DESPACHO COJUR N.º 454/2016
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- Nina Morais Sales
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1 DESPACHO COJUR N.º 454/2016 (Aprovado em Reunião de Diretoria em 16/8/2016) Interessado: Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia - CREMEB Expedientes n.º 7545/2016 Assunto: Análise jurídica. Despacho Sejur n.º 101/2016. Pedido de reanálise. Matéria consolidada na jurisprudência pátria. Impugnação judicial de portaria. Análise discricionária. I DOS FATOS Trata-se de Ofício n.º 8.778/2016 Presidência, no qual o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia solicita reanálise sobre as conclusões lançadas no Despacho Sejur n.º 101/2016, que concluído da seguinte forma: Diante do exposto, conclui-se que os profissionais enfermeiros não possuem competência legal para prescrever medicamentos, salvo se participarem e equipes de saúde nos programas de saúde pública e de atenção básica à saúde da população, sob pena de invadirem a competência atribuída aos médicos. Todavia, não é possível que, por meio de portaria, o poder público alargue as atribuições de tais profissionais, autorizando-os a praticar atos privativos de medicina, como a requisição de exames. O CREMEB promoveu análise do caso por meio de Parecer de sua Assessoria Jurídica, o qual opinou pela conjugação de esforços para adoção de medidas, inclusive judiciais, visando questionar a Portaria 2.488/2011 do Ministério da Saúde. É o relatório. II DA ANÁLISE JURÍDICA Compulsando os autos, verifico que teor do Despacho Sejur n.º 101/2016 não merece reparos. A matéria, após diversos debates judiciais e técnicos, foi consolidada pela jurisprudência, conforme amplamente exposto no citado Despacho. Por sua vez, dado o princípio da continuidade, os atos normativos emanados do Poder Público, sejam constitucionais, legais ou infralegais, terão vigência enquanto outro não a modificar ou revogar, podendo a revogação ocorrer pela abrogação, que é a supressão integral da lei, ou pela derrogação, quando a supressão é apenas parcial.
2 Desse modo, como regra, não há que se falar no estabelecimento de prazos de validade dos atos normativos emanados da Administração Pública, inclusive no caso da Portaria n.º 2488/2011/MS. Assim, a atualização de tais atos em face da evolução científica demanda análise de conveniência e oportunidade do Poder Público, o que, por certo, pode ser provocado pelos demais agentes que atuam no setor da saúde, como os Conselhos de Medicina, caso verifiquem que os métodos e protocolos utilizados encontram-se defasados. Por sua vez, é razoável que os gestores que atuam na área de saúde necessitam possuir conhecimentos técnicos em tal mister. Todavia, tal situação não gera o dever de que tais colaboradores sejam médicos ou profissionais na área de saúde. Nesse contexto, é preciso esclarecer que a elaboração de protocolos médicos são de competência privativa de médicos, porém, as atividades desenvolvidas pelos órgãos de saúde compreendem outras atuações não privativas dos profissionais da medicina e, em tais situações, não há norma legal que determine a presença de médicos na elaboração de tais protocolos. Em continuidade, vejamos o que dispõe a Lei n /86, que rege a atividade dos profissionais enfermeiros, verbis: Art. 11 O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe: I privativamente: e) (vetado) II como integrante da equipe de saúde: c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; Vide também, o Decreto nº /87, verbis: Art. 8º - Ao Enfermeiro incumbe: I privativamente: e) consulta de enfermagem; II como integrante de equipe de saúde; c) prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; Cumpre esclarecer que programa de saúde pública e a rotina aprovada pela instituição de saúde são procedimentos padronizados, adotados para determinado tipo de doença com características e tratamento pré-determinados. Como exemplo temos que para atendimento de um doente de tuberculose (pode ser DST/AIDS, hanseníase, e
3 demais doenças que permitem a adoção de procedimento padrão já pré-estabelecido) já existe um procedimento padrão de indicação de determinados medicamentos, especificados nos programas de saúde pública e nas rotinas aprovadas de instituição de saúde PÚBLICA. Nos programas de saúde pública e nas rotinas aprovadas de instituição de saúde já estão instituídos qual a dosagem padrão e o procedimento que deve ser adotado para determinados tipos de doença (como as doenças acima elencadas). Nesses casos, basta ao enfermeiro ministrar os medicamentos que já estão préestabelecidos nas rotinas dos tratamentos. Esse é o espírito do transcrito artigo 11, da Lei nº 7.498/86. No entanto, quando os profissionais da área da saúde constatam que existem particularidades que fogem ao padrão normal da doença, o paciente é dirigido a um médico para que este profissional possa realizar o diagnóstico, solicitar os exames e indicar medicamentos específicos para o caso. Em nenhum momento o dispositivo legal dá margem ou liberdade para que vigore a interpretação que permita ao enfermeiro requisitar exames, de forma autônoma, por sua própria conta e risco, sem orientação médica. Para uma comprovação do que está sendo dito neste ínterim, mister se faz a transcrição do texto legal, que demonstra que o disposto na Lei nº 7.498/86: Art O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe: I - privativamente: a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem; b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de Enfermagem; d) - (vetado) e) - (vetado) f) - (vetado) g) - (vetado) h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem; i) consulta de Enfermagem; j) prescrição da assistência de Enfermagem; l) cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida; m) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas; II - como integrante da equipe de saúde: a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde; b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde; c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;
4 d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação;... Desse modo, vemos que o texto legal permite ao enfermeiro exercer todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe, como integrante da equipe de saúde, prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde, não havendo, porém, autonomia para solicitar exames de rotina e complementares. É essencial sempre frisar que somente o profissional habilitado e capacitado a realizar o DIAGNÓSTICO pode ter autonomia para SOLICITAR O EXAME que precede esse ato, ou seja, O MÉDICO. Nesse sentido o Supremo Tribunal Federal - STF já decidiu que somente ao médico cabe a realização de diagnóstico, verbis... Mas não é isso o que ocorre em casos como o presente. E quem o reconhece é o próprio Decreto-Lei n.º 938/69. Com efeito, estabelece ele que é atividade privativa do fisioterapêuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente. Trata-se, como se vê, de ser privativa tão-somente a execução de tratamento fisioterápico, o que importa o reconhecimento pelo próprio Decreto-Lei, de que o diagnóstico da doença, a prescrição do método ou técnica de cura, a supervisão da aplicação desses métodos ou técnicas que não se confunde com a simples execução deles e a alta do paciente, estão a cargo não dos fisioterapeutas, mas de quem tem capacidade que estes não possuem: os médicos especialistas nesse terreno. Medicina, como profissão, não é ciência pura, mas, ao contrário, arte e, portanto, aplicação de conhecimento científico na prática. E nessa aplicação, quem tem capacidade para diagnosticar a doença, escolher o tratamento adequado, supervisioná-lo e dar alta, tem de ter, obviamente, capacidade para executar esse tratamento, que é ínsito à profissão médica especializada nesse ramo da Medicina. O executante como o próprio decretolei em causa posiciona o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional é mero auxiliar de quem tem a responsabilidade do tratamento como um todo, e esta é do médico. E não tem sentido de que quem tenha capacidade técnica para exercitar o mais, não possa realizar o menos. O equívoco, data vênia, dos que estão sustentando o contrário decorre de partirem eles de premissa de que nem a própria legislação em causa parte: o da total separação de atribuições, o que só pode ocorrer com a independência de seus titulares, o que, no caso, não existe em razão da própria legislação em exame (Revista e julgamento cite e anexos. pág. 285) o eminente relator sentiu essa dificuldade, tanto assim que reconheceu que o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional, embora profissionais de nível superior, não podem diagnosticar as causa ou a natureza das deficiências orgânicas ou psíquicas dos pacientes, nem indicar os tratamentos, sua função é apenas a de executar os métodos e as técnica prescritas pelos médicos... Representação de Inconstitucionalidade n.º DF, DJ Relator: Min. Décio Miranda (grifos nossos)
5 Nessa linha, conforme amplamente demonstrado, a realização de diagnóstico é ato exclusivo de profissional médico, de modo que, reiterando os termos do Despacho Sejur n.º 101/2016, concluímos que a prescrição de medicamentos por profissionais enfermeiros é medida excepcional e somente pode ser exercitada no âmbito dos programas de saúde pública e de atenção básica à saúde da população. Por outro lado, tais profissionais não possuem autorização legal para realizar outros atos que demandem a realização de diagnóstico nosológico ou análise de futuro prognóstico, de modo que não tem competência para interpretar enfermidades, solicitar exames e indicar tratamentos. Em derradeiro, indicamos que qualquer atuação do CFM, seja no âmbito político ou jurídico, em detrimento da Portaria n.º 2488/2011 ou de outros atos normativos que violem as competências legais dos profissionais da medicina, demanda análise discricionária e política deste Conselho. É o que nos parece, s.m.j. Brasília/DF, 10 de agosto de Rafael Leandro Arantes Ribeiro Advogado do Conselho Federal de Medicina OAB/DF n.º De Acordo: José Alejandro Bullón Chefe da COJUR
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