento de falência deveu-se a um débito da ordem de R$ ,37 (trinta e dois mil, seiscentos e trinta e oito reais e trinta e sete centavos), quantia representada por títulos que foram levados a protesto (vide fls. 14). Na contestação, por cópia às fls , a Agravante depositou o valor descrito na inicial (cópia do comprovante de depósito às fls. 77). Depois, no pedido que está reprografado às fls , requereu a suspensão dos efeitos do protesto. A situação narrada acima subsume-se à hipótese prevista no parágrafo único do art. 98 da Lei de Falência (Lei n.º /05), in verbis: Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor. O depósito feito, então, impediu a decretação da quebra da Agravante. Como consectário desse impedimento, a Agravante também pediu que fossem suspensos os efeitos dos protestos do títulos. Tal requerimento, ao meu sentir, guarda típica natureza cautelar. O que se pretende, bem é dizer, é que no curso do procedimento falimentar, onde há discussão acerca do montante do débito, sejam suspensos os efeitos do protesto do título, situação, em tese, menos gravosa até mesmo que o próprio pedido de falência. Por tais razões, entendo, com base em análise perfunctória inicial, que pode haver, sim, a suspensão dos efeitos do processo durante o trâmite da demanda originária, e isso porque extrai-se dos autos o fumus boni iuris (depósito do valor) e o periculum in mora (evidentes efeitos do protesto), necessários à concessão de um provimento de natureza cautelar. Analisando detidamente estes autos, creio que a Decisão proferida pelo eminente Desembargador William Couto Gonçalves está correta. O depósito efetuado nos autos originários serve, além de impedir a decretação da quebra, também para demonstrar que a Agravante não está em situação de insolvência. A respeito deste depósito, interessante observar a afirmativa de Fábio Ulhoa Coelho: O prazo para defesa do requerido é de 10 dias, contado da citação, tal como no processo civil em geral (CPC, art. 241). Nesse mesmo prazo, a sociedade empresária requerida poderá elidir a falência, depositanto o valor da obrigação em

5 atraso. A elisão pode acompanhar a defesa ou ser feita independentemente de resposta. No primeiro caso, tem nítido caráter de cautela, precavendo-se a devedora da hipótese de sua defesa não sensibilizar o magistrado; no segundo, eqüivale o depósito ao reconhecimento do pedido, em seu molde específico do direito falimentar. Fato é que, uma vez efetuado o depósito, a decretação da falência está de todo afastada. Elidido o pedido de falência com o depósito judicial do reclamado, essa ação, mesmo para aqueles que não a consideram uma forma de execução individual, converte-se em inequívoca medida judicial de cobrança, já que a instauração do concurso universal dos credores está por completo impossibilitada [...]. (in Curso de Direito Comercial, Vol. 3, Direito de Empresa, 8ª ed. rev. e atual., São Paulo, Saraiva, 2008, p. 264). (Sem grifo no original). Ora, o fato é que com o depósito elisivo efetuado pela Agravante, o Juiz não poderá decretar a falência. Deverá, sim, apreciar as questões suscitadas na contestação para, ao final, decidir se o valor devido pela Agravante é o descrito na petição inicial ou se o valor indicado na aludida contestação. Enquanto se resolve esta controvérsia, os efeitos do protesto podem ser suspensos, porquanto há depósito do valor integral cobrado pela sociedade empresária Agravada. O pedido de suspensão dos efeitos do protesto, ao meu sentir, possui, sim, semelhanças com um pedido de natureza cautelar. A parte interessada, para discutir o valor do débito, deposita a integralidade do montante descrito na petição inicial, os efeitos do protesto, então, podem ser suspensos. Não é razoável que se continuem a surtir efeito mesmo quando não há possibilidades de não pagamento. O colendo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em caso semelhante, assim decidiu: [...]. 4. Como o pedido de falência, sobretudo, deve demonstrar que o devedor ostenta algum dos sinais indicativos de insolvência previstos na legislação falimentar, é viável que o julgador investigue a configuração de algum desses indícios após o decote do valor excessivo, de sorte que não há falar em iliquidez da dívida nessa hipótese. 5. Caso o devedor opte por afastar o pleito falimentar mediante o instrumento do depósito elisivo (sediado no art. 98, parágrafo único, da Lei n /05), assiste-lhe a oportunidade de promover esse depósito levando em conta o valor que entende efetivamente devido e de manifestar o seu inconformismo acerca da quantia excedente na sua contestação. [...]. (REsp /RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 18/11/2009). (Sem grifo no original). Outro precedente no mesmo sentido: SUSTAÇAO DE PROTESTO. AÇÃO DE DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO. LITISPENDÊNCIA DESTA DEMANDA COM A AÇÃO FALÊNCIA MOVIDA CONTRA A AGRAVADA. MATÉRIA QUE NÃO FAZ PARTE DA DECISÃO AGRAVADA. CAUÇÃO. Dispensa face o depósito elisivo efetuado nos autos da ação de falência envolvendo as mesmas partes. Ato de discrição do juiz. Decisão mantida. Recurso improvido. (TJSP; AI ; Ac ; São Paulo; Décima Sexta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Candido Alem; Julg. 11/10/2011; DJESP 10/11/2011).

6 Por fim, saliento que diversas vezes a Falência é utilizada pelo credor não para o fim de ver a quebra da sociedade empresária, mas para receber o crédito que tem com o devedor. Desse modo, a suspensão dos efeitos do protesto é medida razoável, além de ser incapaz de afrontar o direito da parte contrária (Agravada), já que o seu crédito está garantido em juízo. Do exposto, conheço do recurso e a ele dou provimento para reformar a Decisão recorrida e ordenar a suspensão dos efeitos dos protestos levados a efeito pela Agravada. É como voto.

7 * D E C I S Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº , em que são as partes as acima indicadas, ACORDA o Egrégio Tribunal de Justiça do Espírito Santo (Primeira Câmara Cível), na conformidade da ata e notas taquigráficas da sessão, que integram este julgado, em, À UNANIMIDADE, DAR PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. * * *