CONSULTA Nº 8.989/16
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- Stéphanie de Sequeira Fontes
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1 1 CONSULTA Nº 8.989/16 Assunto: Sobre atendimento médico pericial de Pedido de Reconsideração (PR), pelo mesmo perito que realizou a avaliação anterior, indeferindo, pela não constatação de incapacidade laboral. Relatores: Conselheiro Renato Françoso Filho e Dr. Mário Jorge Tsuchiya, Membro da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho. Ementa: Embora não haja vedação expressa para que o perito se abstenha de realizar esta segunda perícia nas normas deontológicas, reiteramos que o perito tem o direito de se escusar à realização do exame, no mínimo, por suspeição já que emitiu sua opinião no caso analisado por ocasião da perícia anterior, o que, s.m.j., caracterizaria verdadeiro préjulgamento da matéria. Desta maneira, permaneceria fiel aos princípios bioéticos da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Trata-se de Consulta encaminhada à Delegacia Regional do interior de São Paulo, pelos consulente, Dr. L.A.S.J. e Dra. C.L.R.A.S., versando sobre atendimento médico pericial de Pedido de Reconsideração (PR), pelo mesmo perito que realizou a avaliação anterior e indeferiu pela não constatação de incapacidade laboral. Anexam troca de institucional, com citação de normas administrativas internas: IN 77/2015 Art No caso do indeferimento de perícia inicial (AX1) e PP, poderá ser solicitado PR ou interposto recurso à JR/CRPS no prazo de até trinta dias, contados da comunicação da conclusão contrária. 1o O PR será apreciado por meio de novo exame médico-pericial em face da apresentação de novos elementos por parte do segurado, podendo ser realizado por qualquer médico perito, inclusive o responsável pela avaliação anterior.
2 2 01/02/2013: Memorando Circular Conjunto nº 2, de 8-III o PR será apreciado por meio de novo exame médico-pericial em face da apresentação de novos elementos por parte do segurado, podendo ser realizado por qualquer perito, inclusive o responsável pela avaliação anterior. Com a manifestação da chefia F.B.B.: As orientações administrativas (IN 77 e MCC 02) devem ser respeitadas em nível institucional. O servidor que não segue as normas institucionais pode arcar com as consequências do ato, em que pese haver uma polêmica em nível de ética médica. Os demais peritos que estão sozinhos em outras APS, como a S., o L., o E. e o C. estão fazendo os seus próprios PR. A última informação que eu tive foi que o L. e a C. estavam deixando pendente por SIMA nesses casos para que outro fizesse a perícia (o L. está com acesso autorizado ao CO e nem disso precisa). Acredito que esse é um arranjo totalmente justificável em face dos dois estarem ao mesmo tempo na APS. A negativa concomitante em fazer perícia, entretanto, é inaceitável do ponto de vista administrativo. PARECER A presente questão já fora analisada pela Câmara Técnica de Medicina do Trabalho, na CONSULTA Nº /13, que ratificamos na íntegra: Consulta nº /13: Assunto: Manifestação sobre a Consulta nº /13, que versa sobre a realização de perícia médica de Pedido de Reconsideração - PR pelo mesmo perito que realizou a avaliação anterior e indeferiu pela não constatação de incapacidade laboral. Relator: Conselheiro Renato Françoso Filho e Dr. Mário Jorge Tsuchiya, Membro da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho. Ementa: Respeitando o direito à reavaliação ou mesmo recurso por parte do segurado, quer seja denominada segunda opinião médica, ou
3 3 no fundamento processual de duplo grau de jurisdição, mas fundamentalmente em observância aos princípios da absoluta isenção, imparcialidade e autonomia pericial, entendemos que o perito deva escusar-se, por suspeição, este encargo nos casos de requerimentos de Pedido de Reconsideração, caso tenha realizado a perícia anterior. O consulente Dr. J.S., solicita do parecer do CREMESP referente à Consulta nº /13, que versa sobre a realização de perícia médica de Pedido de Reconsideração - PR pelo mesmo perito que realizou a avaliação anterior e indeferiu pela não constatação de incapacidade laboral. PARECER Trata-se de solicitação de análise e manifestação, face à Consulta nº /13, que concluiu: Ementa: Concluímos que o Processo Consulta nº 3.111/09 - CFM (03/10) trata de recursos relacionados à Junta Médica, onde não poderá ter como participante o perito responsável pelo indeferimento do benefício anterior. Já para os casos de Pedido de Reconsideração de Benefício, o periciando poderá ser reavaliado pelo mesmo perito responsável pelo indeferimento do benefício anterior. No entanto, não havendo fatos novos, o perito deve avaliar a possibilidade de considerar-se impedido, vez que seu parecer ocorreu levando em conta o quadro apresentado pelo periciando e já submetido à Perícia. Inicialmente, destacamos que a disciplina ética em perícia médica encontra-se normatizada no nosso Código de Ética Médica e Resoluções do CFM nº 1.497/98, CREMESP nº 126/2005 e CREMESP nº 167/2007 (ANEXAS), que não tratam da atuação do perito médico em avaliação específica em requerimento de Pedido de Reconsideração junto a Previdência Social, portanto, em princípio, não há que se falar em infração a alguma norma ética no que tange esta matéria. Porém como se envolve questões processuais e conceituais quanto à perícia médica e, desta maneira, embora a matéria fuja às atribuições do CREMESP, merece uma análise mais detalhada, levando-se em consideração a sua complexidade e repercussão no âmbito da atividade médica pericial. Preliminarmente, será necessário firmar alguns conceitos: Recurso: o meio pelo qual a parte vencida em um processo provoca a revisão da decisão judicial ou administrativa que lhe é desfavorável.
4 4 Assim, diante de uma decisão desfavorável ao segurado que requereu um benefício junto ao INSS, cabe um processo administrativo que busca reverter à decisão do INSS, através de um Recurso ao Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS, colegiado integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social - MPS, é o órgão de controle jurisdicional das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social nos processos de interesse dos beneficiários e das empresas nos casos previstos na Legislação Previdenciária. Pedido de Reconsideração: Retomar o exame de uma questão tendo em vista a possibilidade de nova decisão. O Pedido de Reconsideração é um direito do beneficiário quando o resultado da última avaliação médica realizada pelo INSS tiver sido contrário, e o beneficiário não concordar com o indeferimento. Perícia médica previdenciária: Ato médico voltado para avaliação da ocorrência de incapacidade para o trabalho, que enseja a concessão pelo INSS do benefício requerido pelo segurado. Isto posto, passamos a analisar a matéria. Podemos observar que na realidade a discussão se instala fundamentalmente no âmbito processual, isto é, se é legal e justo que a reavaliação pericial, em Pedido de Reconsideração, seja realizada pelo mesmo perito que realizou a avaliação pericial que concluiu pela ausência da incapacidade para o trabalho, portanto resultando no indeferimento do requerimento de benefício previdenciário pretendido junto ao INSS. Conforme acima exposto o Recurso é um processo formal e avaliado em segunda instância, ou seja, pelo Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS, ao passo que o Pedido de Reconsideração, embora possa ser equiparado ao Recurso, apresenta um procedimento mais informal e processa-se como uma reavaliação do exame pericial, podendo até alterar a conclusão pericial. Considerando-se que no exame médico pericial, a existência, ou não, da incapacidade laboral baseia-se na presença ou ausência de manifestação clínica suficiente para produzir uma alteração funcional de monta a impedir a atividade profissional, a reversão da conclusão pericial implica na alteração do próprio exame médico pericial realizado, o que seria altamente improvável, senão impossível, de ocorrer, pois o perito teria de admitir que não realizara o exame médico adequado ou que seu primeiro exame estaria totalmente
5 5 equivocado, visto que o exame em PR pode ser realizado no mesmo dia, na mesma semana ou em outro intervalo de tempo qualquer. Vale ressaltar que não se trata de analisar fato novo, pois em caso de fato novo tratar-se-ia de novo benefício, e não relacionado ao indeferimento anterior que gerou o Pedido de Reconsideração. Da mesma forma, caso se apresente um novo exame complementar ou relatório médico, além de serem extemporâneos, estes não podem alterar o exame médico pericial realizado anteriormente, pois o médico investido na função de perito é responsável pela produção da prova técnica em processos e não fica restrito aos relatórios elaborados pelo médico assistente do periciando, ou de resultados de exames complementares, para a formação de sua opinião técnica, baseando suas conclusões em um competente exame médico pericial. Isto gera a segunda vertente da análise quanto à questão do mérito ou conteúdo da perícia médica, ou seja, o perito ao admitir equívoco no seu exame pericial, configura no mínimo um laudo irregular, senão um laudo de conteúdo falso, caracterizando, salvo melhor juízo, uma infração administrativa, penal e ética, eventualmente punível por falsa perícia. Desta forma, respeitando o direito à reavaliação ou mesmo recurso por parte do segurado, quer seja denominada segunda opinião médica, ou no fundamento processual de duplo grau de jurisdição, mas fundamentalmente em observância aos princípios da absoluta isenção, imparcialidade e autonomia pericial, entendemos que o perito deva escusar-se, por suspeição, este encargo nos casos de requerimentos de Pedido de Reconsideração, caso tenha realizado a perícia anterior. Aprovadona reunião da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho, realizada em Aprovado na reunião da Câmara de Consultas, realizada em Homologado na Reunião Plenária, realizada em Acrescentaríamos apenas que as normas institucionais do INSS ditam: podendo ser realizado por qualquer perito, inclusive o responsável pela avaliação anterior, portanto não obrigando, que seria ilegal e autoritário, pois desrespeitaria a necessária autonomia pericial. Desta forma, embora não haja vedação expressa para que o perito se abstenha de realizar esta segunda perícia nas normas deontológicas, reiteramos que o perito tem o direito de se escusar à realização do exame, no mínimo, por suspeição já que emitiu sua opinião no caso analisado por ocasião da perícia anterior, o que, s.m.j., caracterizaria verdadeiro pré-julgamento da matéria. Desta maneira, permaneceria fiel aos princípios bioéticos da autonomia, beneficência, não
6 6 maleficência e justiça e, em especial, à determinação de nosso Código de Ética Médica que preceitua: É vedado ao médico: Art. 98. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua competência. Este é o nosso parecer, s.m.j. Conselheiro Renato Françoso Filho PARECER APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA TÉCNICA DE MEDICINA DO TRABALHO, REALIZADA EM 10/05/2016. APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA DE CONSULTAS, REALIZADA EM HOMOLOGADO NA 4.732ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM
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