REVITALIZAÇÃO DE ÁREAS CENTRAIS DEGRADADAS: Experiências nacionais e internacionais
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- Márcio Melgaço Benevides
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1 REVITALIZAÇÃO DE ÁREAS CENTRAIS DEGRADADAS: Experiências nacionais e internacionais Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre FAUUSP, Dep. de Projeto 1. INTRODUÇÃO Cidades estão em permanente mudança em resposta à dinâmica econômica e social na qual estão inseridas Novas atividades econômicas e grandes empreendimentos imobiliários levam ao adensamento e intensificação do uso de determinadas áreas Fechamento de industrias, evasão de atividades econômicas e população levam ao abandono e degradação de outras Existem duas maneiras de intervir na requalificação de áreas urbanas degradadas (Dessai e Pillai, 1990): 1. Erradicação através da renovação do ambiente construído 2. Reabilitação através de projetos de melhorias 2. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO INTERNACIONAL Em seu estudo para o Instituto Europeu de Assuntos Urbanos (European Institute of Urban Affairs), Evans & Dawson (Liveable Towns and Cities, 1994) pesquisaram as teorias urbanísticas contemporâneas e definiram os seguintes pontos principais de atuação conjunta para a revitalização dos Centros Urbanos: Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 1
2 1. Com relação a acessibilidade das áreas centrais Reforço a acessibilidade das áreas centrais através de sistemas de transporte coletivo integrados e eficientes Valorização dos pedestres e dos ciclistas em detrimento dos carros 2. Com relação ao uso e ocupação do solo Diversificação e mistura de usos Repovoamento e readensamento habitacional Diversificação social 3. Com relação às atividades econômicas Readequação das atividades varejistas para competir com os shopping centers periféricos Exploração dos avanços na tecnologia de telecomunicações Promoção de atrações artístico-culturais e eventos cívicos 4. Com relação ao desenho urbano Desenvolvimento de um desenho urbano adequado Respeito ao contexto e ao patrimônio histórico Mobiliário urbano, arborização e sinalização bem projetados e posicionados Desenvolvimento de um projeto urbano promotor da segurança Medidas redutoras de tráfego Enfatizar o espaço público 5. Reforçando a segurança Promoção de usos mistos encoraja o auto-policiamento Promoção de uma clientela diversa Melhoramentos em iluminação pública Adequação do desenho urbano Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 2
3 6. Administrando e mantendo o Centro Envolvimento de uma maior diversidade de atores sociais e seus órgãos representativos Elaboração de Plano Estratégico prevendo projetos de melhoria de acessibilidade, melhorias e manutenção do ambiente físico, desenvolvimento de atividades econômicas, de informação, segurança, promoção de eventos e marketing Incentivos fiscais e legais a atração de empresas, manutenção do ambiente construído público ou privado Criação da figura do Administrador do Centro 3. A EXPERIÊNCIA NACIONAL SALVADOR REABILITAÇÃO E RESTAURO DO PELOURINHO O bairro do Pelourinho de Salvador é um exemplo destacado reabilitação e restauro de centro histórico no Brasil. A partir do século XIX, a área começou a sofrer um processo intenso de decadência com evasão de atividades econômicas e da população mais abastada., sendo povoada então por uma população marginalizada. Em 1985, quando a área foi considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. A prefeitura chamou a arquiteta Lina Bó Bardi para desenvolver um projeto de reabilitação da área. A idéia de Lina era manter as raízes sociais e culturais africanas da área. De 1986 a 1989 ela desenvolveu vários projetos para a região: Belvedere da Sé; Complexo Barroquinha; Casa do Benin; Casa do Olodum; Fundação Pierre Verger (etnologista Francês residente em Salvador) e o Complexo da Ladeira da Misericórdia Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 3
4 A estratégia mudou bastante com a intervenção do governo do Estado da Bahia a partir do final da década de 80. Consciente do potencial turístico da área, o governo lançou em 1991 uma carta de referência que pretendia: Promover a reabilitação física e restauro da área considerando o seu potencial econômico para a cidade e região metropolitana Promover condições sustentáveis de preservação através do desenvolvimento das atividades econômicas As estratégias de intervenção foram: Restauro, recuperação estrutural, reconstrução, conservação que variava de acordo com as características construtivas A fim de compensar o financiamento público do restauro, quatro opções foram dadas aos proprietários: venda desapropriação concessão de usufruto de 5 a 10 anos troca de imóvel ou área construída Segundo Nobre (no prelo), os resultados foram: De 1992 a 1996, as obras consumiram quase US$100 milhões no restauro de quase casas, igrejas, monumentos e museus. A ocupação do hotéis em Salvador aumentou em 62% entre 1981 e 1997 Hóspedes internacionais aumentaram de 200% entre 1981 e 1997 Contudo a população residente caiu de 9,8 para 3 mil habitantes entre 1980 e 2000 Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 4
5 SÃO PAULO PLANO RECONSTRUIR O CENTRO Plano desenvolvido pela atual prefeitura de São Paulo visando a revitalização dos distritos que compreendem o centro histórico de São Paulo (Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa Cecília e Sé) Considerando a acessibilidade da área central da cidade, o seu abandono e sub-utilização, esse plano baseia-se na diversidade funcional e social, procurando enfatizar as atividades de moradia, emprego, cultura, lazer, educação e representação nessa região O Plano criou oito Programas básicos: Andar no Centro; Morar no Centro; Trabalhar no Centro; Descobrir o Centro; Preservar o Centro; Investir no Centro; Cuidar do Centro; Governar o Centro Entre outras iniciativas os Programas contemplam: Melhorias do espaço do pedestre e reestruturação da circulação de veículos Melhorias da condição de limpeza Produção de unidades de HIS e reabilitação integrada do habitat (PRIH) Aprimorar o suporte aos compradores do centro comercial (estacionamento, banheiros, áreas de alimentação) Ampliação dos horários comerciais e regulamentação dos horários de carga e descarga Reciclagem de imóveis comerciais Reabilitação das áreas de comércio ambulante, atualização de cadastros e capacitação dos ambulantes e moradores de rua Valorização do patrimônio histórico-cultural Estímulo aos programas de lazer e cultura Criação de Projetos Estratégicos de Intervenção (Corredor Cultural, Parque Dom Pedro, Favela do Gato, Pátio do Pari) Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 5
6 4. PROGRAMAS DE APOIO INSTITUCIONAL PAR PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL Programa de reforma ou construção de unidades residenciais lançado pelo Governo Federal em 1999 para atender a necessidade de moradia da população de baixa renda dos grandes centros urbanos, incluindo todas as capitais estaduais O projeto conta com financiamento da CEF Caixa Econômica Federal e contempla: Valor máximo R$ ,00 por unidade, considerados todos os custos incidentes, inclusive terreno, ITBI e infra-estrutura interna Limite máximo de unidades não deve ultrapassar 160 unidades por empreendimento; e cada empresa só pode construir unidades Área útil mínima das unidades é de 37m², exceto nas situações de recuperação de empreendimentos, que serão estudadas individualmente; Tipologia mínima é: 2 (dois) quartos, à exceção de prédios em recuperação e/ou restauração; Em abril de 2001, o Programa já envolvia 347 empreendimentos, totalizando unidades residenciais, a um custo médio de R$ ,00, por unidade (R$810 milhões). Na mesma data, encontravam-se em fase de análise, 537 novas propostas de produção de empreendimentos, contendo unidades residenciais em todo o território nacional. Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 6
7 PROJETO MONUMENTA O Programa Monumenta foi concebido pelo Ministério da Cultura e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e tem por objetivo o resgate e a conservação permanente dos principais conjuntos patrimoniais urbanos do Brasil. Estão sendo aplicados recursos da ordem de 500 milhões de reais, que incluem o financiamento do BID, do Tesouro Nacional, contrapartidas dos estados e municípios e patrocínios de instituições e empresas privadas Procura atacar as causas da degradação crônica do patrimônio histórico, em função do baixo nível de atividade dessas áreas e na reduzida participação da comunidade local na preservação. Tem como princípio básico garantir as condições de conservação do patrimônio recuperado, através do retorno econômico proporcionado pela intensificação do uso e da visitação às áreas restauradas, apoiadas no desenvolvimento turístico da região. Dentre as medidas consideradas fundamentais está a criação dos Fundos Municipais de Preservação, com a função de administrar os recursos destinados à conservação permanente, dirigidos por um conselho gestor composto paritariamente, por representantes das três esferas de governo, e por representantes da comunidade e da iniciativa privada locais. As principais ações propostas pelo MONUMENTA são: Na área de obras: - conservação e restauro de monumentos históricos; - requalificação de ruas, calçadas, praças e adros; - conservação de fachadas e telhados de imóveis particulares; Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 7
8 Programas educativos: - Campanhas pela televisão, rádio, jornais e revistas; - Programas para a TV-Escola do MEC - Uma série de filmes documentários de alta qualidade, para divulgação através de TV's educativas, vídeos e TV's por assinatura. Na área de promoção turística: - Roteiros das cidades históricas do país, para divulgação no Brasil e no exterior; - Espetáculos cênicos, manifestações da cultura tradicional e outros, para incrementar o turismo nas cidades históricas. Capacitação: - Implantação de centros de formação de artífices em obras de conservação e restauro; - Aprimoramento de profissionais e empreendedores tais como servidores públicos, gestores de bens culturais, promotores culturais, empresários de turismo, guias, artesãos, etc. - Produção de inventários, normas e manuais de preservação e implementação de plano estratégico de informação e informática no IPHAN para potencializar a capacidade de assistência técnica e de fiscalização do órgão. Na primeira etapa do Programa serão atendidas por volta de quinze cidades, das quais quatro estão incluídas na Lista do Patrimônio Cultural da UNESCO. São elas: Ouro Preto, Salvador, Olinda e São Luís do Maranhão Três São Paulo, Rio de Janeiro e Recife - são as principais portas de entrada no país. Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 8
9 As demais cidades serão escolhidas pelo Ministro da Cultura, de uma Lista de Prioridades de Conservação a ser definida por um grupo especial de trabalho, com base nos Inventários de Sítios e Conjuntos Históricos preparados pelo IPHAN. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEF CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (1999) Edital no. 3 de 21 de Junho de Brasília: CEF.. (2001) PAR Programa de Arrendamento Residencial. Site da Caixa Econômica Federal DESSAI, A. & PILLAI, D. (1990) Slums and Urbanization. Londres: Sangan Books. EVANS, R. & DAWSON, J (1994) Livable Towns and Cities. Liverpool: European Insitute for Urban Affairs/ John Moores University. NOBRE, E. A. C. (1994) Towards a better approach to urban regeneration. Dissertação (Mestrado). Oxford: Joint Centre for Urban Design, Oxford Brookes University.. (2002) Urban regeneration experiences in Brazil: Historical preservation, tourism development and gentrification in Salvador da Bahia. Urban Design International. Grã Bretanha: v.7, n.3 (no prelo). SÃO PAULO (Cidade)(2001a) Reconstruir o Centro: reconstruir a cidade e a cidadania. São Paulo: PRÓCENTRO Programa de Valorização do Centro/Administração Regional da Sé. TADDEI NETO, Pedro (1999) Conferência de Imprensa do Lançamento Oficial do Programa MONUMENTA. Brasília: Ministério da Cultura. Revitalização de Centro Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre 9
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