INFORMATIVO JURÍDICO Nº 71/2016

Transcrição

1 PROCESSO CONSULTA. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. SOLICITAÇÕES DO CBO E DA SOCIEDADE CATARINENSE DE OFTALMOLOGIA. PROVIDÊNCIAS. APOIO MÚTUO NA DEFESA DOS MÉDICOS OFTALMOLOGISTAS. Serve o presente para informar sobre o encaminhamento de consulta 1 ao CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE SANTA CATARINA CREMESC, realizada pelo CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA e SOCIEDADE CATARINENSE DE OFTALMOLOGIA relatando sobre as denúncias recebidas quanto a atuação de profissionais não médicos naquele estado, e requerendo providências a respeito. A consulta teve por finalidade principal, portanto, a manifestação do CREMESC a respeito da atuação de profissionais não médicos no estado, bem como a indicação das medidas judiciais e/ou administrativas que podem ser tomadas pelo CREMESC, haja vista a existência de prática de atos privativos de médico. O pedido formulado foi devidamente instruído com documentos comprobatórios da atuação de profissionais não médicos no Estado de Santa Catarina, composta de receitas, propagandas, pedidos de exames oftalmológicos emitido por profissional não médico além de laudos periciais emitidos por profissional não médico, entre outros. 1 Processo Consulta nº 2481/2016 1

2 Considerando tais informações a Relatora, Conselheira Dr.ª Eulina Tokiko, emitiu parecer, já aprovado no âmbito do respectivo Conselho de Medicina, o qual transcrevemos os principais pontos que são elucidativos por si: A problemática enfrentada pela consulta do CBO com a SCO não é nova para o CREMESC. Relembro a propósito o episódio que, já há cerca de dez anos, nos levou a Canoinhas, juntamente com a Vigilância Sanitária Estadual, para inspecionar clínica de optometria mantida pela Universidade do Contestado com a finalidade de proporcionar aos alunos do curso de optometria daquela instituição ambiente para praticar. (...) A chamada optometria vem florescendo no Brasil como atraente oportunidade e negócios, tanto para instituições de ensino quanto para a indústria e o comércio de soluções ópticas: profissionais moldados à imagem e semelhança de médicos, em cursos de curtíssima duração e baixa qualidade, mantidos por universidades particulares, instalam-se em consultórios no mais das vezes conexos com estabelecimentos comerciais, complementamente livres de quaisquer amarras legais ou deontológicas e se dizendo aptos a emitir prescrições para correções opticas passíveis de aviamento e aquisição com descontos no balcão ao lado. (...) De fato, os decretos nº /32 e nº /34 (o segundo regulamentando o primeiro), que detêm o status de lei federal, regulamentam o exercício da optometria ao estabelecerem os respectivos direitos e deveres tanto para os médicos quanto para os profissionais não-médicos do ramo óptico. Em apertada síntese, dizem que ao médico cabe examinar diagnosticar doenças e prescrever as respectivas correções ópticas, quando necessárias; ao óptico (ou optometrista) cabe executar as prescrições e comercializá-las. O médico não pode associar-se ao comércio óptico, não pode ser dono de óptica (nem seu cônjuge). O óptico não pode dar consultas, nem prescrever. Nada mais lógico e 2

3 correto, tanto que os mencionados decretos ostentam ainda hoje plena validade, havendo sobrevivido a diferentes Constituições e à própria e recente Lei do Ato Médico. O exercício da optometria no Brasil e suas consequências foram objeto do oficio nº 1975/2016, do Presidente do CFM ao Presidente do CREMESC, em resposta à consulta formulada pelo último quanto à existência de orientações aos oftalmologistas, no que diz respeito a atividade dos optometristas. Conclui o presidente do CFM seu ofício afirmando: em relação ao médico oftalmologista, orientamos que ele denuncie para as autoridades competentes (MP e Polícia Civil) os casos de atuação de optometrista fora do previsto em lei. Ademais, entendemos que cabe aos Conselhos de Medicina apoiar a atuação dos médicos nesse sentido, subsidiando as autoridades competentes com a fundamentação jurídica adequada a ser utilizada em casos como este. Entende-se que: 1. Os documentos anexados à consulta do CBO e da SCO deixam bem claro que uma pseudomedicina paralela vem fixando progressivamente suas raízes no Brasil, ainda que afrontando leis vigentes e sem qualquer balizamento ético; 2. O exercício da optometria nos termos que transpassem dos documentos anexos à consulta aqui apreciada traz grave risco à saúde visual da população, que resta assim entregue aos fictícios cuidados e aos concretos interesses econômicos de profissionais sem conhecimento médicos e livres para o comércio. 3. A prática de atos médicos por não-médicos pode caracterizar, em tese, o crime de exercício ilegal da medicina. 3

4 4. O exercício da optometria precisa integrar as esferas de interesse e de preocupações do CREMESC. A Conselheira Relatora recomenda, por fim, uma atuação conjunta entre as instituições (CFM, CREMESC, CBO e SCO) no sentido de inibir o exercício da optometria, sempre que identificada a prática de atos médicos por não-médicos. Reiteramos que este resultado é fruto da estratégia jurídica adotada pelo CBO, através de seu Departamento Jurídico, e dentro do programa CBO+Perto 2 que, juntamente com a Sociedade Catarinense de Oftalmologia, realizou o levantamento de dados e os encaminhou ao CREMESC, com realização de reunião 3, bem como outras atividades de modo a unir forças na defesa da saúde ocular da população e da defesa do ato médico. estima e consideração. Sem mais para o momento, renovamos nossos votos de Brasília/DF, terça-feira, 1 de novembro de José Alejandro Bullón 2 O Programa CBO+Perto disponibiliza o Departamento Jurídico do CBO à todas as Sociedades Estaduais de modo a realizar um trabalho conjunto e efetivo na defesa da saúde de população e do ato médico. 3 VIDE INFORMATIVO JURÍDICO Nº 37: 4

5 Carlosmagnum Costa Nunes Juliana de Albuquerque O. Bullón Assessora Jurídica CBO Isabella Carvalho de Andrade Assessora Jurídica CBO Gabriel Bunn Zomer 5