PERCENTUAL DE GORDURA CORPORAL E ASPECTOS NUTRICIONAIS DA MERENDA ESCOLAR: UM ESTUDO DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DA CIDADE DE PORTO VELHO
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- Ana Júlia Quintanilha Ximenes
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1 PERCENTUAL DE GORDURA CORPORAL E ASPECTOS NUTRICIONAIS DA MERENDA ESCOLAR: UM ESTUDO DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DA CIDADE DE PORTO VELHO Iranira Geminiano de Melo Ivete de Aquino Freire RESUMO O presente estudo comparou o percentual de gordura de alunos com os aspectos nutritivos da merenda escolar da rede pública de ensino. Foram medidas as dobras cutâneas tricipital e subescapular de 2027 escolares de 11 a 14 anos, o que equivale a 20% da população estudantil da referida faixa de idade. Em seguida, avaliou-se o aspecto nutritivo (proteínas e calorias) da merenda oferecida nas escolas em que estes estudantes estão distribuídos. Os dados foram analisados a partir da estatística descritiva. A análise sugeriu não haver relação entre o valor nutritivo da merenda e os teores de gordura apresentados pelos os alunos. PALAVRAS-CHAVE: percentual de gordura, exercício físico, saúde e educação nutricional. INTRODUÇÃO A alimentação oferecida no ambiente escolar desempenha um importante papel para o desenvolvimento psicofísico dos estudantes, em especial naqueles que dependem de uma renda precária. Há crianças e adolescentes que tem na merenda escolar a refeição mais completa do dia, embora a finalidade do Programa Subprojeto financiado pelo programa PNoPg/CNPq. Graduanda do Curso de Educação Física da UNIR. Bolsista do CNPq. iranira@hotmail.com Profª. Drª do Depto de Educação Física da UNIR. Coordenadora do Projeto PNoPg/UNIR. Orientadora. Ivete@unir.br 1
2 Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) 1, seja de proporcionar melhoria nas condições nutricionais, na capacidade cognitiva e na formação de hábitos alimentares saudáveis. Estudos, ainda que com enfoque variados, têm demonstrado a importância de se identificar aspectos relacionados ao consumo alimentar de estudantes. As investigações indicam que o consumo alimentar desta população apresenta-se deficiente ou inadequado (ALBUQUERQUE e MONTEIRO, 2002; DOYLE e FELDMAN, 1997; SILVA, 1998; OLIVARES, YANEZ, e DIAZ, 2003; entre outros). Constatou-se em estudo com escolares, chilenos, de 5ª a 8ª séries que as condutas alimentares destes constituem-se de alimentos pouco saudáveis, apresentando inclusive a ingestão exagerada de bebidas com açúcar (OLIVARES, YANEZ, e DIAZ, 2003). A adolescência é um período em que as mudanças e incorporações de novos hábitos em todos os âmbitos se dão com freqüência; os hábitos alimentares inserem-se nesse contexto, o que deixa o indivíduo suscetível a obesidade ou a desnutrição. Pesquisa com adolescentes constatou que os indicadores de adiposidade corpórea e atividade física estão relacionados, reafirmando que quanto mais exercício físico for praticado menos gordura será acumulada no organismo (PINHO e PETROSKI, 1999). Isto evidencia a importância de se estudar o percentual de gordura corporal, para saber o nível (volume e intensidade) de exercício físico, fazer monitoramento destes, identificar riscos à saúde, entre outros. No Brasil, desde de 1980 vários são os programas sociais 2 que os Governos Federais têm desenvolvido para combater a desnutrição, ou seja, cobrir as carências nutricionais da população menos favorecida. O mais recente projeto é o Fome Zero, que tem procurado envolver todos os brasileiros menos favorecidos. A nível escolar também têm sido desenvolvidas ações sociais no sentido de dar atenção especial a alimentação de escolares. 1 STURION (2002), faz uma rica abordagem sobre o programa de alimentação escolar a nível nacional e internacional. 2 De acordo com STURION (2002) as políticas sociais no Brasil de combate à desnutrição se originaram a partir de
3 Em Porto Velho, a maioria dos escolares da rede pública de ensino não dispõe de uma realidade socioeconômica (alimentação, saneamento básico e renda entre outros) satisfatória para atender as suas necessidades básicas (MELO e FREIRE et al, 2003-a e b) 3. Mediante este contexto, busca-se relacionar os aspectos nutritivos (proteínas e kilocalorias) da merenda escolar com o percentual de gordura diagnosticado nos alunos 4. A pesquisa situa-se no âmbito da Educação Física e da nutrição, com enfoque na área da saúde. Tem por objetivo verificar o grau de ingestão calórica da merenda escolar e compará-la ao percentual de gordura corporal dos alunos da Rede Municipal de Ensino da Cidade de Porto Velho, estado de Rondônia. METODOLOGIA A população foi constituída por instituições públicas de ensino do município de Porto Velho, e a amostra compõe-se de 30% das escolas da rede municipal de ensino. Materiais e Métodos: Mediram-se as dobras cutâneas tricipital e subescapular de 2027 escolares, o que representa 20% do total de estudantes de 11 a 14 anos, matriculados nas instituições públicas de ensino, de acordo com senso escolar de A mensuração das dobras cutânea subescapular e tríceps braquial, foi realizada com a utilização de plicômetro marca Lange Skinfold Caliper, com precisão de 1,0 mm (para medir), e caneta tipo hidrocor (para demarcar o local a ser pinçado). A dobra cutânea tricipital foi mensurada sobre o ponto médio da face posterior do braço longitudinalmente ao eixo do segmento; e subescapular aproximadamente 2cm abaixo do ângulo inferior da escápula obliquamente ao eixo do troco. Em ambas medidas, o 3 Este estudo foi realizado com escolares na faixa de idade de 11 a 14 anos, das redes municipal e estadual de ensino. 4 As escolas, nas quais os alunos tiveram o percentual de gordura avaliado, serviram a pesquisa sobre os aspectos nutricionais da merenda. 3
4 avaliando adotou uma posição ereta, ombros e braços relaxados, e o avaliador posicionado posteriormente ao avaliando. A estimativa do percentual de gordura corporal se deu a partir das equações propostas por SLAUGHTER et al, e a classificação de acordo com as tabelas sugeridas por Lohman, ambos citados por PITANGA (2000). Para coletar os dados referentes a merenda escolar empregou-se um formulário, de observação e questionário, elaborado especificamente para este fim. Após a coleta de dados foi realizada a tabulação e estatística (no programa Microsoft Excel), análise e discussão dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÕES As Secretarias Municipal e Estadual de Educação (SEMED e SEDUC, respectivamente), dispõem, cada uma, de uma nutricionista encarregada de elaborar sugestão de cardápio, nutricionalmente balanceado, para as escolas ligadas a estas. No ano de 2004, esta sugestão de 33 pratos. A partir das sugestões, as escolas vinculadas escolhem os pratos que mais agradam aos alunos e elaboram o cardápio a ser oferecido. Dentre as opções, as quatro escolas municipais investigadas (escolas 11, 12, 13 e 14) elaboraram 2 cardápios: o primeiro atenderia a primeira e terceira semana do mês; e o segundo, a segunda e última semana durante todo o ano. Já na rede Estadual (escolas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10), apenas a escola Duque de Caxias (3) segue esta organização. Nas demais, algumas possuem apenas um cardápio com cinco pratos, para o ano inteiro; outras mudam de cardápio a cada quinze dias; de mês em mês ou ainda a cada três meses. Quanto ao oferecimento da merenda foi constatado, em algumas escolas, que as funcionárias responsáveis pela preparação não serviam o que estava previsto no cardápio. Além de escolas que não ofereceram a merenda nos dias em que os dados foram 4
5 coletados 5. Esse quadro foi mais grave na escola Aluísio Weber (4), na qual não havia merendeira para preparar a merenda durante toda a coleta de dados, por esse motivo ela não aparecerá nos gráficos em que se apresentam os resultados. Ao se analisar os aspectos nutritivos (teor protéico-calórico) da merenda escolar, constatou-se que há variações no que se refere ao quantitativo de calorias e de proteínas entre as escolas. A menor média, em relação a quantidade de proteína oferecida em duas semanas de aula, foi encontrada na escola João Bento (10), seguida da Carmela Dutra (1), 8,72 e 9,04g, respectivamente. Nota-se que a escola Maria Isaura (11) é a que oferece maior quantidade de proteínas aos seus alunos, com média de 24,556g, seguida da Francisco Erse (12) com 15,347g (gráfico 1). Gráfico 1. Demonstrativo do aspecto protéico da merenda escolar Média total Desvio padrão soma As menores médias de calorias foram encontradas nas escolas Duque de Caxias (3) e Carmela Dutra (1) com 283,100Kcal e 292,440kcal, respectivamente (gráfico 2). A escola Vicente Rondon (14) apresentou a maior média (341,848Kcal), seguida da Francisco Erse (escola 12, com 333,624kcal). Quanto às variâncias ocorridas entre os cardápios, constatouse que são mais acentuadas nas escolas municipais, principalmente quanto a quantidade de quilocalorias, o que indica discrepância entre os pratos servidos na escola, no referido aspecto nutricional (gráfico 1 e 2). 5 STURION (2002), em estudo, sobre programa de alimentação escolar, observou escolas que nem sempre oferecem o que está anunciado no cardápio, e também encontrou escola que não ofereceu a merenda durante a coleta de dados. 5
6 Gráfico 2: Ilustrativo do aspecto calórico da merenda escolar Média total Desvio padrão soma Quando comparou-se os aspectos nutritivos da merenda escolar com o percentual de gordura dos estudantes, constatou-se que a escola Rio Branco (9) teve mais de 50% dos alunos avaliados com teor de gordura acima do normal (gráfico 3). Todavia, esta foi uma das escolas a oferecer a nona menor quantidade de quilocalorias e a sétima de proteínas aos alunos em duas semanas (gráfico 1 e 2). Pode-se destacar ainda a escola Vicente Rondon (14), que apresentou maior quantidade de quilocalorias e foi a quarta no quantitativo de energia e teve um número mais elevado de alunos com percentual de gordura abaixo do normal (35,71%, ver gráfico 3), do que acima (21,43% dos estudantes da referida instituição). O mesmo pode-se observa com relação ao teor protéico da merenda. A escola Maria Izaura (11) com cardápio mais rico em proteínas e o quarto em quilocalorias apresentou mais alunos com percentual de gordura abaixo do classificado como normal (32,81%), do que cima do normal (22,66%, ver gráfico 3). Gráfico 3: Ilustração do percentual de gordura corpórea dos escolares. 6
7 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0, Abaixo do normal Normal Acima do normal CONCLUSÃO Os resultados apresentados, indicam que o valor protéico e calórico da merenda escolar não está inferindo no percentual de gordura dos estudantes, visto que a escola com cardápio mais rico em energia, apresentou maior quantidade estudantes com teor de gordura abaixo do normal do que acima. O mesmo se deu em relação ao quantitativo de proteínas, pois a escola com cardápio mais abastado deste nutriente, apresentou mais alunos com teor de gordura abaixo do normal em comparação com o número de alunos com percentual de gordura acima desta categoria. Sugere-se que sejam desenvolvidas pesquisas semelhantes com maior controle sobre as variáveis investigadas: percentual de gordura corporal e merenda escolar. Há que se saber se os alunos avaliados consumem a merenda da escola; se a escola utiliza mesmo todos os ingredientes contidos na sugestão; a quantidade de energia e proteínas ingesta pelos estudantes fora da escola; e a quantidade de energia gasta pelos alunos durante as aulas de Educação Física. REFERÊNCIA ALBUQUERQUE, Maria de Fátima Machado de e MONTEIRO, Adriana Maria. Ingestão de alimentos e adequação de nutrientes no final da infância. Rev. Nutr. [online]. set. 2002, vol.15, no.3 [citado 18 Agosto 2003], p Disponível na Web: < 7
8 DOYLE, Eva I. e FELDMAN, Robert H. L. Preferências nutricionais entre adolescentes da classe média de Manaus, AM (Brazil). Rev. Saúde Pública. [online]. ago. 1997, vol.31, no.4 [citado 18 Agosto 2003], p Disponível na World Wide Web: < >. MELO, Iranira G. de, FREIRE, Ivete de Aquino et al (a). Estudo dos níveis de saúde dos escolares do município de Porto Velho: da rede estadual de ensino. Rondônia: RioMar, MELO, Iranira G. de, FREIRE, Ivete de Aquino et al (b). Estudo dos níveis de saúde dos escolares do município de Porto Velho: da rede municipal de ensino. Rondônia: RioMar, OLIVARES, Sonia, YANEZ, Rossana e DIAZ, Nora. Publicidad de alimentos y conductas alimentarias en escolares de 5º a 8º BÁSICO. Rev. chil. Nutr. [online]. abr. 2003, vol.30, no.1 [citado 18 Agosto 2003], p Disponível na Web: < PINHO, Ricardo Aurino de; e PETROSKI, Edio Luiz. Adiposidade corporal e nível de atividade física em adolescentes. Rev. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 1999, vol. 1, nº 1 [citado 8 janeiro 2004], p Disponível na Web: < SILVA, Marina Vieira da. Alimentação na escola como forma de atender às recomendações nutricionais de alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS). Cad. Saúde Pública. [online]. jan./mar. 1998, vol.14, no.1 [citado 18 Agosto 2003], p Disponível na Web: < STURION, Gilma Lucazechi. Programa de alimentação escolar: avaliação do desempenho em dez municípios brasileiros. São Paulo, pg. Campinas, dissertação [doutorado] Faculdade de Engenharia de alimentos, UNICAMP. 8
3. Material e Métodos
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