Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Quinta Câmara Cível

Transcrição

1 MANDADO DE SEGURANÇA N.º IMPETRANTE: AMARILDO CÂMARA PATROCÍNIO IMPETRANTE: MARCÍLIO FONTES DA COSTA IMPETRANTE: JORGE DOS SANTOS MESQUITA IMPETRANTE: GILBERTO DA SILVA IMPETRADO: EXMO. SR. SECRETÁRIO DE ESTADO DE DEFESA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RELATOR: DES. HELENO RIBEIRO PEREIRA NUNES MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DO DIREITO À RETROAÇÃO DOS EFEITOS DA PROMOÇÃO POR RESSARCIMENTO DE PRETERIÇÃO À DATA EM QUE PROMOVIDOS OS BOMBEIROS MILITARES INDICADOS COMO PARADIGMAS E NÃO ÀQUELA INDICADA NO ATO ADMINISTRATIVO QUE CONCRETIZOU O RECONHECIMENTO DO DIREITO PERSEGUIDO, AINDA QUE NÃO NA FORMA PRETENDIDA. DECADÊNCIA DO DIREITO À IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA. 1) Se os impetrantes tiveram ciência do ato administrativo que teria violado o seu alegado direito em 29 de maio de 2012, e somente impetraram o presente mandamus em 15 de abril de 2013, é de se reconhecer a decadência do direito à impetração do mandado de segurança, uma vez que ultrapassado o prazo de cento e vinte dias previsto no artigo 23, da Lei /09. 2) Extinção do feito, na forma do artigo 269, IV, do CPC. A C Ó R D Ã O A C O R D A M os Desembargadores que integram a do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em julgar extinto o processo, com fundamento no artigo 269, IV, do CPC, nos termos do voto do relator.

2 Trata-se de mandado de segurança impetrado por Amarildo Câmara Patrocínio, Marcílio Fontes da Costa, Jorge dos Santos Mesquita e Gilberto da Silva, em face da autoridade que apontam como coatora, através do qual objetivam a concessão de segurança a fim de que sejam incluídos no próximo CHOAE Curso de Habilitação ao Oficialato Administrativo e Especialista, cujo processo de licitação já se encontra deflagrado, requerendo, neste particular, a concessão de liminar. Requerem, outrossim, seja declarado o seu direito líquido e certo a retroação dos efeitos de suas promoções na forma do artigo 55, da Lei Estadual 880/85. Alegam, em apertada síntese, que são bombeiros militares do Estado do Rio de Janeiro e que ocupavam, até 11 de janeiro de 2012, a graduação de 1º Sargento. Asseveram que, entretanto, há muito tempo haviam completado os requisitos de interstício e arregimentação para acesso à promoção superior, mais precisamente a Subtenente, tendo observado ofensa aos critérios legais para a referida promoção, uma vez que militares mais modernos foram promovidos por antiguidade antes dos impetrantes, dando azo ao seu direito de serem promovidos em ressarcimento de preterições, na forma do que dispõe o artigo 55, da Lei Estadual suprarreferenciada. Assim é que, com a finalidade de corrigirem a mencionada injustiça, ingressaram com a competente ação judicial, que tomou o nº Ocorre que, no curso da referida lide, ainda em tramitação, o Governador do Estado do Rio de Janeiro editou o Decreto /12, através do qual reconheceu o direito a promoção em ressarcimento de preterição, restringindo, contudo, os seus efeitos a janeiro de 2012, em franco descompasso com a norma anterior. Afirmam que, em razão do normativo supra, foram promovidos em ressarcimento de preterição, conforme se depreende do Boletim da SEDEC/CBMERJ Nº 100, de 29 de maio de 2012, sendo certo que no mencionado Boletim foi determinado que as promoções se dessem a partir de janeiro de 2012, sem que, no

3 entanto, fossem identificados os militares que haviam sido promovidos em detrimento dos impetrantes. Desta forma, por ato próprio, identificaram alguns dos militares que teriam sido promovidos pelo critério de antiguidade e que, por serem mais modernos que os impetrantes, foram promovidos em detrimento destes, e constituem paradigmas para os efeitos retroativos da promoção em ressarcimento de preterição, sendo o caso mais expressivo o do Subtenente Orsilávio Victor dos Santos. Referem que, diante destes fatos, o primeiro impetrante requereu, junto ao Comando do CBMERJ, os efeitos retroativos de sua promoção, a 04 de agosto de 2006, tendo lhe servido de paradigma o Subtenente BM Orsilávio Victor dos Santos, promovido no Boletim SEDEC 182 de 03/02/2006 por tempo de serviço, bem como os Subtenentes BM Robson Nascimento da Silva e Subtenente BM Ana Maria Viana da Cruz. Defendem que, então, identificado o militar mais moderno que os impetrantes, ante o critério de tempo de serviço, e que foi antes desses promovido a Subtenente, demonstrado está o seu direito líquido e certo a terem os efeitos de suas promoções verificados retroativamente à promoção do militar que os antecedeu ilegalmente. Por fim, asseveram que, como no âmbito administrativo não foi observada a retroação dos efeitos da promoção por ressarcimento de preterição na forma disposta na Lei, e que a possível demora do litígio poderá levar ao comprometimento das vagas existentes para cursar o próximo Curso de Habilitação ao Oficialato Administrativo e Especialista, sendo certo, outrossim, que se aproxima a idade limite para a realização do referido curso, não lhes resta alternativa senão postular provimento liminar que lhes assegure a participação no referido curso. A petição inicial de fls. 02/15 veio instruída com os documentos de fls. 16/101

4 Em fls. 107/108, com os documentos de fls. 109/100, emenda à petição inicial, requerendo a exclusão do Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro do polo passivo do presente mandamus, o que culminou com a decisão de fl. 115/119, declinando da competência do Órgão Especial para uma das Câmaras Cíveis deste Tribunal. Este julgador, forte nas razões de fls. 123, e 123, verso, indeferiu o pedido liminar. Em decisão acostada em fls. 142/143, este magistrado acolheu parcialmente pedido de reconsideração, tão somente para reconhecer o equívoco na identificação da pretensão dos impetrantes, sem, contudo, deferir a liminar pleiteada. Na mesma decisão, não se conheceu dos embargos de declaração opostos pelos impetrantes, ante a perda de objeto. 146/153. Agravo Regimental contra o decisum supra, em fls. Em fl. 163, ofício da Assessoria Jurídica da Secretaria de Estado de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, com os documentos de fls. 164/173. Impugnação da Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro em fls. 175/179. Contrarrazões ao Agravo Regimental às fls. 180/183. A douta Procuradoria de Justiça ofertou parecer no sentido da concessão da segurança, consoante se colhe do teor de fls. 188/191. É o relatório. Passo a votar. Inicialmente, no tocante à manifestação da Procuradoria do Estado postulando nova vista dos autos após o oferecimento de informações pela autoridade apontada como coatora, há que se referir que esta foi devidamente intimada para os

5 termos do artigo 7º, inciso I, da Lei /09, consoante se extrai do documento de fl Desta forma, se dita autoridade entendeu como suficiente a resposta de sua Assessoria Jurídica, não será aberta outra oportunidade para manifestação, e, em consequência, desnecessária a abertura de nova vista. No exame da questão trazida a julgamento, verificase que se operou a decadência para a utilização do mandamus. Com efeito, estabelece o artigo 23, da Lei /09, que o mandado de segurança deverá ser impetrado no prazo de 120 dias a contar da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. Na hipótese em julgamento, como relatado, os impetrantes entendiam fazer jus à promoção em ressarcimento de preterição, uma vez que militares mais modernos, e que constituíam os seus paradigmas, foram promovidos em data anterior. Ajuizaram ação ordinária para a correção da injustiça e, no curso desta, foi editado Decreto pelo Governador do Estado através do qual reconhecia o direito à referida promoção, com efeitos retroativos a janeiro de Em razão de dito normativo, foram então promovidos em ressarcimento de preterição, circunstância concretizada no Boletim da SEDEC/CBMERJ nº 100, de 29 de maio de 2012, mas que, tal como defendem, assim como o Decreto que o precedeu, não observou a correta data para a retroação dos efeitos da promoção, na forma que dispõe a Lei que rege a matéria, fixandoa em 11 de janeiro de 2012, quando o correto seria retroagir os seus efeitos à época em que as promoções deveriam ter sido feitas, caso observada a antiguidade dos bombeiros militares. Nesta ordem de ideias, forçoso concluir que o ato impugnado, na espécie dos autos, é o Boletim da SEDEC/CBMERJ nº 100, de 29 de maio de 2012, ato administrativo que concretizou a

6 promoção dos impetrantes, sem, contudo, observar a data da retroação que entendem correta. De fato, segundo o magistério do Des. Alexandre Freitas Câmara, extraído da recente obra Manual do Mandado de Segurança, (...) nos casos em que o ato impugnado tem por base o disposto em lei ou decreto normativo supostamente viciado (por inconstitucionalidade ou ilegalidade), o prazo não corre da publicação da lei ou decreto, mas da ciência do ato administrativo que, com base neles, viola ou ameaça violar o alegado direito do impetrante. 1 Nesta senda, se os impetrantes tomaram ciência do ato que concretizou o seu direito, e que entenderam lesivo aos seus interesses, no dia 29 de maio de 2012, e impetraram o presente mandamus somente no dia 15 de abril de 2013, forçoso reconhecer o decurso do prazo decadencial. Ante o exposto, em razão da decadência, voto no sentido de se julgar julga-se extinto o processo, na forma do artigo 269, IV, do CPC. Em consequência, nega-se provimento ao regimental interposto consoante as razões de fls. 146/153. Sem condenação em honorários advocatícios de sucumbência na forma das Súmulas 105/STJ e 512/STF, bem como do art. 25 da nova lei de mandado de segurança. Dê-se ciência à PGJ. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de DES. HELENO RIBEIRO PEREIRA NUNES Relator 1 1ª Edição Editora Atlas 2013 p. 330