APELAÇÃO CÍVEL N 0506/2006 quantum ad quem a quo

Transcrição

1 1 APELAÇÃO CÍVEL N 0506/2006 PROCEDÊNCIA :- 4ª VARA CÍVEL DE ARACAJU APELANTE :- C. A. M. LTDA APELADO :- B. C. P. APELANTE :- B. C. P. APELADO :- C. A. M. LTDA RELATOR :- DES. JOSÉ ALVES NETO APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALARME ANTIFURTO DISPARADO QUANDO DA SAÍDA DE CLIENTE EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL. NEGLIGÊNCIA. LESÃO CONFIGURADA. OMISSÃO DA SENTENÇA. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS.INDENIZAÇÃO ARBITRADA PELO JUIZ. IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR. MANUTENÇÃO DO INTERESSE RECURSAL. - O soar de alarme anti-furto em estabelecimento comercial de grande porte, chamando a atenção de todos para o cliente que portava mercadorias adquiridas, acarreta dano de ordem moral e o dever de pagar pela indenização. - Inexistindo critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e em consonância com as peculiaridades do caso concreto, o que, na espécie, ocorreu, aproximando-se o quantum arbitrado da razoabilidade. - A omissão do julgado no que diz respeito à correção monetária e juros, impõe à instância ad quem estabelecer taxa de juros e o índice de atualização a serem aplicados sobre o valor da condenação e respectivos termos iniciais de incidência, aplicando-se o índice de atualização com base no INPC e tomando-se como termo inicial de contagem a data da sentença e a taxa de juros na ordem de 1% ao mês, conforme disposição do art. 406 do CC c/c art. 161, 1º do CTN, cujo termo a quo deverá ser a data do evento, conforme Súmula 54 do STJ, por se tratar de responsabilidade extracontratual. - Deixando o Autor a fixação do dano moral ao prudente arbítrio do Juiz e manifestando irresignação quanto ao valor fixado na sentença, não lhe retira o interesse recursal em ver majorada a quantia pela instância superior. - Pelo improvimento do recurso interposto pelo Réu e parcial procedência da apelação da Autora.

2 2 P A R E C E R Versam os autos sobre dois Recursos de Apelação interpostos por ambas partes litigantes na Ação de Indenização sob nº , ajuizada por B. C. P. em face da Loja C. A. M. LTDA. Pretendeu a Autora a fixação de indenização em face dos constrangimentos por que passou após efetuar compras na Ré, quando foi surpreendida por funcionário que a fez retornar às dependências da Loja para averiguação das compras, haja vista o soar do alarme no momento de sua saída. Sentenciou o julgador monocrático, de forma procedente, fixando a indenização em R$ ,00 (dez mil reais), além da condenação em honorários advocatícios, na quantia correspondente a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Apelou a Autora inconformada com o quantum indenizatório, além de reclamar pela ausência da condenação em correção monetária e juros; enfim, refutou o percentual fixado a título de sucumbência. A Empresa/Ré, por sua vez, recorreu da sentença irresignada com a procedência do pedido, bem como com relação ao valor da indenização. Em contra-razões ao recurso da Autora, a Requerida pugna pela inexistência de pressupostos recursais, haja vista que o pedido restringiu-se ao arbitramento da indenização sem que tenha havido formulação de valor e, como tal, a Autora não poderia, em sede recursal, refutar a quantia fixada pelo Juiz. No mérito, rebate genericamente as razões constantes do recurso. Por seu turno, a Autora apresentou contra-razões à apelação interposta pela Ré, rebatendo totalmente as razões recursais.

3 3 É a síntese da lide exposta à reapreciação. Ab initio, cumpre-nos analisar o recurso interposto pela parte Ré. Inicialmente, a Ré condena a conclusão sentencial quanto à procedência do pedido, por defender que o soar do alarme aliado ao convite do funcionário para retorno da cliente às dependências da Loja para averiguação das compras, não se configura em dano passível de indenização, o que somente ocorreria se tivesse havido constrangimento ou agressão. Discordamos de tal assertiva. Bastante para caracterização do dano o indevido toque do alarme, pois o som produzido em volume audível para os demais fregueses, por si só causa constrangimento. Agregado a isso é de se destacar que a responsabilidade pela retirada do equipamento de segurança é da loja, e esta, sinceramente, operou com negligência, caracterizando a ocorrência da responsabilidade pelo evento danoso. Este é o entendimento sedimentado no STJ: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DISPARO DE ALARME ANTI-FURTO NA SAÍDA DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. NEGLIGÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DA LOJA EM RETIRAR O DISPOSITIVO DE SEGURANÇA DA MERCADORIA ADQUIRIDA PELA CONSUMIDORA. DANO MORAL CARACTERIZADO. 1. O soar falso do alarme magnetizado na saída da loja, a indicar o furto de mercadorias do estabelecimento comercial, causa constrangimento ao consumidor, vítima da atenção pública e forçado a mostrar os seus pertences para comprovar o equívoco. Dano moral que deve ser indenizado. Precedentes da Quarta Turma. 2. Recurso conhecido e provido. (REsp /RJ; RECURSO ESPECIAL 2004/ , Relator(a) Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 12/12/2005, Data da Publicação/Fonte DJ , p. 566)

4 4 No que diz respeito ao valor da indenização, entendemos que a decisão a quo não merece qualquer retoque, posto fixado de acordo com a extensão do dano e a situação financeira das partes, restando plausível a quantia estabelecida. Inexistindo critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e em consonância com as peculiaridades do caso concreto, o que, na espécie, ocorreu, aproximando-se o quantum arbitrado da razoabilidade. pela parte Ré. Deste modo, somos pelo total improvimento do apelo interposto No que tange ao recurso da Autora, especificamente no tocante ao pedido de majoração do quantum indenizatório, da mesma maneira não merece sucesso, para tanto valendo as ponderações antes apresentadas quanto à matéria. De referência ao argumento de que a sentença deveria ter invertido o ônus da prova, entendemos sem qualquer utilidade, pois o móvel que calcou o convencimento do Juiz quanto à procedência do pedido, foi, justamente, o reconhecimento da existência do dano a partir das provas produzidas pela Autora, razão pela qual, em se invertendo o onus probandi não alteraria o julgamento, como reconhece a própria Apelante. No entanto, assiste razão à Recorrente no que tange à omissão do julgado no que diz respeito à correção monetária e juros, o que impõe à instância ad quem, por ocasião do julgamento do recurso, estabelecer a taxa de juros e o índice de atualização a serem aplicados sobre o valor da condenação e respectivos termos iniciais de incidência. Assim, por não se tratar de um plus, mas de mera atualização da moeda, deve o valor da indenização ser corrigido monetariamente pelo índice do INPC, desde a data da sentença por ser este o marco em que foi atribuído o montante devido.

5 5 Da mesma forma, em se tratando de indenização por danos morais, devem ser aplicados juros moratórios contados desde a data do evento 22/12/2000 conforme disposição da Súmula 54 do STJ, ressaltando, inclusive, que a incidência dos juros legais é de ser incluída por ocasião da liquidação ainda que omissa a condenação, ex vi da edição sumular nº 254 do STF e art. 293 do CPC. Em se tratando da taxa de juros, é de aplicar na ordem de 1% (um por cento) ao mês, consoante novel disposição do art. 406 do CC c/c art. 161, 1º do CTN, entendimento, inclusive, sedimentado em jurisprudência dessa colenda Corte Estadual, quando do julgamento da Apelação Cível nº , em que figurou como recorrente o espólio do Desembargador José Antonio de Andrade Góis e recorrida a Vivo Celular, in litteris: RESPONSABILIDADE CIVIL Dano moral Cobrança indevida Inscrição no SPC Vítima falecida Legitimidade do cônjuge Inteligência do art. 12, parágrafo único, do NCC Juros de mora fixados em 1% ao mês de acordo com o art. 406 do NCC e 161, 1º, do CTN Incidência a partir do evento danoso Súmula 54 do STJ Antecipação da tutela Ratificação na sentença Redução da pena cominatória para R$ 100,00 diários Dano moral Condições da vítima Desembargador e Professor universitário Bloqueio de telefone da viúva Inscrição no SPC no transcorrer do processo em ofensa à antecipação de tutela Majoração da quantia indenizatória Apelo da Autora conhecido e provido PARCIALMENTE Apelo da Ré improvido Decisão unânime. A inteligência do art. 12, parágrafo único, do NCC, confere legitimidade à viúva para pleitear dano moral sofrido pelo seu marido pré-morto, ainda mais quando pode ela pleitear jure proprio. Havendo a cobrança indevida ou a positivação do nome da vítima, mesmo depois de alertado o ofensor sobre a injustiça praticada, impõe-se o dever de indenizar o dano moral sofrido, ainda mais quando se pratica o bloqueio de linha telefônica devidamente quitada. Tais fatos devem ser sopesados quando do arbitramento da quantia indenizatória. Os juros moratórios, não havendo lei que os determine, devem ser fixados na mesma proporção daqueles cobrados pela Fazenda Nacional para a mora em seus impostos, na forma do art. do NCC. O art. 161, 1º, do CTN estipula a taxa em 1% ao mês, sendo tal patamar aquele que deve ser deferido no caso presente, incidente a partir do evento danoso, na forma da Súmula 54 do STJ, por se tratar de ato ilícito derivado de responsabilidade extracontratual. Ratifica-se na sentença a antecipação de tutela deferida para impedir a positivação da vítima de cobrança indevida. - O dano moral representa a via crucis do Julgador. No entanto, os Tribunais têm optado como por tabelar as indenizações. No caso dos autos cuida-se de ato ilícito praticado mesmo após ser o ofensor alertado da injustiça do ato e havendo decisão impeditiva de positivação da vítima nos cadastros restritivos. - Unânime. (Sem realce no original)

6 6 Atendendo ao último tópico de irresignação, pugna a Apelante/Autora, através de seu advogado, pela majoração dos honorários de sucumbência de 10% para 20%. Entrementes, perfilhamos a concepção de que o percentual fixado está de acordo com os parâmetros estabelecidos no art. 20 do CPC, pelo que não merece reforma. De outro giro, enfrentando a matéria levantada pelo Réu/Apelado, em suas contra-razões, segundo o qual a Autora/Recorrente não teria interesse em recorrer sobre o valor da indenização por ter deixado a fixação do montante ao livre arbítrio do Juiz, não cremos que mereça razão. É que a autora, em seu pedido, deixou a fixação da indenização ao prudente arbítrio do julgador, e estando inconformada com a quantia estabelecida é inegável seu interesse em recorrer da sentença que fixa valor aquém da sua expectativa, especialmente por se tratar de dano moral, o qual não possui parâmetros específicos ou critérios legais para sua fixação. Se assim não se entendesse, estar-se-ia obrigando a autora, pelo simples fato de não ter indicado valor certo na inicial, a aceitar qualquer quantia fixada na sentença, negando-lhe, como isso, o acesso ao segundo grau de jurisdição. Acrescente-se, ainda, que o requisito de admissibilidade do interesse recursal está subordinado à utilidade e à necessidade do recurso, ou seja, que o recorrente possa obter vantagem com o provimento do recurso. Na espécie, não há como negar que o recurso apresentado pela autora terá utilidade. dos arestos adiante transcritos: O entendimento da egrégia Corte Superior não discrepa, a exemplo Indenização. Danos morais e materiais. Pedido deixando ao arbítrio do Magistrado a fixação do valor correspondente aos danos morais. Interesse em recorrer. Termo inicial dos juros moratórios. Artigos 512 e 515 do Código de Processo Civil. Sucumbência recíproca. Precedentes da Corte..

7 7 1. Já decidiu a Corte, sem discrepância, que se o autor "pediu que o juiz arbitrasse a indenização, era lícito ao autor, inconformado com o arbitramento, pedir ao Tribunal que revisse o valor arbitrado pelo juiz. Em tal caso, não faltava, como não falta, interesse para recorrer (Cód. de Pr. Civil, art. 3º e 499)" (REsp n SP, Relator o Senhor Ministro Nilson Naves, DJ de 28/6/99). 2. Não atacando a parte em sua apelação o termo inicial da fluência dos juros moratórios fixado na sentença, viola os artigos 512 e 515 do Código de Processo Civil a sua modificação, de ofício, pelo Tribunal. 3. Deixando a parte o valor dos danos morais ao prudente arbítrio do Magistrado, o fato de na apelação pedir a sua majoração em valor certo indicado, não altera a sucumbência quando deferida a elevação, ainda que em outro quantitativo. 4. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (STJ, Resp nº /MG, Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, 3ª Turma, julgado em 20/08/2002) grifo nosso. Ex positis, somos pelo conhecimento dos apelos, mas para negar provimento ao recurso do Réu e dar parcial provimento ao pleito autoral, para que sejam acrescentadas à sentença a correção monetária e juros sobre o valor da condenação, definidos o índice de atualização e a taxa de juros moratórios, bem como fixadas as datas iniciais de suas respectivas incidências. É como pensamos. Aracaju, 29 de março de José Luiz Melo Procurador de Justiça