INFORMATIVO JURÍDICO Nº 38/2016

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2 INFORMATIVO JURÍDICO Nº 38/2016 CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA CBO Assunto: Visitação ao Estado do Paraná (Cidades: Londrina, Maringá, Nova Esperança, Paiçandú e Alto Paraná). Serve a presente para relatar a visita ao estado do Paraná, nas cidades de Londrina, Maringá, Nova Esperança, Paiçandú, Alto Paraná, nos dias 18, 19 e 20 de maio de 2016, oportunidade em que o SEJUR/CBO atendeu à solicitação do Dr. Wilson Dimartini, que tem nos encaminhado inúmeras denúncias em relação a atuação de profissionais não médicos naquela região. Primeiramente, ressaltamos que este é o primeiro contato do SEJUR/CBO com demandas advindas do Estado do Paraná, haja vista o objetivo do programa CBO+Perto. Em Londrina, apesar de não haver nenhuma denúncia de atuação de profissionais não médicos, foi realizado um trabalho preventivo, diante a proximidade com as demais cidades, com entrega de oficio e esclarecimento à Vigilância Sanitária municipal. Em reunião a fiscal informou que já ouviu relatos sobre esta atuação, mas que no momento não consegue precisar quais e quantos optometristas atuam no município. Todavia, deixou claro que irá analisar a documentação e realizar o que for necessário. Dando continuidade, o SEJUR/CBO deslocou-se para o Município de Maringá, local principal das denúncias realizadas pelos Dr. Wilson Dimartini. Primeiramente, realizamos visitação à promotoria de justiça de promoção à saúde, cuja titular é a Dr.ª Stella Pinheiro. Em conversa breve com a assessora e a promotora, haja vista o nítido acumulo de atribuições desta lhes foi entregue representação sobre a atuação de profissionais não médicos, com os documentos encaminhados pelo Dr. Wilson. Comprometeram-se a analisar, minuciosamente, a documentação e realizar o que for de sua competência. O SEJUR/CBO colocou-se inteiramente à disposição para instruí-la com todos os esclarecimentos e documentação que necessitarem para sua atuação. Ato contínuo, o SEJUR/CBO dirigiu-se até a vigilância sanitária de Maringá. Ali foi recebido, após longo tempo de espera, pelo Sr. José Orlando, Diretor da Vigilância Sanitária de Maringá. Neste momento, lhe foi entregue representação com todos os documentos encaminhados pelo Dr. Wilson, bem como explanação sobre a ilegalidade que tem transcorrido na atuação de profissionais não médicos, em especial os optometristas relacionados na representação. Contudo, esclareceu o Sr. José Orlando que um desses profissionais (Sr. Saulo Morales) ingressou com um mandado de segurança

3 solicitando a expedição e concessão de alvará sanitário, o que lhe foi DEFERIDO pela justiça estadual do Paraná, em sede liminar, ainda em setembro do ano de Neste momento, o diretor da vigilância mostrou-nos a decisão judicial (anexo) do processo nº (Mandado de Segurança impetrado pelo Sr. Saulo Morales Neto, optometrista), cuja decisão pedimos vênia para transcrever: Assim, DEFIRO a postulação de urgência, na forma como pleiteada na inicial. Notifique-se a autoridade apontada como coatora para que, no prazo de 10 (dez) dias apresente informações (art. 7º, inciso I da Lei nº /2009). Intime-se o Município de Maringá, por sua procuradoria jurídica, acerca do presente fato, encaminhando-lhe cópia da inicial, sem documentos, para que, querendo, postule o ingresso. Após as informações ou fluindo em branco o prazo para tanto, abra-se vista ao Ministério Público Estadual para parecer conclusivo, vindo concluso em sequência. Devido a informação, consultamos o processo junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e identificamos que o mesmo teve sentença (anexo) proferida em 29/03/2015 CONCEDENDO A SEGURANÇA. Em resumo a sentença se sustenta no argumento de que a profissão de optometrista é legalmente aceita em nosso país, tanto é assim que é regulamentada pelo Ministério do Trabalho pela portaria nº 397 de 09/10/2002, mesmo porque asseverado pelo impetrante, existem cursos reconhecidos pelo MEC referente à formação de tais profissionais, conforme se observa pela portaria nº 2.948/2003-MEC. Contudo, acrescentemos trecho importante da decisão do magistrado: deve ficar consignado que a presente decisão é concedida para o fim de que seja expedido alvará de funcionamento ao Impetrante, desde que seu estabelecimento preencha os requisitos previstos na legislação sanitária, sem, contudo, que se adentre no mérito da presente lide, ou seja, se ele pode ou não exercer sua profissão, a qual, aliás, como já dito alhures, não pode abarcar qualquer dos atos restritos aos médicos oftalmologistas. Essa justificativa é corroborada como entendimento que vem sendo adotado por este SEJUR/CBO e pelos tribunais pátrios. Neste sentido o juiz colacionou a jurisprudência oriunda do REsp /RS de 14/10/2008 que transcrevemos o seguinte trecho: 8. A competência da vigilância sanitária limita-se apenas à análise acerca da existência de habilitação e/ou capacidade legal do profissional da saúde e do respeito à legislação sanitária, objeto, in casu, de fiscalização estadual e/ou municipal. 9. O optometrista, todavia, NÃO RESTA HABILITADO PARA OS MISTERES MÉDICOS, COMO SÃO AS ATIVIDADES DE DIAGNOSTICAR E TRATAR DE DOENÇAS RELATIVAS AO GLOBO OCULAR, SOB QUALQUER FORMA. 10. O curso universitário que está dimensionado, em sua duração e forma, para o exercício da oftalmologia é a medicina, nos termos da legislação em vigor (Celso Ribeiro Bastos, in

4 artigo Da Criação e Regulação de profissões e Cursos Superiores: o Caso dos Oftalmologistas, Optometristas e Ópticos Práticos. Estudos e Pareceres, Revista de Direito Constitucional e Internacional, nº 34, ano 9 janeiro-março de 2001, RT, pág 257). Nesse sentido, identificamos que há, por parte da administração pública, um equívoco de interpretação da decisão. Isso porque, há expressamente a indicação de que ao optometrista é vedado a prática de atos privativos de médico oftalmologista, sendo limitada, portanto a sua atuação nos moldes da legislação vigorante. Ademais, a decisão não considerou que já foi cediço no STJ a declaração de inconstitucionalidade parcial da portaria 297 do MTE que descreve às atividades de optometristas. Na mesma data, comparecemos à vigilância sanitária de Paiçandu, onde foi encaminhada uma NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL para cumprimento da legislação pertinente, haja vista denúncia do Dr. Wilson sobre a atuação do mesmo profissional (Thiago Correa). Contudo, a servidora (Fiscal Edilene) responsável pelo caso não se encontrava presente. Todavia, fomos informados que o caso estava com a procuradoria do município para se manifestar e, que a VISA apenas realizaria atos que o jurídico mandasse. Destarte, descolamos até a procuradoria municipal de Paiçandú. Em reunião com o procurador do município, Dr. Vitor, lhe foi explanada a situação, bem como as respectivas implicações jurídicas sobre o tema. Este se dispôs, no prazo de 20 (vinte) dias, a emitir parecer à vigilância sanitária sobre como deverá proceder a respeito do profissional acima citado. Deixou claro que sua orientação está em conformidade com à documentação encaminhada pelo CBO. Na mesma data, comparecemos à Primeira Promotoria de Justiça de Nova Esperança/PR onde consta o Procedimento Preparatório MPPR Este procedimento consta de denuncia realizada pela APO em desfavor do Sr. Thiago Correa, datada do ano de Ali tivemos acesso ao procedimento e constatamos que o denunciado compareceu à promotoria e prestou seu depoimento (anexo) que em resumo informa sobre o processo do Sr. Saulo Morales e como tal também possui autorização para exercer sua profissão. Em conversa com o assessor da promotoria, haja vista que o Promotor Nivaldo Bazetti encontrava-se ocupado, foram esclarecidas as circunstancias e gravidade do assunto, bem como à respectiva solução nos moldes da legislação em vigor e jurisprudências correlatas. Na oportunidade, o promotor emitiu despacho (anexo) informando que não deu seguimento ao caso por razões de baixa estrutura para realizar seu trabalho, bem como o acumulo de procedimentos, considerados mais urgentes. Todavia, nos colocamos à disposição para encaminhar toda a documentação do SEJUR/CBO, bem como modelo de TAC para resolução URGENTE do procedimento.

5 No mesmo passo, dirigimo-nos à vigilância sanitária de Nova Esperança/PR para entrega de Representação e solicitação de anulação do alvará ora expedido ao Sr. Thiago, caso existisse, porém, a mesma se encontrava fechada devido recente rompimento de barragem local. Todavia, solicitamos o contato do diretor para encaminhamento, via , da representação e orientação. Ademais, devido ao adiantar da hora e a distância a ser percorrida de Alto Paraná à Londrina esta cidade ficou sem visitação. Todavia, na data de 23/05 encaminhamos as respectivas representações (ao Ministério Público e à Vigilância Sanitária) o que será despachado oportunamente. CONCLUSÕES DO SEJUR/CBO A visitação ao estado do Paraná demonstrou satisfatória e produtiva. Foi possível identificar, in loco as denúncias existentes e suas respectivas situações. Ademais, o contato direto com promotorias e vigilância sanitárias se apresenta como instrumento imprescindível para que haja a efetiva fiscalização da atuação de profissionais não médicos. A sentença referida nas linhas acima demonstra a evolução e concretização do entendimento jurídico mantido por este SEJUR/CBO e consolidado pelos principais tribunais deste país. Todavia, o trabalho de aculturamento do poder judiciário, ministério público e vigilância sanitária, sobre a aplicação da legislação em vigor é o instrumento que nos permitirá alcançar o nosso objetivo. Tal objetivo, não é outro, senão o cumprimento da legislação e a promoção da saúde pública regular. Destarte, o trabalho tem se demonstrado satisfatório ao passo que com a cobrança e conscientização aparecem resultados concretos. Todavia, ainda é preciso estabelecer uma comunicação direta, por parte das sociedades estaduais no fomento de materiais (ex. provas) advindas dos associados e demais profissionais de oftalmologia. Indicamos para este caso uma reunião entre às sociedades estaduais e o SEJUR/CBO para o 60º Congresso de Oftalmologia, dirigida pela Comissão de Assuntos Jurídicos. Tal iniciativa permitirá agregar as informações e difundir àquelas já adotadas. Este SEJUR/CBO está sempre à disposição para concretizar cada vez mais a defesa da oftalmologia brasileira, preservando-se os interesses do CBO. Sem mais para o momento, renovamos nossos votos de estima e consideração. Brasília/DF, 23 de maio de 2016.

6 José Alejandro Bullón Assessor Jurídico CBO Juliana de Albuquerque O. Bullón Assessora Jurídica CBO Carlosmagnum Costa Nunes Assessor Jurídico CBO Isabella Carvalho de Andrade Assessora Jurídica CBO